Carla Aires 22/01/2017Para fazer pensarAcabei o livro há bem pouco tempo e ainda estou tentando organizar na minha cabeça o que realmente achei. Primeiramente posso dizer que gostei. É um livro escrito de forma a te fazer devorar as páginas para saber logo o que aconteceu, principalmente nas partes de flashback que mostram os horrores da guerra e o desenvolvimento da relação entre Tristan e Will.
Tristan, que se alistou para lutar na primeira grande guerra com apenas 17 anos, é homossexual, numa época em que isso era considerado um sério crime. Não sendo bem uma pessoa religiosa, ele, de certa forma vive conformado com a perspectiva de ser um solitário, incompreendido até pela própria família, que o expulsa de casa depois de ele, num impulso, beijar o melhor amigo, por quem era apaixonado.
Durante o treinamento, Tristan conhece o bonito e gentil Will, por quem praticamente se apaixona à primeira vista. Os dois se tornam grandes amigos, mas muitas atitudes de Will parecem dar a entender que este corresponde aos seus sentimentos. Um dia, Will acaba beijando Tristan, para logo depois passar a desprezá-lo, alegando que foi apenas um momento de fraqueza, passando a manter-lhe distância.
Mais para frente Will tem outro momento "de recaída", antes de voltar a demonstrar nojo de sua atitude e de Tristan. O personagem parece claramente confuso pelo que sente pelo outro, pois isso entra em conflito com suas convicções ético-religiosas (Will é filho de um vigário), além de também viver perturbado pelos horrores da guerra, alheios ao que acredita.
Will, por fim, resolve declarar-se um pacifista, recusando-se a contribuir de qualquer maneira para os esforços de guerra. Entregando-se assim, de certa forma, à punição com fuzilamento. Tristan, que tenta até os últimos minutos convencê-lo a voltar atrás - chegando a declarar seu amor - recebe a maior e mais cruel das reprimendas de Will e, furioso, acaba voluntariando-se para fazer parte do pelotão para fuzilar Will.
Tristan não compreendia totalmente a confusão na cabeça de Will, e não procurou ajudá-lo nesse sentido, mas por outro lado, Will também não tinha o direito de brincar com os sentimentos sinceros de Tristan (Tristan declara que ficaria bem apenas com a amizade do outro, mas foi Will quem lhe deu esperança de algo mais).
Por fim, é possível concluir que Will procurou agir de acordo com o que considerava certo, e merece reconhecimento por ir até as últimas consequências por isso (levando em consideração a época em que se passa a história, é mais fácil compreendê-lo), mas nisso foi uma pessoa horrível com Tristan, cuja revolta e atitude final impensada são mais fáceis de compreender, na minha opinião.
Não concordo com as acusações de Will e Marian de que Tristan foi covarde, pelo contrário, penso que ele foi muito corajoso diante de toda a humilhação que sofreu na vida e só queria que tivesse ao menos experimentado um amor recíproco na vida.