joaoggur 22/02/2024
Sergio na América; nós em Sérgio.
Mesmo seguindo inúmeros protocolos processuais e métodos de diagnóstico/epistemológicos, é inegável que a psiquiatria, dentre as ciências médicas, é a mais influenciável pela subjetividade; não há imparcialidade ou inexistência afetiva quando nosso trabalho é adentrar a mente de um indivíduo.
Partindo deste pressuposto, Armando ficara completamente obcecado por seu paciente, o adolescente Sérgio Y. Aliás, perdão o equívoco, seu ex-paciente; após o repentino fim das consultas, o jovem partira para os Estados Unidos.
Fico em um certo dilema; é quase impossível falar da obra sem despejar spoilers. Entretanto, tenho certeza em dizer como Alexandre Vidal Porto foi cirúrgico com as palavras, com o vocabulário, com o respeito a seu personagem homônimo ao título. A relação obsessiva, por vezes, não é em razão de uma mórbida curiosidade do psiquiatra; e sim uma grande busca de si mesmo. O enfoque em Sérgio Y. (e seus desdobramentos nas terras ianques) é, sumariamente, uma forma do narrador-protagonista (Armando) entender a si mesmo.
Paradoxalmente, o autor peca ao criar uma obra que consegue ser fluida e maçante, mesmo sendo termos contraditórios. Indubitavelmente há mais páginas que o necessário, - tal como, em certos momentos, a narrativa dá uma guinada para pontos desnecessários na conjuntura dos fatos.
No mais, está longe de ser uma escrita preguiçosa. Vale a pena.