O cheiro do ralo

O cheiro do ralo Lourenço Mutarelli




Resenhas - O Cheiro do Ralo


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Katia Rodrigues 25/11/2021

"Estive no inferno e lembrei de você"
O narrador, proprietário de uma loja de quinquilharias é um homem que carece de ilusões, um homem medíocre, vulgar, a quem custa esforço conceber algo além de suas próprias obsessões, o cheiro do ralo e a bunda da garçonete do bar.

A estreiteza do mundo afetivo e social do narrador se reflete (ou talvez o inverso) na sobriedade da escrita, na sua condensação. Parágrafos e frases curtas não são o mais original na forma inventiva de O cheiro do ralo, é a forma admirável como Mutarelli faz verossímil a personalidade perturbada do narrador. A explicação talvez esteja na habilidade com que Mutarelli foi semeando cinematograficamente a história.

Recomendo demais. Ahhh e fica a dica do filme tbm 😋🤩
Alê | @alexandrejjr 25/11/2021minha estante
Mutarelli, o mais kafkaniano dos nossos escritores contemporâneos!


Katia Rodrigues 25/11/2021minha estante
Não posso concordar pq ainda não li Kafka, mas vou acreditar na sua palavra, Alê




joaoggur 14/04/2024

O cheiro. O ralo. O olho. E? a bunda, é, a bunda.
Imagina um cidadão ?que parece o moço do comercial do Bombril?, que não tem nome, que cuida de uma loja de antiguidades, e que tem a profunda sensação que o cheiro de merda exalado pelo ralo atrapalha seu trabalho. Bem, seu ?trabalho? não seria a curadoria das quinquilharias; podemos dizer que ele é obcecado em tirar vantagem nas fraquezas das pessoas. Obcecado, aliás, ele fica por um olho de vidro que despretensiosamente chegara a sua loja. E por uma bunda. Mas acho que já falei demais.

Mutarelli nos vence pelo escatológico; o narrador-personagem sem-nome não é digno de qualquer simpatia, e isso não significa que queremos largar a leitura. Ao criar uma atmosfera banhada no irreal, em linhas curtas e diálogos enxutos (percebo uma forte influência de Cormac McCarthy [na questão estílica] e de Kafka [na questão temática], somado a certa herança da dramaturgia), ficamos com certa tentação em saber até que ponto tudo aquilo pode chegar, até onde o autor pode escalar uma história (talvez por uma visão um pouco superficial) simples.

Somos tragados pelo universo de O Cheiro de Ralo; e esse ?mundo?, a meu ver, é na verdade uma grande lente, que faz ver o que chamamos de realidade pela ótica do narrador. A medida que o protagonista vai perdendo a sua sanidade, tornando-se gradualmente mais obcecado por elementos supostamente banais, é como se nós também perdêssemos nosso senso de distinguir o normal do esquisito. Começamos a leitura sentindo um amargo gosto na boca; entretanto, cada vez mais nos acostumamos com a forma que os fatos são narrados, e no final, terminamos a leitura considerando escatologias meras trivialidades.

Isto é o suprassumo da desumanização, o sabor mais profundo da insanidade. Não é um texto fácil, - não recomendo a iniciantes na literatura. Tenho pena daqueles que nunca irão provar da genialidade de Mutarelli.
Purple1 14/04/2024minha estante
Já leu Angústia do Graciliano Ramos? O protagonista tem umas loucuras bem parecidas no livro


joaoggur 15/04/2024minha estante
@Purple1,
Já li, sim. Realmente, ambos os protagonistas estão imbuídos na insanidade e na obsessão. E, nos dois livros, somos fisgados pela curiosidade de ver o mundo perante os olhos dos personagens.




cintrarafa 13/07/2023

O cheiro do ralo, o buraco para o inferno
Livro sórdido e desconfortável.

O cheiro é dele, vem dele, representa quem ele é, e por mais que tente fugir, vai estar lá, porque impregnado.

