spoiler visualizarCJ 18/06/2014
"Morto" pra mim
É longo.
É sofrido.
É o fim.
Depois de quase um ano da tempestade que foi esse livro na minha vida - e de toda a dor e sofrimento que ele ainda me causa, eu decidi finalmente escrever sobre o malfadado, assim posso matar o que está me matando:
Primeiro de tudo, eu sabia que a coisa com a Charlaine Harris (a ser chamada de CH) já não andava boa, e a dinâmica entre os personagens, as histórias, e tudo mais nao eram mais essas coisas todas desde o livro 10, etc e tal.
Mas, como alguém que tem esperança - algo que nem é do meu feitio - eu insisti, pensando que ao menos o fim fosse decente.
Ledo engano.
CH passou todos os outros 12 livros escrevendo em primeira pessoa, com POV de um único personagem: Sookie. Subitamente, nós temos um livro com todo mundo tendo as suas vozes, seus pensamentos, etc. Uma decisão... No mínimo questionável para um final, mas vai, esse nem é o problema maior da coisa toda.
Sabe, quando se tem 12 livros, você já criou os personagens estabelecidos, e tem certas regras, certos mandamentos, coisas que você mesmo tem de seguir - ou arrumar justificativa para não fazer - ou é o que chamamos de ''out of character" e "erro de continuidade". É insultante tanto pra voce quanto para os seus leitores se isso nao rola, sabe? Vira zona a coisa.
CH cospe na sua cara nesse momento se você concordou comigo.
E se você reclamar, ainda manda indireta que você é uma pessoa invejosa recalcada mimimi se não gosta faz melhor.
Juro por deus, é basicamente isso que ela andou fazendo ultimamente.
A Sookie dos livros - que vinha abrindo as asas até o livro 9, com a ajuda de certo viking - simplesmente regride, e adquire certa fobia de sobrenatural. Passa a tratar todo mundo que é convenientemente ligado a certa parte do mundo sobrenatural como se eles fossem um estorvo, um problema. Uma pedra no sapato.
Inclusive a pessoa que ela havia descoberto amar de verdade, apesar de laços de sangue.
Aquela Sookie que vinha sendo mais inteligente, mais vivida desde o lance da tortura, que tirou vampiros em caixoes quase em chamas de um hotel explodindo, que fez e aconteceu, simplesmente cruza os braços e fica esperando que a solução para certo problema caia do céu - quando ela mesma teria uma possível resposta para isso.
Lembro de alguém que dizia que nao queria ser totalmente dependente do Eric, mas eu não consigo mais enxergar essa pessoa.
Foi triste ver que a personagem estava agindo como se tivesse algo de anormal nela, como se nem fosse ela mesma, a maioria do tempo, e que a dinâmica com a maioria dos personagens com os quais ela estava formando laços mais fortes simplesmente se quebrou assim, do nada.
Acordei de mau humor hoje, vou mudar completamente a minha vida e regredir nove anos - sem falar dos demais acontecimentos bizarros, convenientes, e tentativas absolutamente canastronas de transformar alguém que atirou a queima roupa na cara de uma pessoa e planejou o assassinato de outra em ''boa cristã"
Não que a Sookie fosse ruim, ela só não era... aquela pessoa.
A graça da história, pra mim, nem era a Sookie em si, mas sim o que tinah ao redor dela: Toda essa temática de vampiros buscando direitos, de pessoas diferentes querendo seu lugar ao sol - com o perdão do trocadilho - e finalmente resolvendo sair de onde estavam escondidas não te lembra nada?
Sookie também era uma pessoa ''esquisita'' ela mesma: Incapaz de se encaixar em um molde, ela era a esquisita, a loira burra e peituda que não conseguiu fazer nada mais na vida que ser farçonete de bar em beira de estrada.
Mas tudo isso mudou quando ela descobriu que existia mais na vida. Mais que aguentar o olharzinho torto dos policiais da cidade. Se os vampiros tinham seus direitos, ela também tinha. Podia ser feliz, inclusive, da forma como quisesse.
Era uma mensagem bonita: Você, não importa o quão diferente dos padroes, vocêainda pode ser feliz, e ter seus direitos.
Tudo isso vai pro saco nesse final, e eu me pergunto se a autora se deu ao menos o trabalho de compreender que, fazendo isso, ela está passando uma mensagem que seria mais ou menos o seguinte: Ok, voce pode procurar ser feliz, mas existe um tempo limite. Está ficando velho? Volte depressa, e arrume um jeito de se encaixar no molde outra vez, porque o tempo nao espera, então melhor casar logo e arrumar a vidinha mais confortável possível com alguém que também está tentando de todo o modo ser o que na verdade nao é.
