Anderson Tiago 13/06/2016Flintlock Fantasy [INTOCADOS]O subgênero da fantasia conhecido como “flintlock fantasy” tem angariado cada vez mais representantes mundo afora. Nele vemos as armas tradicionais da fantasia: espada, lança, machado, substituídos por armas de fogo rudimentares, com tecnologia similar à que encontraríamos no nosso mundo no século XVIII. Embora esse conceito não seja inteiramente novo, a sua atual popularidade pode ser atribuída principalmente a dois autores ainda inéditos no Brasil: Brian McClellan e Django Wexler.
O primeiro já teve o seu livro de estreia, Promise of Blood, resenhado aqui no INtocados. Já o segundo será abordado nessa resenha de The Thousand Names, primeiro livro de sua série The Shadows Campaigns. Nesse primeiro volume, acompanhamos as desventuras do exército Vordanai em Khandar, principalmente pelos pontos de vista do Capitão Marcus D’Ivoire e da Tenente Winter Ihernglass, uma mulher que se disfarçou de homem para entrar no exército. A vida dos soldados em Khandar era até tranquila, mas uma insurreição de fanáticos religiosos os obrigou a fugir às pressas da capital e se refugiar em uma pequena fortaleza no litoral. Quando os veteranos do exército finalmente pensavam que seriam resgatados de Khandar, são surpreendidos com a chegada de novas tropas sob a liderança do Coronel Janus bet Vhalnich, com ordens para derrotar a insurreição e recuperar a capital de Khandar. Algo praticamente impossível.
Uma das coisas que me chamou a atenção imediatamente em relação à escrita de Wexler é como a leitura é gostosa já no começo do livro. Não há aquele período de estranheza e adaptação inicial que algumas obras causam. Muito disso se deve, principalmente, ao fato do leitor conseguir simpatizar de imediato com os personagens principais e secundários. Todos eles têm características que os tornam únicos e admiráveis. A lealdade e o senso de dever de Marcus, a inteligência e bondade de Winter, a tranquilidade e esperteza de Janus, a eficiência de Fitz, e por aí vai. São os personagens os verdadeiros fios condutores da trama.
Marcus logo se torna o principal aliado do Coronel Janus, cujos métodos, embora esquisitos e incomuns, parecem dar resultado. Essa lealdade ao seu comandante será, por sua vez, testada quando Marcus descobrir que uma agente do governo Vordanai foi enviada junto às tropas para investigar Janus. Ainda mais quando ele e essa agente, Jen Alhundt, começarem a se aproximar cada vez mais.
Winter sempre quis chamar o mínimo de atenção por medo de ter seu segredo revelado. A chegada do novo coronel, no entanto, a coloca em uma posição em que ela tem que liderar uma companhia inteira. Mesmo temerosa e atormentada por um fantasma do passado, ela fará de tudo para manter à salvo aqueles sob seu comando.
Em comparação com Promise of Blood, que tem um clima bem mais urbano, eu diria que The Thousand Names é uma fantasia bem mais militar, com verdadeiras batalhas campais travadas entre os exércitos. Aqui encontramos uma grande qualidade da obra, mas também o seu único defeito. As batalhas são extremamente bem descritas, e mostram o quão grande é a mudança em relação às batalhas tradicionais de fantasia quando você adiciona armas de fogo e canhões à equação. No entanto, em certo momento, senti que as batalhas por vezes se estendiam por mais tempo que o necessário, prejudicando o ritmo da leitura.
A magia é misteriosa, e de certa forma, de menor importância durante boa parte da trama. No final, entretanto, quando se revela de forma definitiva, mostra que ainda existe muito a ser explicado nos próximos livros.
The Thousand Names foi uma leitura bastante agradável, mas que foi prejudicado por ter sido lido no momento errado. Dei quatro estrelas no Goodreads, mas sei que o seu potencial o credencia para uma nota ainda maior. Esse título seria uma excelente aposta para todas as editoras que publicam fantasia no Brasil. Tenho certeza que grande parte dos leitores brasileiros adorariam a “flintlock fantasy”.
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