Ana Luiza 19/08/2013
Resenha do blog Mademoiselle Love Books - http://mademoisellelovebooks.blogspot.com.br/2013/08/resenha-premiada-pressagio-leonardo.html#more
Alice é uma garota comum, ou quase. Ela possui o dom da clarividência, que se manifesta de uma forma bem incomum: durante um orgasmo. Como é de se imaginar, o dom dela nunca foi exatamente uma benção e todos os psiquiatras que já consultou insistem que ela é louca. Durante uma festa, Alice acaba ingerindo drogas e tendo mais um presságio: ela vê Vívian, uma ex-colega com quem um ex-namorado a traiu, ser brutalmente assassinada por um cara fantasiado de diabo.
“Agora, Alice ouvia o mórbido estridor de resquícios de ar trespassando a glote de Vívian. Os olhos saltados em surpresa. Os músculos relaxando. Ouviu a voz baixinha que dizia:
- Está morta. A Freira Nua está morta” (Pág. 35)
Quando a Vívian é encontrada morta no dia seguinte, exatamente da maneira que Alice previu, usando apenas uma parte da fantasia de freira que usava na noite anterior, ela se sente compelida a ajudar resolver o crime. A garota vai à polícia, mas, além de ser ridicularizada e desacreditada pelos policiais ao revelar que possui o dom da clarividência, ela ainda descobre que o culpado já foi achado. Apelidado de Beato Judas, Danilo Ferreira é acusado pela morte de Vívian, assim como pela de Irmã Bianca, uma freira de verdade que fora assassinada algum tempo antes. O garoto acusado era não só aluno de Bianca, mas seu amante, e dizia a ter matado por amor, apesar de negar veementemente ser o autor do assassinato de Vívian.
Independentemente da negação de Danilo, a polícia segue com as investigações, tendo ele como culpado. Alice não nega ou confirma a culpa do rapaz quanto a morte de Bianca, mas sabe que ele não matou Vívian. O homem que matou a enfermeira era alto e extremamente forte, completamente diferente de Danilo. Nenhuma outra pessoa alega ter visto Vívian com o tal cara vestido de Diabo, então a declaração de Alice se torna inútil, ainda mais pela grande quantidade de drogas que ela e todos os presentes consumiram no dia da festa.
“- Às vezes, o ódio pode transformar o mais fraco dos homens em um monstro. É comum que vejamos loucos aparentemente desprovidos de força física que se tornam poderosos sob efeito da fúria.” (Pág. 87)
Compelida a seguir em frente com essa história, Alice começa a seguir sua própria linha de investigação, o que acaba a colocando em maus lençóis. Usando seu dom como guia na busca pela verdade, a garota acabará começando a soar como uma louca, até mesmo para seus amigos, como sua colega de quarto Geórgia e o namorado dela, Wálter. Mas Alice sabe que está certa. Não sabe? Quando começa a perceber que todos tinham um motivo para matar Vívian, inclusive ela mesma, Alice percebe que precisa ir até o fim. Nem que para isso tenha que colocar em jogo sua própria vida ou sanidade.
“Todo mundo tem seus segredos. A Irmã Bianca não era diferente de ninguém.” (Pág. 12)
“Presságio - O Assassinato da Freira Nua” é um thriller de tirar o fôlego, do início ao fim. Com pequenas surpresas a cada capítulo, o livro envolve o leitor logo na primeira frase, levando-o adiante de forma deliciosa até o fim eletrizante e surpreendente. Barros soube construir seu suspense de maneira inteligente, deixando pequenas pistas ao longo da história, apenas para nós deixar de boca aberta durante não só o final, mas em todo o livro. Recheado de ação e sexo, o livro é chocante pelo modo explícito como aborda as cenas de prazer e violência que, aqui, estão intimamente ligadas. “Presságio” é um suspense quase bizarro, que além de chocar, deixa o leitor tenso, do início ao fim, mas também vidrado na história. A narração contribui bastante para isso, apesar de conduzir o texto em terceira pessoa, o autor mergulha no íntimo dos personagens, mostrando seus pensamentos e comportamentos sem qualquer pudor, deixando claro que aqui, como na vida real, ninguém é santo. Nem mesmo as freiras, coitadas, estão salvas.
