A Busca Onírica por Kadath

A Busca Onírica por Kadath H. P. Lovecraft




Resenhas - A Busca Onírica por Kadath


12 encontrados | exibindo 1 a 12


Andre24 11/07/2023

Puxado
Livrinho curto mas cansativo, viu? Pela primeira vez me senti como uma pessoa que não gosta de Tolkien tentando ler O Senhor dos Anéis... É muito nome, muitos lugares pra descrever, muita mitologia pregressa que não é devidamente apresentada. E como SdA acontece até uma guerra no final entre as criaturas do inferno. MAS, como geralmente as descrições do Lovecraft são "um mal que não se pode descrever" ou "um terror indizível que o levou a loucura", quando ele parte pra descrever de verdade as coisas parecem não ter impacto, peso. Achei curioso os títulos que sempre vinham junto dos deuses, como o caos rastejante Nyarlathotep ou o ilimitado sultão-demônio Azathoth. O final é interessante e deixa a dúvida: ele vai lembrar do que aconteceu? (pq lá no meio ele tem um temor de acordar antes da hora e perder o progresso da viagem). Na minha cabeça, ele acorda e não consegue esquecer a eternidade que viveu na queda e seu único pensamento é morrer para encerrar tudo. Isso seria bem Lovecraftiano.
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Rafabap 02/11/2020

Viajado
Achei o busca Onírica bem viajado. Ele até aprese ta criaturas fantasiosas e mundos diferentes, porém de uma forma desconexa e rasa. O personagem principal passa por vários lugares mas não tem um diálogo sequer. Não tem profundidade nenhuma, só coisas jogadas para o leitor. Não via a hora de terminar o conto, estava me dando desgosto da leitura. Não indico.
Agnaldo Alexandre 25/06/2022minha estante
Boa noite. Mas, e como são os sonhos, da qual surge o termo onírico? São desconexos, muitas vezes uma viagem, na qual estamos em um lugar agora e no instante seguinte em outro. Estamos em lugares que sabemos serem conhecidos, mas ao mesmo instante, estranhos e diferentes. Essa história faz parte do ciclo dos sonhos, e vejo como intenção de Lovecraft deixar a impressão de estar lendo a descrição de um sonho.


Rafabap 17/11/2022minha estante
Faz sentido!




Gláucia 29/02/2020

A Busca Onírica por Kadath - H. P. Lovecraft
Essa edição da Hedra traz a novela-título, uma interessante carta ao um amigo onde fala de seus sonhos persistentes que o levaram a criar um universo estranho e fantástico, uma pequena poesia onde descreve um ser monstruoso e cinco contos: A Chave de Prata; Celephais; Os Gatos de Ulthar (meu preferido); Os Outros Deuses e O Navio Branco.
Com exceção de Os Gatos de Ulthar todas as histórias são muito parecidas entre si e na verdade estão entrelaçadas; compõem o mesmo universo e fazem parte do ciclo do sonhador e aventureiro Randolph Carter.
Não são propriamente de terror. Nelas o autor mostra sua capacidade sem igual de ambientar e criar todo um universo fantástico repleto de criaturas nunca vistas e lugares jamais imaginados pela mente humana. A ação praticamente está contida nas descrições, riquíssimas em detalhes.
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Renato.Vasconcellos 07/09/2018

Excelente coletânea da faceta onírica do Lovecraft. A introdução do tradutor Guilherme da Silva Praga é esplendorosa e cumpre bem o papel de situar o leitor nesse momento literário do escrito. O conto principal que dá nome ao livro é propositalmente confuso, intrigante e sufocante. O fato do Lovecraft escrever continuamente, sem capítulos, nos deixa praticamente ofegantes enquanto embarcamos no bizarro mundo dos sonhos. Os outros contos também explorando o mundo onírico são interessantes complementos para o principal. Edição caprichosa e leitura mais do que recomentada.
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Biblioteca Álvaro Guerra 23/05/2018

Em A Busca Onírica por Kadath, acompanhamos Randolph Carter em sua busca pela cidade que visitou em seus sonhos, Kadath. Para isso, parte em uma viagem ao mundo onírico, conhecendo suas criaturas e lugares.

Empreste esse livro na biblioteca pública

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. Basta reservar! De graça!

