Dois irmãos

Dois irmãos Milton Hatoum




Resenhas - Dois Irmãos


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Natalie Lagedo 17/01/2017

De repente todo mundo conhece um livro, menos eu. Rapidamente vários amigos o lêem e alguns, inclusive, o marcam como favorito. Foi isso o que aconteceu com Dois Irmãos. Nunca tinha sequer ouvido falar em Milton Hatoum. Que grata surpresa! O livro conta a trajetória de uma família de imigrantes libaneses em Manaus. Zana e Halim casam e tem três filhos. Yaqub e Omar, os gêmeos, e Rânia. O nascimento e o desenvolvimento deles na capital amazonense é palco para a trama, que gira em torno do conflito entre os irmãos e a superproteção da mãe sobre um deles.

Tanto o ambiente quanto as personagens vão se degradando com o decorrer dos capítulos, que são narrados por Nael, filho de um dos gêmeos com a índia Domingas, que é criada da casa. A busca da identidade da filiação do expositor da história também é um aspecto interessante, que conta os fatos sem respeitar a linearidade, colaborando para estimular o interesse do leitor em saber qual será o resultado dos desentendimentos.

Hatoum é muito feliz ao dar vida aos componentes do livro. O maniqueísmo utilizado é muito discreto. Ninguém ali é completamente bom ou mau, como na vida real. Todas as atitudes são justificáveis, ainda que as julguemos reprováveis, a depender do critério valorativo. A forma singela e tranquila como ele pintou as cenas é ótima e me fez querer conhecer outros escritos seus.
Thiago 17/01/2017minha estante
Eu até acho que já se pode chama-lo de clássico.


DIRCE 17/01/2017minha estante
Thiago, você leu outras obras do Hatoum? Eu também desconhecia o escritor. Cheguei a ele devido uma referência a ele feita pelo professor Karnal. Gostei D+.


Natalie Lagedo 17/01/2017minha estante
Pois é, Thiago. Lembrei do que Italo Calvino disse: "Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer." Acho que Dois Irmãos ainda tem algo pra mim mais tarde.


DIRCE 17/01/2017minha estante
Acho que para nós, Natalie. Gostei muito da sua resenha - sucinta e esclarecedora.


Natalie Lagedo 17/01/2017minha estante
Obrigada. Gostei muito da sua também (também lembrei de Jocasta de cara).


Thiago 17/01/2017minha estante
Dirce, eu li "cinzas do norte", e até acho melhor que "dois irmãos", apesar do tema ser o mesmo, a degradação de uma família e da cidade de Manaus, só que em "cinzas do norte" o narrador tem um papel mais importante na história. Eu quero muito ler dele o "órfãos do eldorado", que até tem filme e o próprio Milton Hatoum faz uma participação como pescador.


Thiago 17/01/2017minha estante
Natalie, também acho que é um livro com muitas sutilezas e que sempre vai nos mostrar alguma nuance que que nos passou despercebida, e falando nisso: Quem você acha que é o pai do narrador?


Natalie Lagedo 17/01/2017minha estante
Tão difícil quanto descobrir se Capitu traiu ou não Bentinho, mas minha aposta vai pro Omar. Qual sua opinião?


Thiago 17/01/2017minha estante
Se fosse entre Capitu e Bentinho, seria fácil, pois acho que o Bentinho é corno hehehehe, mas nesse romance é quase impossível, pois até o Halim pode ser o pai.


Geórgea 17/01/2017minha estante
Uma vergonha eu ainda não ter lido, pois sou amazonense. Precisa entrar na minha lista logo!


DIRCE 17/01/2017minha estante
Obrigada, Thiago, Já coloquei na minha Estante ambos os livros.


Fernando60 18/01/2017minha estante
Natalie, a TV Cultura (por volta de 2003/2004), colocou no ar um curso de literatura (vários capítulos) com Milton Hatoum que era simplesmente fantástico. Passava na madrugada de domingo para segunda-feira e me lembro dele falando sobre Borges e também sobre Balzac. Ele entende muito do ofício e para quem gosta de ler é um prazer ouvi-lo falar sobre literatura. Não encontrei esses videos no youtube, mas sei que antigamente era possível encomendar ou comprar programas antigos da TV Cultura através de um link.