Os personagens tão reais foram, talvez, o fator que mais me chocou a princípio. Esperava um romance policial como os outros, onde bandidos e mocinhos são bem definidos. Mas, em “Presságio”, é impossível dizer quem é quem. Claro, existem aqueles que cometeram seus crimes, mas quando me deparei com a protagonista se perguntando se ela não poderia ser a assassina de Vívian, percebi que, mesmo que não cometessem algo terrível, todos os personagens, como na vida real, eram capazes disso. E a possibilidade de corrupção, traição, falsidade, violência e até mesmo assassinato aberta em todos eles é de assustar, ainda mais por retratar nada além que a realidade. Alice é uma personagem cativante e, definitivamente, diferente. Seu dom e a condição específica no qual ele se manifesta foi algo completamente inovador e, sem falta de outra palavra para definir, bizarro. A garota conquista quando não desiste de buscar a verdade, o que acaba a colocando em situações que vão de hilárias a assustadoras. Os outros personagens também vieram na medida certa, cada um com personalidade própria, assim como lugar na trama. O que mais me surpreendeu foi o assassino de Vívian, só revelado no final da história, de todos os personagens, ele foi um dos poucos que não tinha nem passado pela minha cabeça.
Quanto à edição, a editora fez um belo trabalho. Esse foi o segundo livro do selo Novos Talentos da Literatura Brasileira que não estava com uma revisão sofrível e fico feliz em ver que o selo está melhorando, isso é muito bom para a editora e, principalmente, para os autores, que deram duro em sua obra e não merecem vê-la mal interpretada por causa dos erros de revisão. Até a melhor história do mundo perde seu brilho diante de erros que uma leitura rápida no texto poderia evitar. Enfim, não encontrei nenhum erro durante todo o livro e a diagramação é simples, mas bem feita. O tamanho e tipo das letras, assim como as páginas amareladas, deixaram o livro, que é curto e super leve, ainda mais rápido de ler. Também gostei bastante da capa, que combina com o estilo e a trama do livro. Entretanto, acho que a história merecia algo mais dramático e chamativo, que combinasse com o nome, como uma freira cheia de sangue e cara suspeita. Que tal, em? ;D
“Presságio - O Assassinato da Freira Nua” é um livro de leitura fácil, mas apenas para aqueles que não têm medo de uma história mais sombria, recheada com mortes, violência e o sobrenatural, onde todos esses elementos intensos se misturam em algo que beira ao bizarro, mas que não deixa ter seu lado real e crítico quanto ao comportamento humano. O estilo do livro e do autor, que mostra o pior em sua face mais crua e sincera, me lembrou bastante Brian Mcgreevy e seu “Hemlock Grove” (resenha aqui) e Joe Hill e “O Pacto” (resenha aqui), dois autores e livros que amo e recomendo. Agradeço imensamente ao Barros pela oportunidade de ler seu livro e lhe desejo muito sucesso tanto quanto as obras futuras quanto as já existentes, estou muito curiosa para ler ambas. Assim como estou muito curiosa sobre alguns aspectos de “Presságio” que espero poder esclarecer em uma entrevista com o autor, se ele me conceder essa honra.
“- Só é louco quem fala demais! Porque, se você não fala nada, as pessoas não adivinham o que está dentro da sua cabeça! Pode ser a pirada mais demente de todas! Mas, se você não fala nada, você é normal, entendeu?!” (Pág 160) – Esse foi meu quote favorito, que não deixa de trazer uma verdade bem interessante. ;D Algo que me encanta na mente humana é o fato de que você pode guardar ou provocar todos os tipos de coisas perversas dentro dela, sem que a maioria das pessoas saiba. Macabro? Sim, mas verdadeiro.
Autora da resenha: Ana Luiza Ferreira (La Mademoiselle)
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