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788577152902
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Paulo 24/04/2018

1 - A Busca Onírica por Kadath (1 coruja)

Essa não é a minha primeira experiência com Lovecraft. Já havia lido O Chamado de Cthulhu em outra oportunidade e a história também não havia batido com o meu gosto literário. Sofri até mesmo com o estilo de escrita que fez com que um conto simples demorasse muito mais tempo para mim. Enfim, antes de lerem a minha resenha, saibam que ela foi afetada demais pela minha experiência de leitura que foi péssima. Em nenhum momento eu me senti à vontade lendo o autor. Não sei responder se foi a escrita do autor mais antiga (apesar de eu adorar histórias góticas... Mary Shelley é uma das minhas autoras favoritas), se foi a tradução que não estava boa ou se eu não estava em um bom momento para ler este livro. Ou uma conjunção de fatores.

A resenha que segue é apenas da novella A Busca Onírica por Kadath. Pretendo fazer uma outra postagem falando sobre os contos que estão nesta edição da Hedra.

O autor nos apresenta um personagem que segue uma busca por uma cidade mítica após um lugar chamado Kadath, onde vive um terror antigo. Somos guiados pelo personagens por lugares assustadores onde criaturas como gugs, ghouls e shantaks habitam a cada esquina. Ou seja, estamos diante de uma jornada fantástica onde somos apresentados a esses lugares e o autor aproveita para construir a mitologia por trás de seu mundo. Ao longo do percurso o protagonista passa por uma série de dificuldades e precisa ultrapassar diversos obstáculos. O que podemos ver no romance é um enredo de uma jornada por um lugar obscuro e repleto de perigos, algo que estava bem na moda na época em que Lovecraft publicou a novelleta. Jules Verne já havia tentado isso em obras Viagem ao Centro da Terra. A diferença é que o autor inseriu elementos de terror e abstração ao que experimentávamos durante a narrativa.

A ambientação é criada de forma a causar confusão no leitor. Por se tratar de um lugar onírico, um mundo dos sonhos, tudo é criado com algum tipo de simbologia ou significado ulterior. Então, por exemplo, nós encontramos os ghouls que são criaturas corcundas que devoram os mortos, os noctétricos, criaturas voadoras que levam suas presas até o seu amo, um dos Outros Deuses. Sejam as catacumbas que ficam nos planos inferiores, à planície de Leng ou até o palácio de ônix, tudo tem algum tipo de significado: medo, pavor, morte, terror, apreensão. Símbolos esses representados pelas criaturas com quem Carter interage ou os lugares que ele percorre. Ao mesmo tempo em que a ambientação é muito boa, eu a achei confusa. Ao longo de toda a narrativa, o autor se perde remetendo momentos da jornada do personagem a histórias insólitas deste mundo onírico. Cita lugares e pessoas, sem termos tempo de nos acostumarmos à sua escrita ou à jornada de Carter. Em vários momentos, algo que era para ser uma descrição de uma situação ou de um acontecimento se torna um fluxo de pensamento enlouquecedor do qual vamos levar várias páginas para nos recuperar. E todas essas referências em nada contribuem com a jornada do personagem.

A escrita de Lovecraft é feita em terceira pessoa a partir do ponto de vista do Carter. Acompanhamos sua jornada como se fôssemos seus olhos e observássemos suas ações. Estamos diante de um discurso indireto onde não há diálogos, salvo em alguns momentos em que ele cita determinadas falas (ele vai citar algumas lá no final). A novelleta não tem separações ou subseções, sendo um romance escrito de forma direta. Isso me incomodou porque acaba não criando espaço para o leitor respirar um pouco antes de continuar a trama. Não temos separações de cena, ou trocas de ângulo. São 118 páginas de escrita pura, descritiva e direta. Para mim, apesar de ser um romance pequeno, foi bem cansativo. Uma escrita bem pesada e carregada; nesse sentido não sei dizer se se trata da escrita do próprio Lovecraft ou da tradução. Até penso em pegar a tradução da DarkSide para saber se existe alguma diferença entre versões.

Não há bem uma construção de personagem. O que vemos é que o protagonista não muda muito ou se desenvolve ao longo da narrativa. Isso não é uma falha, já que a proposta das narrativas de jornada é apenas apresentar a jornada em si. Nos escritos contemporâneos é que a ideia de jornada se confundiu com a noção de jornada do herói. Quem ler qualquer romance de Jules Verne vai se tocar desse detalhe: os personagens não evoluem psicologicamente, sendo apenas a sua jornada que chega ao fim de alguma forma. Por outro lado, Carter segura bem a trama em torno de si e até vemos a presença de algumas menções feitas a outras histórias e contos de Lovecraft como o fato de Carter ter salvado um gato em outra história, ou o encontro com Pickman, personagem oriundo de outro famoso conto do autor, O Modelo de Pickman.

