O Capelão do Diabo

O Capelão do Diabo Richard Dawkins




Resenhas - O Capelão do Diabo


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Henrique 10/04/2014

A luz será lançada!
Diferente dos outros livros de Richard Dawkins esse não se restringe a um único assunto, pois se trata de uma coletânea de textos que escreveu ao longo de sua carreira, passando pelos mais variados temas como Dawkins sabe fazer muito bem. Além da maestria com que Dawkins fala sobre a biologia evolutiva ao longo do livro, nos deparamos com seu ataque impiedoso às pseudociências e as crendices ao mesmo tempo em que somos convidados a conhecer um pouco de seu lado pessoal e sua relação com outros pesquisadores.
A leitura se inicia de forma suave, sobre um pouco de história e conceitos básicos para entendermos o que é a verdade. Dawkins traz um conceito, que eu particularmente gosto bastante, que é a Mente Descontínua. Que faz alusão à dificuldade que algumas pessoas tem em pensar de forma contínua, sem fronteira. Para a mente descontínua as coisas são no modo “preto ou branco”, não existe um meio termo ou ligações entre os pontos. Isso muitas vezes dificulta o entendimento da teoria evolutiva e, como Dawkins irá nos mostrar, dificuldades em entender qual o nosso posicionamento na natureza. Qual o grau de diferenciação entre nós e os outros primatas? Onde começa uma espécie e onde termina outra? Richard coloca mais lenha na fogueira ao trazer o pensamento do filósofo Peter Singer sobre os direitos dos nossos primos primatas. Os charlatães não foram esquecidos e são atacados de forma elegante. Richard chama atenção para um problema gritante que é a educação. Apesar dos comentários abordarem a realidade em outros países vemos um semelhança muito grande com o que ocorre aqui no Brasil.
Entre os escritos sobre evolução; genes e memes; clonagem, ética e religião; Dawkins fala sobre sua relação com Douglas Adams, esse excelente escritor de ficção científica e um grande entendedor da ciência. Quem já leu O Guia do Mochileiro das Galáxias sem dúvidas se encantou com a forma com que Douglas escreve. Assim como fala também de Hamilton, pesquisador que contribuiu e muito para a ciência e principalmente para a biologia evolutiva. Ao falar sobre seu outro amigo John Diamond aproveita para lançar duras criticas a medicina alternativa e todo o charlatanismo que envolve essa pseudociência.
Como não poderia faltar Dawkins fala sobre sua relação com o paleontólogo Stephen Jay Gould. Resenhando alguns de seus livros e lançando críticas a alguma de suas ideias, porém sempre com um enorme respeito. Esse capítulo é muito interessante para demonstrar que mesmo os dois maiores divulgadores da evolução biológica podem discordar em certos aspectos. Porém discordâncias dentro do campo científico, nada de misticismos ou dogmatismos estão envolvidos. Isso mostra como a ciência funciona e como ela evolui dentro de uma discussão racional. E entre as divergências uma coisa une esses cientistas contra um inimigo comum, as pseudociências, mas especificamente o Criacionismo e o Design Inteligente. Gould ensinou a Richard Dawkins o porquê não se deve debater com esse tipo de pessoa e essa é uma lição que Dawkins carrega até hoje. Dawkins publica uma conversa pessoal que teve com Gould por e-mail, mas que infelizmente não pôde ser concluída devido ao falecimento desse grande cientista.
Ao final do livro Dawkins expõe uma carta que escreveu a sua filha quando esta completou 10 anos. Bem ao seu estilo o papai Dawkins explica a Juliet como sabemos o que é verdade. Porém esse é um bônus.
O ultimo capitulo do livro não poderia ser mais agradável. Além de descrever seu encontro com a família Leakey, nossa atenção se volta ao continente Africano, o local de nascimento de Richard e o berço de toda a humanidade.
E encerrando nas palavras do próprio Richard Dawkins: “Temos a África em nosso sangue, e a África tem nossos esqueletos”.
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JPHoppe 03/09/2014

Talvez uma das melhores maneiras de ser apresentado a um autor seja uma coletânea, especialmente as que cobrem vários pontos de vista. O nome dessa, "Capelão do Diabo", remete a Darwin, discorrendo sobre as mazelas e gambiarras que um capelão do diabo escreveria sobre a dita "criação perfeita" de um deus. Nos faz pensar que trata-se de mais uma coleção de ensaios combatendo o criacionismo, especialmente sua vertente moderna do "Design Inteligente".

