Ju 14/03/2014Memórias de um Amigo ImaginárioMax é um garoto de oito anos que, aparentemente, tem um problema. Está sempre isolado, não gosta de interagir com outras pessoas. Só fala com alguém quando lhe é feita uma pergunta e, se essa pergunta puder ser respondida apenas com sim ou não, com certeza será a resposta que ele dará. Seu mundo interior é bem rico, mas ele não se expressa da mesma forma que os outros, mesmo que seja muito inteligente e criativo.
Pelo que entendi, ninguém sabe porque Max é diferente das outras crianças. O pai de Max diz que ele é só um menino com desenvolvimento tardio, mas quando diz isso, a mãe do Max fica tão brava que para de falar com ele por pelo menos um dia.
Budo é o amigo imaginário de Max. Existe há cinco anos, o que, no mundo dos amigos imaginários, é uma eternidade. E não é só isso que o difere dos amigos imaginários das outras crianças: é muito raro uma criança imaginar um amigo que pareça humano, com todas as partes do corpo e todos os sentidos funcionando perfeitamente. Mas Max fez isso. Pensou em todos os detalhes e até fez com que seu amigo tivesse algumas habilidades extras, como atravessar portas e janelas e nunca precisar dormir.
Memórias de um Amigo Imaginário é narrado por Budo. Nem consigo descrever direito o quanto amei a experiência de conhecer algo tão diferente. Conhecemos um ser que simplesmente apareceu do nada quando foi criado, e que tem plena consciência que só existe porque é necessário e porque a pessoa que o criou ainda acredita nele. É comovente acompanhar tudo o que se passa na cabeça do Budo, ele já viu vários seres como ele desaparecerem e tem um medo constante de deixar de existir.
"Se soubesse que tem um Paraíso para mim também, (...) eu não estaria com tanto medo, porque teria um lugar para ir depois daqui. O Paraíso, supostamente, é para as pessoas criadas por Deus, e Deus não me criou. Foi Max quem me imaginou."
Como Budo tem as noites livres, acabou adotando alguns lugares: a lojinha de um posto de gasolina, em que vê sempre os mesmos humanos adultos - que considera que sejam seus amigos, mesmo que não saibam de sua existência -; e a sala de convivência de um hospital infantil. Ele descobriu que lá podia fazer muito mais amigos que na escola.
Os amigos imaginários dessa história podem conversar entre si, desde que tenham a capacidade de se comunicar. Nem todas as crianças levam seus amigos para a aula, pois percebem rápido que ninguém acha justificável que elas estejam "falando sozinhas". Segundo Budo, o jardim de infância é o maior motivo de "morte" entre a sua espécie. Mas nenhuma criança gostaria de passar por uma doença grave sem um amigo, por isso todas as que têm amigos imaginários são acompanhadas por eles ao hospital.
O mundo de Budo é muito rico. Ele, em parte, é inocente como uma criança deveria ser. Mas sabe um pouco mais que Max sobre o mundo, pois assiste a programas de TV com os pais dele, além de conviver com uma realidade diferente em seus passeios noturnos. Então identifica o perigo com muito mais facilidade que seu amigo, mas o que alguém que é invisível aos olhos de todos os outros seres humanos pode fazer para ajudar a pessoa mais preciosa para ele?
"Monstros são sempre ruins, mas monstros que não andam nem falam como monstros são os piores."
Max e Budo evoluem bastante no decorrer da narrativa, adorei acompanhar o desenvolvimento deles. Têm que superar seus limites e encontrar toda a coragem possível dentro de si mesmos. Precisam aprender a confiar cada vez mais um no outro, mesmo que isso signifique que seja necessário se separar de vez em quando.
"Sempre houve apenas uma coisa a fazer: a coisa certa. (...) Preciso parar de pensar somente na minha existência. Isso significa que preciso ir embora agora."
O livro flui de uma forma maravilhosa, e o final é surpreendente. Superou bastante minhas expectativas. Memórias de um Amigo Imaginário me encantou, e espero que encante vocês também. =)
"A coisa certa a fazer é geralmente a mais difícil."
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