Enfim, eu espero que os fãs do autor não fiquem chateados comigo. É simplesmente que a narrativa não funcionou para mim. O motivo não vou saber dizer. Eu queria aquela sensação de medo e apreensão que vemos em outras histórias como O Chamado de Cthulhu ou o pavor cósmico de O Modelo de Pickman. Tal não se sucedeu aqui e admito que foi uma leitura bem arrastada. Não recomendo o conto para quem quer começar a ler Lovecraft. Para tal existem histórias mais acessíveis como Nas Montanhas da Loucura ou O Terror que Veio do Espaço.

2 - A Chave de Prata (3 corujas)

Podemos situar esse conto em dois momentos: um em que ele critica o desencantamento do mundo e o segundo como o personagem de Randolph Carter descobriu os mundos oníricos. Dá até para sentir um certo elemento autobiográfico aqui, se é que é possível dizer isso. A Chave de Prata é um conto simples sobre uma chave dentro de um baú trancado capaz de abrir os portões para incontáveis mundos. Randolph Carter sente uma atração terrível por esta chave, mas quando cresce ele esquece de suas aventuras vividas em outros planos.

O autor trabalha bastante com a noção de desencantamento do mundo. E isso era um fenômeno que se tornou muito perceptível no início do século XX. Casa até com as teorias filosóficas de Nietzche com a proposta da morte de Deus. Não é que Deus ou os deuses tenham morrido, mas é que o homem acabou se voltando demais para o lado prático da vida. O Iluminismo, movimento filosófico dos séculos XVII e XVIII acabou por provocar essa separação entre a razão e a fé, e os mitos antigos acabaram perdendo espaço frente a uma racionalização total do mundo. Os mundos oníricos de Lovecraft nada mais são do que uma liberdade para o homem sonhar, seja com algo terrível ou com o fantástico.

O maravilhoso se tornou chato. Aquilo que levava ao fantástico foi substituído por religiões normativas que diziam ao homem como pensar. Mesmo as religiões que seriam a passagem do homem para o inexplicável, procuram racionalizar o mundo mostrando formas de conduta, maneiras de se portar. É uma crítica pesada de Lovecraft às religiões monoteístas que ganhavam cada vez mais espaço nas mentes dos homens. Lovecraft defendia a liberdade do homem para encontrar aquilo que ele achava maravilhoso. Retomar algumas ideias antigas de se relacionar com aquilo que não era passível de ser explicado.

Na segunda parte, vemos como Randolph Carter encontra a chave de prata. É engraçado o contraste entre o Randolph adulto e a sua curiosidade infantil. O mundo adulto tirou tanto o seu encantamento que ele não mais capaz de navegar pelos sonhos. Na sua infância um simples objeto dava asas à sua imaginação. O contato com esse objeto serviu como um abrir de olhos para ele. Lhe permitiu ser capaz de prever situações, de imaginar coisas e de fazer comentários sutis que só fariam sentido muito depois. É interessante ver esse contrasta porque Lovecraft brinca com a riqueza da imaginação infantil e com a banalidade e o racionalismo da vida adulta. No fundo, o que ele quer é retomar essa capacidade da criança de criar o inimaginável.

Finalmente eu comecei a entender um pouco melhor Lovecraft. A escrita dele me incomoda um pouco devido ao seu hábito de tornar tudo majestático, grandioso. Mas, admito que me incomodou menos do que em A Busca Onírica por Kadath. Creio que agora eu consiga retirar mais coisas do que ele escreve. E até começo a gostar mais dos temas de suas histórias.

3 - Celephäis (2 corujas)

Aqui temos um conto que toca novamente no tema da infância e de como o homem perde esse contato com a imaginação na vida adulta. Todas as vezes que Kuranes sonha ele se depara com uma cidade desolada. À medida em que ele caminha por esse terreno, ele começa a se deparar com coisas maravilhosas como as planícies de Leng e até outras paisagens oníricas. Mas, o que ele quer mesmo é encontrar Celephäis, a cidade de maravilhas de outros mundos e de belezas inenarráveis. Para isso, ele vai se refugiar cada vez mais no mundo dos sonhos até alcançar o seu objetivo. Mas, isso terá consequências terríveis para ele.

