Sheyla 05/04/2015
# RESENHA // ALFRED HITCHCOCK E OS BASTIDORES DE PSICOSE
Alfred Hitchcock é reconhecidamente um dos melhores diretores de todos os tempos. E isso fica claro uma vez que terminamos este livro. Ou mesmo ao longo do livro. Com seu jeito excêntrico e meticuloso, o diretor era extremamente detalhista beirando a perfeição, e só se dava por satisfeito quando as coisas saiam exatamente do modo que queria. Sua personalidade incomum era, em muitos pontos, repleta de falhas de caráter, mas todas as características que a compunham contribuíram para torná-lo um dos homens mais memoráveis de todos os tempos. Um ícone do cinema mundial.
É de conhecimento geral que o diretor Alfred Hitchcock costumava fazer pequenas aparições em seus filmes, normalmente em meio a multidões, como andando na rua ou sentado no banco de um ônibus. Com o tempo, a expectativa do público de encontrá-lo camuflado no filme tornou-se tão grande que o diretor passou a tomar o cuidado de aparecer nos primeiros minutos para que o público tirasse isso do sistema e não se distraísse do que realmente importava: a trama. Seguindo o exemplo do mestre, vou confessar de início algo que tenho certeza que ficaria claro nessa resenha de qualquer maneira: eu sou fã de Alfred Hitchcock. Tendo dito isso, não é surpresa que o lançamento do livro que prometia esmiuçar os bastidores de um de seus filmes mais famosos tenha despertado o meu interesse imediatamente.
“Alfred Hitchcock e os bastidores de Psicose” tem tom de biografia, mas é um relato fascinante de como o mestre do suspense conseguiu realizar um projeto em que ninguém acreditava e, tirando dinheiro do seu próprio bolso para financiá-lo, fez um dos filmes mais notáveis e influentes da história do cinema.
Stephen Rebello apresenta para o leitor um panorama completo do que foi Psicose, desde detalhes perturbadores do caso real do serial killer Ed Gein, que inspirou o escritor Robert Bloch a escrever o livro que viria a inspirar o filme de Hitchcock, ao interesse do diretor em fazer esse filme e todos os percalços e negociações que envolveram a sua produção, entre eles desafios técnicos e a luta contra a censura. Nada deixa de ser mencionado. A elaboração do roteiro, cenários, figurino, escolha de elenco, entre outros. Tudo é abordado pelo autor de maneira enxuta e ainda assim rica em detalhes. A cena do chuveiro, por exemplo - que se tornou uma das cenas mais memoráveis não apenas do filme como da sétima arte -, ganha um capítulo a parte, sendo analisada em todos os aspectos e deixando claro porque, vencidas todas as dificuldades de sua elaboração, esses 45 inovadores segundos foram posteriormente considerados uma aula de como fazer cinema. Mas evitarei entrar em detalhes para não tirar o foco desta resenha do livro de Rebello, direcionando-o ao filme.
Mesmo encontrando na produção de Psicose um prato cheio, o autor não se atém apenas a ela, abrangendo também detalhes sobre o genial golpe de publicidade do diretor e o badalado lançamento do filme, culminando em suas indicações (e injustas derrotas) ao Oscar. “Alfred Hitchcock e os bastidores de Psicose” conta ainda com a filmografia completa do diretor, informações sobre o que aconteceu com todos os envolvidos na produção apósPsicose, e ainda referências bibliográficas.
Para não correr o risco de não deixar claro o quanto eu gostei desse livro, eu vou dizer com todas as letras: “Alfred Hitchcock e os bastidores de Psicose” é um dos melhores livros que li no ano. Mas antes de indicá-lo, é preciso fazer uma recomendação essencial. Se você não assistiu o filme Psicose (sinta-se envergonhado e corra assistir o mais rápido possível), não leia esse livro, pois spoilers estão em todas as páginas. Assim, assista o filme, leia o livro, assista o filme de novo (acredite, você vai querer revê-lo) e depois, assista também “Hitchcock” que é a adaptação deste livro e que traz o sempre magnífico Anthony Hopkins como o mestre do suspense e Helen Mirren como sua esposa Alma. O filme foca mais na relação de Hitchcock e sua esposa do que o livro, mas vale a pena ser conferido.
Antes de encerrar, vou usar um quote para ressaltar algo sobre Psicose - especialmente se você ainda não assistiu o filme, ou não tem o costume e o gosto de assistir filmes antigos (dica: não sabe o que está perdendo) - e que eu considero muito importante para se ter em mente ao assistir esse que é considerado por Stephen King o filme mais assustador já feito. “Intermináveis reprises, imitações e paródias tiraram um pouco do gume afiado de Psicose, principalmente para gerações que aprenderam a confundir jatos de sangue, montagens frenéticas e trilhas sonoras mecânicas com o verdadeiro suspense. Em contraste com as séries Sexta-feira 13 ou A hora do pesadelo e suas muitas crias, a comoção causada pelo filme de Hitchcock pode soar hoje tão incompreensível quanto uma velha série dos primórdios da TV ou um filme mudo.” (RABELLO, p. 209)
Eu sabia de antemão que iria gostar de “Alfred Hitchcock e os bastidores de Psicose” - pois estava imensamente atraída pelo tema e normalmente gosto de biografias ou livros que tendem a ser biográficos - mas confesso que não imaginava que seria tanto. Sem exagero, posso dizer cada frase me fascinou e aumentou ainda mais minha admiração pelo diretor cujo brilhantismo era tanto que seus filmes muitas vezes não eram compreendidos (mesmo por atores e produtores) até não estarem prontos. Eu não li esse livro. Devorei.
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