Thiago 18/01/2017minha estante
Fernando, eu lembro muito dessas aulas, infelizmente não se acha mais no youtube, mas tem um vídeo recente dele na Fau que é bem interessante e lembra um pouco essas aulas. https://www.youtube.com/watch?v=q_7FVNu4ffA


Fernando60 18/01/2017minha estante
Obrigado, Thiago! Não consigo acreditar como aquelas aulas, um material tão bom, pode simplesmente desaparecer em plena era da internet... :-( Vou procurar assistir esse video do link que vc postou


Natalie Lagedo 18/01/2017minha estante
Fernando, obrigada pela dica! Vou fuçar a internet mais tarde. Quem sabe eu encontre alguma coisa?
Thiago, vou ver esse vídeo sim. A única entrevista que vi com ele até agora foi uma que fez recentemente para o canal Livrada! (apesar de dar algumas dicas legais, particularmente não gosto muito de Yuri).


Thiago 18/01/2017minha estante
Natalie, eu já fiz uns comentários que eu achei que o Yuri fosse levar na brincadeira(pois era a minha intenção), mas ele levou a sério hehehe, e desde então quando vejo algum vídeo dele eu me abstenho de comentar somente um: "Muito bom" ou 'ótimo vídeo", para não haver altercações mais acaloradas.


Thiago 18/01/2017minha estante
Natalie, eu já fiz uns comentários que eu achei que o Yuri fosse levar na brincadeira(pois era a minha intenção), mas ele levou a sério hehehe, e desde então quando vejo algum vídeo dele eu me atenho de comentar somente um: "Muito bom" ou 'ótimo vídeo", para não haver altercações mais acaloradas.


Kelly Oliveira Barbosa 19/01/2017minha estante
Todo mundo leu menos eu - é meu caso tb. Pretendo ler ainda esse ano...
Vc escreve muito bem moça (porque não coloca essas resenhas em um blog?)


Natalie Lagedo 19/01/2017minha estante
kkkk Obrigada, Kelly. Eu faço eu comentários no intuito de lê-los mais pra frente, quando não recordar muito bem do livro. Pra saber se gostei ou não, etc.


Kelly Oliveira Barbosa 19/01/2017minha estante
rsrs pois..




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Manuella_3 17/01/2017minha estante
Dirce, querida, aprecio a força das suas palavras, como se lança corajosa em abrir os sentimentos sobre uma leitura. E como esta de DOIS IRMÃOS é visceral, percebo o quão foi bem assimilada por você.
Li há uns dois anos, adorei, desejo outros Hatoum para fazer viagens enriquecedoras assim. Mas sofro de uma amnésia horrorosa: só lembro dos flashes, até detalhes importantes me escapavam. Ler sua resenha foi como abrir as gavetas da memória e arejar tudo, deu vontade de fazer uma releitura.
Beijos, querida!


DIRCE 17/01/2017minha estante
Obrigada, Manu.
Fico lisonjeada quando recebo elogios pelos meus comentários, mas quando ele vem de uma pessoinha uma pessoinha tão especia e sensível como você , meu sentimento se torna inexplicável. Bjs


Kaonny 17/01/2017minha estante
Dirce, li a obra em questão faz um tempinho. Amei de primeira. Sua resenha tá ótima.Quanto ao Nael, um dos meus personagens prediletos da literatura, na metade da minha leitura surgiu uma fagulha, que depois descartei: será Nael filho de Halim?. Descartei depois de refletir sobre a devoção e amor do velho Halim a egocêntrica Zana, mesmo em momentos de pura apatia do casal( as crises de mimimi da filha do comerciante).
Nael é um estrangeiro naquele lar.Fica procurando características suas nos irmãos, no patriarca, na mãe. "Um solitário à espreita" na casa em degradação, como o titulo do livro de crônicas do Hatoum.
A casa, outro personagem importante da obra, ganhou tons e destaque na adaptação para as telas.Fotografia abusiva e repetitiva, segundo críticos, mas importante para o clima teatral do Omar e Zana, como também na narração do "personagem" Nael.

Já leu a adaptação dos irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá? Fiz isso depois de quase dois meses e fixou mais essa maravilhosa obra em minha mente.


DIRCE 17/01/2017minha estante
Obrigada, Kaonni, por ter compartilhado suas impressões.
Eu também pensei na possibilidade da Halim ser o pai, mas como você a descartei.
Apesar do livro abordar o incesto, eu acho que se Yaqub fosse o pai também seria uma forma de incesto. Aposto no Omar.
Realmente, é muito difícil apontar quem é a protagonista mor e, apesar de Nael ser uma espécie de sombra, ele também tem papel de destaque no romance. Acho que suas palavras ecoarão por um bom tempo na minha mente: "O que Halim havia desejado com tanto ardor , os dois irmãos tinham realizado: nenhum teve filhos. Alguns dos nossos desejos só se cumprem no outro, os pesadelos pertencem a nós mesmos (pag. 264)".
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Halim não queria filhos e , quanto aos dois irmãos, não importa quem fosse o pai, pois ambos agiram como se não tivessem filho algum. Nael só conseguiu migalhas da atenção de Yaqub, algumas roupas e livros. De Ormar... Triste. Ficção? Sim, mas quantos Nael existem neste nosso Brasil afora.
Obrigada pelo elogio ao meu comentário.