Já falei de o quanto Lovecraft valoriza a capacidade infantil de imaginar coisas maravilhosas. E de o quanto a vida adulta causa uma espécie de desencantamento. Neste conto, temos um símbolo que ilustra essa visão lovecraftiana: a cidade desolada. O que me pareceu é que esta cidade era linda e magnífica, formada pelas criações de Kuranes quando era mais jovem. À medida em que ele foi crescendo e sua mente foi se desvinculando dessas "brincadeiras de criança", a cidade foi ficando abandonada. As casas foram destruídas pelo tempo, a relva cresceu e ninguém mais habita o lugar. Certamente os outros lugares que Kuranes visitou eram fruto da imaginação e dos sonhos de outras pessoas.

A busca de Kuranes pode ser espelhada em nossa busca por um mundo melhor. Estamos a vida toda buscando a felicidade absoluta, só que ela é impossível de ser alcançada em nosso mundo materialista. Para Lovecraft, apenas no mundo dos sonhos isso poderia ser alcançado. E essa utopia é individual para cada um já que forma um lugar próprio a ser explorado pelas pessoas. Percebam que Kuranes não alcança Celephäis até que ele abandona a vida física. Isso é um símbolo de que apenas com a morte somos capazes de alcançar este lugar idílico (não disse que o personagem morreu ou não... isso é algo que foi possível deduzir a partir do que Lovecraft escreve). Essa mesma ideia vai ser retomada em outro conto presente aqui, "Os Outros Deuses".

A liberdade de pensamento é explorada de forma bem curiosa pelo autor. Quando dizemos que é preciso dar asas à imaginação, Lovecraft leva isso a um outro patamar. Para dar liberdade para Kuranes, o autor o coloca em um navio capaz de explorar os mares e levá-lo a lugares incríveis. Esse mesmo navio é capaz de voar para alcançar localidades longínquas. Esse simbolismo do mar remete às Grandes Navegações, série de explorações marítimas dos séculos XV e XVI, onde o europeu descobriu que o mundo era muito maior do que ele imaginava. Essa ideia de explorar um "Novo Mundo" é retomada aqui.

Aos poucos eu estou me familiarizando mais com a escrita do autor e conseguindo perceber as diversas nuances presentes em sua narrativa. Gostei de Celephäis e recomendo aos leitores.

4 - Os Gatos de Ulthar (2 corujas)

Esse conto nem dá para comentar muita coisa porque se trata de quatro páginas. Só vou contar o básico a respeito: fala de uma vila onde os gatos não podem ser mortos por humanos. O conto trata de explicar por que essa regra foi criada. Aliás, o conto tem alguns toques bem de terror, mas com bastante sutileza.

Queria comentar só sobre alguns aspectos sobre os gatos mencionados por Lovecraft aqui. Em relação a matar gatos, existia uma crença antiga que dizia que se uma pessoa matasse dezenas de gatos e bebesse seu sangue, ele era capaz de prolongar sua vida. Isso porque os gatos possuem nove vidas e tal poderia ser transferida para aquele que estivesse conduzindo o processo. Foi uma lenda surgida na Idade Média entre aqueles que praticavam a alquimia.

Segundo, temos os gatos como animais muito importantes no Egito antigo. A deusa Bast era representada como um gato. A esfinge também tinha um aspecto felino. Dizia-se que os gatos eram animais que possuíam um pé no elemento sobrenatural. Por essa razão, estes animais possuíam seus sentidos apurados para fatos inexplicáveis. Esse mito do gato como portador de um sentido sobrenatural chegou também à Idade Média onde alquimistas procuravam ter um gato por perto.

Ainda falando de Egito antigo, Menes, o jovem menino que trouxe um gato preto à vila de Ulthar, pode ser oriundo da figura história de Menés, primeiro governante do Egito. Isso muito antes da união dos reinos do norte e do sul. Menés foi um poderoso conquistador e foi capaz de juntar ambos os reinos para formar aquilo que viria a ser o Egito que conhecemos na história da Antiguidade. Lovecraft tem um apreço grande por estes mitos antigos e costuma incorporá-los aos seus contos.

5 - Outros Deuses (2 corujas)

Neste conto temos um estudioso chamado Barzai e seu pupilo Atal (um personagem que estava presente no conto Os Gatos de Ulthar) que estão seguindo uma longa jornada até Hathor-Klag, uma montanha elevada no alto de uma cordilheira onde dizem que os deuses terrenos faziam danças estranhas e seres misteriosos observavam do alto. Durante o caminho, Barzai vai compartilhando suas descobertas com os aldeões das vilas próximas.

