A Ciociara

A Ciociara Alberto Moravia




Resenhas - A Ciociara


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Francisco 09/11/2022

Le paure e le conseguenze di una guerra
Na Itália continental de 1944, Cesira, uma mulher de meia-idade oriunda da região montanhosa da Ciociara vive em Roma com sua filha adolescente Rosetta após a morte de seu marido comerciante, onde leva também uma vida de comerciante de gêneros alimentícios no mercado negro, obtendo grandes lucros que utiliza para sustentar uma vida regalada.

Com o bombardeio de Roma e a invasão da cidade por tropas do Terceiro Reich, Cesira e Rosetta abandonam Roma com suas economias e refugiam-se no vilarejo de Santa Efemia, localizado nas montanhas. Conhecem camponeses bondosos, como a família Fiesta, em especial o jovem intelectual Michele. Conhecem outras pessoas cuja maldade é latente como no caso de Concetta e sua família. Logo, por interlúdio dessas relações são modificadas em suas personalidades, como observamos no desfecho da novela ao compararmos as personagens iniciais e finais.

De um modo geral, "La Ciociara" é um livro que descreve os temores oriundos da guerra e como esta modifica as pessoas por suas situações extremas. O próprio Morávia afirma "a guerra endurece o coração" e o afirma com propriedade por ter vivenciado situações análogas às enfrentadas por Cesira.

Quanto à escrita de Morávia, pode-se afirmar que em especial nesse livro o mesmo desenvolve a história inteira com pouquíssimos diálogos entre os personagens e muito fluxo de consciência, de forma semelhante à seu outro livro "A Romana". Portanto, trata-se de um clássico italiano imprescindível que em muitos aspectos nos faz refletir.
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mpettrus 09/08/2021

Duas Mulheres e um Estupro
Quando conheci a literatura de Elsa Morante por conta do meu contato com as obras literária de Elena Ferrante, fui por curiosidade pesquisar sobre a sua vida. E soube, então, que ela fora casada com o também escritor Alberto Moravia, autor do emblemático romance “La Ciociara”. Claro e evidente, que eu resolvi embarcar na jornada literária moraviana. Foi uma experiência difícil e ao mesmo tempo, cheia de aprendizados.

Em setembro de 1943, Alberto e a esposa, Elsa Morante, deixam Roma rumo a Nápoles, na esperança de fugir da guerra que abateu sobre a Itália. O casal, contudo, não consegue prosseguir com a viagem de trem, e para fugir dos bombardeios sobem as montanhas de Ciociara, e ali permanecem por oito meses em uma cabana na companhia de outras pessoas em situação semelhante. Imagino eu, que esse romance tem um leve toque autobiográfico, senão no todo, mas em partes. Aliás, o próprio autor disse em entrevistas que apenas os personagens centrais Cesira, Rosetta e Michele são criações não autobiográficas. As outras personagens, ao que me parece, de fato, existiram.

O título indica a origem geográfica da protagonista, com cenário de uma ambientação popular e o uso da primeira pessoa. A voz narrativa do romance é de uma camponesa simplória que se torna comerciante, dotada de profunda perspicácia e iniciativa, tanto em relação aos outros comerciantes quanto a seus pretendentes. A linguagem, portanto, espelha esta característica popular, este conjunto de experiências espontâneas adquiridas pelo povo ao longo de sua trajetória.

Cesira é uma mulher que possui a determinação de uma comerciante ávida por seu ofício; o comércio move os seus sentimentos mais elementares e a impulsiona em seus ideais de prosperidade. A sua visão sobre o mundo é limitada, porém, realista. No romance, não se desenha nenhum aspecto que se associe ao amor, há apenas um estupro como maior contato físico entre as personagens. Desse tema, o que me pareceu bem colocado é a devoção que Cesira tem pela sua filha Rosetta. Um amor sublime de mãe para filha que muito me cativou.

