Naty__ 28/04/2014 A obra Os Judeus do Papa mostra o extenso trabalho realizado por Gordon Thomas. Ao depararmo-nos com a lista de pesquisadores, é possível vislumbrar a dedicação com que esse livro foi feito. Além disso, conta com uma mega bibliografia selecionada, o que apenas reforçou minha concepção sobre o desempenho de Thomas.
Um dos pontos principais abordado no livro é o período da Segunda Guerra Mundial. A leitura é carregada de conjunto histórico, em que mostra a guerra eclodindo na Europa e deixando um rastro de sangue e corpos mutilados pelos nazistas.
“Você só pode se sentir como está se sentindo quando está com olhos que choraram” (p.112).
O autor inicia sua obra falando sobre o Pio antes dele ser papa, percorre todo seu processo de conquista, bem como o início da guerra e seu término. Thomas tem uma narrativa ótima, pois sabe dividir a obra em fatos históricos e depoimentos.
Por tratar-se de um livro que descreve a posição da Igreja perante o mundo com base nas ideias de Hitler, a obra parece ser carregada e a leitura arrastada. Porém, foi onde me surpreendi. Thomas sabe segurar o leitor até chegar ao fim da obra, sem se preocupar com as 379 páginas adiante.
“Os nazista virão – repetiu. – Como dizem as Escrituras, ‘ninguém sabe o dia ou a hora’. Mas eles virão com certeza, e temos de nos preparar. Temos de sair de Roma” (p.121).
Em certos momentos da obra, fiquei chocada com as situações colocadas pelo autor. A forma como os judeus viviam e eram tratados chega a ser cruel, assim como a jornada deles e a dificuldade que passaram para conseguir escapar do exército nazista.
A obra ainda aborda um segredo que foi revelado por documentos oficiais secretos: Pio XII organizou uma rede de auxílio aos judeus. Através dele, padres e freiras arriscaram suas vidas fornecendo abrigo à comunidade judaica e falsificando as identidades para saírem do país.
“Eu era encarregada de descascar batatas, e elas eram contadas uma a uma. A fome definia nossa existência. Embora as irmãs dividissem tudo conosco, nunca havia o suficiente para saciar nossa fome. A não ser que você já tenha mascado casca de batata ou folhas de rabanete, não sabe o que significa ter fome” (p.177).
Além de acontecimentos tristes e lamentáveis, o autor expõe uma ideia incrível, elaborada pelo diretor do hospital. Ele criou uma doença com intuito de fingir que era mortal. Desse modo, foi uma forma de manter os judeus abrigados no hospital, sem que ninguém se aproximasse para não ser contaminado.
Thomas retrata bastante sobre Pio XII, que era visto como o carrasco na história, sendo considerado como o papa de Hitler. Embora ele tenha sido visto como um papa que não realizava o que precisava, o autor deixa em evidência as ações que ele fez, salvando 80% da comunidade judia.
“Pio XII nunca quis que suas boas ações fossem reveladas. [...] ele ordenava que eu retirasse dinheiro suficiente de seus fundos pessoais para dar a cada família mil dólares dentro de um envelope lacrado” (p.207).
A realidade que a obra nos passa, dá-nos a ideia de como os judeus sofreram nas mãos dos nazistas. Mais de seis milhões de pessoas foram assassinadas no holocausto de Hitler na Segunda Guerra Mundial, de forma injusta, fria e calculada.
A obra tem uma qualidade imensurável. A capa muito bem trabalhada, a revisão impecável e a diagramação perfeita. O cuidado que a Geração Editorial tem com suas obras publicadas é surpreendente.
Indico a obra a todos aqueles que gostam de história e àqueles que gostariam de saber tudo o que aconteceu no período da Segunda Guerra Mundial. Sem dúvida, você ficará indignado com algumas revelações.
“Eu vi seus olhos cheios de terror, os rostos pálidos, como se sentissem uma forte dor, suas mãos trêmulas segurando as laterais da carroceria do caminhão, o medo enlouquecedor que havia tomado conta deles pelo que haviam visto e ouvido, além da aflição atroz nos corações, já prevendo o que os esperava” (p.269).