Estaríamos enganados. Apesar do tema ser tratado, é um dentre muitos outros, incluindo resenhas de livros, discursos fúnebres, correspondências e afins. Alguns são republicações, outros são escritos inéditos, projetos antes engavetados.

Para quem gosta do estilo de Dawkins, é uma obra fascinante. Todos os seus maneirismos, seu conhecido hábito de cunhas novos termos, sua defesa ferrenha de um ponto de vista, estão aqui. É tão bom concordar quanto discordar.

Na minha opinião, não é uma escrita tão excelente quanto a de seu finado oponente acadêmico, Stephen Jay Gould - aliás, tema de uma seção inteira - em muito deixando a desejar em termos de variedade e estrutura literária quando comparados. Mas não deixa de ser um livro excelente. Se não leu nada de Dawkins, é uma boa introdução.
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eriksonsr 03/04/2014

Fazia tempo que não demora tanto assim para ler um livro. Tem alguns trechos que achei muito maçantes, provavelmente por não gostar do assunto que o Dawkins estava falando, pois o livro é uma coletânea de ensaios sobre os mais diversos temas, mas no fim gostei bastante.

O ensaio que fala sobre a mente descontinua, a teoria da informação e a parte que fala sobre como o código genético é semelhante ao código digital (binário 0,1), como no fundo se resume a este, mostrando que tal como nas informações digitais onde existe redundância, no código genético também existe, entre outras coisas é fascinante! O capítulo que fala sobre o relativismo cultural e as falsas ciências também são ótimos.

Mas o que mais me marcou e até de certa forma emocionou, foi o capítulo que ele dedica ao Douglas Adams (o Guia do Mochileiro das Galáxias), onde fala sobre a personalidade, a vida dele e o grande amigo que foi (quem diria que foi o Douglas A. quem apresentou a mulher do Dawkins a ele).


Trechos e frases que achei mais interessantes no livro:
"Outros acadêmicos, alguns apontariam o dedo para as escolas europeias de teoria literária e de ciências sociais, sofrem daquilo que Medawar (eu acho) chamou de "inveja da física". Eles desejam ser considerados profundos, mas seu assunto é na realidade um tanto simples e raso, de modo que eles necessitam revesti-lo de uma linguagem difícil para restabelecer o equilíbrio.";

"Não consigo me convencer de que um Deus onipotente e benévolo tenha deliberadamente criado os Ichneumonidae com a intenção expressa de que estes se alimentassem dos corpos vivos das lagartas." Darwin

"A natureza não é bondosa nem cruel, é indiferente";

"Ao dar origem ao homem, o processo evolutivo, aparentemente pela primeira e única vez na história do cosmo, tornou-se consciente de si mesmo" Theodosius Dobzhansky.

"A física moderna nos ensina que a verdade não se limita ao que os nossos olhos podem ver, ou ao que pode ver a limitada mente humana, desenvolvida como ela foi para dar conta de objetos de tamanho médio movimentado-se a velocidades médias ao longo de distâncias médias na África"

"O código genético é de fato digital, exatamente no mesmo sentido que os códigos dos computadores. Não se trata de uma analogia vaga, mas de uma verdade literal. Isso significa que a sub-rotina de um software (que é exatamente o que um gene vem a ser) pode ser copiada de uma espécie e colada em outra, onde ela funcionará exatamente da mesma maneira que na espécie original. É por isso que o famoso gene "anticongelante", originalmente desenvolvido pelos peixes do Ártico, pode salvar um tomate dos efeitos de uma geada."

