Luiz Felipe 22/05/2021
Drama familiar extremamente desconfortável, cheio de rancor e nada maniqueísta. Para além disso, um pedaço de história e cultura de uma região do Brasil que, pelo menos na visão de muitos aqui onde eu moro (Paraná), é bem esteriotipada. Eu esperava um romance que trabalhasse aquele conflito batido, mas que não deixa de ser interessante, do gêmeo bom versus o gêmeo malvado. No entanto, apesar de parecer que a obra vai caminhar pra esse desfecho em alguns momentos, Omar e Yaqub são dois personagens multifacetados, que dá pra amar, odiar e, acima de tudo, sentir pena. Apesar das diferentes estruturas narrativas e enfoques históricos, confesso que em alguns momentos o drama dessa família me lembrou um pouco o da família Compsom, do universo criado por Faulkner em O Som e a Fúria. Assim como na obra de Faulkner, pra mim o ponto de interesse enquanto leitor de Dois Irmãos não está no conflito dos irmãos, na relação incestuosa com a irmã, ou na mãe neurótica, mas sim na voz narrativa dos empregados, lá representados pelos negros, e aqui pela indígena, Domingas, e seu filho, o narrador da história. Somado aos dois, outro personagem interessantíssimo é o patriarca da família, Halim. Enfim, achei a obra no geral desconfortável e cansativa até um pouco mais da metade, o que não é necessariamente um defeito. Interessantíssima a parte que trata sobre a ditadura militar, que temos mania de relacionar sempre com o eixo sul/sudeste, quando na verdade afetou todo o país. Recomendo demais a leitura, livraço!