Carla.Parreira 20/10/2023
Eurípedes: o Homem e a Missão
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O livro relata a história de Eurípedes Barsanulfo, sua passagem inicial pelo catolicismo e seu grande empenho final como missionário no espiritismo na cidade de Sacramento em Minas Gerais. Ele foi aluno do Colégio Miranda, desde cedo auxiliava os professores, explicando aos próprios colegas de classe. Conquistou o respeito de todos pelo seu comportamento e dedicação ao estudo. Graças à sua vontade de aprender, alcançou uma excelente formação cultural, nos mais variados campos do saber. Egresso do colégio, passou a trabalhar como guarda-livros, no escritório comercial de seu pai, passando a auxiliar, também desde cedo, a manutenção do lar. Contando com vinte e dois anos de idade, junto com seus antigos professores, Dr. João Gomes Vieira de Melo, Inácio Martins de Melo e outros, fundou o Liceu Sacramento, onde lecionava, quando necessário, todas as matérias do curso. Alguns alunos do Liceu fundaram um serviço de assistência aos necessitados, denominado "Sociedade dos Amiguinhos dos Pobres".
Na mesma época, participou da fundação do jornal semanal "Gazeta de Sacramento", em que publicava artigos sobre economia, literatura, filosofia, etc, estreando, assim, como jornalista, tendo colaborado intensamente em outros jornais. Possuía profundos conhecimentos de medicina e direito, além de astronomia, filosofia, matemática, ciências físicas e naturais e literatura, mesmo sem ter cursado o ensino superior. Tornou-se líder, em sua cidade, pelo seu trabalho no magistério, e na imprensa, tanto pelo seu caráter quanto pela disposição de ajudar os necessitados. Foi eleito vereador, quando, durante seis anos, beneficiou a população de sua cidade com luz e bondes elétricos, água encanada e cemitério público. Nessa ocasião, Barsanulfo, como fervoroso católico, era o presidente da Conferência de São Vicente de Paulo. O seu primeiro contato com a doutrina espírita ocorreu um ano depois, em 1903, através do seu tio, conhecido como Sinhô, que, após tentar explicar os pontos básicos da doutrina, emprestou ao sobrinho o livro Depois da Morte, de Léon Denis. Ocorreu, então, uma transformação em sua vida: mudou-se da casa de seus pais e fundou o Grupo Espírita Esperança e Caridade, em 1905, onde, além de realizar reuniões mediúnicas e doutrinárias, também prestava auxílio aos mais necessitados. Foi médium inspirado, vidente, audiente, receitista, psicofônico, psicógrafo, de desdobramento e de bicorporeidade. Como médium receitista, psicografava prescrições do espírito Bezerra de Menezes. Em 31 de janeiro de 1907, criou o primeiro educandário brasileiro com orientação espírita, o Colégio Allan Kardec, onde os alunos recebiam aulas de Evangelho, e, ainda, instituiu um curso de astronomia. Foi ainda diretor do Sanatório Espírita de Uberaba. Como quase todos os médiuns, Barsanulfo também sofreu perseguição por parte do Clero que, aliado a um médico católico de Uberaba, moveu-lhe execrável perseguição, culminada por um processo penal sob a acusação de exercício ilegal da Medicina, em 1917. Todavia, o juiz da comarca não quis pronunciá-lo, julgando o caso, finalmente, prescrito. Mesmo diante das dificuldades, ele executou um trabalho de fé e caridade gigantesco em Sacramento. As farmácias, o Colégio Allan Kardec e o Grupo Espírita Esperança e Caridade foram apenas algumas das obras desse homem que foi chamado "O Apóstolo do Triângulo Mineiro". Faleceu aos trinta e oito anos, vítima da gripe espanhola. Gostei de uma das partes donde, em desdobramento físico durante o sono, ele se encontra com Jesus a chorar. Ele pergunta se o Mestre está triste pelos descrentes. Jesus responde que estes precisam de amor e que seu sofrimento se dá por aqueles que conhecem o Evangelho e não o praticam.
Para completar coloco aqui um trecho da primeira mensagem transmitida à Francisco Cândido Xavier, em 30/04/1950, pelo espírito de Eurípedes Barsanulfo: ...Para vós que ainda permaneceis na Terra, a travessia dos obstáculos parece mais dolorosa. As saudades orvalhadas das lágrimas vicejam ao lado das flores da esperança. As recordações represam-se na alma. Alguns companheiros estacionaram em caminho, atraídos pelo engano do mundo ou esmagados pelo desalento; não foram poucos os que desanimaram, receosos da luta. Por isso mesmo, as dificuldades se fizeram mais duras, a jornada mais difícil.
Mas a nós, que temos sentido e recebido a bênção do Senhor, no mais íntimo d?alma, não será lícito o repouso. Nossas mãos continuam enlaçadas na cooperação pelo engrandecimento da verdade e do bem, e minha saudade, antes de ser um sofrimento é um perfume do céu. No coração vibram nossas antigas esperanças e continuamos a seguir, a seguir sempre, no ideal de sublime unificação com o Divino Mestre. Tenhamos para com os nossos irmãos ainda frágeis, a ternura do amor que examina e compreende. As ilusões passam como os rumores do vento. Prossigamos, desse modo, com a verdade, para a verdade.
Falando-vos em nome de companheiros numerosos da espiritualidade, assinalo a nossa alegria pelo muito que já realizasteis, no entanto, amigos, outras edificações nos esperam, requisitando-nos o esforço. É preciso contar com os tropeços de toda sorte. O obstáculo sempre serviu para medir a fé, e o espírito de inferioridade nunca perdoou as árvores frutíferas. Quase toda gente deixa em paz o arbusto espinhoso a fim de atacar a árvore generosa, que estende os ramos em frutos aos viajantes que passam fatigados. A sombra, muita vez, ameaçará ainda os nossos esforços, os espinhos surgirão, inesperadamente, na estrada, a incompreensão cruel aparecerá, de surpresa. Conservemos porém, a limpidez de nosso horizonte espiritual, como quem espera as dificuldades, convictos de que a vida real se estende muito além dos círculos acanhados da Terra. Guardando a energia de nossa união, dentro da sublimidade do ideal, teremos à frente o archote poderoso da fé que remove montanhas.
Quando o desânimo vos tente, intensificai os passos na estrada da realização. Não esperemos por favores do mundo, quando o próprio Jesus não os teve. A paz na Terra, muitas vezes, não merece outro nome, além de ociosidade. Procuremos, pois a paz de Cristo que excede o entendimento das criaturas. Semelhante vitória somente poderá ser conquista através de muita renúncia aos caprichos que nos ameaçam a marcha. Não seria justo aguardar as vantagens transitórias do plano material, quando o trabalho áspero ainda representa a nossa necessidade e o nosso galardão. Jamais vos sintais sozinhos na luta. Estamos convosco e seguiremos ao vosso lado. Invisibilidade não significa ausência. O Mestre espera que façamos do coração o templo destinado à sua Presença Divina. Enche-vos o mundo de sombras? Verificam-se deserções, dissabores, tempestades? Continuemos sempre. Atendamos ao programa de Cristo. Que ninguém permaneça nas ilusões venenosas de um dia. Deste ?Outro Lado? da vida, nós vos estendemos as mãos fraternas. Unindo-nos mais intensamente no trabalho, em vão rugirá a tormenta. Jamais vos entregueis à hesitação ou ao desalento, porque, ao nosso lado, flui a fonte eterna das consolações com o amor de Jesus Cristo.