"O insight de Shannon foi o de que todo tipo de informação não importa o que ela signifique, não importa se ela é verdadeira ou falsa, nem qual o meio físico de sua transmissão, pode ser medida em bits e é traduzível para qualquer outro meio de informação";

"O DNA carrega informação de um modo muito semelhante ao computador, e podemos medir a capacidade do genoma em bits, também, se assim desejarmos. O DNA não usa um código binário, mas sim um código quaternário."

"A probabilidade de que os homens homossexuais tenham irmãos homossexuais é mais alta do que seria de se esperar se fosse apenas um acaso. Significativamente, também a probabilidade de que eles tenham tios maternos homossexuais e primos do lado materno homossexuais é maior do que a esperada...Esse padrão levanta a suspeita imediata de que ao menos um gene causador da homossexualidade nos homens se localiza no cromossomo X";

"... o fato de um indivíduo possuir um gene particular não determina infalivelmente que ele será homossexual. É muito mais provável que a influência causal será estatística. O efeito dos genes nos corpos e no comportamento é como o efeito da fumaça do cigarro nos pulmões. Se você fuma muito, isso aumenta a probabilidade de que você tenha câncer de pulmão. Mas não determina infalivelmente que você terá um câncer de pulmão. Nem garante infalivelmente que você não terá um câncer de pulmão se evitar o fumo.";

"Os genes não têm o monopólio do determinismo. Então, se você odeia os homossexuais ou os ama, se você deseja confiná-los ou "curá-los", é melhor que os seus motivos para isso não tenham nada a ver com os genes";

"Não existe medicina alternativa, existe apenas medicina que funciona e medicina que não funciona" John Diamon

"Por que não há limites para as opiniões religiosas? Por que nós temos que respeitá-las pela simples razão de que elas são religiosas? E, além do mais, como se decidem quais religiões, dentre as várias existentes, muitas vezes mutuamente contraditórias, devem ser agraciadas com esse respeito incontestado e com essa influência imerecida?"

"O método científico se baseia na premissa de que toda ideia pode ser atacada. Se resiste ao ataque, ela sobrevive, e, se não resiste, então ela vai por água abaixo. Com a religião as coisas não se passam dessa forma. A religião tem certas ideias centrais, que chamamos de sagradas ou de divinas ou de seja lá do que for. O que isso significa é: "Eis aqui uma ideia ou uma noção que não pode ser alvo de críticas..."

O estranho é que, enquanto estou dizendo isso, me surpreendo pensando:"Será que há algum judeu ortodoxo na plateia, que se sentirá ofendido pela minha fala?" No entanto, eu não teria pensado "Talvez haja alguém de esquerda ou alguém de direita ou alguém filiado a esta ou àquela visão em economia" enquanto levantava outras questões. Tudo o que eu pensaria em relação a isso é "Muito bem, nós temos opiniões diferentes". Mas no momento em que digo algo que tem relação com as crenças nos tornamos todos extremamente paternalistas e terrivelmente defensivos e dizemos: "Não, nós não atacamos isso; trata-se de uma crença irracional, mas, não, nós a respeitamos" Douglas Adams.

"Não pretendo sugerir que religião é em si a motivação para as guerras, os assassinatos e os ataques terroristas, mas que ela é o principal rótulo, e o mais perigoso, pelo qual se demarca uma oposição entre um "eles" e um "nós". Não estou afirmando nem mesmo que a religião seja o único rótulo pelo qual demarcamos as vítimas de nossos preconceitos. Há também a cor da pele, língua e a classe social"

"... não fosse pela religião, o próprio conceito de Estado judeu não faria sentido algum. E o mesmo vale para o conceito de territórios islâmicos..."

"O psiquismo humano padece de duas grandes enfermidades: a necessidade de se vingar por gerações a fio e a inclinação a rotular as pessoas com base nos grupos a que pertencem em vez de enxergá-las como indivíduos."

