Jvictor.machado 27/01/2018
Sintético e informativo
O livro me parece oferecer uma excelente introdução, cobrindo de maneira acessível um período amplo de tempo que vai desde a independência de Cuba em 1898 até a situação de Cuba em 2004 ? ano em que o livro foi publicado. Consequentemente, o livro apresenta uma visão panorâmica, sem se deter muito em detalhes.
Aborda primeiro como a revolução emergiu, apontando que é preciso pensar o processo revolucionário tendo em mente fatores já presentes na guerra de independência que resulta na emancipação do país em 1898: neste momento recuava a dominação colonial espanhola, e avançava a dominação imperialista manifesta na política externa dos Estados Unidos. É no primeiro capítulo que narra os eventos sucessivos que resultaram na revolução de 1959, descrevendo seus antecedentes e destacando a ditadura de Fulgêncio Batista como marco para o surgimento de resistência armada em Cuba.
No segundo capítulo apresenta sucessivas fases da política e externa dos EUA, partindo de sua política isolacionista no século XIX, destacando a chamada Doutrina Monroe, que extended a defesa do isolamento ao resto do hemisfério. Apresenta os cinco corolários dessa doutrina, sendo o último a conhecida política do "Big Stick", de Theodore Roosevelt. Aborda também os efeitos da Guerra Fria sobre as relações com Cuba, as sanções impostas e as tentativas de sabotagem dos EUA, a aliança com a URSS e a crise dos mísseis.
O terceiro capítulo fala da opção socialista do governo cubano, do consequente rompimento com os EUA, a dinâmica da aliança com o bloco comunista (que teve vantagens e desvantagens), e as tentativas de organização econômica antes e depois do fim da URSS. Em linhas gerais, fala dos desafios iniciais, com as finanças sob administração de Ernesto "Che" Guevara; de um período de crescimento econômico (1960?1985), seguido de uma conjuntura de crise (1986?1993) e uma subsequente recuperação entre 1993 e 2002, na medida em que se deram reformas constitucionais que promoveram (entre outras coisas) uma abertura parcial e controlada da economia.
O quarto capítulo fala do período posterior ao fim da URSS, e como se transformou a política dos EUA em relação à América Latina ? excetuando-se sua relação com Cuba. Indica que os governos de George Bush, Richard Nixon e George W. Bush acentuaram o bloqueio sobre Cuba, e dá destaque para a chamada "Iniciativa para uma Cuba Livre", promovida por aquele último para apoiar os setores de oposição dentro de Cuba. Apresenta também como os atentados de 11/09 tiveram um impacto na política externa americana, tendo sido Cuba colocada na lista de países financiadores do terrorismo.
O último capítulo apresenta três argumentos comuns utilizados pelos detratores do regime cubano, e busca discuti-los e lhes dar respostas.
A respeito das críticas quanto à via violenta pela qual os revolucionários chegaram ao poder, o autor pergunta provocativamente se haveria alguma outra opção. Embasa seu contra-argumento com uma longa lista dos movimentos e governos que tentaram promover mudanças socioeconômicas na América Latina através da via democrática, e como foram derrubados por golpes militares financiados pelos EUA.
Quanto às críticas à opção do governo cubano pelo socialismo, o autor ressalta que é preciso considerar a historicidade da decisão: aponta que a via soviética era então a única alternativa já "testada" que havia resultado na criação de uma superpotência capaz de rivalizar com os EUA, e que a política agressiva dos EUA reduzia as possibilidades de alianças interamericanas, forçando assim os líderes cubanos a buscar alianças nas quais pudessem se apoiar.
Quanto à condenação ao sistema de partido único e a associação corrente entre socialismo e totalitarismo, o autor ressalta que o risco constante de interferência externa tornava arriscada a abertura para a criação um novo partido (através do qual os EUA poderiam facilmente canalizar as oposições locais e erodir o sistema de governo cubano). Isto não significou, porém, que as relações do governo com a população fossem necessariamente unilaterais. Finaliza este ponto enumerando algumas medidas de diversificação política adotadas pelo país nos anos 2000.