Ah, não, me perdoe, é porque ''Eu sou Sookie Stackhouse, eu pertenço aqui".
Aham, Claúdia, senta lá.
Outra coisa que aprendemos com isso é que se seu ex-namorado que te estuprou uma vez achou, sei lá, um podre do seu atual e se provou útil fazendo usn trabalhinhos pra você, não tem problema dele ainda ser seu vizinho e te stalkear constantemente. Somos ''amigos'' ainda.
Ele e eu S2 - Eu faria trancinhas nele se agora eu nao fosse uma boa menina que vai na igreja todo domingo e tem urgh, horror aos vampiros.
A última, e mais dolorosa coisa se chama Eric.
Eric era a pessoa com quem eu mais sentia empatia - e lamento dizer que nem era pelo fato de ele ser de longe o mais bonito, ou pela tensão sexual dele coma sookie, isso ajudou, claro. Eu gostava do Eric porque ele fazia as cafagestagens e não tinha o cuidado de vestir de novo a pele de cordeiro feito o Bill (Sophie Ann, e o proprio estupro) ou Sam (que via a sookie nua disfarçado de cachorro), Eric era e sempre foi um cretino, que seria capaz de fazer o diabo pra ser: Independente; Viver bem; e salvar a própria pele, e a da Pam (não conto aquele arremedo de filha, sinto.)
Por esse motivo mesmo, foi espantoso ver que ele mudou pela Sookie. Ele, e isso eu posso dizer com toda a certeza, foi a única pessoa que amou de verdade nessa história toda.
Ele salvou a Sookie e pagou a multa - e sofreu castigos por isso. Ele esteve com a Sookie quando ela quase foi morta no bar - arriscando a propria pele, já que ele estava em outro estado e poderia ser facilmente tomado como espião. Ele garantiu a casa da Sookie, ele a resgatou, cuidou dela, a ajudou em tantos momentos, que eu nem me atrevo mais a falar, porque pra alguém que só se importa consigo, isso é gritante.
Ele simplesmente poderia te-la usado ao seu bel prazer como ferramenta. Você sabe que ele podia. No inicio de tudo, ele provavelmente tentou.
Eric inclusive contrariou seu próprio mestre pela dita Sookie, arriscou a posição e liberdade num casamento com ela, uma mortal, uma vulnerabilidade que ele nao precisava ter, tudo em ordem de protege-la.
E, no fim das contas, ele foi descartado e massacrado, e voltou para a posição incial, e é tudo tão grosseiro e tão feio que eu me perguntei em certo ponto se a CH nutria ódio pelo personagem, ou algo assim.
E não, não em diga que ele conseguiria algum poder no final das contas, com aquele casamento com a Freyda. Eric perdeu tudo que ele mais prezava, e voltou a ser um brinquedo sexual nas mãos de alguém, um mero boneco - justo o que ele mais odiava.
Mas o pior de tudo, tudo mesmo, é que eu sei que o Eric conseguiria se livrar disso, de algum modo. O Eric original teria conseguido, ele sempre dava um jeito, caramba. Entretanto, a Sookie estava em jogo, e a autora nao era mais tão brilhante, e, apesar de tudo o que estava acontecendo, ele ainda conseguiu livrar a sookie das picuinhas e perigos da sociedade vampirica,
Ele trocou sua propria liberdade pela dela.
Isso me deixa tão mal, mais tão mal, que eu nem sei mais.
E ainda tem gente que ousa falar que o problema era com quem a Sookie fica no final - o que eu nem falei nem vou falar, porque nesse ponto da leitura, e da vida, eu nem me importava mais.
Eu nem reconhecia mais aquilo como a mesma série que eu lia há certo tempo, eu nem reconhecia mais aquilo como alguma coisa que valesse ser lido.
O pior de tudo é a autora - que se defende apenas dizendo que a história é dela, e que ela faz o que quiser com isso, e chamando os proprios fãs de ''pessoas que querem se apoderar das coisas dela" (entitled)
Voce pode, pode sim. Mas o problema, minha cara, é fazer isso de sopetão num ultimo volume de uma serie famosa. É como se fosse um onibus que continua com o mesmo nome, ams muda de trajeto e nao avisa a ninguém sobre isso. As pessoas embarcam, e a maioria só sai aborrecida.
Mas no seu ônibus, Sra Harris, eu não embarco nunca mais.