Manuella_3 18/01/2017minha estante
? ?


Manuella_3 18/01/2017minha estante
Gratidão por ter vcs dois no meu skoob


Kaonny 18/01/2017minha estante
Digo o mesmo Manu, leitura e boa companhia de vcs são preciosidades na web. Obg vc(s).


Wagner 06/02/2017minha estante
Saudações Dirce.
Em agosto de 2016 meu pai faleceu. Chegou setembro. Depois de ficar três horas dentro da Livraria Leitura vi o livro Dois Irmãos. Comprei e guardei deixando sempre o livro dentro de minha mochila. No dia 2 de dezembro (aniversário da morte de meu irmão Jorge) comecei a ler.
Caríssima Dirce. As resenhas para Rumo ao Farol & Dois Irmãos me deixaram bastante comovido.


Wagner 06/08/2017minha estante
Realmente. Lendo sua resenha veio a vontade de reler.




Paraíso dos Livros 18/01/2017

Resenha | Dois Irmãos - Milton Hatoum

A história que se desenvolve em Manaus, narrada por Nael, conta a relação conflituosa dos gêmeos Yaqub e Omar. O amor que uniu Zana a Halim na adolescência, acaba separando cada filho ao seu nascimento. Enquanto o pai se orgulha de Yaqub vendo-o como um filho de futuro promissor, Zana parece ver Omar como filho único, com excesso de mimo, fazendo todas as suas vontades, sendo fria e indiferente com Yaqub. Até mesmo Rânia, filha mais nova o casal sofre com a postura da mãe que só tem olhos para o caçula.

Admito que o fato dessa trama virar minissérie na TV me deixou curiosa e longo comecei a leitura. Diria que foi uma experiencia triste, cheia de desequilíbrios familiares. Sabia desde o início que um livro como este, não teria um final feliz para os envolvidos. Realmente desejei encontrar um culpado para os atos de Omar, mas não consegui, pois o que leva o personagem ser totalmente sem limites é um conjunto de fatores e pessoas. Em sua fase adulta, você pensa: "Ele poderia mudar, ser alguém diferente" Teve chances para isso, mas ele as despreza pois parece que Zana é dona de seus passos e desejos. Ela não criou e educou o caçula para o mundo, criou para viver embaixo de "suas asas" e isso tem um preço alto para Omar e até mesmo para a própria Zana.

Logo Omar se torna uma pessoa que não suporta ser desprezado, quer ser o centro das atenções sempre e quando não é o escolhido usa a ira para resolver a questão, tornando-se alguém violento. Yaqub, por ser mais reservando tem sua vida moldada pela sombra do irmão, alguém que não se manifesta, que não compartilha suas experiencias em família. Yaqub cresce e amadurece para o mundo. Sem o carinho e proteção materna, Yaqub por vezes se sente reprimido, traído pelo próprio irmão, que lhe rouba algo tão essencial como o amor de mãe. Halim por outro lado era o único personagem estável que buscava alternativas para acabar com o caos dentro de sua casa. Mesmo assim, ele também sofre com as consequências, pois o caçula parece ocupar até mesmo seu espaço como marido, o que o irrita, mas como pai luta para ficar ao lado da mulher independente do que ocorra entre os gêmeos.

Essa relação familiar tempestuosa, têm como testemunhas Domingas (índia e criada de Zana) e seu filho Nael que é na verdade mais uma vitima das atitudes de Omar. Halim como único ser equilibrado, toma a frente da situação, tentando sempre ver os dois lados da balança é por anos a base para Nael, que cresce vivenciando todos os conflitos e entendendo que mesmo não sendo reconhecido, faz parte tanto quanto todos os outros dessa família.

Algo que me surpreendeu foi a vingança de Yaqub, sempre calado arquitetou tudo contra Omar usando todos os contras de seu irmão ao seu favor. Isso mostra que apesar de aparentemente seguir adiante, a cicatriz que Omar lhe deu nunca havia de fato sido esquecida. Que a dor que sentia era maior que a dor física, estava alojada permanentemente em seu interior.

O contexto da história é relevante, e serve para reflexão sobre educação, respeito e orgulho nos tempos atuais. Apesar de ter gostando da história, acredito que criei expectativas que não foram atendidas no final da leitura. Terminou com um padrão que vinha sendo repetindo ao longo do livro. Ninguém foi capaz de unir os gêmeos, nem os pais, nem o amor, nem a vida, nem a morte, nem mesmo o tempo que ainda resta para ambos continuar a viver.

site: http://paraisodoslivros1.blogspot.com.br/2017/01/resenha-dois-irmaos-milton-hatoum.html
z..... 20/01/2017minha estante
Já que citaste a minissérie como motivação para leitura da obra, que porcentagem você daria a ela na fidelidade ao livro? Só uma curiosidade, pois ainda não li o livro.


