O que pensa o homem

O que pensa o homem Gabriel Gaspar




Resenhas - O que pensa o homem


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Leitor Cabuloso 23/03/2013

http://leitorcabuloso.com.br/2013/03/resenha-o-que-pensa-o-homem/
Saudações, caros leitores! Serei franco com vocês, quando me sento em frente ao computador para digitar uma resenha, olhando as anotações que fiz durante a leitura, me questiono: “Será que vou conseguir produzir um bom texto?”, pois algumas obras parecem ganhar um sentido tão grande que dá um pouco de medo o momento de analisar, visto que tememos não fazermos jus. Não se entenda bom texto como algo cheio de termos “bonitos” e uma variedade de palavras tão grande quanto o número de partidos políticos no Brasil, mas sim um texto que consiga atrair a atenção da maioria das pessoas que o leia (sei que a unanimidade nessa situação é de probabilidade mínima) e que o resultado seja algo que eu olhe e pense: “Consegui passar mais ou menos o que senti e percebi…”. Compreendo que é uma tarefa impossível transmitir precisamente a minha experiência com o romance, tendo em vista que cada cabeça é um universo com um leque de vivências que jamais pode ser replicado, mas espero obter êxito em lhes instigar a desbravar este que é o primeiro trabalho do Gabriel Gaspar como escritor.

Pela orelha esquerda do livro, a obra nos é apresentada como uma reflexão acerca da condição humana, assunto abrangente e que costuma causar empolgação nas mentes mais questionadoras, e foi isso que me deixou faminto por estas duzentas e trinta e seis páginas. Tenho uma confissão a fazer: quando o Gabriel entrou em contato com o blog querendo firmar a parceria, busquei informação sobre o livro na internet e, depois de uma pesquisa simples, achei-o interessante, mas não estava com expectativas tão altas. Achava que seria apenas uma aventura de um homem com um superpoder, felizmente pude constatar que é algo excepcionalmente maravilhoso, passando a milhares de anos-luz do enredo mais simples que pensava me aguardar. Se você é alguém que gosta de exercitar o raciocínio e tem apreço pela filosofia, vai sentir-se como uma criança que é presenteada com uma loja cheia dos doces que mais ama.

Depois da sinopse, vocês provavelmente vão concordar comigo, a parte preliminar mais importante é o prefácio, correto? Podem debater isto nos comentários. Então, neste, Luiz Valcazaras – poeta, dramaturgo e diretor teatral – nos fala que o romance é basicamente um jogo psicológico em que o leitor torna-se um personagem que segue ao lado do narrador-escritor e é diretamente convocado – sim, o narrador fala conosco – a pensar sobre uma série de questões que norteiam a nossa espécie.

O que torna o texto ainda mais cativante é como o escritor manipulou a linguagem, conseguindo desenvolver uma espantosa empatia comigo e que ocorrerá com outras pessoas também, assim deduzo. Sabe quando você está conversando com alguém e de repente percebe que você consegue antecipar os pensamentos da pessoa e vice-versa? Inicialmente pode assustar um pouco ter a sua mente aberta de maneira tão fácil, pois imaginar que alguém que sequer você conhece pessoalmente consegue saber o que você sente ou pensa em uma parte do livro é no mínimo “estranho”, mas depois passa a ser divertido. Por ser o primeiro romance do autor é ainda mais louvável tamanha destreza com a escrita.

Antes de falar sobre os personagens e os caminhos percorridos, peço a permissão de vocês para comentar um pouco mais acerca do narrador e a estrutura de “O que pensa o homem”. O narrador é uma das peças centrais, inclusive tem um capítulo somente para ele depois do prefácio, uma vez que além de cumprir a sua função esperada, também age como personagem, ora emitindo juízos, ora falando sobre si mesmo, ora nos abrindo uma perspectiva inusitada em alguns eventos. O curioso é que nunca sabemos ao certo quem é o narrador, mas algumas possibilidades apresentadas são: um tipo de consciência coletiva da humanidade, a faculdade de sonhar do ser humano, um “deus”. O desfecho diz algo a respeito da natureza do narrador, mas ainda assim fica em aberto, acredito que cada um poderá dar uma resposta e ainda assim todos estarão corretos nas interpretações. Há uma abertura para o perspectivismo, fascinante.

Falando da estrutura – prometo não ser cansativo, só irei analisar por ser importante –, quero dizer que a obra é dividida em capítulos com várias partes. Cada uma das seções dos capítulos é introduzida pelo narrador que disserta sobre assuntos variados que vão desde como criamos a nossa identidade (personalidade) até como a finitude da vida nos faz experimentar a existência. Em seguida, temos cenas que se desenrolam a partir do que foi abordado.