O vazio de ser louco e saber-se louco, mau e baixo.
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Euler 03/06/2021

Um homem que compra objetos e lida com a argumentação dos vendedores que esses objetos tem história e merecem ser valorizados na venda. Ao mesmo tempo em que lida com o cheiro insuportável do ralo, ele vai mostrando suas relações pautadas também nas trocas. Para mim, a construção de um personagem extremamente asqueroso, não apenas por enfiar a cara no ralo, mas da forma como ele lida com as pessoas, e em especial, com as mulheres que são apenas bundas e buracos. E é bem interessante essa construção de alguém que possui a posse do dinheiro e que acredita poder comprar tudo objetos, mulheres e até mesmo reconstruir o pai que sumiu. Principalmente que não se trata da classe abastada, mas sim de alguém talvez classe média, ou algo do tipo. A linguagem é muito boa, e a forma como utiliza o diálogo, subvertendo-o é bem teatral. O humor é um ponto à mais. E o jogo que se estabelece a cada entrada também é uma coisa interessante de perceber. O tom do romance e a ambientação é bem característica e me cativou perceber como esse universo é construído ??
Lelouch_ph 03/06/2021minha estante
Uau




Adriano 23/01/2022

Uma dos livros mais impactantes que tive o prazer (e em alguns momentos, o desprazer) de ler. Para quem ainda não conhece Lourenço Mutarelli, pode ser surpreendente descobrir que temos nesse livro sua estreia na literatura. Para quem conhece seus trabalhos anteriores, no cenário dos quadrinhos, ver aqui a alta qualidade de seu texto já é algo esperado.
Em "O cheiro do ralo" Mutarelli nos apresenta, com sua escrita ágil, de frases curtas e poucas vírgulas, um protagonista repleto de traumas e obsessões, e que desperta uma gama bem ampla de sentimentos em quem lê. Enquanto é fácil rir de uma situação em uma página, em outra é impossível não sentir pena, raiva ou nojo.
E assim, passando por dinheiro, quinquilharias, uma paixão fulminante por uma bunda, e um constante cheiro de merda que vem do ralo, acompanhamos a perversão e a degradação humana.
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Sonja 22/07/2009

Leitura com ritmo, curta e incisiva.
De métrica simples, rápida, porém, de uma profundidade colossal. Profundidade só possível na ausência. E, é exatamente disso que o livro trata: do oco, do vazio. É angustia do não ser, é o pragmatismo vão do dia-a-dia.
Cru, como uma conta de energia elétrica a vencer.
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Reccanello 05/01/2023

O cheiro vem do ralo ou de nós mesmos?
Enquanto divide seu tempo entre a obsessão pelo ralo de seu banheiro e o fascínio pela enorme, continental bunda da garçonete do bar onde almoça, o personagem principal segue sua vida em meio a rotina de sua loja de penhores, onde sua absoluta falta de empatia o leva a cruelmente ridicularizar seus clientes, muitas vezes pessoas desesperadas que se sujeitariam a qualquer abuso por dinheiro. Ao adquirir um olho de vidro de um cliente, sua mente já deturpada entra em uma espiral de loucura e ilusão na qual ele já não distingue realidade e loucura... enquanto o cheiro do ralo e a saudade da bunda da garçonete o sufocam mais e mais.
===
Escrito em primeira pessoa, com frases bem curtas que refletem, em parte, o fluxo do pensamento desvairado do personagem, a obra nos traz, de um jeito leve e até mesmo cômico, a tragédia da vida do seu narrador, com algumas cenas um tanto quanto obscenas e perturbadoras. Apesar de sua escrita fluida e ligeira, é um livro profundo e arrebatador, com um enredo que leva à reflexão acerca da brevidade e da complexidade da vida, e também sobre como as pessoas se degradam ao perderem a esperança e a dignidade, e sua premiada adaptação cinematográfica não fica atrás, com a excelente atuação de Selton Mello. Vale a leitura.
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Luan 10/05/2022

