Ricardo.Silvestre 12/10/2023
Bela surpresa
Tenho alguma reticência aos clássicos literários dos autores portugueses de outrora e estou certo que este sentimento foi motivado pelos tempos de escola, altura em que éramos obrigados a ler tudo menos aquilo que realmente nos interessava.
Agora, passados já uns bons anos, as surpresas acontecem. E que bela surpresa esta obra de Júlio Dinis, a primeiríssima que leio do autor e, certamente, não a última.
O romance, publicado em 1866, apresenta-nos personagens em situações típicas de uma aldeia portuguesa do séc. XIX. Desde a donzela orfã que sofre de amor, passando pelas intrigas e coscuvilhices dos habitantes do local, até ao rapaz que, renunciando à carreira eclesiástica, é enviado para a cidade para mais tarde voltar e instalar a confusão. Ok, ninguém morre de tuberculose? mas até aqui nada de novo, certo?
O que me fez gostar bastante desta leitura está relacionado com a capacidade de Júlio Diniz criar personagens cuja ironia bem humorada é uma constante. O reitor, por exemplo, é uma personagem que apesar do moralismo característico da época e da função que desempenha enquanto padre, apresenta uma personalidade engraçada, muito despachada e nada tacanha. Sem dúvida uma figura de relevo em toda a trama.
Os diálogos são bem construídos e nada enfadonhos. De uma hora para a outra, somos transportados para aquele local e, na presença daquelas pessoas, passamos a assistir a tudo de camarote.
As 5 estrelas só não aconteceram porque achei o final apressado. De qualquer maneira, gostei bastante e recomendo a sua leitura, sem hesitações.