Também não dá para falar muito deste conto, por ele ser bem direto ao ponto. Vou me ater a alguns detalhes dele. Durante o trajeto, Lovecraft vai dizendo que Barzai está tendo mais facilidade para subir a montanha do que Atal que acaba escorregando ou não conseguindo pular certos trechos. A interpretação que eu tive desse trecho é que Barzai estava preparando o seu espírito para a morte. Alguns especialistas dizem que o homem, percebendo o que vai ser o seu momento final, recebe um último ímpeto que lhe dá uma energia fora do comum para realizar determinadas tarefas. É como se o próprio corpo indicasse que estaria partindo e preparava uma última apoteose para o indivíduo.

Outra coisa que vale destacar é como Lovecraft gosta de trabalhar com a noção do conhecimento proibido, acessível apenas a um grupo pequenos de estudiosos. Estes estariam dispostos a enfrentar quaisquer situações relacionadas à escuridão. Assim é com os tais Manuscritos Pnakóticos. Isso revela o quanto o autor é influenciado por elementos de conhecimento místico como na alquimia. A ideia do conhecimento secreto chega até nós na forma das sociedades secretas, outro tema que o autor abraça em seus contos. Aqui nem tanto.

Na mitologia de Lovecraft, a perdição é cair no vácuo do espaço. Os deuses siderais estariam em um patamar superior aos deuses terrenos. Aos homens sequer olhar para estes deuses significa a perdição e o esquecimento. Curiosamente, Lovecraft não dá nome a nenhum dos deuses terrenos. Ou seja, estamos diante de mais um conto que ajuda a construir ainda mais a mitologia espacial do autor. Recomendo a leitura que é bem rápida.

6 - O Navio Branco (1 coruja)

Neste conto vemos um Lovecraft ainda experimentando a sua escrita. É muito interessante ver como ele foi profundamente influenciado por Lord Dunsany. A escrita majestática, os simbolismos presentes a todo o momento. Claro que com o passar dos anos, o autor vai inserindo o seu próprio estilo na narrativa. Nesta história, temos Basil Eaton, capitão do Navio Branco do Sul, tentando alcançar um lugar de belezas inenarráveis além das costas de Carthúria. Ainda tem alguns problemas para manter o leitor atento até o final, mas já possui muitas qualidades que darão o tom mitológico aos escritos do autor.

Queria comentar os simbolismos presentes na narrativa. Primeiro a presença da lua o tempo todo no conto. Do começo ao final. A Lua tem a ver com os aspectos sobrenaturais. Os elementos selênicos (de Selene, que representava a lua em tempos passados) constituem a porta de entrada para os mundos oníricos e espirituais. O próprio navio é na cor branca o que representa esse contato com a espiritualidade. De destaque como a lua cheia é importante para que o sobrenatural possa acontecer (interessante porque eu sempre associei à lua nova). Os marinheiros ficam apreensivos porque sabem o que a lua representa para a navegação. Não apenas é a luz que permite a eles navegar à noite, mas também é a lua que traz os maus espíritos e os demônios do abismo.

Outro simbolismo presente é o da canção que encanta os marinheiros. Os seres de Thalarion atraem os incautos com suas canções e os levam à perdição. É uma cidade marcada pela ignomínia e pela maldição. É uma clara inspiração no mito das sereias, mas acho que nesse caso aqui consigo enxergar mais o monstro Scylla. Porque não se trata de mulheres magníficas atraindo marinheiros pela sedução, mas de um monstro que encanta através da música.

Um pássaro cerúleo marca o final da narrativa. Me peguei pensando em que tipo de símbolo Lovecraft estaria pensando nesse momento. Pode ser algo bizarro, mas eu imaginei a pomba branca enviada por Noé para encontrar terras férteis depois do Dilúvio. Porém, essa pomba azul estaria levando os marinheiros para o fim do mundo. Diferente de um pássaro branco que traria a paz, esse pássaro específico levaria todos para um final cruel. Não vou comentar mais para não estragar o final, mas a maneira como a imaginação do autor dá voltas e voltas por mitos e lendas variados é o que o torna tão especial.

