cici 24/05/2021
O pior livro do ano até agora, péssimo.
Edição: A real nota foi 0.5. Percebi agora que por alguma razão o Skoob arredondou, e para o lado errado.
Antes de tudo, quero ressaltar que podem haver alguns spoilers leves. Realmente não é nada demais, não há nenhuma real revelação no que diz respeito ao enredo, mas via das dúvidas é bom avisar.
NÃO SEI COMO dei 5+? pra esse livro na primeira vez que o li em 2020. Desconfio - mentira, tenho certeza - não ter senso crítico nenhum na época. Só pode. Ou isso, ou li outro livro no lugar.
O casal principal, que na releitura do primeiro livro me pareceu bem agradável, é um horror, e acho mesmo que há um quê de tóxico no relacionamento deles. A Sofia se sente um fardo para a nova família e culpada por tudo que acontece, e sempre pede desculpas - ao Ian, principalmente -, mesmo que não tenha nada a ver com o problema. O que mais me entristeceu e irritou nisso tudo foi que a autora desperdiçou uma baita oportunidade de desenvolver isso como um problema, não só como um traço de personalidade dela. Como alguém que leu o próximo livro também - o último em que eles são protagonistas -, SEI que a autora tratou isso como se não fosse nada demais. Mas é. É absurda a quantidade de vezes em que isso aconteceu no livro, absurda mesmo.
E o Ian, esse desgraçado. Tentei relevar o comportamento péssimo dele no início, por ser alguém do século XIX, mas a decepção foi tanta que não só falhei nisso como criei um ódio pelo personagem. Quero mesmo saber quando que ele supostamente é mente aberta como às vezes é falado no livro, quando. O Ian passa o livro inteiro fazendo discursinho de como ama a Sofia e o jeito moderno dela, mas quando é na prática ela não pode fazer nada que não condiz com o que ele julga apropriado que dá chilique. Sério. Chega num ponto que a Sofia esconde as coisas dele por ter medo da sua reação. E, mais uma vez, isso é romantizado.
Cada passo da protagonista é pensando no Ian e no que ele acharia disso, falando no geral. Parece que o mundo dela gira só em torno dele. E tá legal que segundo o povo casado, tem que ter aquele que irá ceder e tal, mas ela SEMPRE é a que cede. O Ian - na prática, claro, porque na teoria ele se importa demais com a opinião dela - só ouve a opinião dela quando se trata de pontos mais fúteis. Quando a Sofia contesta sobre algo importante, ele sempre a distrai beijando-a e sabe-se lá mais o quê. E, veja só que surpresa, quando nós vamos ver, o casal fará tal coisa de acordo com a opinião dele.
Falta diálogo. MUITO. Além de haverem muitas cenas aleatórias e desnecessárias que aparentemente só servem pra dar mais páginas ao livro, há muita enrolação por pura falta de sentar e conversar sobre o que está afligindo o outro. E também falta honestidade. O casamento já começa com um mentindo pro outro. Quando a mentira do Ian foi revelada, mal houve conflito - alguns parágrafos depois, a Sofia já tinha perdoado e já estava tudo bem entre eles de novo, sendo que era algo que ela tinha direito de saber, que dizia respeito à vida dela. Ok. O cúmulo foi que quando a mentira da Sofia foi descoberta, ele não só GRITOU com ela, a chamou de humilhante, não quis ouvir explicações como pediu tempo - que, segundo ele, era pra só respirar, mas fiquei com a impressão de que foi lance da autora só pra apaziguar o surto dele. E a protagonista se culpou mais uma vez, crente que realmente humilhava o Ian, sendo que nem realmente errada ela estava.
Certo, aqui tem spoiler. Sugiro que, caso alguém que nunca leu o livro esteja lendo isso, vá para o próximo parágrafo. Tudo bem que ela mentiu, mas a Sofia só fez isso porque queria ser financeiramente independente e tinha medo da reação dele, como mais acima eu disse que acontecia. Ela O TEMPO TODO se sentiu como se querer ser independente do dinheiro dele fosse algo errado e imperdoável, e mais uma vez a autora não problematizou nada disso. Pior, a autora deu uma desculpa esfarrapada e bem nada a ver para que no final a Sofia verdadeiramente passasse a ser dependente financeira dele, mesmo comercializando o seu produto. Fala sério.
Edição (também tem spoiler): Percebi que me expressei mal. A Sofia não passou a depender financeiramente dele, visto que agora tinha uma fonte de renda mas, sim, passou a ser sustentada por ele. Tem uma diferença sutil aí, mas me incomodou de toda e qualquer forma.
Não sei o que aconteceu com a Sofia feminista e anti-sexista de Perdida. Não sei mesmo. Depois do ocorrido, ela não só decidiu se tornar a dona de casa e esposa "ideal", abrindo mão da sua própria essência pra supostamente satisfazer o Ian, como só deixou essa ideia lamentável de lado quando o próprio Ian fez mais um discurso de que amava ela do jeito que ela era. Uma coisa é ceder uma coisinha aqui e outra lá no casamento, outra completamente distinta é ser alguém que se sente na necessidade de mudar seu jeito por completo e a que cede tudo só porque o marido é um palestrinha de mente fechada.
Bem lá pras últimas páginas, o Ian finalmente compreendeu o lado da Sofia, mas aí eu já tinha cismado com ele. Já tinha ranço, e umas poucas páginas de mais palestra e dessa vez ação também não me fizeram mudar de opinião.
Um último ponto sobre o relacionamento dos dois: Eles são declaradamente dependentes emocionais. Costumo relevar isso quando é fantasia e tem todo aquele drama de parceria e não sei mais o que, mas achei no mínimo esquisito ver isso em personagens mais "realistas". Quem leu o primeiro livro sabe o quão ridícula é essa dependência extrema e romantizada.
As partes mais razoáveis do livro são aquelas em que os personagens secundários têm mais destaque - exceção clara à tia Cassandra, que me deu vontade de arrancar os cabelos. Apenas me incomodei um pouquinho com o fato da Elisa ser uma boneca perfeita, sempre gentil demais e sem erro ou defeito algum, sem desenvolvimento ou profundidade. Relevei isso por saber que há um livro focado apenas nela, onde provavelmente isso será explorado - ao menos, assim espero.
Sigo com a sensação dos lugares serem limitados demais, como senti no primeiro livro - porque realmente são. Eles vão sempre para os mesmos lugares, e parece que só há a casa dos dois, a vila e o teatro - e um pouquinho lá da praia, naquela parte mais pro final. Já li outros livros em que há essa repetição de ambiente e que mal percebi, mas dessa vez realmente me incomodou.
Há outros pontos negativos a serem citados, mas acho que o resumo de tudo está aí. Não quero me estressar demais ou deixar a resenha excessivamente longa. Não recomendo pra ninguém, e a única parte boa de ter pego pra ler foi que tirou a impressão de perfeição que eu tinha dos livros, do casal e do Ian - que, misericórdia, era o meu top 1 na lista de crushs literários até fevereiro desse ano! (!!!!!!!!!!!!!!!!!) Meu passado me condena. Só posso ter tido a primeira leitura de olhos fechados.