A República dos Sonhos

A República dos Sonhos Nélida Piñon




Resenhas - A República dos Sonhos


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@marcosmelhado 02/03/2022

Que livro chato! Finalizei essa leitura com sentimentos muito conflitantes. Tinha muitas expectativas por este ser considerado a obra prima da autora. É um livro longo com suas mais de 700 páginas. Tinha tudo para ser bom. E ele é e não é. Tentando explicar, a escrita da Nélida como sempre é muito boa. Os personagens são bem complexos e o pano de fundo histórico enriquece bastante o texto. A questão para mim é que como narrativa o texto não flui. Não tem nenhum personagem carismático, que faça o leitor se importar. Os dramas da família com o tempo se tornam cansativos. Depois de terminar a leitura eu percebi que o livro é incrível caso você isole personagens, trechos, capítulos. Tem muita coisa para ser debatida. Mas considerando o todo não passa de enfadonho. Em nenhum momento eu tive aquela vontade de voltar para a história e saber o destino daquelas pessoas. Acho que a melhor definição é que este é um daqueles livros escritos para os críticos, e não para os leitores. Fica a recomendação para quem gosta de ler livros importantes da nossa literatura ou que acompanha a obra da Nélida. Mas vá preparado kkkk.
Thiago275 02/03/2022minha estante
Essa é uma autora que não me chama a atenção.


mpettrus 03/03/2022minha estante
Tinha muita vontade de ler esse livro, mas depois dessa resenha, desistir de ler kakakaka


Marllon Oliveira 12/12/2023minha estante
Eu acredito que a experiência narrada de um, tem sua importância, porém, ao levar apenas essa experiência como única já acho inválida, já que do ponto de vista do rapaz que leu e fez a resenha, essa seja sua visão.




Debora 19/02/2023

Um livro monumental
Da Espanha ao Brasil, um romance histórico que reconstrói momentos importantes política e socialmente de ambos os países ao acompanhar a história de Madruga e da família que construiu, migrante que chega ao Brasil junto com Venâncio em busca de construir fortuna no Novo Mundo.
A leitura por vezes é maçante e repetitiva, mas vale a pena enfrenta-la. Ou degustá-la aos poucos
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Pedróviz 21/12/2011

A República dos Sonhos conta a estória do galego Madruga e seu amigo Venâncio, que chegam ao Brasil bem jovens. Conta como o primeiro fez família e fortuna através da sua ganância, constantemente substituída pelo eufemismo "sonho", e o segundo manteve uma vida solitária e simples de flâneur, mas sem jamais perderem o contato.

O livro é organizado em capítulos que são adotados pela narrativa ora de Madruga, ora da neta Breta, que conseguira lhe conquistar como uma boa ouvinte para as lendas da sua terra, herança de seu avô Xan.

O desenrolar dos capítulos aparentemente independentes, à medida em que o livro avança, vai ganhando corpo, dimensão. Cada vez mais vamos nos familiarizando com os personagens, tal é a caracterização psicológica feita de cada um ao longo desse livro; é como se, ao ler, não estivéssemos pensando em personagens, mas sobre pessoas reais.

A estória aborda, de forma direta ou indireta, assuntos como o trabalho enfrentado pelos imigrantes no Brasil, o capitalismo de Madruga, a morte de Getulio Vargas, relação de pais e filhos, inveja entre irmãos, direitos femininos e outros, citando à exaustão a palavra "sonho". Será que todos que vieram para esta terra vieram atrás de sonhos? Creio que vieram atrás de coisas bem concretas. Os sonhadores ficaram para trás como Venâncio e seu afilhado, Tobias. Resta saber o que é ficar para trás na corrida da existência. O que valerá a pena de fato no final das contas? Não terá sido mais sábio Venâncio ensinando seus valores a seu afilhado Tobias?

Apesar da estrutura em frases curtinhas, às vezes um tanto irritantes, a leitura da saga familiar de Madruga seguirá triunfante se houver um pouco de paciência e curiosidade por parte do leitor. Há muita informação de qualidade no livro e a leitura possibilita, ainda, a formação de belas imagens, principalmente na ambientação feita na aldeia onde Madruga nasceu, na Galícia.