O Navio Branco não foi um conto que me encantou muito como os anteriores. Entretanto, a gente consegue perceber a imaginação do autor e como suas engrenagens trabalham para compor aquilo que ele sabe fazer melhor. Não recomento tanto esse conto a menos que você seja um fã daquilo que ele escreve. Vale para conhecer a evolução de sua escrita.
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Julian 05/11/2017

Esse foi o meu segundo contato com uma obra de Lovecraft, um amigo havia me falado sobre ele e também encontrei algumas referências de seu universo fictício no jogo Bloodborne, o que aumentou minha curiosidade e expectativa para ler algo do autor. Comecei lendo O chamado de Cthulhu, do qual falarei em outra oportunidade, mas vamos ao que interessa, no momento, A busca onírica por Kadath. De cara o título me chamou a atenção e me despertou o interesse pelo livro, adoro histórias sobre sonhos, deuses e criaturas mitológicas, e nessa busca acompanhamos o protagonista e, possivelmente um álter ego de Lovecraft, Randolph Carter.
Carter é um viajante experiente do mundo dos sonhos, conhecedor das várias criaturas que habitam as chamadas terras oníricas capaz de se comunicar com elas graças as suas diversas incursões pelo mundo dos sonhos. Em sonhos recorrentes Cartes vislumbrava uma cidade dourada, com torres altas e campos floridos, as descrições no livro são extensas e muito detalhadas o que pode ser cansativo para alguns. Os sonhos com essa cidade magnifica encantaram Carter de modo que ele não conseguia parar de pensar nela e em dado momento esses sonhos sessaram, decidido a encontrá-la inicia sua jornada pelas terras oníricas em busca da cidade dourada.
Conversando com as criaturas da floresta, chamadas zoogs, Carter colhe algumas informações e descobre que os sonhos com a incrível cidade sessaram porque os antigos deuses terrenos não queriam que ele a encontrasse, então sua única alternativa seria chegar ao palácio dos antigos deuses na desolação gelada chamada Kadath. Carter parte então para sua jornada mesmo sendo avisado pelas criaturas a respeito dos inúmeros riscos de se tentar encontrar o palácio de ônix na desolação gelada, lar dos antigos deuses.
E a busca se passa por várias regiões das terras oníricas, nas quais somos apresentados ao universo de Lovecraft, cheio de criaturas, povos e paisagens fantásticas, seguidas de descrições ostensivas a fim de nos fazer imergir nesse universo. Particularmente eu esperava mais, esperava uma história mais envolvente, mas talvez tenha ficado com essa sensação devido à narrativa de Lovecraft nesse livro em especial, pois nele não há muitos diálogos sendo a história em sua maioria contada pelo narrador.
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Fabricio Zak 03/07/2016

“Zenig de Aphorat tentou chegar à desconhecida Kadath na devastação gelada, e hoje o crânio deste explorador encontra-se engastado em um anel que adorna o dedo mínimo de uma entidade que não preciso nomear.”
“A busca onírica por Kadath” é protagonizado por Randolph Carter, o alterego de Lovecraft que aparece em outros contos do autor. Em seus sonhos Lovecraft visualizava diversas terras e seres fora de nosso poder de imaginação e assim criou seu “Ciclo dos Sonhos”, algumas obras do autor que se conectam em diversos pontos.
Carter é um sonhador que prefere os sonhos ao “mundo em vigília”, um modo diferente que Lovecraft utiliza para citar o mundo em que estamos acordados. Em meio a sonhos e pesadelos Carter vislumbra a cidade dourada e nunca mais a tira da cabeça. Carter fica tão fascinado com a imagem dessa cidade que decide viajar através da Terra dos Sonhos para reencontrá-la, esquecendo assim o mundo em vigília.
Mais em: http://www.sugestoesdelivros.com/2016/06/resenha-busca-onirica-por-kadath.html
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Coruja 31/01/2016

É interessante notar como os contos de Lovecraft vão retomando personagens, lugares e temas uns dos outros. Aqui o protagonista menciona o rei Kuranes de Celephaïs, viaja pela cidade de Ulthar e cita a lenda do “homem sábio” que queria ver os deuses dançando sob a lua e acabou por desaparecer do mundo.

Embora haja muitos terrores, este é um conto de aventura, com uma jornada até os confins do mundo. Mais que isso, ele explicita muitos detalhes da mitologia lovecraftiana. Eu finalmente entendi que existe, de fato, uma divisão entre o mundo da vigília e o mundo onírico, com sonhadores de tanto poder que são capazes de sonhar cidades cobiçadas pelos Deuses.

Olá, Gaiman! Opa, não, ainda estamos falando de Lovecraft...

Aqui é possível pular para o lado negro da lua usando um navio, ser resgatado dos asseclas de um Deus do Caos por um exército de gatos, correr pelos mundos inferiores na companhia de ghouls e voar até os confins do Universo em harpias.

