Dani 02/12/2013Hasta la victoria siempre!Uma surpresa muito gratificante da literatura nacional.
Não é preconceito com autores nacionais, alguns são realmente bons, mas outros brincam com a situação, ou simplesmente não estão preparados e fazem os clássicos como Machado e Alencar revirarem no tumulo! Entretanto, minha opinião é que, com Rio 2054, eles cantaram um glória a plenos "pulmões".
Com muita ação, cenários aterradoramente incríveis, personalidades marcantes e uma veia histórica fascinante, Rio 2054 cativou minha atenção desde o prólogo .
A história se passa num Rio de Janeiro mais segregado do que o de hoje. Depois de um levante separatista pelos Royalties do petróleo do “Pré-sal 2” que o Governo brasileiro não foi capaz de conter, a cidade do Rio foi dividida em Rio Alfa e Rio Beta e, depois de um acordo da ONU, passou a ser uma Zona Internacional (ZI) comandada por 3 multinacionais, a Tríade.
O que temos aqui chega a lembrar a situação de Berlim durante a Guerra Fria. A Rio Alfa (Luzes) foi a parte reconstruída e é onde está a sede da Tríade, é muito desenvolvida e uma referência na América Latina. Separa-se da Rio Beta por um muro, fortemente monitorado, além da cadeia de morros do relevo natural. A Rio Beta (Escombros) é o lado mais pobre – dizer isso é quase uma gentileza.
Na verdade, as semelhanças com Berlim terminam aqui. Os Escombros são uma “terra sem lei” dominada pelo narcotráfico nos portos, pelos traficantes nos morros e favelas e pelas gangues de motoqueiros nas demais áreas. Lá a população convive com o crime e sobrevive ao descaso da Rio Alfa como pode, além de alguns trabalharem em unidades de fábricas das multinacionais lá instaladas para explorarem a mão de obra barata. Isso sem falar que o centro da cidade é lendário e inóspito por uma suposta contaminação radioativa nos tempos da guerra civil. Drogas, religião, desespero, prostituição, solidariedade, miséria, sonhos, violência, lealdade... tudo isso se mistura na Rio Beta. Esse é o principal cenário da história que é cheia de surpresas.
É arriscado selecionar um personagem principal, mas eu diria ser Miguel. Sobrevivente nos Escombros ele vive de fazer incursões ao “proibido” centro da cidade para conseguir próteses para seu amigo Nicolas, um médico prático. A vida de Miguel vira de ponta-cabeça quando após uma desastrosa batalha de gangues de motoqueiros - o circo dos escombros, já que lá o pão dificilmente chega – ele tenta salvar o amigo de infância, Anderson.
A verdade é que os Escombros está passando por algo inusitado e as coisas ficam mais incertas com o passar do tempo. Miguél se vê em meio a algo que ele sempre negou e com muitas questões rondando sua vida.
Questões é o que não falta nessa estória. De tirar o fôlego a cada página, a obra de Jorge Lourenço tem uma narrativa densa, dinâmica e cativante. As personagens, mesmo sendo pouco descritas, possuem personalidades marcantes e de fácil figuração. Questões políticas também permeiam a estória e as inovações tecnológicas apresentadas são tão fascinantes quanto os cenários, além disso as nuances históricas espalhadas pela obra dão uma excelente sensação de veracidade ao enredo. Com constantes surpresas a estória reserva um excelente final com todas as pontas essenciais bem atadas.
Rio 2054 – Os filhos da revolução foi uma experiência de leitura extraordinária! Sem dúvida entrou para a lista dos favoritos e recomendo muito que leiam. Vi muitos comentários de que o livro daria uma excelente produção cinematográfica ou em (mini)série, e concordo que pelo imaginário que a obra traz seria incrível, desde que a adaptação fosse num nível respeitável como a inspiração. Sou meio cismada com adaptações. Enfim, mas teria todo o meu apoio.
Queria parabenizar o Jorge Lourenço. Uma obra-prima por uma mente brasileira! Abençoada seja sua criatividade, meu caro.
Daniela Martins
27/11/ 2013