Talvez a parte de maior lirismo na estória esteja no capítulo onde figuram os personagens Santiago e o jumento Pégaso. Uma fuga, entre algumas, que a autora faz no enredo principal, para dar um fôlego ao leitor.

Sim, pesados os prós e os contras, tem-se um livro muito bom, que necessita de paciência para ser lido.
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rosangela 20/11/2009

A república dos sonhos Nélida Pinõn


Um verdadeiro arquivo da história do Brasil, na página 114 lemos: e isso porque, de cara para aquele sistema de montanhas, acreditava ver o desfilar a crucial história da organização brasileira. Até chegando a ouvir os lamentos e brados dos bandeirantes, dos contrabandistas, dos cristãos novos, dos arrecadadores do ouro, avançando oeste adentro em vacilantes carroças e nos lombos dos animais. Uma humanidade pronta a servir de base para a formação de um povo claudicante.

Com discurso e outras livre indireto muitas a narrativa nos carrega em ávidas leituras sem saber ao certo quem fala, mas sem se apavorar bem no final decada capítulo conseguimos identicar cad detalhe que a narrativa mais do que rica nos passa. Valoriza-se tanto cada personagem que fica difícil identificar o persongem principal, como se os secundários fosse apenas as classes, grupos, nunca a família de Madruga. Madruga um imigrante

É melhor dizer que dentro da história da ditadura brasileira e da história do Brasil, há uma história maravilhosa de Madruga um senhor que chega aos seus 80anos e que desde o início do livro vê a esposa no leito esperando a morte. Com vários filhos, cada qual com sua personalidade, cada qual um riquíssimo personagem que encanta a cada página virada. É uma narrativa deliciosa e historicamente fascinante. Foi o melhor jeito que conheci a história do Brasil com seus imigrantes e suas terras tão longe de nós, que se aventuram no Brasil.

Passa-se no Rio de Janeiro-Leblon, inicia-se com a esposa morrendo, Madruga sai da Galícia aos 13 anos com a ajuda do tio Justo, na época era homem de verdade aquele que conseguisse sair de um lugar gasto como Galícia e fosse para a Terra descoberta linda e nova, o Brasil das lendas da Galícias que se fala em toda a narrativa, mas não se contou nenhuma delas. Pai Ceferino e mãe Urcesina difícil deixá-los, mas Madruga consegue ficar no Brasil. Um amigo de 30 anos Venâncio que muito amava Eulália esposa de Madruga. Uma neta que parece a protagonista em algumas partes da narrativa, que fiocu exilada em Paris por dois anos. A única que voltou à terra do pai com 10 anos de idade a Espanha.
Seus filhos: Esperança a filha que morreu ao chegar no Brasil ao fim da viagem de Espanha para o Brasil; Tobias último filho, o mais carinhoso com Eulália pertencia à UNE e defendia as causas perdidas da ditadura, um advogado dos pobres, envolvia-se com os casos das mães que perdiam os filhos nos escombros da maldade da prisão, não havia justiça no Brasil; Miguel casado com Silvia Antônia invejosa de Esperança (segunda a primeira faleceu ao chegar no Brasil) uma mulher que gerava tensões e fantasias excessivas na família; Bento se casou com a filha de Juscelino Kubstcheck escolhida a dedo já que Bento era o filho que tinha complexo de inferioridade na família e assim agia para sobressair em tudo nos negócios do pai, era p mais ajuizado. Tinha Luis Filho marido de Antônia um almofadinha que vivia às custas de Madruga.

É uma narrativa histórica-psicológica com riquezas impressionantes, tamanha a beleza com que se traduz tão perfeitamente um momento histórico, um romance e uma realidade na qual vivemos e não poderíamos descrevê-la com tanta exatidão como faz a autora. São prolepses passado e presente e a minusiosa capacidade de se descrever até mesmo o som da fala de Tobias pelos lábios de Eulália, belo demais.

