jota 27/01/2012Um homem e seu barcoOs personagens deste livro habitam o submundo de Havana e de Miami na época da lei seca (anos de 1930), tempo em que a crise econômica de 1929 castigou a nação americana.
Ter e não ter, o título, tem a ver com a situação em que muita gente ficou então – sem dinheiro, emprego, perspectivas de vida futura, etc. E como algumas dessas pessoas faziam para se virar, caso do personagem principal do livro.
Harry Morgan tinha um barco e além de levar alguns turistas para pescar (tem uma cena aqui, de pesca a um marlim, que lembra demais O Velho e o Mar), transportava bebida clandestina de um lugar para outro; também gente que queria fugir de Cuba. Ou ir de Miami para Havana.
Os personagens são quase todos desbocados, homens e mulheres, quando não bêbados ou amantes de rum e outras bebidas. Estão a maior parte do tempo a dizer frases irônicas ou engraçadas. Ou a pensá-las.
São exatamente os diálogos o que este livro tem de mais impressionante. Hemingway é considerado um mestre neles, e os capítulos 14 e 15 são antológicos nesse sentido. Dois exemplos retirados desses capítulos:
Harry Morgan conversa com Marie, sua mulher, enquanto almoça.
Ele está puto, pois algo deu errado em seus trambiques.
A mulher diz: "Que droga!"
E ele: "Pior que isso... Uma merda!"
Ela: "Ah, Harry. Não fale assim dentro de casa."
Ele: "Tem vezes que você diz coisas piores na cama."
Ela: "É diferente. Não gosto de ouvir alguém dizer merda na minha mesa."
Ele: "Que merda!"
Harry vai a um bar com um amigo.
Lá há uma mulher bebendo.
De cara antipatiza com ela.
Pergunta ao amigo o que ela está tomando.
Ele diz: "Uma cuba-libre."
Harry diz: "Então, me dê um uísque puro."
Isso sem falar dos monólogos interiores, que “tanto revelam certezas questionáveis quanto dúvidas absolutas” dos personagens, como diz Ênio Silveira, o tradutor da obra.
Também tem muita bebida (e bêbados, claro), ação, muito tiro, gente morta e sangue. Coisas muito familiares a Ernest Hemingway. Enfim...
Lido entre 22 e 26.01.2012.