Paraíso dos Livros 20/01/2017minha estante
Olá Rogério,
Diria que pela primeira vez assisto uma adaptação com tanta precisão de detalhes como "Dois Irmão". A emissora está sendo muito feliz em representar tão bem a intensidade das situações por vezes dolorosas do livro. Me emocionei muito com o episódio de ontem, não iriei dar spoilers aqui, mas a cena que Zana se desespera ao ver Halim de volta para casa está igual ao livro. Em uma visão geral acredito que a adaptação está 98% similar a obra do autor, sendo possível associar os gêmeos Yaqub e Omar, com a história de Caim e Abel algo que não tinha levado em consideração no livro. Tanto o livro como a minissérie são impactantes.


z..... 20/01/2017minha estante
Valeu! Estou acompanhando e gostando também. Li uma versão em HQ que, apesar do empenho, na questão emotiva não é tão explosiva como a minissérie reproduz ou o livro em questão. Quero ler o romance e se possível adquirir a minissérie também para meu acervo. É realmente uma das melhores adaptações.


Micky 20/01/2017minha estante
Ótima resenha, queria ser bom "resenhista" mas não sei ser kk. Parabéns.


Micky 20/01/2017minha estante
Também tenho interesse na obra.


Paraíso dos Livros 20/01/2017minha estante
Obrigada Micky :)


Micky 20/01/2017minha estante
;)




@tigloko 31/07/2022

Intenso!!!
Se fosse descrever esse livro em uma palavra: intenso. As atitudes dos personagens são sempre levadas ao último grau, seja no amor ou no ódio. A ódio entre os gêmeos Omar e Yaqub. O amor obsessivo de Zana por seu filho preferido Omar, o saudosismo de Halim relembrando os bons tempos perdido, são alguns exemplos. Gostei muito desse aspecto do livro. Aumenta bastante a qualidade da leitura quando você consegue embarcar tanto na vida dos personagens, como foi o caso de Dois Irmãos.

Acho que um grande destaque do livro são as relações familiares, são muito bem descritas. Tive a sensação de estar imerso naquela família, visualizando tudo que estava acontecendo, sem poder fazer nada. É angustiante. São coisas que qualquer família poderia vivenciar. O diferencial é a escala épica que o autor descreve. Faz tudo ficar melhor ou pior, dependendo da situação.

Outro coisa bastante positiva no livro é o caráter sensorial dele. No sentido das descrições dos locais, das comidas, das paisagens. Senti isso no Torto Arado ano passado. E nesse aqui foi no mesmo patamar. Para alguém que não conhece quase nada da região norte foi uma viagem incrível por Manaus sem sair de casa kkk

Fiquei na duvida em qual nota dar para esse livro. Mas tiro meia estrela pois gostaria de mais Yaqub na história. Para mim fez falta no decorrer do livro. Fora isso, está entre os melhores nacionais que já li com folga.
Douglas Finger 31/07/2022minha estante
Que de mais!


@tigloko 31/07/2022minha estante
Obrigado Douglas ?


mpettrus 01/08/2022minha estante
Éguas, resenha perfeita!!! O Hatoum é exatamente assim na literatura dele. Ele é muito sensorial, sinestésico, amo esse aspecto da literatura dele. Nunca li esse romance dele, mas depois dessa resenha, vou tratar de ler o quanto antes. Parabéns pela resenha!!! ?


Núbia Cortinhas 01/08/2022minha estante
Não sou manauara, mas sou paraense então eu vou falar: - Que resenha mais "pai d'égua, eras de ti!", ??????????


@tigloko 02/08/2022minha estante
Obrigado gente, fico feliz que gostaram ??. Quando o livro é bom a gente capricha ne? Hahaha


Núbia Cortinhas 02/08/2022minha estante
Kkkk, verdade!




Flávia Menezes 22/02/2023

?SUPER GÊMEOS ATIVAR! ????
?Dois Irmãos?, lançado em 2000 e ganhador do prêmio Jabuti em 2001, é o segundo livro publicado por Milton Assi Hatoum, escritor, tradutor e professor brasileiro, descendente de libaneses, e considerado um dos grandes escritores nacionais vivos.

