Emanuel.Müller 19/04/2021
Recomendo que leiam esta grande obra deste grande mestre espiritual! Excelente obra!
Muitos pensam que a Igreja abominava os escritos profanos e dos pagãos, mas pelo que mostra o testemunho deste pai da Igreja, no século IV, mostra-se ao contrário.
Nesta resenha de hoje falarei deste incrível livro em que aprendi questões filosóficas, teológicas, espirituais, culturais, e especialmente musicais, com este grande santo e teólogo da Patrística: São Basílio de Cesareia. Em que escreve esta Carta sobre a Utilidade da Literatura Pagã, em que se resumo em cinco breves e riquíssimos capítulos; incluindo no livro algumas introduções sobre o santo, um prefácio e posfácio do Papa Bento XVI, uma breve biografia sobre o santo, assim como mais duas prédicas: Sermão sobre o Desapego das Coisas Mundanas e o Sermão sobre a Humildade.
Os padres da Capadócia, como bem disse a introdução do livro, escrita pela editora Ecclesiae: “Foi comum na Igreja Antiga, sobretudo entre os Padres Capadócios, usar os recursos da literatura grega para pregar e defender a doutrina católica. Orígines e Clemente de Alexandria já haviam absorvido a tradição filosófica para demonstrar os pontos de vista da Revelação Cristã. Era uma época em que o processo interpretativo já não se fazia suficiente, em função das inúmeras questões levantadas sobre os significados das narrativas bíblicas. Assim nasceu a filosofia cristã, profundamente ligada a ensinamentos que visavam orientar os homens na busca da verdade, combinando demonstração fundada na Revelação Divina com a argumentação racional acerca dela. Para tanto, usou-se, além dos métodos filosóficos, a oratória e também os gêneros literário da tradição grega” (p.7).
Mas afinal, os padres da Igreja paganizaram a Sã Doutrina? Não. Infelizmente muitos pensam isso, mas não é verdade. A Igreja desde o princípio via que, por mais que Deus se revelou presencialmente ao povo eleito, aos hebreus, Ele também estava preparando todo o resto dos povos da terra para receber o Evangelho. Não é a toa que todos os demais povos eram religiosos e buscavam a Deus, por mais que cultuassem vários deuses, sempre tiveram consigo o espírito religioso e a busca constante com o sagrado, buscando o sentido do ser. Papa João XXIII, em seu documento “Veterum Sapientas”, escreve o seguinte sobre isto:
“A sabedoria antiga, encerrada na literatura grega,e romana, e também as esclarecidas doutrinas dos povos antigos, são tidas como uma aurora anunciadora do Evangelho que o Filho de Deus, árbitro e mestre da graça e da doutrina, luz e guia da humanidade anunciou sobre a terra. Os Padres e Doutros da Igreja reconheceram naqueles antiquíssimos e importantíssimos monumentos literários, certa preparação das mentes para receber as riquezas divinas que Jess Cristo, na economia da plenitude dos tempos, comunicou aos homens; não se perdeu, portanto, com a introdução do cristianismo no mundo, nada do que os séculos precedentes haviam produzido de verdadeiro, justo, nobre e belo”
(Tradução minha do documento do espanhol: JOÃO VIII, PAPA. Veterum Sapientas. Vaticano. Disponível em Acesso em 12 mar. 21>).
Muitos dos escritos literários profanos e pagãos que temos até hoje, foram conservados e transcritos pelos beneditinos no decorrer do século, para não se perder a riqueza cultura.
Se os Padres da Igreja, sobretudo os da Capadócia, defendiam a literatura pagã, que dizia São Basílio?
São Basílio foi um grande estudioso de retórica, mas sentido que seus discursos não preenchiam seu coração, encontrou, então, refugio na Verdade que é Jesus Cristo. Tornou-se um grande padre, depois bispo. Defendeu a doutrina da Trindade, muito discutida em seu período, por causa do arianismo. Tinha um carinho imenso aos pobres e mais necessitados, a ponto do Papa Bento XVI se dizer em seu posfácio que São Basilio é realmente um dos Padres da Doutrina Social da Igreja” (p.99). Vejamos algumas de suas frases em favor da caridade e do amor aos mais necessitados:
“Todos os necessitados olham para as nossas mãos, como nós próprios olhamos para as de Deus, quando estamos em necessidade” (p.99).
Em criticar a bajulação aos ricos e ao desprezo aos mais necessitados, ele faz uma dura crítica em seu sermão sobre o desapego as coisas do mundo:
“Não, não é para salvar nossas riquezas que desprezamos nossos semelhantes estendidos no chão; não é para deixa-las aos filhos ou parentes que tapamos os ouvidos às súplicas do necessitados; no entanto, é para as consumirmos em despesas infames, recompensando e incentivando o mal, através de uma liberalidade perigosa, àqueles que ainda não se dedicam a ele. Quantos, sejam homens ou mulheres, sentam-se ao redor de mesas fartas dos ricos para se divertires com palavras, olhares e gestos obscenos que lhes acendam o fogo da luxúria? Uns fazem provocações picantes, a fim de provocar o riso naqueles que os convidaram; outros os enganam com falsos elogios. Um magnífico banquete, vantajoso não apenas pelas coisas que lá os convidados possam consumir, mas também pelos ricos presentes que trazem consigo. Assim, acabamos por achar melhor bajular os ricos do que praticar a virtude. E, se um pobre aparece à nossa vista, mal nos podendo falar por estar abatido pela fome, temos horror, embora ele compartilhe da nossa natureza. Enfim, ele nos causa desgosto e por ele passamos apressados, como se sua miséria fosse contagiosa. Se a vergonha do seu estado miserável o faz baixar a cabeça, acanhado talvez de pedir e manifestar sua miséria, então chamamo-lo de hipócrita! E, se agir com liberdade e confiança, estimulado mesmo pela violência da fome que sente, temo-lo por insolente, atrevido, desavergonhado. Se estiver ainda coberto com boas roupas, a ele dadas por alguma alma caridosa, será tomado como um avarento que dissimula pobreza e necessidade. Mas se, ao contrário, vestir-se com andrajos, dele nos afastamos ainda mais por causa do mau cheiro que exala. Então, ainda que suplique em nome de Deus, seria em vão; de nada adiantaria implorar ao céu para que nós livrássemos de tais infortúnios, pois ele não pode dobrar nossa alma impiedosa. Isso é o que me faz temer que venhamos a ser precipitados nas chamas devoradoras tal como o rico mau” (da parábola do Rico e o Lázaro) (p.72-74).
