Robson 04/12/2010
Sempre um pouco mais "próximo" de nós!!!
A história começa na Guiana Francesa, onde Corto Maltese encontra o jovem Tristan Bantan, que pede a ajuda do "lobo do mar" para encontrar Morgana, uma irmã brasileira do segundo casamento de seu pai, pois ambos, mesmo sem se conhecer, têm uma espécie de ligação mental.
A intrigante trama leva o leitor até o Brasil, mais especificamente à Bahia, apresentando, inclusive, todo o misticismo da "boa terra". Esses ingredientes, misturados ao gosto de Corto Maltese pela aventura, só podiam resultar numa grande obra.
Corto Maltese é uma espécie rara, ele pode ser um canalha que usa de golpe baixo em uma luta com uma pessoa, que pode também se apegar a alguém rapidamente lhe demonstrando simpatia, gratidão e até cumplicidade para com os mais deslocados (podem ser índios, cangaceiros, capitães de exército que se rebelaram contra seus países, místicos, ciganos, guerreiros que lutam por uma causa, etc) contanto que as causas defendidas por estes lhe sejam simpáticas ou viáveis do ponto de vista de Corto de serem defendidas ou combatidas.
Mais isso não é único mérito da obra de Pratt, ele vai muito além, nesse álbum, Corto Maltese esta de passagem pelo Brasil onde conhece uma enigmática “Boca Dourada”, que em certo momento contraria Corto Maltese dizendo que ele se importa sim com as pessoas e que no fundo tem um bom coração. O fato é que por seu jeito anárquico de ser e lidar com os seus problemas e os alheios pode ser visto como desinteressado, distante das pessoas, etc. Na afirmação de Boca Dourada esse ponto pode não ser claro para Corto, mas fica muito claro para o leitor.
Outro ponto que merece ser destacado é a pesquisa de Pratt para realizar seus escritos, não é apenas uma daquelas adaptações cômicas ou esquisitas (bastante comuns quando artistas estrangeiros retratam o Brasil), é sim uma obra que se basta por si mesma, existe um enorme trabalho por trás destas páginas, por esse motivo você vê o Brasil naquelas páginas, imagina-se no Nordeste naquela época, e o mais importante, com uma extrema competência, pois os desenhos de Pratt são o que há de melhor nos quadrinhos.
Nesse álbum os destaques vão para a arte e para o clima da história, a arte simples, porém objetiva e competente, o clima de aventura e mistério que permeiam a história fazem desta uma narrativa obrigatória para qualquer fã de quadrinhos ou de Hugo Pratt.
Corto Maltese pode ser visto como o ideal de individualismo, visto que por ser “criado” em um destino errante viajando por inúmeros países e conhecendo diferentes culturas, aprendeu a ter respeito e a olhar sem preconceitos para elas (desde que não lhe imponha coerção e opressão), de modo que esse fato resulte em uma pessoa totalmente livre de preconceitos e julgamentos errôneos sobre outros povos, raças e culturas.