A narrativa da história é feita por um personagem que só vamos conhecendo ao longo da trama, quando, aos poucos, ele vai revelando detalhes da sua ligação com os personagens principais, falando de suas vidas, amores e dissabores, sem deixar de fora os sentimentos que ele nutre por cada um deles. E nesse caminhar, o narrador vai nos transportando para Manaus, e essa é uma parte belíssima da história, porque vamos tendo detalhes de cada lugar, cada costume, das comidas típicas da região, e até da flora e fauna que são encontradas por lá. É algo tão primoroso, essa descrição que o autor faz, que deu até vontade de viajar para Manaus, só para poder ver (ao vivo e à cores) cada lugar que era descrito, e que eu conheço tão pouco sobre.

Mas a forma com que eu me apaixonei pelas descrições do autor sobre Manaus, não foi igual ao que eu senti pela trama, ou mesmo por seus personagens. Quando a minha amiga me falou que era uma história sobre gêmeos, eu confesso que fiquei instigada em ver como seria, o que aconteceria, e foi aí que iniciei. Porém, o mesmo motivo que me fez iniciar essa leitura, foi aquele que me fez desgostar dela.

A história da família de Halim, o pai, Zana, sua esposa, e os filhos gêmeos Yaqub e Omar, demonstra ter uma grande ligação com a do autor, pois esta também é uma família descendente de libaneses, que vive no Brasil. E nessa miscelânea de culturas, me fez pensar que a construção dos gêmeos pode ter sido influenciada por essa questão, porque a forma como ele os desenvolveu, tem muito a ver com uma tentativa de reproduzir um Caim e Abel, do que de falar propriamente de como são os filhos gêmeos idênticos. Falo aqui sobre gêmeos com muita propriedade, já que eu tenho uma irmã gêmea idêntica, e ainda convivi a vida toda com outros pares de gêmeos idênticos (além de fraternos), tendo inclusive minha irmã gêmea e eu, batizado dois meninos gêmeos idênticos, hoje com 9 anos.

Na minha vida, essa questão de ser gêmea sempre foi algo muito normal, porque, na base da aeronáutica onde cresci, no mesmo prédio onde vivíamos, havia mais 4 pares de gêmeos, sendo que, 3 desses pares, eram de meninas na mesma idade escolar. Eu me lembro que quando brincávamos, a gente se dividia em 2 grupos, sendo um das que nasceram primeiro (o meu!), e o outro das que nasceram depois. E é muito comum, quando alguém encontra um par de gêmeos, fazer exatamente essa pergunta: "Mas quem nasceu primeiro?" Mas nunca ouvi falar de chamar um dos gêmeos de "caçula", como acontece na história. Até mesmo porque Omar não é o mais novo, e sim uma irmã. Sendo assim, que lugar é esse que ele ocupa que nem dele é? Não fez o mínimo sentido!

Mas como eu disse, o autor estava tão voltado em transformar os gêmeos em um Caim e Abel, que pouco trouxe dessa ligação tão rica que existe entre duas pessoas que surgiram de uma divisão de um mesmo óvulo fecundado. E por mais brigas, competições (e gêmeos são altamente competitivos!), e até rivalidades que possam existir, essa ligação é muito mais forte. Se nada no mundo é mera obra do acaso, imagina isso na vida de duas pessoas que vieram ao mundo juntas? Eu digo com propriedade, mas essa não é uma ligação normal como a que temos com os demais irmãos. É algo muito mais forte.

Outro ponto de grande exagero do autor, foi colocar as personalidades de forma tão extremista. Um é mau, e o outro é bom. Um tem sucesso, e o outro fica com o fracasso. Achei isso tão forçado, e tirou completamente a beleza da história, porque não existe isso. Todos nós somos dotados de qualidades e defeitos. E uma divisão de um óvulo, não faz com que um tenha 100% das qualidades e o outro fique com os defeitos. Não teve o mínimo nexo, e deixou tudo muito empobrecido.

A forma como a mãe trata os filhos gêmeos, com tamanha distinção, eu achei também muito fora do que acontece. Claro que é real que um seja visto, muitas vezes, como mais frágil do que o outro, até porque gêmeos passam a vida com comparações. Quem é o mais magro, quem é o mais alto, quem é o mais inteligente... e por aí vai. Mas achei muito forçada essa cisão porque, que mãe no mundo não se sente feliz em ter filhos gêmeos? Essa separação que o autor fez entre eles, achei que forçou demais para promover uma rivalidade que, para mim, ficou muito exaustiva e desinteressante.

Já o pai, Halim, para mim é o melhor personagem dessa história, muito embora ele se pronuncie bem pouco. Ele é o que podemos chamar de ?o último dos românticos?, e a forma como falam sobre o seu amor pela esposa é indescritivelmente apaixonante. Sinceridade, mas quem em sã consciência não gostaria de ter um marido como o Halim? Eu gostaria! E como pai, ele também era muito certeiro, com seu pulso firme, e que só não podia fazer mais, porque a esposa não deixava. Mas de todos, confesso que ele é o melhor personagem da história.

