Jô 14/04/2024
Considerando a maneira de como Belo Desastre me arrebatou, principalmente por ter sido uma história tão controversa, esperei o mesmo efeito de Desastre Iminente ? a mesma história, porém narrada por Travis Maddox. Contudo, o efeito que a primeira versão causou em mim foi, em partes, ofuscado negativamente pela maneira de como essa segunda me afetou.
A começar pelas personagens que me incomodaram em uma escala completamente inesperada. Como Desastre Iminente revela os pensamentos de Travis, todo seu machismo e hipocrisia ficaram em evidência, e se antes eu havia considerado existir certa mágica e magnetismo ao seu redor, dessa vez eu o apenas vi com desprezo. E encarar Abby através dos olhos de Travis me fez enxergá-la como irritante, enquanto, em Belo Desastre fui capaz de compreendê-la perfeitamente.
Outro ponto é que as situações me pareceram abordadas de maneira muito superficial. Talvez, em uma tentativa de não se repetir desnecessariamente, a autora evitou recontar os acontecimento, mas isso acabou enfraquecendo o relacionamento entre as personagens, em minha opinião. Outra possível explicação é que, já que a história é narrada por um homem, é de se esperar que não seja tão detalhada quanto a alguns fatos, visto que homens não costumam se apegar tanto a alguns acontecimentos quanto mulheres. Seja qual for a razão, Desastre Iminente não pode ser lido sem a leitura prévia de Belo Desastre.
A verdade é que Desastre Iminente é extremamente ligado a Travis. O livro não tem a ver com seu relacionamento com Abby ou, até mesmo, com a história de ambos, mas sim com os pensamentos e sentimentos de Travis. Enquanto Belo Desastre foi, claramente, um livro sobre Abby, Travis e Abby e Travis, Desastre Iminente é sobre Travis. A presença de Abby se dá para explicar sua importância para o protagonista.
Todos esses motivos não me fizeram gostar do livro como eu esperava. Porém, seria injusto não mencionar suas partes positivas, responsáveis por eu ter gostado, ao menos, de alguns pontos da leitura.
É inegável o quanto a escrita de Jamie McGuire é envolvente e viciante. Mesmo me sentindo irritada com as personagens, eu não sentia vontade de interromper a leitura, e ansiei por reviver tantos momentos que me agradaram em Belo Desastre.
E as cenas extras incluídas pela autora foram um ponto mais do que positivo, não apenas para ser verossímil com o fato de que Travis não está ao lado de Abby 100% de seu tempo, como também para dar uma satisfação, mesmo que breve, relacionado ao fim de Belo Desastre. Lembro-me de ter me sentido insatisfeita com algumas questões em aberto e que me pareciam completamente opostas à realidade. Contudo, em Desastre Iminente, a autora apresentou um breve parecer sobre tal situação, e mesmo não tendo achado suficiente a ponto de ser crível, foi satisfatório ao menos por não ter sido negligenciada.
Se eu havia encarado Belo Desastre como uma perfeita representação do conflituoso relacionamento entre Travis e Abby, Desastre Iminente me despertou os sentimentos paradoxais entre eles: uma irritação sempre presente com a leitura, mas uma necessidade incontestável de não me separar dela.