Enfim, os personagens…demorei, mas cheguei. Primeiro, falarei sobre George Perone, este homem de incrível inteligência, atributo tão abundante quanto o seu humor sarcástico e ousado. Com trinta e sete anos e solteiro, sem alguma grande ligação com outra pessoa ou um objetivo na vida maior do que chegar ao dia seguinte vivo, segue uma vida ordinária, medíocre seria uma palavra que retrataria melhor o seu estado lastimável. Ele trabalha como contador em uma loja, emprego para o qual não demonstra qualquer tipo de alegria, mantém uma rotina rígida, sempre no percurso casa-trabalho-casa com desvios irrelevantes, e, devido ao problema em uma das pernas, é viciado em analgésicos. Entretanto, ao contrário do que poderíamos concluir, a sua mente é uma completa oposição ao jeito decadente em que está mergulhado.

Se por um lado temos um indivíduo evidentemente caído, do outro lado temos um intelecto incisivo que a nada poupa uma crítica. Não achem que o rancor é o que o move, pois estariam incorrendo em erro. Todos os seus apontamentos, principalmente os mais polêmicos (suicídio é um deles), são alicerçados em argumentos sólidos, passando longe de “achismos”. Aliás, vale salientar que vários pensamentos em muito se assemelham aos proferidos pelo filósofo Friedrich Nietzsche – talvez o autor não tenha feito isso propositalmente, afinal algumas ideias são frutos naturais da experiência humana, logo não há um “dono”, mas um sistematizador. Alguém que a organizou para que qualquer pessoa possa compreendê-la com maior clareza.

O que surge para retirar George de sua zona de conforto é Gabriel Assunção, um homem de vinte e oito anos, ar jovial, intelectual e dono de uma habilidade impressionante, mas que representa um tormento. Durante algumas páginas, pensei que ele seria uma escada para o nosso protagonista. Todavia enganei-me redondamente e posso afirmar que se George ocupa o primeiro plano na trama, Gabriel está no segundo e os demais orbitam ao redor deles.

Com a entrada no jogo de Assunção, chega também o Dr. Vincent Carpi, uma figura misteriosa que ao lado do amigo procura mover as coisas de tal forma que o real intuito no contato com George passe camuflado sob o pretexto de uma experiência médica. É nesse ponto que o protagonista assume um pseudônimo (Joe Fontanna) nas consultas para proteger a sua identidade. Virada nos acontecimentos acompanhada de uma mudança de nome do personagem, perceberam o simbolismo? Então, fiquem atentos, há muitas preciosidades nas entrelinhas. A ênfase não é nas características fantásticas, mas nos diálogos, tanto que o autor se atém apenas ao essencial na descrição dos cenários e personagens.

O conhecimento apenas descortina o que está oculto, ou seja, não é um meio que garante sorrisos sempre, afinal a verdade pode tocar onde dói. Falei isto para mencionar um ponto comum aos personagens George e Gabriel. Como citei antes, ambos possuem capacidades anormais, mas um traço que também compartilham é a dependência de analgésicos que representam justamente uma tentativa de proteção contra a dor que provém da verdade. Mesmo que neguemos, todos tentamos driblar essa espécie de sofrimento, seja transformando a dor em uma força para nos impulsionar para uma meta ou recorrendo a um alento (seja um livro, filme, uma pessoa, uma religião etc). Faz parte de nosso instinto, não é algo de que devemos ter vergonha. Agora, lhes indago: como não se identificar com figuras tão próximas do que somos?

Na reta final, a linha temporal da obra retrocede com a finalidade de elucidar mais o jeito de George e acabamos ainda mais simpatizantes dele. No final das contas, o que poderia parecer uma visão amargurada da vida, torna-se um convite a tomarmos o destino em nossas mãos, conscientes de que somos singularíssimos – fique frisado o superlativo –, um mar fervilhante de possibilidades e inquietações. Ao chegar à última página, ecoou ao meu redor: Nunca aceite sem questionar…pense, aja, faça, sonhe, do contrário você é apenas um pedaço de carne animado! Você tem o poder de moldar a sua realidade, mas você precisa acreditar! Foi uma leitura movimentada, prazerosa, transformadora! Sem pestanejar, dou cinco selos cabulosos, levanto-me de minha cadeira e aplaudo!
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Ednelson 20/03/2013

“Você sabe que esse dom da crença sempre foi o mais poderoso dos talentos do ser humano. Com o nome de crença, de fé, de ideologia ou de sonhos, sempre foi a única força capaz de promover reais mudanças na humanidade.”
Pág. 172.