"... pois a esperança é um produto vendável: quanto mais desesperadamente se necessitar de esperança, mais rica será a colheita."

"Quero alertá-la contra três razões indevidas para acreditar no que quer que seja. Elas são chamadas de "tradição", "autoridade" e "revelação"."

"Sentimentos interiores precisam ser sustentados por evidências, caso contrário simplesmente não devemos acreditar neles"
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Ingrid 31/01/2021

Coletânea de ensaios magníficos, o leitor acaba por conhecer um pouco mais sobre quem é Dawkins e sua vida. Leitura envolvente.
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Carlos Patricio 13/05/2015minha estante
adorei




Paulo Silas 16/08/2014

Mais um belo livro de Dawkins.
Este é uma reunião de ensaios, artigos e escritos do autor, versando sobre variados assuntos, explanando sobre a ciência, religião e opiniões sobre livros e pessoas.

Dividido em sete partes, de acordo com determinados assuntos que se assemelham, cada uma destas seções apresenta capítulos específicos, cada qual que se refere à um dos escritos que foram selecionados para compor a obra.

Em "Ciência e Sensibilidade", o autor discorre nos oito capítulos sobre questões como ciência e ética, quando evidencia a separação que se faz necessária na abordagem de assuntos polêmicos como clonagem, aborto e pesquisas com células-tronco. A análise de perspectivas sobre tais assuntos (ou quaisquer outros atrelado ao avanço da ciência), na visão do autor, merece ser observada com uma clara distinção de visões: a ciência em si não deve se preocupar com questões éticas, cujos eventuais limites morais sobre determinadas questões cumpre ao campo da filosofia.
Ainda neste tópico, crítica interessante feita pelo autor se dá quanto aos jargões desnecessariamente (pseudo)técnicos utilizados "pensadores" que visam impressionar com uma escrita de difícil compreensão. Dizem muito, numa linguagem incompreensível muitas vezes até mesmo para o próprio responsável pela exposição, quando na realidade não se diz nada, logo, verdadeiros embustes disfarçados de intelectualismo. Aqui, por exemplo, Dawkins lança um interessante desafio (e sugestão para confrontos): que definam de modo concreto o que seria o tal do "pós-modernismo", já que a única ressalva que Dawkins aceita para a utilização de tal termo seria no campo da arquitetura.
Ainda nesta seção, Dawkins discorre sobre a verdade, cujo debate filosófico sobre esta em si não deveria abranger situações entendidas como óbvias, como por exemplo, o fato de a terra girar em torno do sol. Mais uma vez, tem-se a visão do autor pugnando pela distinção e separação de visões analíticas de ciência e filosofia.

Em "A Luz Será Lançada", os cinco ensaios que o compõe apresentam questões mais específicas sobre a biologia, evolução e os genes.
Há dentre os capítulos uma introdução do autor constante em uma edição de "A Origem do Homem" de Darwin. Em seguida, no ensaio intitulado "Darwin Triunfante", Dawkins expõe o Darwinismo como verdade universal, ressaltando a importância das descobertas da ciência como atemporais e privilegiadas, merecendo e possuindo maior destaque em detrimento de outros campos (Dawkins utiliza como exemplo Darwin e Einstein em contraposição, dentro da proposição exposta, a Freud e Marx).
Ainda nesta seção, o autor combate o chamado "determinismo genético"
num capítulo específico sobre o assunto, repudiando a ideia de que um gene "predisposto" a algo influenciaria ou determinaria este algo. A título de exemplo central, Dawkins discorre sobre a descoberta do chamado "gene gay", refutando a ideia por trás de tal descoberta, deixando claro que "os genes não têm o monopólio do determinismo".