Fica dificílimo resumir tanta metaliguagem, tanta perfeição em detalhar cada momento da obra num todo.
Enquanto Madruga enriquecia e desvendava os caminhos práticos da vida, Venâncio seu braço direito e pode-se dizer também esquerdo ficou com todos os sonhos, lendas e sensibilidade de Madruga e não suportou a realidade e nem a exploração de tantos que assaltavam países como o Brasil, sem qualquer obstáculo. Venâncio perdeu toda ilusão e foi padrinho de Tobias, o qual herdou do padrinho todo esse lado sensível, pois eram muito amigos. Foram 30 anos de amizade entre Venâncio e Madruga.

Os capítulos nos impulsionam a querer ver o final sem nem mesmo importar com o equilíbrio da narrativa, sem qualquer climax,apenas a morte de Esperança que só foi explicada na página 300, mas com muitos capítulos que começam com personagens diferentes em lugares mais diferentes ainda, porém todos interligados ao ponto incial da narrativa, o dor de Madruga e dos filhos com a mãe no leito de morte. É como uma viagem sem fim, ua viagem deliciosa de se fazer. A riqueza histórica-psicológica faz-sina.

Parece que na velhice o cansado jovem conquistador passa a narrativa para as mãos de sua neta querida. A descrição da família ao olhar um quadro na parede foi um recurso apreciável demais, rico demais. Como é difícil resumir um livro com tantas e tantas riquezas.
Historicamente há um resumo interessante: o rio de janeiro se diverte, é descansado; Brasília é abusiva, nada representa; São Paulo não pára, progredir é seu lema; Belo Horizonte é calma, acha-se a melhor cidade do país.

Nélida Pinõn e A República do Sonhos é uma obra-prima com uma precisão de fatos históricos, literários e psicológicos, que só com gênios como Garcia Marques e seus Cem anos de solidão podemos analogar.
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JuPenoni 09/06/2021

Que livro bom!!
Nélida nos convida a desacelerar nesse livro.
Por não seguir uma ordem cronológica, aos poucos a história vai se construindo como uma memória, como se fosse uma história oral.
Com alguns mistérios em relação à alguns personagens, a história não perde fôlego.
Vale muito a leitura!
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Elizangela 25/03/2023

Ganhar o ouro ou ganhar o amor?
Foram dois meses imersa na história de vida dos personagens Madruga, Venâncio e Eulália. Nélida Pinon retrata em A república dos sonhos, a vinda de dois espanhóis à terras brasileiras. Um traz o sonho de "fazer a América" e tornar-se rico. O outro traz o sonho de somente viver e contemplar o vasto Brasil. E suas vidas são descortinadas trazendo no bojo as dores e os amores destes personagens e de seus descendentes. Uma lição do que realmente importa sonhar...
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MK 27/09/2016

Porque a história do Brasil e do humano não começaram ontem
Para escrever o romance A República dos Sonhos, Nélida Piñon se auto exilou em Congonhas do Campo – MG, no ano de 1980. A edição comemorativa aos 30 anos da obra traz, inclusive, a lista de pertences (bem poucos) que ela levou consigo para a pensão onde cumpriu a rotina intensa que resultou em uma república desvendada a partir da obsessão de um jovem espanhol pela prosperidade na América. A Galícia é justamente a terra de onde o avô de Nélida partiu, junto com seus irmãos, para escapar dos efeitos da guerra.
O romance, além de narrar sonhos e decepções, permite muitas outras leituras – tanto no sentido da interpretação como no literal, pois é livro para ler e reler ao longo da vida. Ao narrar a saga do imigrantes audaz e ambicioso que atravessa o oceano para conquistar fortuna e que, uma vez estabelecido no Rio de Janeiro, constrói para si uma família tratada muitas vezes como uma espécie de adereço, o livro traz também um panorama histórico do Brasil desde o final da monarquia (ainda que apenas através das maquinações e memórias inventadas de um dos personagens) até os estertores da ditadura militar, incluindo as perseguições das quais a própria família do protagonista teve de se esquivar. Mas, mais que tudo, o romance nos enreda na tessitura complexa de sonhos e de batalhas contra prescrições sociais limitadoras, e nos apresenta um retrato luminoso das dificuldades e desencontros que permeiam as interações humanas, sejam ditadas por sanguíneos ou quaisquer tipos de afeto.