A disfunção da família foi muito bem desenvolvida, embora, na questão dos gêmeos, o autor tenha pesado demais a mão, e tenha forçado a distinção existente entre eles, o que me deixou muito desgostosa com essa leitura. Porque depois de um tempo, a história se tornou altamente repetitiva, e era tudo tão igual, mais tão igual, que eu tive muita dificuldade em terminar. E o final... para mim, em 20 páginas chegava no mesmo lugar onde acabou.

Aliás, um outro ponto que deixou a leitura muito cansativa, foram as mudanças bruscas no tempo em que a história acontecia. Em alguns momentos, quando o narrador estava chegando no clímax do que estava dizendo, a história mudava do nada para o passado, e ficavam páginas sendo contadas da história, deixando aquela situação anterior extremamente desinteressante. Haviam momentos que não dava nem para saber mais do que o autor estava falando, porque ele ficava em um indo e vindo de passado para presente, que deixou a narrativa muito cansativa e muito desinteressante.

Muito embora esta seja uma história que tenha falado de Manaus com tanta beleza, eu confesso que os demais pontos expostos aqui, deixaram a leitura muito repetitiva e cansativa, e isso me faz dizer que (para mim!), esta não foi uma história que tenha me encantado. Mas, se você gosta de literatura nacional, não leve tão a sério os pontos que eu trago aqui, porque esse pode ser um livro que irá te agradar bem mais do que agradou a mim.
Alê | @alexandrejjr 22/02/2023minha estante
Flávia!! Achei fantástico o teu texto! Uma experiência muito particular com o maior romancista brasileiro vivo! Adorei os destaques a respeito da falta de verossimilhança da relação de irmãos gêmeos e do manequeísmo imposto pelo autor nessas personagens. Obrigado por compartilhar conosco!


Flávia Menezes 23/02/2023minha estante
Obrigada, Alexandre. Apesar de não ter gostado, não tem como não falar do bonito trabalho do autor em trazer Manaus como ele trouxe.


Dani 23/02/2023minha estante
Amiga? primeira LC que compartilhamos impressões diferentes! ?


Flávia Menezes 23/02/2023minha estante
Super diferentes, né amiga. Mas é que essa leitura pegou no meu Calcanhar de Aquiles! ? Falar de Cloninhos sem ser realista?isso me incomodou. Mas ambas concordamos que a forma como o autor trouxe as paisagens e locais de Manaus foi exuberante, não é? E também gostamos muito do Halim! ?


Dani 23/02/2023minha estante
Acho que foi isso, amiga! Como numa tive contato com nenhum gêmeo, acabei vendo eles apenas como dois irmãos ? o inteligente e rancoroso. E o mimado e fútil!


Flávia Menezes 23/02/2023minha estante
Mas foi bom? porque a sua visão nos ajudou a rir disso tudo! ??




Alex 04/05/2023

O primeiro, que venham muitos
Um disclaimer inicial: eu acredito que fazia uns 10 anos que não lia nada nacional.

Feito esse aparte, preciso já deixar claro, Dois Irmãos é uma obra prima! Daquelas que ganha prêmios ao redor do mundo.

Dois Irmãos trata de uma família completamente disfuncional (não é desestruturada, ela está ali toda completinha). Um casal descendente de Sírio libaneses, que vivem em Manaus, que têm 3 filhos, sendo uma filha e dois filhos gêmeos.

Toda a trama está ao redor dos filhos. Todas as aventuras, os traumas, os dramas, os pecados e crimes. As imoralidades e os conselhos. Todos os agregados. Todo o desregramento.

O livro encanta com uma narrativa fluída, simples mas cativante. Com um português carregado de cultura manauara e árabe, e regionalismos da bacia amazônica.

A história se passa entre o início do século XX até aproximadamente década de 60 ou 70. A linha do tempo não é clara. Os marcadores temporais aparecem eventualmente, sem nenhum tipo de progressão linear, e apesar disso, você leitor, não sente nenhuma falta dessa clareza temporal.

Gostei muito do narrador anônimo, carregados de sentimentos por pertencer à família, e contando como se estivesse de fora das situações. Também amei a profundidade dos personagens:

Domingas, aquela cunhatã que você gostaria que tivesse uma vida melhor. Os irmãos que você deseja que fossem melhores. Uma mãe completamente desmiolada no ofício materno. Uma irmã que faz um papel tão controverso quanto fundamental.

Halim, sentirei saudade desse velho libanês, com fogo ? inextinguível, uma sabedoria pouco explanada e carregado de remorsos por suas inatividades.