Em "A Mente Infectada" há o Dawkins como é conhecido por muitos: combatente contra toda e qualquer tipo de religião. Para os que conhecem o autor, desnecessário tecer comentários sobre o que escreve e pensa Dawkins sobre assunto, vez ser notória a sua firme e fundamentada posição crítica sobre o assunto: ciência e religião não combinam, devendo aquela prevalecer (razão) em detrimento desta.
Em dois capítulos desta seção, a ideia proposta por Dawkins em "O Gene Egoísta", a saber, os memes, são discorridos com maior profundidade, admitindo ainda o autor que quando expôs tal ideia em seu primeiro livro publicado, não imaginou que a teoria tomaria as proporções que tomou desde então.

"Disseram-me, Heráclito" é composto basicamente por tributos prestados pelo autor à figuras notórias que se foram (Douglas Adams e W. D. Hamilton).

"Mesmo os Exércitos da Toscana" e "Toda a África e Seus Prodígios Estão Dentro de Nós" se tratam de resenhas e prefácios feitas pelo autor à obras de biologia e romances, bastante críticas quando se faziam dos livros de Stephen Jay Gould, ferrenho opositor acadêmico seu, em que pese o tratamento cordial e respeito mútuo.
Traz ainda um relato de memórias de Dawkins da África, local em que passou a sua infância.

Finalmente, em "Oração Para Minha Filha", Dawkins escreve uma carta tocante e íntima, direcionada para sua filha (como o título sugere) quando esta com 10 anos de idade (em que pese a mesma tenha sido feita e publicada no aniversário de 18 anos da menina). Com o título de "Boas e Más Razões Para Acreditar", Dawkins, numa linguagem clara para uma criança, orienta sua filha a tomar uma atitude e posição crítica para tudo o que lhe for ensinado, já que na idade em questão as crianças são muito influenciáveis e tendem a acreditar em tudo o que os adultos lhes passam. Assim, sugere que sempre se acautele com ensinamentos não comprováveis racionalmente ou empiricamente (não verificáveis), tomando cuidado para com as lições que se baseiam em "tradição", "autoridade" ou "revelação".

Enfim, é um belo livro de coletâneas de ensaios. Os tomos com as resenhas mais específicas talvez soem um pouco enfadonhas para os leitores que não sejam da área (o meu caso), mas a obra como um todo é muito boa. O autor consegue alcançar, mesmo nas passagens mais técnicas, todo o tipo de leitor, cativando e prendendo a atenção do início ao fim do livro. É Dawkins sendo o Dawkins que todos conhecem: um pouco de exacerbo raivoso quando militante contra a religião (não que deixe de ter razão em seus fundamentos, mas a guerra que trava é bastante ríspida), enquanto claro, objetivo e ao mesmo tempo profundo, acessível e empolgante. Um grande intelectual.
Recomendo!
Carlos Patricio 13/05/2015minha estante
de novo o paulao ai mandando bem!




denis.caldas 01/04/2024

Ceticismo e a busca por evidências
Ufa, finalmente peguei pra ler, considerando que me foi emprestado há quase 10 anos e me incomodava nunca devolver, mas chega de churumelas... O livro reúne vários ensaios de Dawkins sobre ciência, filosofia, religião e evolução; infelizmente não me dediquei a ponto de fazer uma resenha digna, como fiz com o primeiro livro que li dele - Deus, um delírio - mas não deixa de ser uma obra em que ele combate a religião e a imposição dela às pessoas, principalmente às crianças, baseado de que Deus ou qualquer outra coisa ou pessoa sobrenatural não existe. Como Dawkins considera que seguir uma filosofia sobrenatural é tolice e coisa de pessoas preguiçosas ou burras, considera que a religião é a origem de todos os males sociais da Terra, além de considerar que quem é inteligente não pode nem perder tempo em conversar sobre isso com teólogos, então é um livro escrito para convertidos ao ateísmo.

Dawkins ignora que a busca espiritual já transformou a vida de muitas pessoas para melhor, de que muitas pessoas notáveis também tinham suas crenças e, ao generalizar, ele divide as pessoas em duas classes: burros e teístas ou inteligentes e ateístas. Mas por que cargas d'água considerei uma leitura ótima com quatro estrelinhas? Porque gosto de conhecer outras opiniões e não se pode negar que a escrita de Dawkins é fluida e nos faz pensar; agora, me converter à Fé Ateia, já são outros quinhentos, pois até ele tem um tipo de fé.