Carter tem uma ambição muito semelhante ao do sábio Barzai, de Os Outros Deuses, mas não deseja simplesmente flagrar as divindades num momento de abandono, mas apresentar seus respeitos como o Sonhador (sim, com maiúscula!) que é.

Randolph Carter é um dos poucos narradores que encontrei até o momento que tem nome e talvez por isso ele seja capaz de enfrentar os horrores que encontra em sua odisseia ao invés de mergulhar na loucura.

Fiquei (ainda) mais fascinada pelo universo construído por Lovecraft – até porque finalmente me toquei que o homem passou a vida inteira criando diferentes histórias sempre dentro de um mesmo universo e interligando-as de maneiras muito sutis.
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Nerd Geek Feeli 24/08/2014

Uma Viagem ao Mundo dos Sonhos com Lovecraft
A trama apresenta motivos recorrentes do gênero, como as descrições que Lovecraft faz das belas paisagens por onde Carter passa conforme viaja pela Terra dos Sonhos, o que contrasta bastante a narrativa de “Kadath” com as obras mais inclinadas para terror e horror cósmicos pelas quais o autor ficou mais conhecido.

[...]

Ainda que seja mais fantasiosa do que aterrorizante, “Kadath” está carregada de temas recorrentes das obras de Lovecraft, como fosforescências esverdeadas e fantasmagóricas, lugares oleosos e graxentos, mestiços de deuses e homens, rumores vagos e relatos nebulosos, cenários de proporções ciclópicas e, é claro, monstros e terrores indescritíveis.

[...]

Por tratar em sua trama da busca de um homem pela morada de deuses, Lovecraft também encontrou em “Kadath” espaço para retomar outro tema que o fascinava, representado tanto pelo protagonista quanto por Kuranes, outro sonhador com quem Carter se encontra, que foi o único a viajar para “além das estrelas no vazio supremo” e retornar com a sanidade intacta – algo que parece fazer referência a uma das mais famosas citações de Nietzsche (“Quem combate monstruosidades deve cuidar para que não se torne um monstro. E se você olhar longamente para um abismo, o abismo também olha para dentro de você.”).

[...]

“Kadath” é uma das obras em que Lovecraft mais procurou “ligar os pontos” entre alguns de seus trabalhos anteriores. A história ocupa uma posição central entre as obras do Ciclo dos Sonhos do autor. As breves menções a outros contos – presentes no apêndice de “Kadath” – são um ótimo exemplo da forma ao mesmo tempo discreta e intrincada como Lovecraft construía suas duas grandes mitologia, que no fim compõem uma só. Este aspecto da narrativa dá ao leitor vontade de reler vários de seus contos a fim de montar o enorme quebra-cabeças literário que Lovecraft deixou como legado aos fãs de terror e mitos.

[...]

Além dos “easter eggs”, Lovecraft apresenta ao longo da narrativa conceitos fascinantes, como os Pilares Basálticos do Ocidente, que são “os portões de uma catarata monstruosa, na qual os oceanos do mundo deságuam no abismo do nada e atravessa o espaço vazio rumo a outros mundos e outras estrelas…” Ou seja, basicamente um “portal estelar” do mundo onírico. Outro conceito interessante é o Portão do Sono Profundo, localizado no final de uma escada de setecentos degraus, que Carter deve descer para atravessá-lo, uma metáfora elegante sobre o funcionamento da mente humana e seu processo de interiorização e contato com criações do inconsciente.

[...]

Mas, apesar da riqueza de detalhes com que constrói a Terra dos Sonhos, a história não é livre de alguns problemas. Devo dizer que o trecho das páginas 49 a 55 é um tanto cansativo de ler, por conta das voltas que Lovecraft dá em seu texto, alternando entre descrições de ações dos ghouls, gugs e ghasts, que se confundem para um leitor não muito atento às poucas descrições que o autor fornece das criaturas para diferenciá-las. Além disto, não ajuda muito o fato dos nomes começarem todos com “g.”

[...]

Um dos apêndices da edição da Hedra é uma carta que Lovecraft escreveu a Harry Otto Fisher menos de um mês antes de seu falecimento, na qual explica a origem da ideia dos noctétricos, de Abdul Alhazred, e do Necronomicon, além de falar do papel de seus sonhos e pesadelos como fontes de inspiração para seus contos.