Durante a trajetória nos deparamos com várias questões morais, sexuais, tabus intocáveis, o peso da cultura, dos costumes, das raízes. Também nos deparamos os males causados pela superproteção, pelo mimo, pelo tratamento diferenciado, pelos privilégios. É impensável ler tal história e não fazer paralelo com alguma família que você conhece. É rico, triste, e ainda, emocionante.

Enfim, leiam, simplesmente leiam, este é um livro nacional, contemporâneo e riquíssimo. Vale cada página.
Josy 05/05/2023minha estante
Milton é meu conterrâneo e precisei ler dois de seus livros pra disciplina de literatura na escola - mais de 15 anos atrás. E foi incrível. Recomendo Cinzas do Norte, acho que você também vai gostar.


Regis 05/05/2023minha estante
Maravilhosa resenha, Alex! ?????
Vou colocar na minha lista de leituras, fiquei curiosa e suas dicas são sempre boas.??


Alex 06/05/2023minha estante
Josy, vou procurar. Confesso que nunca tinha ouvido falar nele, mas me fisgou completamente.


Alex 06/05/2023minha estante
Regis. Com certeza vc vai gostar. ?




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Sandro 24/12/2023minha estante
Amo... já leu"Relatos de certo oriente", do mesmo autor... maravilhoso, indico ele...


Sandro 24/12/2023minha estante
"Relatos de um certo oriente", Milton Hatoun


Rick Shandler 24/12/2023minha estante
Tá na lista aqui!!!


Sandro 24/12/2023minha estante
Foi o primeiro que ele escreveu... muito bom e gostoso de ler...




Eric Silva - Blog Conhecer Tudo 10/01/2017

Assim como Caim e Abel, Esaú e Jacó.
Caim e Abel. Esaú e Jacó. Quantas histórias de irmão que não se entendem e se odeiam nós conhecemos? Relacionamentos que foram atravessados pela discórdia, pelo ódio, pela inveja e pelo ciúme.
Coisas semelhantes aconteciam com os gêmeos Yaqub e Omar do livro Dois Irmãos. E por ser algo tão comum, escrever um livro sobre o assunto pode parecer, à primeira vista, mais um clichê. No entanto, o encanto e profusão de cenários tão atípicos na minha realidade, que fizeram tudo parecer ser tão distante quando na verdade é tão próximo, aliado à narração límpida e envolvente, tão cheia de brasilidade e em muitos momentos atravessada por poesia, e, por fim, tudo isso arrematado com personagens tão intensos, algumas vezes incríveis, em outras odiáveis, por vezes tão familiares, me enredaram na atmosfera morna dos trópicos e li todo o romance quase sem perceber. No fim, achei-o mais real, mais vivo e, por isso, distante do idealismo enfadonho de alguns dos antigos clássicos do Romantismo Regionalista. Por isso Dois Irmãos é o segundo livro da nossa campanha do #AnoDoBrasil. Venha conferir a resenha completa no blog: http://conhecertudoemais.blogspot.com.br/2017/01/dois-irmaos-milton-hatoum-resenha.html


site: http://conhecertudoemais.blogspot.com.br/2017/01/dois-irmaos-milton-hatoum-resenha.html
Jordana Martins(Jô) 10/01/2017minha estante
Estao exagerando na serie,mais o livro e otimo,gostei muito tambem


Eric Silva - Blog Conhecer Tudo 10/01/2017minha estante
Concordo, na série algumas cenas estão por demais dramáticas.


Bruno.Fernandes 12/01/2017minha estante
Mta purpurina na série da globo. O q mais está incomodando é o exagero dramático na atuação da Zana, chorando o tempo todo ao invés de mostrar sua força, personalidade e obsessão por Omar. Tb Halim não está sendo aprofundado na sua submissão e psicologia.


Eric Silva - Blog Conhecer Tudo 12/01/2017minha estante
Realmente, o que vem me incomodando mais é a atuação de alguns atores.




Beatriz 22/10/2021

Superou minhas expectativas
Li por causa do vestibular e reconheço que ele merece ter sido escolhido para fazer parte da lista. A linguagem é muito tranquila e a narrativa é fluida. Os acontecimentos entre os integrantes da família são espantosos, a ponto de você se perguntar ?Quem faria isso com um familiar??, e mostram como alguns sentimentos são capazes de destruir e controlar vidas. Realmente gostei da leitura, vale muito a pena.
Jade 22/10/2021minha estante
Qual o vestibular mana


Alê | @alexandrejjr 22/10/2021minha estante
Acho fantástico que, mesmo como uma exigência, "Dois irmãos" seja pedido como leitura, pois é uma oportunidade dos vestibulandos conhecerem um dos maiores autores de língua portuguesa da literatura contemporânea. Se gostasse desse, Beatriz, dê uma chance ao "Cinzas do Norte". ?