Gostei muito da parte que ele explica suas diferenças com Stephen Jay Gould, também um gigante da biologia. Como nunca estudei sobre a evolução, gostaria de aprender sobre, e acho que os livros de Dawkins e Gould são bons caminhos. Vou deixar alguns excertos aqui:

"A felicidade da segurança significa satisfazer-se com respostas fáceis e confortos baratos, vivendo uma mentira tépida e confortável. A alternativa demoníaca proposta pelo meu capelão do diabo mais experiente é arriscada. Abrimos mão de nossas ilusões reconfortantes: já não podemos mais nos apaziguar com a fé na imortalidade. Em compensação, ganhamos a outra felicidade de que nos fala Sanderson, a alegria de saber que crescemos, que enfrentamos o significado da existência e o fato de que ela é temporária e, por essa razão, ainda mais preciosa." (1. O Capelão do Diabo, em 1. Ciência e Sensibilidade)

"O título desta seção - e de seu primeiro capítulo - é uma citação de A Origem das espécies. Darwin falava sobre lançar luz nas origens do homem, o que ele realizou em A origem do homem, mas me agrada pensar no quanto as suas ideias lançaram luz em diferentes campos." ( II. A luz será lançada)

"Não pretendo sugerir que a religião é em si a motivação para as guerras, os assassinatos e os ataques terroristas, mas que ela é o principal "rótulo", e o mais perigoso, pela qual se demarca uma oposição entre um "eles" e um "nós". Não estou afirmando nem mesmo que a religião seja o único rótulo pelo qual demarcamos as vítimas de nossos preconceitos. Há também a cor da pela, a língua e a classe social. Mas, com frequência, como é o caso na Irlanda do Norte, esses rótulos não se aplicam, e a religião torna-se o único sustentáculo de uma divisão. Mesmo quando não está sozinha, ela é quase sempre um ingrediente explosivo na mistura desses rótulos. E, por favor, não me venha mencionar o caso de Hitler como um contra-exemplo. Os desvarios subwagnerianos de Hitler constituíam uma religião fundada por ele mesmo, e o seu anti-semitismo devia muito ao catolicismo romano a que ele jamais renunciou." (em 5. Hora de nos levantarmos, in: III. A mente infectada)

"O que podemos fazer a respeito de tudo isso? Não é fácil para você fazer alguma coisa, pois tem apenas dez anos de idade. Mas você pode tentar o seguinte. A próxima vez que alguém lhe disser algo que soe importante, pense consigo mesma: "Será que esse é o tipo de coisa que as pessoas provavelmente sabem porque há evidências? Ou será que é o tipo de coisa em que as pessoas só acreditam por causa da tradição, da autoridade ou da revelação?" E, quando alguém lhe disser que uma coisa é verdade, por que não dizer a ela: "Que tipo de evidência há para isso?". E se ela não puder lhe dar uma boa resposta, espero que você pense com muito cuidado antes de acreditar numa só palavra. Com amor, de seu pai." (em 1. Boas e más razões para acreditar; in: VII. Oração para minha filha)
Wesley - @quemleganhamais 03/04/2024minha estante
Nunca li nada desse autor, mas tenho curiosidade. Acho interessante ler livros de ponto de vista diferente, pois faz com que pensemos mais no que acreditamos e se faz sentido mesmo crer no que crê.
E que bom que conseguiu tirar da fila dos livros para ler... ?


denis.caldas 03/04/2024minha estante
Ôpa, obrigado pelo comentário, meu irmão de fé, livros e florestas!