Leva tempo para vencer a narrativa que expande o intervalo de poucas semanas – as últimas da esposa do protagonista – em um labirinto de recordações capazes de desvendar as origens e os descaminhos de Madruga e todas as consequências colhidas por ele próprio e as que respingaram nos filhos e agregados. A leitura não é fácil, menos pela complexidade do texto – direto e claro, mas não despido de poesia e forte crítica – mas porque cada personagem se desnuda ao leitor provocando reflexões muitas vezes dolorosas acerca da condição humana em geral e em particular do Brasil e da mulher.
No link me demoro um pouco mais em trechos específicos e nos efeitos que me causaram...

site: http://www.mauremkayna.com/a-republica-dos-sonhos/
Ana 27/09/2016minha estante
ainda não li nada da Nélida (confesso que não vou com a cara dela (julgando a partir de entrevistas por aí rs) mas desse já tive várias referências boas. De qualquer modo, tentar brigar com o Proust nas atuais circunstâncias de mãe de moleque invocado já me tira de combate para outro tiro longo de leitura rs




CAMBARÃ 29/04/2020

O livro narrava sem linearidade cronológica a história de madruga sua família e seu grande amigo Venâncio,esse forma de contar história é bem proveitosa e satisfatória Para o leitor que não precisa esperar começo meio ou fim para tem a conclusão formada de alguma personagem.
Apesar de tem gostado não me vejo indicando esse livro por achar que muitos dos meus amigos não virtuais abandonaria antes da páginas 300.
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Daiane316 14/06/2023

Saga familiar e o idealismo
Lido em janeiro 2023

A República dos Sonhos fala da vida e do que há nela de literário. Saga familiar que é, conta a vinda de um povo antigo e tradicional para uma terra nova, em que a história mais é feita do que herdada. O que Nélida Piñon faz é mediar essa travessia, tal qual o Atlântico antes dela, ciente de que não é possível esquecer, e convicta de que não se pode perder de vista o novo, colocando-se de costas viradas. Nélida Piñon homenageia a Galícia porque está decidida a seguir em frente no Brasil. Com esse gesto convida seus concidadãos brasileiros - os quais, à semelhança de rios, desaguaram juntos nesta terra de reunião -, a resgatarem suas memórias ancestrais a fim de trazê-las orgulhosamente ao novo ajuntamento, dando a este cores e contornos únicos.
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Humberto 01/08/2014

Muito bem escrito, muito inteligente o emaranhado, o conto porém...
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Carlos Silva 26/07/2017

Esqueçam, limpem a taça antes de experimentar o vinho novo
E lá vou novamente, terceira tentativa, espero que dessa vez consiga termina-lo...

NÃO DIGO QUE TEM SPOILERS, MAS TAMBÉM NÃO DIGO QUE NÃO TEM, TEM ALGUMAS COISAS AQUI QUE PODEM AJUDAR A ENTENDER A HISTÓRIA CONTADA, MAS TAMBÉM ACHO QUE NEM DEVE SER CONSIDERADA COM TAL PERSPECTIVA, VISTO QUE DOS 16 PERSONAGENS RETRATADOS NO LIVRO, NENHUM SERÁ NOMEADO AQUI. :D

Bom, finalmente terminei, não vou tentar escrever qualquer tipo de resenha aqui, principalmente porque não sou disso, reservo-me apenas a dar minha nota e escrever algumas poucas vezes algumas palavras, e lá vamos a elas dessa.

Recomendar? bem, não posso, esse é um livro estranho, a começar pela narrativa que que não se preocupa com seguir uma linha do tempo precisa, mas parecendo uma pessoa que ao folhear um livro com tédio vai pulando as páginas, indo e voltando as vezes quando alguma coisa lhe chama atenção e o leitor quer saber mais de certo fato, e isso se torna muito estranho, misturado também com jeito bastante estranho de mudar de assunto dentro do "capítulo", em alguns casos eu tive que voltar uma ou duas páginas por perceber que não havia dado a devida atenção a um fato muito importante da trama, simplesmente porque ele tá jogado no meio do texto. (Menos uma estrela)