Saudações, caros leitores! Serei franco com vocês, quando me sento em frente ao computador para digitar uma resenha, olhando as anotações que fiz durante a leitura, me questiono: “Será que vou conseguir produzir um bom texto?”, pois algumas obras parecem ganhar um sentido tão grande que dá um pouco de medo o momento de analisar, visto que tememos não fazermos jus. Não se entenda bom texto como algo cheio de termos “bonitos” e uma variedade de palavras tão grande quanto o número de partidos políticos no Brasil, mas sim um texto que consiga atrair a atenção da maioria das pessoas que o leia (sei que a unanimidade nessa situação é de probabilidade mínima) e que o resultado seja algo que eu olhe e pense: “Consegui passar mais ou menos o que senti e percebi...”. Compreendo que é uma tarefa impossível transmitir precisamente a minha experiência com o romance, tendo em vista que cada cabeça é um universo com um leque de vivências que jamais pode ser replicado, mas espero obter êxito em lhes instigar a desbravar este que é o primeiro trabalho do Gabriel Gaspar como escritor.

Pela orelha esquerda do livro, a obra nos é apresentada como uma reflexão acerca da condição humana, assunto abrangente e que costuma causar empolgação nas mentes mais questionadoras, e foi isso que me deixou faminto por estas duzentas e trinta e seis páginas. Tenho uma confissão a fazer: quando o Gabriel entrou em contato com o blog querendo firmar a parceria, busquei informação sobre o livro na internet e, depois de uma pesquisa simples, achei-o interessante, mas não estava com expectativas tão altas. Achava que seria apenas uma aventura de um homem com um superpoder, felizmente pude constatar que é algo excepcionalmente maravilhoso, passando a milhares de anos-luz do enredo mais simples que pensava me aguardar. Se você é alguém que gosta de exercitar o raciocínio e tem apreço pela filosofia, vai sentir-se como uma criança que é presenteada com uma loja cheia dos doces que mais ama.

Depois da sinopse, vocês provavelmente vão concordar comigo, a parte preliminar mais importante é o prefácio, correto? Podem debater isto nos comentários. Então, neste, Luiz Valcazaras – poeta, dramaturgo e diretor teatral – nos fala que o romance é basicamente um jogo psicológico em que o leitor torna-se um personagem que segue ao lado do narrador-escritor e é diretamente convocado – sim, o narrador fala conosco – a pensar sobre uma série de questões que norteiam a nossa espécie.

O que torna o texto ainda mais cativante é como o escritor manipulou a linguagem, conseguindo desenvolver uma espantosa empatia comigo e que ocorrerá com outras pessoas também, assim deduzo. Sabe quando você está conversando com alguém e de repente percebe que você consegue antecipar os pensamentos da pessoa e vice-versa? Inicialmente pode assustar um pouco ter a sua mente aberta de maneira tão fácil, pois imaginar que alguém que sequer você conhece pessoalmente consegue saber o que você sente ou pensa em uma parte do livro é no mínimo “estranho”, mas depois passa a ser divertido. Por ser o primeiro romance do autor é ainda mais louvável tamanha destreza com a escrita.

Antes de falar sobre os personagens e os caminhos percorridos, peço a permissão de vocês para comentar um pouco mais acerca do narrador e a estrutura de “O que pensa o homem”. O narrador é uma das peças centrais, inclusive tem um capítulo somente para ele depois do prefácio, uma vez que além de cumprir a sua função esperada, também age como personagem, ora emitindo juízos, ora falando sobre si mesmo, ora nos abrindo uma perspectiva inusitada em alguns eventos. O curioso é que nunca sabemos ao certo quem é o narrador, mas algumas possibilidades apresentadas são: um tipo de consciência coletiva da humanidade, a faculdade de sonhar do ser humano, um “deus”. O desfecho diz algo a respeito da natureza do narrador, mas ainda assim fica em aberto, acredito que cada um poderá dar uma resposta e ainda assim todos estarão corretos nas interpretações. Há uma abertura para o perspectivismo, fascinante.

Falando da estrutura – prometo não ser cansativo, só irei analisar por ser importante –, quero dizer que a obra é dividida em capítulos com várias partes. Cada uma das seções dos capítulos é introduzida pelo narrador que disserta sobre assuntos variados que vão desde como criamos a nossa identidade (personalidade) até como a finitude da vida nos faz experimentar a existência. Em seguida, temos cenas que se desenrolam a partir do que foi abordado.

