Abelardo 22/03/2013
Uma obra completa e surpreendente
Adquiri o livro em janeiro, com certo receio. Não conhecia o autor, mas já havia visto o booktrailer e ouvido parte da trilha sonora. Temi que fosse uma tentativa de Dan Brown ou um sacrilégio contra o clássico autor Camões.
A quarta capa e os prefácios de autores novos, porém respeitados como Adriano Siqueira (Adorávle Noite), Babi Dewet (Sábado à Noite) e Alexandre Callari (Apocalipse Zumbi) me ajudaram a apostar nas 392 páginas. Essa aposta valeu muito a pena.
O livro conta a história de um jovem que trabalha em uma universidade e recebe a missão de encontrar um documento histórico perdido de Camões que pode ser a chave para um artefato poderoso. Nesse caminho investigativo, o autor nos apresenta a engraçada turma de amigos e os relacionamentos românticos do personagem principal. Em paralelo, e isso, para mim, foi a cereja do bolo, pessoas são encontradas mortas e há grande ligação entre as vítimas e poemas de Camões. Assim, o personagem principal precisa, além de seguir as pistas e decifrar enigmas em busca da página perdida, provar que não é ele o responsável pelas mortes e ainda descobrir quem é esse assassino em série. Tudo isso, às voltas com uma espécie de seita milenar.
Além do ineditismo e criatividade do enredo citado acima, o autor foi – ao meu ver – impecável na forma. Capítulos curtos, linguagem leve e muito, muito cinematográfica, sem exageros intelectuais ou pedantismo, o livro me rememorou muito sobre Camões e Os Lusíadas, além de destacar pontos que eu não sabia e que são reais sobre a vida do poeta, seus amores, aventuras e detalhes dos Lusiadas não ensinados nas escolas. Milici não só se utilizou da vida conhecida do poeta, mas aproveitou algumas lacunas para inventar mistérios, sem depreciar a história de Camões.
Sou muito exigente quanto à roteiros e narrativas. Tudo deve fazer sentido, mesmo que no campo da fantasia. Confesso que, nesse quesito, Luciano Milici tira 10. Não houve um detalhe no livro, plantado de maneira sutil e inocente, que não fosse - mais tarde - explicado, utilizado ou justificado. Algo raro na literatura atual, nacional ou internacional. Odeio histórias que não foram pensadas em sua totalidade. Gosto quando tudo se fecha, se amarra e me surpreende. Esse livro foi assim.
As citações no início de cada capítulo e as próprias referências feitas na história vão de cultura pop a filosofia, passando por filmes, livros e músicas clássicas, atuais, dos anos 80 e 90, o que vai agradar muito a geração Y, sem deixar de lado o público mais velho.
Também encanta a relação do autor com as coincidências, além dos apelos emocionais sinceros e românticos. A relação do personagem principal com as mulheres é quase que uma comédia romântica, o que aproxima o texto dos jovens adultos. Luciano Milici criou, também, universos particulares em torno do livro, como camisetas nerds, presentes da mãe do protagonista, bebidas esquisitas de um bar de enigmas e as obras literárias do personagem, que é escritor.
Nos quesitos serial killer e seita secreta, o livro também me deixou sem fôlego. O assassino assusta, causa terror e sensação de impotência. Há lógica nas ações dele e nós, leitores, somos convidados a acompanhar todo o processo investigativo. Já no caso da seita secreta, não espere homens com velas na mão ou grandes líderes intelectuais do universo. Para ser plausível, o livro apresenta uma irmandade mista, com os tais membros manipuladores e pessoas simplesmente executoras. Isso também me deixou bem ligado.
Pela maestria com que temas como bullying, serial killer, literatura clássica, aventura, investigação policial, romance, um pouco de sobrenatural e enigmas foram amarrados em uma história onde tudo se encaixa, dei o máximo de estrelas e ainda torço para que haja uma continuação.
Quem quiser debater o livro comigo, meu e-mail é: abelardotibirica@yahoo.com.br.