Djeison.Hoerlle 16/05/2021
Primazia gráfica, não somente a arte deste quadrinho é sensacional em diversos níveis, como também o letreiramento e toda a diagramação enchem os olhos, sendo provavelmente um dos melhores projetos visuais que já me deparei nessa curta e pomposa vida de acumulador de papel.
Mas sejamos francos: a história não tem nem pé nem cabeça.
E ok, antes que me venham com paus e pedras na mão chamando-me de algum tipo de herege capaz de criticar o trabalho do criador dos Muppets (que sinceramente, não me chama tanta atenção) e do excelente Ramón K. Pérez, peço no entanto a oportunidade de fazer justiça à minha fala: Conto de Areia é o produto da interpretação de um ilustrador sobre o material inacabado e complexo de um roteirista, que sequer continua vivo, o que permitiria a consultoria para acerto de detalhes e pontos chave na trama. Por essa razão podemos considerar esta HQ não como parte do método tradicional colaborativo entre roteirista e ilustrador, mas uma adaptação de uma ideia, que em sua síntese, já era abstrata.
Por esta razão, Conto de Areia é confuso, nonsense e pouco instigante, apoiando-se no viés psicodélico para dar as caras sem parecer totalmente sem propósito. Essa ausência de trilha ou "âncoras narrativas" é o que torna o leitor incapaz de identificar-se com o personagem principal, diminuindo ainda mais o apreço pela obra.
E tudo bem, sei que obras com margens interpretativas e diferentes camadas sempre instigam o leitor, mas acredito que isso seja adequado no formato de níveis. Isto é, história em um primeiro plano acessível, mas que com as releituras, evidenciam-se novas perspectivas dentro do mesmo projeto narrativo.
Conto de Areia abraça o absurdo desde suas primeiras páginas, tirando qualquer possível mérito da narrativa, jogando totalmente a responsabilidade de atribuir significado ao leitor. Funcionou para muitos, mas em casos como o meu, não passa de uma experiência esquecível e totalmente presunçosa.