spoiler visualizarKenny 21/01/2022
Eles sentem muito, mas não tanto quanto ele
As aventuras de Pi, ou The Life of Pi, é uma história de superação, luta, fé, garra e teste de limites; até onde o ser humano é capaz de ir para sobreviver? O quão fiel ele precisa ser pra não deixar de acreditar?
A narrativa trouxe pra mim o que eu sempre considerei cansativo em uma leitura: a repetição. Entretanto, a repetição é nesse livro uma peça chave para construção de relações (homem - tigre) e para a empatia leitor-personagem. Entender as motivações, os desafios, o medo, a dor e a perda no meio do balanço enjoativo e belo do mar, com a preocupação do que comer, de não ser comido e, enfim, a sabedoria do personagem principal, 3,14, foi uma das partes mais emocionante. Dificuldades físicas e sofrimento psicológico.
É comum nos depararmos com situações de pessoas que se perderam em lugares praticamente impossíveis de sobreviver com poucos recursos. E nós falamos "Meu Deus, coitados...deve ter sido horrivel", mesmo não sabendo o que "horrível" realmente significa. Então, vemos casos de pessoas que abriram mão de tudo que acreditavam para tentarem viver, agarrados à uma esperança distante e que os levou a fazer coisas que dizemos, no bem estar dos nossos lares que nunca, nunquinha faríamos. Matar, trair, rezar...enfim, nas aventuras de Pi, o autor consegue de algumas maneiras nos aproximar bastantes das sensações de um náufrago. De um náufrago preso em bote no meio do Atlântico com tigre adulto de 200 kilos como acompanhante, depois de ter pedido tudo, inclusive sua família.
Eles disseram "nós sentimos muito pela sua família"
E ele disse: "não tanto quanto eu"