Matheus Fellipe 30/09/2016
Muita ação, reviravoltas, tensão e excitação
Assim como em O Hipnotista, o casal sueco Alexandra e Alexander Ahndoril, que escreve sob o pseudônimo de Lars Kepler, arrebenta com tudo. Eles conseguem misturar o brutal com o psicológico dos personagens, possuem sangue frio para descrever as piores cenas de violência e ao mesmo tempo a delicadeza para tocar as notas de um violino através das palavras. Não vou me ater ao enredo do livro pois a sinopse já mostra sua essência, mas já adianto que vai muito além disso, nada é o que parece.
“A luz quente do sol espalha-se na sala, vindo de janelas altas. [...] está pendurado no centro da sala espaçosa. Moscas caminham sobre seu rosto branco e para dentro das órbitas e da boca aberta para colocar seus pequenos ovos amarelados. Elas também zumbem acima da poça de urina, bem como da esguia maleta preta no chão. A corda de varal fina cortou um pouco o pescoço de [...], produzindo um profundo sulco vermelho. Escorreu sangue pela frente da camisa.” — Pág. 30
O Pesadelo levanta divergentes opiniões, alguns consideram que a leitura é, literalmente, um pesadelo por suas minúcias e descrições, outros leem o livro porque acham a capa bonita e despejam xingamentos quanto não encontram o que esperavam, por fim existem aqueles que, assim como eu, encontraram no livro uma miscelânea dos melhores elementos de um bom thriller, ou seja, muita ação, reviravoltas, tensão e excitação.
Os autores mais uma vez conseguiram dar vida e desenvolver seus personagens muito bem, em especial o detetive Joona Linna, que nos foi mostrado não só como um policial em busca de justiça, mas também conhecemos o seu lado humano, seus sentimentos e origens. Claro que ele não foi totalmente dissecado, há muito ainda a ser contado sobre ele nos próximos livros, mas nesse segundo caso escrito eles nos permitem aproximar e conhecer melhor o protagonista.
“Suas mãos tremem enquanto tenta discar um número no telefone. Ouve o piso ranger quando alguém entra rapidamente na sala. Não há tempo de telefonar. Tenta chegar à janela, para poder gritar para a rua pedindo ajuda, mas alguém agarra seu pulso enquanto enfia um instrumento frio em seu pescoço. Ele não percebe que é uma arma de choque: 69 mil volts de eletricidade pulsam por seu corpo.” — Pág. 368
Os mortes aqui, são movidas pelo poder e motivadas por traição, envolvem política e pessoas da alta sociedade sueca, onde ser desleal significa romper relações, tendo que pagar as dívidas com o seu pior pesadelo, o que pode ser a própria morte ou a morte daqueles que mais ama. Os métodos? Aquele que mais der medo ou perturbar o personagem. O livro possui morte por facadas, incêndio criminoso, arma de fogo, suicídio encenado etc. São casos aparentemente isolados que no fundo têm a mesma origem, a qual vamos descobrindo aos poucos.
“O homem joga o fósforo na grama encharcada de gasolina. Ela faz um som de sucção, como uma vela de barco quando se enche de vento. Chamas azul claras brotam com tal força que o homem tem de recuar. O garoto está gritando por ajuda. O fogo cerca o barracão rapidamente. O homem recua mais alguns passos. Sente o calor no rosto; ouve os gritos terríveis.” — Pág. 91
O quebra-cabeças vai se formando aos poucos, a medida em que Joona e Saga, uma detetive que cruzou seu caminho, vão encontrando as peças e rearranjando-as. O livro é repleto de perseguição, sangue, tiroteios, o que te deixa sem fôlego a todo instante, mas nunca abandona sua linhagem psicológica e humana, abordando sentimentos e temas mais densos para nos deixar respirar e refletir.
Por que citei violino durante a resenha? Pois grande parte da história envolve a música. Seja com personagens que tocam, seja com outros que ouvem, ou mesmo aqueles que matam. O título original do livro em sueco, Paganinikontraktet, poderia ser traduzido como Contrato Paganini, que são contratos firmados durante o livro e que possuem a peculiaridade de terem que ser assinados ouvindo-se músicas de Paganini, que foi um compositor e violinista italiano que revolucionou a arte de tocar violino, mas isso é curiosidade e você vai descobrir mais ao ler o livro.
Não sei se você leitor gosta de ouvir música enquanto lê, mas eu li o livro ao som de violinos e foi uma excelente trilha sonora, causando arrepios e tensão. Se você gosta de bons livros policiais esse aqui cumpre muito bem o seu papel. Não é perfeito, mas irá te envolver e te proporcionar ótimos momentos. Avalio em 5 estrelas.
OBS.: No final do livro há um possível gancho para o próximo livro, que em Portugal levou o título de “A Vidente”. Os dois primeiros livros de Lars Kepler foram lançados pela Intrínseca aqui no Brasil, que por sinal fizeram uma linda edição. Como já se passaram 4 anos do lançamento de O Pesadelo, acredito que eles não continuarão lançando os próximos, mas não custa perturbá-los para que lancem. Então se vocês gostarem do livro, mandem e-mail, comentem nos posts do Facebook deles, vamos tentar trazer mais livros dos autores para o Brasil.
site: http://leitornoturno.blogspot.com.br/2016/09/resenha-o-pesadelo-lars-kepler.html