O romance também demonstra uma preocupação com a violência sofrida por essas duas mulheres no centro nervoso da guerra, então, se explica a preparação para uma violência específica e não simplesmente para a violência da guerra em âmbito geral. Rosetta é violentada em uma igreja, sob o altar, na região em que sua mãe nascera; a violência se impõe pelos soldados que se encontram em solo italiano para libertar o país, não pelos nazistas, nem pelos fascistas. Para mim foi um detalhe muito curioso e importante no romance de Moravia.

A jornada de Cesira é muito emblemática porque perpassa por esse rito de iniciação de uma camponesa que se torna comerciante, de uma mulher simples, do povo, que transita do inferno ao purgatório, do desespero à resignação. Em La Ciociara, o ceticismo moraviano representa um segmento marcante em que a natureza e a história convergem à descoberta da piedade, como o sentido que deve ter a vida, uma vez que se tenha estabelecido que é preferível à morte; a esperança, que produz no homem o sentimento de não ser o centro do universo, que o redime de seu individualismo egocêntrico, como única maneira de alcançar a plena consciência de sua finitude.

Um romance denso, forte, difícil por conta de uma linguagem formal e meticulosa, é na verdade, uma crônica de guerra, escrito por Moravia mais de dez anos depois de seu término.
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Carol 16/11/2016

"Certamente um dos piores efeitos da guerra: torna-nos insensíveis, endurece o coração."
Alberto Moravia foi um dos nomes mais importantes da literatura do século XX. Grande parte de sua obra versa sobre a decadência da burguesia italiana, que valorizava o binômio dinheiro/sexo, cada vez mais, como instrumento de poder.

Em A Ciociara, romance de 1957, vemos os horrores da Segunda Guerra Mundial sob uma perspectiva feminina: é Cesira, uma mulher humilde e de caráter, quem narra os acontecimentos que se sucedem.

Fugindo da carestia e de uma Roma ocupada pelos alemães e fascistas, ela e sua filha, Rosetta, partem em direção ao campo - uma região ao leste de Roma, a Ciociara do título. Mas até as cidades bucólicas do interior da Itália sofrem as consequências da guerra. A fome, o frio, o terror estarão presentes durante os nove meses em que esperam pela chegada dos aliados, seus "libertadores".

O próprio Moravia passou por situação semelhante. Ele e a esposa, contrários a Mussolini, tiveram que se esconder durante o último ano da guerra. Talvez, dessa experiência, decorra a força de sua narrativa, realista, detalhista, dura.

Uma história sobre privação, violência, perdas. A devastação física e psicológica que uma guerra inflige ao caráter das pessoas. Da mesma maneira, uma história sobre superação, companheirismo e aceitação. A Ciociara é um romance sobre angústia e esperança. Um livro fundamental.

"São coisas difíceis que é difícil explicar: normalmente, quem vive na cidade, onde há armazéns cheios de tudo, não acumula provisões em casa, pois sabe que em qualquer altura que precise vai às lojas e encontra-as bem fornecidas. Assim convence-se de que comprar nas lojas o que lhe faz falta é uma coisa absolutamente natural, tal como as estações do ano, a chuva e o sol, a noite e o dia. Ilusão! As coisas podem faltar de repente, como faltaram de fato naquele ano, e então todos os milhões do mundo não chegam para comprar um pedaço de pão, e sem pão morre-se de fome." Pág. 86
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Ana 03/03/2018

Todos perdem algo na guerra
A Ciociara conta a história de Cesira, que vive em uma região de Roma chamada Ciociara, num casamento sem amor e sem desejo, sem emoção.
Com o advento da segunda Guerra Mundial, a dona-de-casa percebe que fará alto dinheiro entrando no mercado negro de venda de alimentos, mas a Guerra agrava-se e o contrabando de comida escasseia.
Cesira tem uma filha, e com o agravamento do conflito, as duas fogem para o campo, buscando refúgio entre a gente humilde que também lá se achava asilada, esperando o término da guerra.
As duas ficam peregrinando pelos lares dos camponeses até o término do conflito em 1945; acontecem muitas coisas tristes; Cesira e a filha não são mais as mesmas de antes ao voltarem da guerra.
Um clássico, virou filme com Sofia Loren no papel de Cesira.
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