Duchesse 28/06/2020
Sensível e tocante
Um dos mais lindos e sensíveis livros que já li sobre a 2GM. Traz trechos de diários e cartas de jovens de diversas nacionalidades que viveram a guerra, dando voz, rosto e contando histórias de vida por trás das frias estatísticas e da impessoalidade dos números.
Alguns jovens conseguiram sobreviver à guerra; outros foram vítimas dela. Fiquei particularmente tocada por dois relatos; o primeiro é o diário de um jovem russo de 16 anos que vemos lentamente morrer de fome durante o cerco a Leningrado:
"Eu me sento e começo a chorar... Tenho apenas 16 anos! Esses canalhas que começaram esta guerra... Adeus, meus sonhos de infância! Vocês nunca mais voltarão. Eu queria que o passado simplesmente desaparecesse no inferno, queria nunca ter sabido o que é um pão ou uma salsicha. Queria que as lembranças felizes do passado não ficassem voltando para mim. Felicidade! É a palavra que resume todo o meu passado... Eu costumava me sentir seguro sobre o futuro!! Nunca mais serei o mesmo... (...)
Posso estar escrevendo pela última vez. Temo que não consiga concluir meu diário e escrever Fim na última página. Alguma outra pessoa escreverá "morte", com a própria caligrafia. (...) Eu vou morrer, eu vou morrer, mas quero tanto viver, sair daqui e viver, viver!... Toda a minha energia está indo embora, indo embora, se esvaindo... E o tempo se arrasta tão demoradamente, por tanto tempo. Oh, meu Deus, o que está acontecendo comigo?"
O segundo relato extremamente pungente são as cartas de despedida e os poemas escritos por um jovem kamikaze:
"Uma brisa cálida. Nós realmente voamos para o sul. Dá para sentir. É o que nos dizem todas as árvores ao redor. Seriam pinheiros? Não, não parecem, segundo me dizem aqui. Folhas de bananeiras ondulam ao vento, parecendo muito agitadas.
Um belo recife de corais, cercado de profundas praias azuis. Por que aqui, entre tantos lugares? pergunto a mim mesmo. Mas o tempo ainda está horrível. Continua caindo uma chuva silenciosa.
No nosso dormitório, as luzes são desligadas às 20h30. Pensando nas pessoas que conheci e deixei para trás, não posso deixar de me sentir um pouco solitário. Ouvindo o barulho da chuva no jardim, fico me perguntando como é que ela chora por mim agora, mas por quem será que ela está chorando realmente?
Os aviões decolam numa chuva fina. Um depois do outro. Nós partimos em nossa jornada. Agradecemos a nossos amados aviões, oramos por eles. Quase tocando no mar, nós ascendemos em direção às nuvens. Fico feliz por nossa esquadrilha ser forte. Meu motor parece bem. Acabei de ver uma sombra da ilha com o canto do olho, e de repente o céu se abriu. Formosa! Coberto pelas nuvens, o monte Yushan se destaca, orgulhoso. Vêm lágrimas - de alegria? - eu fico com a visão turva. Não estou enxergando direito. Minhas asas prateadas tremem de animação. Lá vou eu! Forço o braço e aperto os controles com toda a força."