Beatriz 22/10/2021minha estante
Vestibular da UEM


Beatriz 22/10/2021minha estante
Obrigada, Alexandre! Darei uma olhada sim




Julia Moraes 06/01/2023

Rotineiro e triste
O melhor livro brasileiro que já li.
A síntese de uma vida triste, principalmente pro narrador e sua mãe.
Gosto do jeito como as informações vão aparecendo e chocando ao longo do livro e, além de tudo, fala um pouco sobre a escravidão indígena no norte do Brasil.
Ruannita 06/01/2023minha estante
Ué... não lembrava que tinha escravidão indígena nessa história...


Julia Moraes 13/01/2023minha estante
Seguem vários spoilers...
Pode ser que a empregada tenha passado batida pra você, mas o autor deixou explícito no livro que ela foi trazida pra zana por uma freira quando.ainda era uma criança. Inclusive, Zana pagou por ela, pelo menos foi o que o autor deu a entender. Ela trabalhava todos oa dias e sem direito a férias, ou de escolher sair ou não. O narrador fala várias vezes sobre fugir da casa e sobre ela nunca ter fugido.
Além do mais, ela foi estuprada na casa e ninguém fez nada. No fim do livro, o narrador fala sobre o descaso com o qual era tratada.
Fala muito sobre essa empregada que é "parte da família", mas mesmo que for realmente parte da família por laço sanguíneo não é considerado, pela ascendência indígena ou por ser filho da empregada.


Julia Moraes 13/01/2023minha estante
Escravidão moderna




Phelipe Guilherme Maciel 12/01/2017

Há ressentimentos que não se curam nunca.
A história de dois irmãos é extremamente perturbadora, no sentido de que ilustra o que pode acontecer quando a mãe claramente demonstra preferência por um dos filhos. Omar e Yaqub, gêmeos, cresceram num lar onde o caçula, Omar, tudo tinha, pois nasceu frágil e quase morreu. Yaqub era sempre preterido, sempre ofuscado pelo irmão. Após uma briga que deixou marcas eternas no rosto e no coração de Yaqub, a relação dos irmãos nunca mais foi a mesma. Zana, a mãe super protetora não via nada disso. Não me prolongarei no enredo, até porque o livro está sendo reproduzido pela rede globo na minissérie de mesmo nome, e estão fazendo um maravilhoso trabalho.

Sobre Milton, é um gênio dos nossos tempos. A história, narrada por Nael (que é filho bastardo de um dos gêmeos), inicia-se no leito de morte de Zana. A frase que ela diz é: "Meus filhos já fizeram as pazes?"
Daí para frente, Nael conta a história da vida deles, misturando presente e passado, baseado no que seu avô, Halim, contava para ele em passeios de barco.
A história é fiel ao crescimento e declínio de Manaus, fiel ao triste relato da ditadura militar, fiel ao inexorável fim que haveria de ter uma história onde um filho era sempre preterido ao outro.

Ler este livro te deixa com um sabor amargo na boca. Você pode odiar todos os personagens deste livro, nenhum é santo, na medida de suas escolhas. Tal como ocorre na vida real. Não há mocinhos nessa vida. Somos dominados por nossos sentimentos mais sórdidos e fazemos coisas que nos arrependemos, ou não... O fim de Omar deixa isso claro.

Um clássico moderno.
Lucas 22/10/2019minha estante
Queria ter gostado mais do livro, mas otima resenha!


Phelipe Guilherme Maciel 22/10/2019minha estante
Lucas, me identifiquei muito com os personagens, isso pode ter facilitado um bocado. O que você não gostou no livro?


Lucas 23/10/2019minha estante
Acho que foi justamente esse ponto, não consegui me identificar com nenhum personagem e nem torcer por alguém (apesar de ter me emocionado com a trajetória e fim de Domingas), por isso não me envolvi com a história.
Também teve o fato de que li logo após Capitães de Areia, que amei muito. Então por ser um clássico contemporâneo + ser brasileiro, fui ler com expectativas bem altas.




Silvia_Hall 14/02/2017

Quando você termina de ler um livro em apenas um dia, das duas uma: ou ele é curto ou muito bom. No caso de Dois Irmãos, ele é os dois. Que livro incrível! Super recomendo.
Julia.Martins 14/02/2017minha estante
Vc precisa ver a graphic novel desse livro. É a coisa mais linda.


Silvia_Hall 14/02/2017minha estante
agora eu quero ver até a série que globo fez kkkk


Julia.Martins 14/02/2017minha estante
Kkkkkkk




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