A violência implícita do ser por meio da buscar pelo incerto
É a partir dessa violência implícita e masoquista que Mutarelli conduz-nos pelos pensamentos degradantes e sujos da mente humana. O cheiro do ralo, um personagem a parte, exala não apenas a essência de um protagonista sem nome, mas revela que pode haver em cada ser humano um odor fétido e de prazer masoquista - escondido no íntimo -, os quais são rechaçados por uns, enquanto outros assumem-nos como algo próprio, sem pudor e sem medo. A violência não está apenas atrelada às agressões físicas, mas está também em ações, comportamentos, palavras e vivências, isto faz-se presente a cada virada de página por meio dos atos, pensamentos, negociações e taras de um narrador que revela não gostar/amar ninguém, apenas seus instintos e prazeres. O cheiro do ralo é um recorte contemporâneo de relações sociais pautadas em poder/submissão, em uma barbárie social na qual o homem do século XXI, para ser alguém e sentir-se vivo, busca de maneira voraz preencher a própria alma com algo que faça sentido nesse contexto das relações humanas, seja por meio de popularidade, por controle e domínio dos outros ou por puro prestígio social. Dessa maneira, por meio uma narrativa fragmentada e uma violência à estrutura típica dos romances, Mutarelli mostra-nos que o ser humano busca algo que faça sentido e traga conforto para o próprio ego.
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Caio 12/12/2021

safadeza e sujeira bem direcionadas
Um dos melhores (se não o melhor) livros que já li. É uma história intrigante sobre o dono babaca e repulsivo de uma loja de penhores e o fedor que vem de um ralo no banheiro de seu escritório.
A pergunta-chave da trama é: O cheiro vem do ralo ou do homem?
O que mais me chama a atenção nesse livro é a forma de narrar do Lourenço Mutarelli, cheia de vida, bem direta e estranha. Direta até demais, já que é tão simplificada que não indica os diálogos com o travessão, não deixa claro quando o narrador faz um adendo no meio do diálogo, apresenta parágrafos curtos compostos por pelo menos uma frase e por aí vai. Uma escolha bem peculiar, mas compreensível para um livro como esse que eu não aceitaria ler da forma mais convencional.
Esse é um livro que não cabe no convencional. É exagerado, sujo, escatológico, pervertido. Mas, nada disso está ali simplesmente por estar. Um dos pontos-chaves da obra é que tudo tem um lugar certo para estar e o momento certo para aparecer. Referências à cultura pop e a outras várias obras aparecem também para adicionar à narrativa, não porque simplesmente são boas sacadas.
O Cheiro Do Ralo, por mais que seja pura estranheza, tem um enredo bem amarrado e não deixa pontas soltas. Outra das suas belezas é o maravilhoso recurso das auto-referências, já que, conforme a história avança, sempre são retomados pontos e momentos já passados na cronologia, o que, além de ajudar o leitor a relembrar momentos que, na hora que passaram não pareciam, mas no momento presente são importantes, só mostra a genialidade do Mutarelli em trazer uma história complexa no nível de se auto-completar e mostrar que todos os pontos foram pensados para uma finalidade específica que nos ajuda a entender mais a obra e a aproxima da realidade já que nós funcionamos assim quando nos lembramos de coisas passadas e pensamos em como elas ajudaram a moldar o que somos hoje.
Enfim, isso não foi nem metade das coisas que poderiam ser desenvolvidas sobre esse livro. Tudo mais que eu poderia dizer estragaria sua experiência pois trariam spoilers.
No mais, o melhor que eu posso te indicar, no momento, é essa leitura.
Obrigado.
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Aline.Rodrigues 05/12/2022

Só há o escuro que sou
Sem palavras para escrever sobre ele, mas é preciso escrever sobre ele. Engraçado que tudo o que toca tremendamente a nossa alma, muitas vezes costuma nos tirar as palavras.
Tocar no escuro é o que este livro faz! Que livro fantástico e real. Que grata surpresa. Umas das melhores leituras do ano.
Paulo2144 12/06/2023minha estante
Gente, eu não imaginava que tinha livro. Conhecia só o filme, que eu adoro.




