Oliveira 29/01/2014
Blog | Literatura: Um Mundo Para Poucos - Laryssa
Para começo de conversa, a construção dos personagens e a narrativa do autor não me foram surpresa, já que antes deste livro, li "Quase Acaso" - resenhado pela Agnes, porém pretendo deixar por aqui, lá por fim de fevereiro, começo de março, minha opinião sobre ele também - e esses aspectos são bem semelhantes, fazendo-me concluir que apesar da mudança de assunto e estrutura, são características de escrita do próprio autor.
As personagens do livro são algo marcante sobre ele - fato explicado no sétimo e oitavo parágrafos - e possuem personalidades próprias, no caso do protagonista e de outros mais importantes, bem desenvolvidas, apesar de não terem sua história de vida retratada com detalhes. Porém, no caso daqueles menos falados, meros figurantes, muitos pontos são semelhantes, sendo suprimidos apenas por trejeitos normalmente não descritos mais de uma vez.
Sua evolução de caráter de qualquer um, seja Ricardo - detetive -, Letícia - futuro caso de amor (deixo registrado que a maneira como se sucedeu não foi agradável, já que não houve destaque e sim informações jogadas durante assuntos relevantes) - ou um andante, não é grande, quase nula, talvez pelo que mencionei antes, o autor trata do presente, trazendo suas explicações apenas em horas oportunas. Isso gerou-me certo desconforto no início, porém com o desenrolar da trama, esse aspecto passou a colaborar com o desenvolvimento do mistério.
O ritmo de "Suicídios em Bom Jesus" foi agradável e por mais estranho que pareça usar esta palavra, simples. Para explicar, é necessário entender qual é o assunto no qual ao redor o livro irá se desenvolver: uma série de suicídios ocorre em uma cidade pequena, um a cada início de mês e apesar da crença popular em diversos motivos, desde castigo divino, maldição, mera coincidência e afins, um dos moradores vê-se incrédulo em qualquer explicação e decide então contratar, por sua própria conta, um detetive.
Muitos devem pensar: uma investigação como meio de contar a história, um detetive particular como personagem principal... O livro deve ser detalhista e um tanto devagar, sem grandes pistas para atiçar o leitor. Que feliz me sinto em dizer que nos dois primeiros casos, isso é errôneo. De fato, André deixou miseras pistas, na verdade, mais coincidências forçadas e situações obvias do que dicas para a resolução do mistério, porém expôs algumas "cenas" com devida maior atenção e detalhes, além de motivos e benefícios com destaque, gerando então, a desconfiança prévia.
No mais, ele é extremamente direto (como em Quase Acaso), mesmo tendo de construir diversos caminhos para Ricardo seguir com a investigação, para assim manter o suspense. Não cria situações mirabolantes, não faz reviravoltas exageradas e imprevistas, estranhamente, a palavra simples se encaixa pela maneira continua com que as coisas acontecem, as dúvidas surgem e tudo o mais.
Agora, minhas afirmações talvez façam que alguns fiquem temerosos, afinal, se um livro tem um ritmo permanente, não haverá nada de surpreendente nele, certo? Errado...
Outra característica que pude perceber como semelhança nas obras do autor, talvez essa mera coincidência ou não, é o senso de crítica para com o que nos cerca. O grande ponto que me faz mencionar isso é: a sutilidade. Não é nada escancarado - no caso desse livro, não do outro -, o que ele ressalta está unido a algum pensamento ou ação do protagonista e dos cidadãos de Bom Jesus. Pelo que pude perceber, não há sátiras, o que permite um tom mais sério ao que o livro engloba.
E é exatamente com esse detalhe que o livro se finaliza, gerando um momento de grande indignação e sendo totalmente realista e crível, perante as ações e influências humanas.
Enfim, "Suicídios em Bom Jesus" foi uma leitura rápida, simples, satisfatória e indicada para aqueles se interessam por histórias diretas, sem muitos clichês e com leves críticas dando sustentação a trama.
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