HiagoHeerdt 06/08/2021
Por que devemos tratar animais humanos e não humanos como iguais?
O livro traz relatos muitos relatos de como tratávamos e fazíamos experimentos sem o mínimo de ética possível com animais não humanos. Ele é essencial para o debate moral do não consumo de animais.
Mas porque devemos tratar animais humanos e não humanos como iguais?
Primeiramente, o fato de animais humanos e não humanos possuírem diferenças cognitivas e físicas, não é a bússola que norteia nosso comportamento moral frente ao tratamento uns com os outros. Seria uma negação da realidade dizer que animais humanos e não humanos são iguais, assim como é uma negação você dizer que todos os animais humanos são iguais – não somos iguais! Alguns de nós possuem um QI extraordinariamente elevado, enquanto outros não sabem ler, tem aqueles com força suficiente para puxar uma carreta, e outros que não fazem 3 flexões, alguns de nós passam dos 2 m de altura, enquanto outros não chegam a 90 cm, ainda existem aqueles que correm 42km, e outros que não podem levantar da cama, e as diferenças só vão se multiplicando se você levar em conta questões de gênero, orientação sexual, cor de pele, sentimentos, experiencias pessoais e etc... mas, sendo ricos ou pobres, negros ou brancos, homens ou mulheres, devemos sempre nos tratar como iguais, pois a igualdade é um princípio moral, uma prescrição do modo de como devemos nos tratar, e não a afirmação de um fato objetivo, que se baseia em características físicas ou intelectuais.
As diferenças físicas e intelectuais dos animais humanos e não humanos, podem ser mais acentuadas, mas porque essa diferença deveria mudar nosso modo de tratamento?
Porcos, golfinhos e outros primatas são tão inteligentes quanto crianças de até 3 anos. Obviamente seria absurdo propor explorar e tratar crianças ou pessoas com problemas mentais da mesma forma que tratamos porcos, somente baseado nas diferenças físicas e intelectuais que possuímos.
Você concorda que Albert Einstein é muito mais inteligente que eu, mas isso não lhe da qualquer direito a mais sobre mim, ou qualquer outra pessoa (por mais deficitária que seja sua capacidade cognitiva). Mas porque o fato de Einstein possuir um elevado grau de inteligência não o autoriza a utilizar ou explorar um outro ser humano como um meio para atingir um fim particular, mas o autorizaria a utilizar um ser não humano?
E, como se fossemos os únicos seres no mundo com a capacidade de pensar intencionalmente, sofrer e desenvolver laços afetivos, normalmente esta discussão é reduzida ao seguinte: “é porque somos da mesma espécie”, mas qual os requisitos para fechar esse círculo de tratamento na espécie? Em um passado não muito distante, nosso sistema de tratamento era reduzido a “raça”, tratávamos negros pior que porcos, e só travamos como iguais aqueles que eram brancos (diferença de tratamento também esteve empregado nas questões de gênero). Agora, ao invés de usar a espécie, porque não tratamos apenas pessoas da mesma raça como iguais, ou porque não usamos outras classificações biológicas como: família, ordem, filo e reino? Qual atributos um Ser deve possuir para ter o direito de não ser explorado, ou ser usado como um meio para que você possa atingir um fim particular?
Claramente porcos, golfinhos e outros primatas não devem ser incluídos no Estatuto da criança e do adolescente – ECA, só porque possuem o mesmo grau intelectual em determinada fase da vida que as crianças. Possuímos semelhanças, e por isso devemos possuir direitos semelhantes. Você acha totalmente ilógico discutir sobre o direito do homem cis de fazer um aborto ao ser estuprado, isso porque homens não engravidam. Esse direito é apenas das mulheres brasileiras, e leva em consideração, entre outras coisas, o bem estar psicológico delas. Porcos não querem fazer parte do ECA, golfinhos não querem votar na próxima eleição para presidente. O princípio de igualdade não requer tratamento de direitos iguais ou idêntico, mas sim, uma igual consideração de direitos. A igual consideração por seres diferentes pode levar a direitos e tratamentos diferentes, levando em conta suas caracterizas físicas (é por isso que deficientes físicos tem direitos a vagas especiais no mercado e você não) , intelectuais, sociais (é por isso que pessoas de baixa renda tem direitos a cotas em universidades e você não) e tão importante quanto, SEUS INTERESSES PARTICULARES PARA O BEM ESTAR. Não é do interesse da galinha matricular seus pintinhos na creche, assim como elas também não tem interesse ficar presas em gaiolas de metal, sendo usadas como um meio por animais não humanos. O interesse das galinhas está em ciscar e tomar banho de areia, e porcos em se lambuzar na lama quando o dia está quente. Por conta disso, precisamos ponderar precisamente as caracterizas e interesses de cada ser para seu bem estar pessoal. (O debate para a redução ou eliminação do consumo de carne pode se estender também a questões ambientais).