Syl 05/06/2010

Conversa de analista
Só num país como o nosso um livro desses poderia ter sido publicado e transformado em best-seller e filme. Terrivelmente mau escrito. Conversa de analista mesmo.
João Lucas Dusi 26/11/2012minha estante
Opa, detectado o possível tipo que se masturba lendo Ulisses.


Lau 22/11/2013minha estante
Livro bão pra ti é do coelhão, né?


Ana Ramos 09/01/2016minha estante
O livro é super inteligente, se vc nao entendeu, desculpa ,mas o problema é vc. Não é pra todo mundo,fato. Tem gente q tem a mente pequena e nao alcança... Lamentável.




TalesVR 28/06/2022

Sacanagem poética
Eu sou suspeito pra falar pois esse tipo de livro, embora incomode os mais puritanos, muito me agrada. Na esteira de Charles Bukowski e Pedro Juan Gutierrez, Lourenço Mutarelli faz um livro experimental e genial. A estória não é exatamente linear e depende da imaginação do leitor, mas vale muito a pena.

No finalzinho a gente reflete que o desejar é mais forte que o realizar, como cantava Raul Seixas: ''foi tão fácil conseguir, e agora eu me pergunto e daí?''. A fantasia sempre superará a realidade, felizmente ou infelizmente, depende do ponto de vista. E ah, se você se chocar fácil não recomendo, o livro é libertino num desbunde geral muito bom (pra quem gosta),
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Dani Favalli 12/06/2021

Vazio.Ralo.Cu.
Mais um livro hipnotizante.
O cheiro sai do livro e te entorpece, entra em cada poro e você já não é mais você. É uma versão que vive em mundo que você mesmo criou.
O que é real? O que é sonho?
Em alguns momentos parece que a cena fica tão pesada que é como se uma cortina tapasse minha visão e tudo ficou meio turvo. Deve ser o cheiro.

De tudo o que fica é a possibilidade, é a busca é o cheiro e o vazio.
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Felipe F. 05/11/2022

Um livro estranho e estranhamente hipnótico
O livro é escrito em primeira pessoa por um protagonista que não tem nome. Aliás, ninguém tem nome em todo o livro. O que importa para ele são as coisas, os objetos. Ele é um homem vazio e obcecado por possuir. “Eu nunca gostei de ninguém”. Nem de sua noiva, a quem abandona às vésperas do casamento.
O homem leva sua obsessão ao extremo quando deseja possuir uma bunda – sim, uma bunda. Não a mulher que a possui; apenas a bunda. Esse se torna o conflito central da obra. E ele não quer “conquistar” a bunda, mas comprá-la. Assim como compra objetos velhos que pessoas desesperadas por dinheiro levam à sua loja de penhores.
Ali, há um pequeno banheiro com um problema de encanamento que faz com que o ralo exale um cheiro pútrido. Toda a podridão que sai do protagonista retorna nesse odor. Mas ele o continua usando, dia após dia, retroalimentando o fedor que espantaria os clientes, não estivessem eles tão necessitados.
À medida que sua decadência se intensifica, o protagonista começa a se apegar e até a se reconhecer no ralo, que denuncia o vazio que ele carrega dentro de si. Ele então passa a se debruçar sobre o buraco e inalar, tragar sua substância. Como um Narciso.
Em sua estreia na literatura, Mutarelli trabalha um ritmo narrativo vertiginoso que lembra um filme de cinema, repleto de cortes rápidos e saltos temporais. Com sentenças curtas e ácidas, explora bastante os jogos de palavras e as livres associações para colocar o leitor dentro da cabeça perturbada de seu personagem.
Um livro estranho e estranhamente hipnótico. Novela para se devorar em um ou dois dias. Só tome cuidado para não se acostumar ao cheiro do ralo.
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