Enfim, os personagens...demorei, mas cheguei. Primeiro, falarei sobre George Perone, este homem de incrível inteligência, atributo tão abundante quanto o seu humor sarcástico e ousado. Com trinta e sete anos e solteiro, sem alguma grande ligação com outra pessoa ou um objetivo na vida maior do que chegar ao dia seguinte vivo, segue uma vida ordinária, medíocre seria uma palavra que retrataria melhor o seu estado lastimável. Ele trabalha como contador em uma loja, emprego para o qual não demonstra qualquer tipo de alegria, mantém uma rotina rígida, sempre no percurso casa-trabalho-casa com desvios irrelevantes, e, devido ao problema em uma das pernas, é viciado em analgésicos. Entretanto, ao contrário do que poderíamos concluir, a sua mente é uma completa oposição ao jeito decadente em que está mergulhado.

Se por um lado temos um indivíduo evidentemente caído, do outro lado temos um intelecto incisivo que a nada poupa uma crítica. Não achem que o rancor é o que o move, pois estariam incorrendo em erro. Todos os seus apontamentos, principalmente os mais polêmicos (suicídio é um deles), são alicerçados em argumentos sólidos, passando longe de “achismos”. Aliás, vale salientar que vários pensamentos em muito se assemelham aos proferidos pelo filósofo Friedrich Nietzsche – talvez o autor não tenha feito isso propositalmente, afinal algumas ideias são frutos naturais da experiência humana, logo não há um “dono”, mas um sistematizador. Alguém que a organizou para que qualquer pessoa possa compreendê-la com maior clareza.

O que surge para retirar George de sua zona de conforto é Gabriel Assunção, um homem de vinte e oito anos, ar jovial, intelectual e dono de uma habilidade impressionante, mas que representa um tormento. Durante algumas páginas, pensei que ele seria uma escada para o nosso protagonista. Todavia enganei-me redondamente e posso afirmar que se George ocupa o primeiro plano na trama, Gabriel está no segundo e os demais orbitam ao redor deles.

Com a entrada no jogo de Assunção, chega também o Dr. Vincent Carpi, uma figura misteriosa que ao lado do amigo procura mover as coisas de tal forma que o real intuito no contato com George passe camuflado sob o pretexto de uma experiência médica. É nesse ponto que o protagonista assume um pseudônimo (Joe Fontanna) nas consultas para proteger a sua identidade. Virada nos acontecimentos acompanhada de uma mudança de nome do personagem, perceberam o simbolismo? Então, fiquem atentos, há muitas preciosidades nas entrelinhas. A ênfase não é nas características fantásticas, mas nos diálogos, tanto que o autor se atém apenas ao essencial na descrição dos cenários e personagens.

O conhecimento apenas descortina o que está oculto, ou seja, não é um meio que garante sorrisos sempre, afinal a verdade pode tocar onde dói. Falei isto para mencionar um ponto comum aos personagens George e Gabriel. Como citei antes, ambos possuem capacidades anormais, mas um traço que também compartilham é a dependência de analgésicos que representam justamente uma tentativa de proteção contra a dor que provém da verdade. Mesmo que neguemos, todos tentamos driblar essa espécie de sofrimento, seja transformando a dor em uma força para nos impulsionar para uma meta ou recorrendo a um alento (seja um livro, filme, uma pessoa, uma religião etc). Faz parte de nosso instinto, não é algo de que devemos ter vergonha. Agora, lhes indago: como não se identificar com figuras tão próximas do que somos?

Na reta final, a linha temporal da obra retrocede com a finalidade de elucidar mais o jeito de George e acabamos ainda mais simpatizantes dele. No final das contas, o que poderia parecer uma visão amargurada da vida, torna-se um convite a tomarmos o destino em nossas mãos, conscientes de que somos singularíssimos – fique frisado o superlativo –, um mar fervilhante de possibilidades e inquietações. Ao chegar à última página, ecoou ao meu redor: Nunca aceite sem questionar...pense, aja, faça, sonhe, do contrário você é apenas um pedaço de carne animado! Você tem o poder de moldar a sua realidade, mas você precisa acreditar! Foi uma leitura movimentada, prazerosa, transformadora! Sem pestanejar, dou cinco selos cabulosos, levanto-me de minha cadeira e aplaudo!

Escrevo no: http://leitorcabuloso.com.br/
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Brunokun 25/02/2013

Minha opinião
Um dos fatores que mais me surpreendeu dentre outros, foi a maneira que o narrador conduzia, de forma que faz o leitor não saber ao certo de quem ou do que se trata, ficando meio subjetivo. Outro aspecto interessante a ser mencionado é a forma de como o escritor consegue passar as emoções dos personagens e as descrições dos ambientes, fazendo que nós nos sintamos como parte do enredo. Às vezes me flagrava assistindo Joe Fontanna na outra mesa da lanchonete conversando com o Doutor, ajustando a posição de sua perna dolorida. A leitura desse livro combina com um tempo frio na varanda, tomando um chá, com uma luz fraca, pois dá bons momentos de reflexão.
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