Já os contos “Celephaïs,” “Os Gatos de Ulthar,” “Os Outros Deuses” e “O navio branco,” e o soneto “Noctétricos,” retirado de “Fungos de Yuggoth,” servem como complementos à história principal, conforme é dito na introdução bastante útil do tradutor Guilherme da Silva Braga, que já adianta ao leitor alguns apontamentos a respeito das conexões entre os contos de “Kadath.” Todos eles seguem um estilo mais voltado para a fantasia do que para o terror, embora tragam elementos aterrorizantes em determinados pontos da narrativa. Particularmente recomendo ler todos antes de “Kadath,” com exceção de “A Chave de Prata,” que funciona melhor se lido após a história principal, conforme explicarei a seguir.

[...]

Como as demais edições da Hedra de obras de Lovecraft, A Busca Onírica por Kadath apresenta um trabalho editorial caprichado, tanto no que diz respeito à seleção das histórias, que conversam entre si, como na qualidade da tradução de Guilherme da Silva Braga, que respeita a grandiloquência das descrições de Lovecraft, preservando a fluidez do texto original.

É uma obra que vale a pena ser adquirida por reunir trabalhos que representam um leve desvio na carreira literária de Lovecraft, que soube explorar muito bem o gênero escolhido para tais histórias.

Leia esta resenha completa no link abaixo:

site: http://nerdgeekfeelings.com/2014/08/24/livro-a-busca-onirica-por-kadath-uma-viagem-ao-mundo-dos-sonhos-com-lovecraft/
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Bruno 26/07/2014

Emoções contraditórias
Se pudesse descrever as reações que a obra de Lovecraft têm sobre a minha pessoa, poderia dizer que são controversas. Ao mesmo tempo em que a mitologia, os personagens, as situações por ele criadas me prendem e fascinam, o modo como ele narra tudo isso me faz por diversas vezes ter vontade de fechar o livro e procurar por obras com um texto melhor lapidado. O conto que nomeia esse livro se encaixa nesse quadro. Narra a aventura de Randolph Carter, alter ego de Lovecraft, pelo mundo dos sonhos, visando encontrar-se com os deuses da terra para suplicar-lhes a visita à cidade dourada, com a qual ele um dia sonhou mas não consegue mais fazê-lo.

Uma viagem pelo mundo dos sonhos. Possivelmente, esse é um dos cenários mais fantásticos para exploração: seres fabulosos, cenários embasbacantes (ou aterrorizantes, por que não?), situações inusitadas... Enfim, um universo de opções a serem exploradas. E nesse ponto, o autor peca.

Apesar de ser um mundo fascinante, no qual ele poderia levar o leitor a uma aventura incrível, Lovecraft não é capaz de tal. Trata-se de uma narrativa pesada, monótona, repetitiva e cheia de criaturas que faltam um aprofundamento para que o leitor seja capaz sequer de imaginá-las. Em alguns casos, descritas somente como 'horrendas'. Horrendas por que? O que as faz assim? Muitas vezes, o autor se nega a explicar. Raros momentos despertam a atenção. E, pelo que se pode perceber, não por falta de talento. Quando quer, Lovecraft prende o leitor na cadeira, principalmente quando seu protagonista corre perigo. Infelizmente, em um conto de cento e vinte páginas, menos de um terço delas envolvem tais situações.

Apesar disso, o fechamento da história diminui esse gosto amargo na boca. Ao mesmo tempo surpreendente e óbvio (por mais difícil que seja imaginar), ele prende o leitor e o estimula a continuar.

Porém, se na história título ele deixa a desejar, nos demais contos ele se redime. Variando entre quatro e treze páginas, estes se passam no mesmo universo do principal e, por serem curtos, são mais diretos (e dinâmicos), sem no entanto perderem seu conteúdo. Pelo contrário. As primeiras páginas de "A chave de Prata", que abre essa sequência, por exemplo, são de um peso filosófico completamente inesperado nesse tipo de literatura, levando-nos a refletir sobre com o que realmente vale a pena se preocupar em nossa curta existência.

Finalizando, a leitura da obra é sim indicada, mas com ressalva. Tenha em mente que não se trata de uma leitura fácil, com momentos realmente massantes. Mas que, por conta do seu universo e filosofia, ainda assim pode valer a pena.
Raphael 20/06/2015minha estante
Acabei de ler o livro e tive a mesma impressão que você. Pensei: caramba, tem algo errado por aqui. Acho que monótono talvez seja mesmo a palavra certa, apesar de toda a criatividade de Lovecraft (que mente fértil, não?). Enfim, como vc disse, contraditório. Difícil falar. Sem condições de resenhar isso rs.




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