Becker 12/12/2009
Resenha do livro "Apologia da História ou Ofício de Historiador" Por Daniel Becker Gaspar.
Marc Bloch nasceu na França em 1886 e morreu em 1944. Junto com Lucien Febvre, fundou a revista do Annales, que se ateve aos estudos da História das mentalidades.
Seu livro, Apologia da História ou o oficio de historiador, foi publicado apenas em 1949, por Lucien Febvre, por tanto uma obra póstuma.
No primeiro capítulo, Marc Bloch trata da História, dos homens e do tempo,como já diz o próprio nome do capítulo “A história, os homens e o tempo”, ou seja, vai nos dizer sobre o homem fazer História no seu tempo, o homem, é o homem do seu tempo. O homem é o sujeito da História, seu agente por excelência, e não os fatos, apenas, e como tal, é o homem, no papel de historiador, que escolhe o que pesquisar, que busca no passado a pergunta do presente a qual ele quer responder...Como diz, Victor Serge, citado por Jean Chesneaux no seu livro, Devemos fazer tabula rasa do passado? “o historiador é sempre “de seu tempo”, quer dizer, de sua classe social, de seu país, de seu meio político.” (p.67).
Marc Bloch, também nos diz sobre a importância da interdisciplinaridade, porém, em certo momento ele no diz algo sobre curiosos simplistas, fala sobre antiquários que de um lado se preocupam apenas “em desenfaixar os deuses mortos; do outro, sociólogos, economistas, publicistas – os únicos exploradores do vivo...” (p.62), ele quer nos dizer com isso que esses sujeitos, não buscam no passado resposta para responder as suas perguntas, isso é, se eles a tem, no máximo, fazem observações limitadas algumas décadas atrás, ou seja, alguns não tem perguntas do presente para usarem o estudo do passado para responder a elas, mas estudam o passado como algo fora do contexto atual de sua época, e outros, não usam o passado para responder suas perguntas do presente, imaginando que o passado em nada interfere nele.
No segundo capítulo, intitulado, A observação histórica, Marc Bloch nos diz sobre a impossibilidade do historiador constatar o fato real ocorrido, assim sabemos que ele só poderá construir um conhecimento do passado em cima de vestígios estudados. Trata sobre se trabalhar com documentos não escritos, usa muito a arqueologia como exemplo de produtora de conhecimento não escrito, ele nos passa a importância de dialogar com testemunhos não escritos, por ser o trabalho do historiador comparado ao de um investigador criminal que não presenciou o crime, e ter que reconstituir a “cena” do passado a partir de vestígios documentais, e, é inevitável que sempre vão se ter diferentes visões do mesmo fato ocorrido, “toda coletânea de coisas vistas é, em uma boa metade, de coisas vistas por outro” (p. 70). Em vários momentos M. Bloch, cita algo para relembrar que o historiador não é neutro, sempre nos lembra que o historiador tem um direcionamento para suas perguntas.
Marc Bloch, deixa claro que o passado é algo, por definição imutável, isso é evidente, pois o passado está acabado, já passou, e o que o historiador pretende é dar luz a esse passado, o que muda, não é o passado, e sim a forma de como iluminar ele, e não só a forma, conta muito os motivos para se querer elucidar certos aspectos do passado do homem e de sua obra...
Em um terceiro momento, no capítulo III, nomeado como A crítica, Bloch nos relata como usar o método, ele insiste nisso, pois para ele essa é uma forma de tentar fazer a História ser reconhecida como uma ciência. Nos diz também sobre não aceitar com facilidade, qualquer documento que se apresente, devemos estudar-lo com cautela, pois documentos podem ser falsificados. Ele nos diz muito sobre o método crítico também, como ler o documento, relata uma “luta” com a interpretação do documento, “ali onde Maurras, Bainville ou Plekhanov afirmam, Fustel de Coulanges ou Henri Pirenne teriam duvidado” (p.94). Para ele a incerteza está em quem estuda o passado, e não no passado, pois o passado já ocorreu, o fato está pronto, basta ao historiador, elucidar ele da melhor forma possível...
Sobre as falsificações, ele nos diz que ela tanto pode ser de tempos diferentes ao que apontam, por exemplo, uma carta que dizem ser do século VII, mas que na realidade é uma falsificação feita no século XIII, e também podem existir falsificações contemporâneas.