Ricardo Silas 06/10/2016

O Capelão do Diabo
Esse livro traz uma coletânea de ensaios que Richard Dawkins escreveu ao longo da vida, desde o início de sua carreira no ramo da biologia evolutiva. Os textos são organizados em seções, cada uma delas com seu tema próprio, que vão desde a defesa do neodarwinismo (e da seleção natural como um dos mecanismos mais intrínsecos à evolução das espécies) até a críticas contra o criacionismo e o fundamentalismo religioso. Nenhuma novidade até aí. Quem leu outros do mesmo autor sabe que ele tem dedicado sua vida inteiro a essas questões. O diferencial de O Capelão do Diabo está em alguns textos que oferecem um lado particularmente sensível de Richard Dawkins, algo que ele próprio raramente explora em outros livros. Quando ele escreve os elogios fúnebres para seu grande amigo e escritor Douglas Adams, por exemplo, é possível imaginar um pouco da tristeza que Dawkins certamente sentiu. A mesma sensação notável se revela em outra seção, dessa vez dedicada a Steven J. Gould, biólogo que ao longo da vida colecionou diversas divergências acadêmicas contra Dawkins. Mesmo assim, a morte de Gould é retratada de forma sensível, bela e sincera. Ao contrário do que dizem, eles não foram inimigos, mas sim profissionais em riquíssimos conflito intelectual sobre fatores mais complexos da evolução darwiniana. Além dessas e outras breves novidades, o leitor encontrará opiniões muito interessantes a respeito do pós-modernismo, por exemplo, tema polêmico que suscitou inflamados debates públicos após Alan Sokan e Jean Brincmont publicarem o livro "Imposturas Intelectuais". Dawkins escreve uma resenha sobre esse belíssimo trabalho (que por sinal eu já li e recomendo). Se eu tivesse que escolher o melhor, o mais belo, o encantador e emocionante de todos os ensaios do livro, provavelmente seria o último: "Oração para minha filha: Boas e más razões para acreditar", sem a menor sombra de dúvida. Em matéria de ateísmo, acho que o Capelão do Diabo não traz nenhuma inovação sobre o já conhecido posicionamento do autor, exceto pela comparação genial da religião com o vírus. Confesso que foi uma das coisas mais brilhantes que li nos últimos meses. Richard Dawkins, para mim, é um dos maiores defensores da racionalidade e do método científico. É também um humanista e um cientista excepcional, desses que farão falta depois que partirem... Prometo manter acesa a sua memória, e cumprirei essa honrosa promessa.
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Kaique.Nunes 25/03/2019

O Capelão do Diabo, é uma coletânea de ensaios escritos ao longo de 25 anos de carreira do famoso biólogo, Richard Dawkins. Cada ensaio é bem diversificado como as heranças do darwinismo, ética na ciência, semelhanças e diferenças entre macacos e humanos, alimentos transgênicos, medicinas alternativas, pós-modernismo, religião, educação, determinismo genético, clonagem, pseudociência, determinismo genético, memética, terrorismo, religião e criacionismo. Além de algumas resenhas de alguns livros do colega de Dawkins, Stephen Jay Gould (também muito conhecido na biologia), e Alan Sokal (físico), este conhecido criticar pensadores pós-modernos.

Stephen Jay Gould, divergia em muitos aspectos em relação ao Dawkins. Primeiramente por Dawkins ser um gradualista, visão que defende que a evolução ocorre através da acumulação de pequenas modificações ao longo de várias gerações sendo assim suave e contínuo. Enquanto Gould defendia o equilíbrio pontuado (saltacionismo, pontualismo ou teoria dos equilíbrios intermitentes), que entende a evolução de uma espécie não ocorre de forma constante, mas alternada em períodos de escassas mudanças, com súbitos saltos que caracterizam alterações estruturais ou orgânicas adaptadas e selecionadas.

No campo da religiosidade e ciência, Gould defendia que ambos habitavam pilares diferentes e consequentemente eram não conflitantes. Já para Dawkins, fé e razão são inerentemente conflitantes e por isso a religião estaria no campo da irracionalidade, sendo assim um mal para a sociedade.


site: https://www.instagram.com/kaiquekhan/
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