Que me tirou a segunda estrela foi o fato que o livro apesar de tentar contar a história dessa família no Brasil (ou a América como irritantemente foi repetido ao longo do livro, como se fossem norte americanos falando ao invés de espanhóis como estou acostumado a ouvir), desde a chegada, o omitiu praticamente tudo da infância dos filhos, não teve um aniversário se quer (ou teve e a memória já me começa a falhar?), deixando muitos pedaços da construção dessas personagens e consequentemente da vida deles para o leitor completar, o que não seria nada se não fosse justamente esses pedaços os responsáveis por moldar o caráter e o que eles seriam no futuro e os modos que iriam representar na vida adulta. (Menos a segunda estrela)

O que me deixo um pouco irritado foi o excessivo uso de analogias a sexo, ficando as vezes parecendo que tudo que os personagens fazia era pensar nisso o que fica estranho (mais uma vez essa palavra, hora de arrumar um dicionário de sinônimos) para uma família que provem de uma mãe tão recatada, também algumas atitudes do pai em querer dos filhos um exemplo de perfeição social, quando ele é o mais devasso entre eles (um mundo onde os homens podem tudo e as mulheres só observam), mas isso até que dá pra entender e relevar levando em consideração o "tempo" que a autora quis retratar. (deixa essa estrela quieta)

Muitas coisas aprendi com esse livro, e algumas delas vou levar por bastante tempo comigo, não para sempre porque sei que mesmo eu não queira, a memória em breve vai começar a falhar ou até mesmo terei que liberar espaço pra outras coisas, o mais importante que aprendi e que por algum motivo não tinha me dado conta antes, é que antes de começar a ler qualquer história, ESQUEÇA, esqueça tudo, limpe sua mente do mundo do lado de cá, embarque e assuma que você a cada página está crescendo com o rolar das páginas, talvez se eu tivesse aprendido isso antes, eu tivesse gostado mais de um certo livro de "anjos" (se bem que a "borracha" do final daquele livro me faz joga-lo mais para o buraco cada vez que lembro disso dela).

Bom é isso, se quiserem ler ele, que leia, busquem um lugar calmo, não tenham pressa em termina-lo, apenas leiam, mas primeiro ESQUEÇAM, limpem a taça e quem sabe assim esse vinho lhe seja melhor degustado do que foi por minha pessoa. :D
Gustavo.Paiva 24/04/2018minha estante
Eu achei a história muito chata, principalmente pelo fato de o livro haver muitas palavras que eu desconhecia, oque prejudicou o meu entendimento do texto. Mas vale ressaltar que eu tenho 13 anos, mesmo assim acho que muitas pessoas tiveram dificuldades com as palavras usadas no texto.
Você teve esta dificuldade?




Raphael 16/11/2020

Termino a leitura completamente rendido à genialidade desta escritora brasileira...
A República dos Sonhos foi o meu primeiro contato com a obra de Nélida Piñon. Termino a leitura completamente rendido à genialidade desta escritora brasileira e tenho o ímpeto de fazer coro ao português Eduardo Lourenço, que apontou-a como uma das maiores escritoras da América Latina e como a maior escritora brasileira viva. Contenho-me por pudor, apenas porque tenho muito que navegar pela sua obra. E já tenho dois livros dela aqui, na fila de espera - "A Casa da Paixão" e o seu romance recém-lançado, "Um Dia Chegarei a Sagres".

No instigante texto de apresentação da obra, o escritor Alberto Mussa não tem dúvidas em apontar "A República dos Sonhos" como um dos textos seminais da cultura ocidental, apresentando-o como um "romance total", como um "romance perfeito".
O romance narra a saga de Madruga, um imigrante que, com apenas 13 anos de idade, foge da Galícia no início do século XX, decidido a fazer fortuna e deitar raízes no Brasil. Na travessia atlântica, conhece Venâncio, que se tornará seu amigo e companheiro de aventura ao longo de toda a vida. Com o passar dos anos, enquanto Madruga se casa e constitui família, seus filhos e netos vão consolidando o estabelecimento de suas raízes em terras brasileiras, e o leitor, a partir do espaço orbital dessa família, se vê conduzido ao longo da história do Brasil do século XX. A modernização do Rio de Janeiro, a condição do imigrante europeu, a questão racial, as estruturas da República Velha, a Revolução de 1930, a Era Vargas, a ditadura estadonovista, a Segunda Guerra Mundial e a queda de Getúlio; as perspectivas desenvolvimentistas dos anos Juscelino, a tensão dos anos Jango, a ditadura militar, as perseguições políticas, a tortura, os exilados, etcéteras a perder de vista. Para completar, a raiz que liga nossos personagens à Espanha também nos situa em face de um dramático processo histórico transcorrido no Velho Mundo: a Guerra Civil Espanhola e o advento do franquismo.