Amigos, o homem não mudou NADA. Os que afirmarem que o ser humano é mais evoluído que o de ontem, é um mentiroso. Porque seguimos os mesmos soberbos, avarentos, vaidosos, arrogantes, etc. Este exemplo, não só retrataria Scrooge (da obra a Uma Canção de Natal do Charles Dickens), mas como todos nós. Este cutucão senti em mim também, de tão real que é. Mas temos que seguir aprendendo, sobretudo com os santos.
Outra coisa que aprendi com ele foi que alma ganha forma conforme os nossos costumes e gostos. Ele trata mais disso no seu Sermão sobre a Humildade, mais no final, quando dá seus conselhos de como buscar a virtude da humildade, que é a cura da soberba: raiz de todos os pecados, como afirmava Santo Agostinho, em seu livro Sobre o livre-arbítrio.
A respeito da carta, ele fala que é importante ler para absorver com há de bom e virtuoso da obra. Não é porque é profano ou pagão que podemos jogar na lata do lixo. Não! Podemos colher coisas boas e virtuosas.
Ora, um exemplo básico, ao colhermos uma fruta, como morango, e vermos que tem um pedaço que é podre, jogaremos fora toda a fruta por causa daquele pequeno pedaço deletério? Não! Jogaremos fora a parte que não presta e alimentaremos do que é de bom da fruta. O mesmo ocorre com a leitura.
Vemos uma tendência atual de que “tal autor não leio, porque é de tal pensamento”. Ora, podemos aprender muitas coisas boas daquele autor, mesmo discordando dele. Darei-lhes um exemplo: eu já li dois livros do filósofo Luiz Felipe Pondé, discordo de muitas coisas dele, mas aprendi muito com ele, de verdade. Ele foi a minha porta de entrada para me interessar a ler as obras de Platão e Aristóteles, autores em que nem me importava muito, assim como os outros gregos. Podemos colher coisas e virtuosas até mesmo dos autores que mais discordamos. E se não encontrarmos nada de bom, teremos colhido algo de bom? Acredito que sim, pois aprenderemos como não agir e como não pensar.
São Basílio fala que temos que ser como a abelha, em que não pega o pólen de toda e qualquer flor, mas escolhe bem a sua flor e não pega todo o pólen que há nela, mas sim o que percebe que é frutuoso e proveitoso para levar consigo para a colmeia, temos que agir como as abelhas. Colher o que há de virtuoso na obra e o que não é bom, ignorar.
São Basílio conta várias histórias e estórias. Contarei uma aqui, em que ele conta uma estória criada por Pródico, sofista de Ceos, em que conta a história de Héracles e a Aparição da Felicidade e da Virtude:
Héracles, jovem, estava indeciso do que iria se seguir a sua vida. Então aparecem duas mulheres, a Felicidade e a Virtude. Nem precisavam apresentar-se, pois em sua aparência, já revelava quem eram.
A Felicidade estava com excesso de maquiagem e se deleitava nas delícias, era doce e feliz.
Já a Virtude era magra e severa, sua promessa era de que a vida seria árdua, fatigante, mas que no fim da vida, a sua recompensa seria dada, de viver feliz com os deuses. E a esta última, que preferiu Héracles seguir até o fim de sua vida.
Uma prometeu algo imeditado e outra para o futuro.
Com esta história podemos colher muitas coisas, assim como um fato que ele conta que aconteceu com Sócrates: havia um homem irado se irritar com o Filósofo, e Sócrates não apresentou resistências a este homem. Então o homem agrediu Sócrates, com a sua ira. Depois disso, Sócrates, ferido, escreve na sua testa o nome do autor, como se fosse um autor de uma escultura assinando em sua obra.
Isto nos faz pensar que assim como o bem, o mau, que fazemos as outras pessoas, é uma assinaturas em que estavam assinalando.
Se fazemos o bem, assinamos por este bem. Se fazemos o mau, assinamos por este mau.
São Basílio mostra com este exemplo a passagem do Evangelho de entregar a outra face.
Tem várias histórias, até mesmo exemplos do quão a música tem poder sobre as pessoas, em seus comportamentos e personalidades, como ele bem conta com as histórias de: Timóteo de Mileto e o Rei Alexandre; e Pitágoras e os ébrios da noite.
Vale muito a pena ler este livro de São Basílio. Recomendo a todos! Muito aprendi com este livro. Tive um professor e um mestre espiritual por duas semanas, lendo este livro, cheio de sabedoria e graça de Deus.
Recomendo a todos a leitura! Acredito que será frutífero a todos.