Domi Berthoux 31/07/2016
Bom, porém extremamente repetitivo
Eu recebi esse livro de presente da minha mãe logo após meu aniversário de quinze anos. Tive algumas expectativas assim que olhei a adorável capa do livro e descobri quem era Bruna Vieira ‒ diferentemente da maioria das leitoras desse livro, esses foram os primeiros textos da blogueira com os quais eu tive contato. Imaginei que o livro seria composto por contos narrativos que falassem sobre primeiras experiências, escola, bullying, drogas, responsabilidades, boas amizades, más amizades, a escolha da profissão e do curso universitário, as expectativas pro vestibular, família, festas de quinze anos, mudanças corporais (naturais ou não), viagens, romances, namoros e, por fim, as próprias experiências da Bruna ‒ como se mudar do interior de Minas Gerais para São Paulo para tentar realizar um sonho, viajar para a Europa, fazer tatuagens, se tornar uma pessoa influente na internet. Talvez cada conto tivesse sua própria narradora, pensei, já que aparentemente o livro se trata se “crônicas e contos” (pelo menos é o que está escrito na capa). Infelizmente, boa parte dessas expectativas foram frustradas.
A começar pela falta latente de versatilidade dos temas abordados no livro, o que não condiz em nada com uma fase tão turbulenta quanto a adolescência. Dos cinquenta e nove textos do livro, mais ou menos quarenta tem como tema principal o romance, e apenas o texto “Meu Primeiro Mês em São Paulo” não o cita. Mais da metade fala exclusivamente sobre namoros que deram errado ou namoros que deram certo. Três são sobre o porquê de ela escrever (contando com a introdução do livro), dois são sobre viver em São Paulo e menos de dez são sobre amadurecimento. Apenas um deles tem a amizade como tema principal. Alguns textos misturam temas, mas esses são poucos.
É quase desnecessário dizer que o fato de dos contos baterem sempre na mesma tecla me irritou profundamente. Esse é um dos maiores motivos pelos quais eu levei mais de um ano e meio para terminá-lo.
Além de priorizar totalmente um tema em detrimento dos outros, a coletânea tem um propósito confuso. Não é possível determinar se o livro se trata simplesmente de uma coletânea de textos que ela escreveu durante sua juventude, se também é uma espécie de autobiografia desconstruída (e a autora prefere falar de suas antigas paixões a falar de si mesma); ou se tem como propósito guiar jovens adolescentes. Há um quê autobiográfico porque o livro é extremamente pessoal, e são pouquíssimos os textos em que Bruna Vieira não é o narrador/eu lírico. Mesmo assim, a autora praticamente só fala sobre si quando o assunto é experiências românticas: resumo de seus primeiros trinta dias sem São Paulo foi espremido em um conto de míseras duas páginas e meia. E há um quê de guia porque os textos são subjetivos, como se houvesse a intenção de universalizar as situações descritas e fazer o leitor se identificar com elas. Além disso, alguns textos estão repletos de verbos imperativos, como se fossem conselhos de uma amiga. Ainda assim, nenhum dos dois aspectos foi dominante o suficiente para provar o objetivo do livro.
A inflexibilidade percebida nos temas abordados também ocorre com os gêneros utilizados. Mais de três quartos do livro têm um gênero textual difícil de classificar ‒ mas que certamente não lembram em nada um conto ou uma crônica. São algo entre o relato pessoal introspectivo e uma coletânea de “ensinamentos” de Bruna para as leitoras do livro. Apenas sete são efetivamente contos, sendo que cinco deles formam os últimos itens do sumário.
Há também um poema, que precede uma série de quatro folhas coloridas com fotos e microtextos da autora. As fotos têm um estilo espontâneo e um efeito gradiente multicolorido, que me agradou bastante. Entretanto o mesmo não pode se dizer dos textos e cobrem parcialmente as imagens. Não vi nada de especial neles, exceto pelo fato de serem mais curtos que os outros relatos presentes na coletânea.
Apesar das críticas, o livro possui vários pontos positivos: começando pela capa, que como já citei aqui, é uma gracinha. A questão estética do livro é extremamente bem planejada e executada, as fontes escolhidas e a paragrafação agradam aos olhos. E, embora alguns temas não sejam abordados com a profundidade que deveriam, os capítulos em geral tem o tamanho certo: entre uma e três páginas. Dá pra ler um pouquinho por dia.
Também percebe-se o talento da autora em se expressar com poucas palavras. Todos os textos são gostosos de ler a fáceis de entender. É inegável que a autora escreva bem; o problema é que as histórias são muito semelhantes entre si, e isso deixou o livro maçante.
Antes dos apelos finais, vou falar dos textos que pra mim foram mais significativos, a começar pelo final: o conto “Vértices de um amor”, que ocupa as últimas trinta páginas, se destacou bastante, ainda que alguns trechos tenham ficado apelativos, confusos ou inverossímeis. Entretanto, eu diria que o meu texto favorito é a crônica “Da janela do ônibus", por ser introspectivo e extremamente interessante.
Eu recomendaria esse livro para meninas de dez a catorze anos de idade, por representar a realidade de uma forma branda e agradável.