A par da tessitura dos contextos, os temas trabalhados em A República dos Sonhos são muitos: a dimensão da ancestralidade, o espaço das lendas e das narrativas míticas e seu sentido aglutinador, no que respeita à construção de uma identidade nacional; o estatuto social da mulher - da mulher negra, inclusive; a sexualidade e, em particular, a sexualidade feminina em face de um contexto que a oprime. Os temas são tantos, o romance tem tantas camadas, que me desobrigo da pretensão de ser exaustivo para não correr o risco de exaurir os eventuais leitores dessa resenha.

Em verdade, trata-se de um romance multidimensional, cheio de camadas. E a percepção dessa multidimensionalidade é reforçada pelas escolhas narrativas da autora que torce completamente a cronologia, transitando a todo momento entre o passado e o futuro, num fluxo quase desconcertante, embora tremendamente arrebatador, numa viagem guiada por três vozes narrativas que se alternam - duas delas em primeira pessoa (a narrativa de Madruga e a de sua neta, Breta) e uma, impessoal, em terceira pessoa.

Aliás, o desarranjo da cronologia do texto me causou um efeito curioso. A maneira como o livro inicia, conjugada com algumas pistas colhidas no texto de abertura assinado pelo escritor Alberto Mussa, me sugeriu algumas ideias de como o romance poderia terminar. Por essa razão, não tive tanto aquela ansiedade para chegar ao final. Eu queria saber o que aconteceu no meio do caminho. Por isso, fica aqui uma sugestão: "A República dos Sonhos" é uma leitura para ser apreciada sem pressa.

Quanto ao mais, destaco a estética do texto nelidiano, a grandiloquência dos diálogos, a riqueza da construção íntima dos personagens, às voltas com suas contradições e me fica a impressão de que "A República dos Sonhos" é dessas obras que geram, como efeito reflexo, um certo encantamento pela vida, pela efemeridade do humano - inclusive no que respeita à sua dimensão trágica. Quase dá vontade de passar a interpelar as pessoas na rua - sobretudo os idosos - a fim de ouvir-lhes as histórias.

Devo dizer, no entanto, que, terminada a leitura desse romance monumental, defronta-me uma perplexidade: como é que uma obra de arte dessa magnitude, dessa densidade, dessa qualidade segue sendo tão pouco lida - e até mesmo pouco conhecida, fora de determinados nichos? Como é que uma escritora da estatura de Nélida Piñon segue sendo tão pouco valorizada por nós, brasileiros? Se utilizamos o próprio Skoob como termômetro, veremos que apenas 151 pessoas leram esse livro até o momento. É muito pouco, quando comparamos com outros grandes textos da literatura brasileira. Assisti a um bate-papo recente de Nélida com o Professor João Cezar de Castro Rocha, em que ela disse a ele que sua obra nunca foi bem compreendida no Brasil e que ela sempre foi mais reconhecida no exterior do que por aqui. Não posso evitar o sentimento de injustiça que essa situação encerra e gostaria muito que Nélida fosse cada vez mais descoberta por leitores brasileiros.

Se essa modesta resenha servir para despertar o interesse de um leitor que seja, já me darei por recompensado. Leiamos Nélida Piñon!

site: insta: @raphaelivros
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Maira.Gouvea 22/12/2022minha estante
Ao procurar informações sobre o livro, li as críticas acima e fiquei perplexa com a péssima qualidade dos escritos. Parecia-me que, entre quem se dispõe a ler a Nélida, sabidamente uma escritora complexa, não encontraria pessoas que escrevem tão mal, com frases sem sentido, mal pontuadas, grafias erradas!... Nem se dão ao trabalho de reler o que escrevem!!! Assim, detive-me nos comentários do Raphael, de 10/11/22, que gostei muito!




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