Nesse mesmo 3° capítulo, ele defende o uso das notas de rodapé, diz que é importante fazer as citações para poder situar o leitor no contexto que o autor de determinado livro esteja falando.
Já no quarto capítulo, que leva o nome de A análise histórica, Marc Bloch, propõem ao leitor, tentar entender se a História é uma tentativa de análise ou de reprodução, diz claramente que é errôneo julgar algum fato passado, o que se deve de fato, tentar, é compreender determinado fato que tenha ocorrido, ele nos da um motivo do porque não se deve fazer julgamentos...” Montaigne já nos chamara a atenção: “A partir do momento em que o julgamento pende para um lado, não se pode evitar de contornar e distorcer a narração nesse viés” (p.126). Todo recorte hoje, pode sofrer mudanças no futuro, já que ele diz sobre a humanidade ter seu desenvolvimento intelectual, e, é totalmente possível um estudo superar um outro, calcado no mesmo recorte temporal, já que a possibilidade do desenvolvimento intelectual permite isso, como nos diz o próprio Marc Bloch.
Em certo momento, ele nos diz algo muito importante sobre a compreensão, “a história, com a condição de ela própria renunciar a seus falsos ares de arcanjo, deve nos ajudar a curar esse defeito. Ela é uma vasta experiência de variedades humanas, um longo encontro dos homens. A vida, como a ciência, tem tudo a ganhar se esse encontro for fraternal”. (p. 128).
Marc Bloch, também nos fala dos fatores sobre os aspectos para se constituir qualquer ciência, em especial, já que é disso que se trata o livro em questão, da História, “para fazer uma ciência, será sempre preciso duas coisas: uma realidade, mas também um homem” (p.128). Pelo que Bloch nos diz, entendesse que existe uma troca de relações mútuas entre o homem e o ambiente, entre o homem e as coisas, entre o homem e o “habitat”, podemos assim dizer.
Marc Bloch, prega que é um erro, imaginar que um saber é o saber da verdade, outra vez nos fala da importância da interdisciplinaridade, de como um campo do saber humano pode ajudar em outro... Marc Bloch, usa um termo sobre fogos cruzando, se interpenetrando para comparar com a ciência, eu, particularmente prefiro o termo “teia de aranha”, que no limite, quer expressar a mesma coisa, porém, creio que por este termo possa ser mais fácil compreendido o que ele quer dizer, é só imaginarmos uma teia de aranha com todas as suas interligações, tudo nela, se combina, tudo nela se complementa...
No quinto e último capítulo, um capítulo sem nome, um capítulo breve, por sinal, mas de muito conteúdo. Marc Bloch, começa com uma crítica ferrenha ao positivismo, “ em vão o positivismo pretendeu eliminar da ciência a idéia de causa” (p.155).
O historiador, porém não só ele, deve se tomar de uma consciência critica, isso, é algo que Bloch enfatiza. Fica claro também, que o estudo desenvolvido terá um futuro, ou seja, vai vir a influenciar outros estudos, que serão desenvolvido a partir de um pré existente. Ele diz ainda, que o foco da pesquisa deve ser no “como” e não apenas no “que” ou seja, como aconteceu certo fato, e não o que aconteceu em determinado época, o processo, diz ele, é mais importante para se entender, do que apenas contar a “historinha” do que aconteceu, porém o conjunto dos dois devem ser analisados.
A obra de Marc Bloch, é referência até os dias de hoje, percebesse com isso que ele é uma influência em historiografia, como ele mesmo disse, sobre um estudo refletir ou influenciar no futuro, a própria obra dele serviu de influência, é o Marc Bloch, talvez, involuntariamente ratificando suas palavras no passado com sua obra sendo utilizada até hoje... Com isso, é fato que ele tinha razão. A História é um conjunto de fatores que devem ser estudados a fim de elucidar o passado, até que venha outro historiador e encontre outras perguntas para responder a uma questão, que por ventura mostre outro ângulo desse passado elucidado, ou que jogue luzes em um foco escuro da História. Podemos enxergar claramente isto na obra de Marc Bloch, ele nos passa pormenorizadamente, como deve ser, na visão dele, o ofício de historiador.
Daniel Becker Gaspar