spoiler visualizarBrilho 07/10/2013
Inicialmente gostaria de contar algo que me atrapalhou um pouco na apreciação do livro - Glaucio, o mestre da confusão ataca novamente. Sempre que ouvi falar da Anne Tyler por algum motivo associei-a ao livro Um Dia. Sendo que a coroa não é nem mesmo a autora desse livro, mas por algum motivo sempre achei que fosse. Fui pesquisar pra saber o motivo e descobri: Anne Hathaway. Essa atriz famosíssima participou da adaptação de Um Dia pro cinema e fiquei com o nome dela na cabeça, portanto quando vi o nome Anne Tyler confundi com Anne Hathaway. Resultado: Achei que Anne Tyler fosse autora de Um Dia. Tanto é que tem um outro livro famosinho da Tyler que fez sucesso ano passado e quando vi o nome dela como autora do livro de imediato associei ela à autoria de Um Dia. Que vergonha.
Pois então, achando que Anne Tyler fosse autora de Um Dia, e inclusive tendo grandes expectativas do mesmo que pretendo ler futuramente, fui com grandes expectativas ler Lições de Vida. Me decepcionei. Além da expectativa gerada por minha própria confusão, tive também influência do hype, pois essa autora vem sendo muito divulgada e bem votada nas críticas. Pra começar pelo título, “Lições de Vida”, clichêzada come solta, mas não é culpa da autora... O título original é até bacana: “Breathing Lessos”, ao pé da letra significa algo como "Aulas de Respiração", o que deve remeter ao fato de Maggie acompanhar toda a gravidez de Fiona, até mesmo nessas aulas de respiração para parto. (Entenderão posteriormente) Mas infelizmente como na maioria das vezes, traduzem de forma tosca. A capa tem tudo a ver com a história, uma mulher na estrada. Para compreenderam melhor vamos à ela:
Como personagens centrais temos um casal de meia idade: Ira e Maggie. Casados há cerca de 20 anos, possuem dois filhos e carregam uma experiência como casal que serve de exemplo pra muitas pessoas que iniciam a vida conjugal. Além disso sustentam um relacionamento que ignora até mesmo os princípios que aprendi lendo “Apegados” que explicita claramente que um casal constituído por uma pessoa evitante e uma pessoa ansiosa na maioria das vezes tem tudo para dar errado. Ira é extremamente sério, frio e racional enquanto Maggie é agitada, assaz emocional e carente de apego e atenção ao extremo. Os dois se completam, mesmo sendo tão diferentes.
A história começa quando recebem um convite por parte de Serena, uma grande amiga de infância de Maggie, os convidando para o funeral de seu marido Max que também os conhecia que falecera de câncer. Serena reside numa cidade distante, e quando Maggie convence Ira a irem, arrumam suas coisas e rumam pela estrada. Logo nos primeiros quilômetros rodados, Maggie está a acompanhar um programa de rádio e ouve uma garota chamada Fiona que ligou na programação, dizendo que está prestes a se casar pela segunda vez e que não por amor, pois da primeira vez que foi por amor não foi o suficiente para sustentar a relação. Maggie toma um tremendo susto pois a ex-mulher de seu filho e mãe de sua única neta chama-se Fiona, e então bota na cabeça é sua nora. Praticamente o caminho todo até a cidade de Serena, Maggie fica atônita com essa história da Fiona e fica pegando no pé de Ira tentando convencê-lo a após o funeral passar na cidade dela para esclarecer essa história e até mesmo oferecer-se para cuidar de sua neta enquanto Fiona passa por lua-de-mel.
Durante o caminho pela estrada até o funeral, durante o funeral e após ele, a história é marcada por flashbacks. Flashbacks que narram desde a infância de Maggie e Ira, como se conheceram, casamento de Serena e Max, casamento dos dois, nascimento dos filhos, casamento do filho Jack com Fiona, nascimento de Leroy (a neta) e separação/despedida de Fiona com Leroy. Jack e Fiona tiveram Leroy muito cedo e como não tinham condições financeiras passaram a viver com Maggie e Ira. Período difícil, porém de doce recordação para todos, pois eram felizes quando encontravam-se em comunhão/união familiar. Por alguns acontecimentos e desentendimentos Fiona separou-se de Jack e partiu com Leroy para viver com sua mãe noutra cidade, o que acarretou na distância da família de Maggie para com sua neta quando tinha menos de 1 ano até então onde a história acontece onde a menina já está com 7 anos.
Todos esses flashbacks são capítulos inteiros de Maggie lembrando-se tudo o aconteceu para chegar onde chegaram, é até bonitinho pois a autora redige maravilhosamente bem (isso é inegável) e retratou a personalidade de cada um dos personagens de forma espetacular, associando todo o tempo com suas vidas no passado. Nisso ela ganhou pontos comigo e me encorajou a não desistir da leitura, pois sou fascinado por histórias que traçam paralelos temporais entre passado e presente, seja através de viagem temporal, ou simples lembranças dos personagens. Isso é fundamental para entender o presente de cada um dos personagens.
Pelo fato de Maggie ser meio desastrada ocorre alguns fatos bem engraçados, por mais que o livro seja meramente dramático. Aliás, o gênero é drama, especificamente drama familiar, e nisso não é falho. Serve como lição de vida mesmo pois retrata um pouquinho de como os relacionamentos familiares e o dia-a-dia entre marido-esposa, pai-filhos, etc, não são tão fáceis quanto parece. E o final mostra muitíssimo bem que a autora não estava pra brincadeira, não estava pra escrever um conto-de-fadas. Como drama não falha, o fim é triste, deixando de lado aquela de “felizes para sempre/tudo ficará bem a qualquer custo”, mas de certa forma também é muito emocionante.
Apesar do fim não ter me agradado pelo fato de eu ser bem positivista, foi aceitável. Outro detalhe é que além do explicitado anteriormente, há também inúmeras citações de músicas no decorrer da história, por três motivos: 1 - Maggie, Ira, Serena, e todos os seus amigos de adolescência participavam ativamente do coral de uma igreja metodista na qual frequentavam; 2 – É narrado como foi o casamento de Serena de cabo a rabo pelo fato de estar sendo contado o funeral do marido, e lá foram cantadas várias canções; 3 – Mania de Ira de ficar assoviando melodias de músicas que tenham letra de acordo com a situação em que está inserido.
Pelo fato de me identificar bastante, Maggie foi minha personagem favorita, sou bem ansioso e hiperativo. Por mais que o livro tivera vários pontos que me agradaram foi meio difícil de ler até o final. Creio que foi enrolação demais, quase quatrocentas páginas para contar apenas isso? E o drama familiar foi bem chatinho, me cansava de ler apesar de a escrita ser bem gostosa. O pior de tudo foi esperar algo muito mais magnífico do que encontrei, as expectativas não foram correspondidas, ainda mais sendo um livro vencedor do Pulitzer Prize, como Em Busca de Um Final Feliz que li recentemente e fantástico. Além de que o final me trouxe a sensação de perda de tempo, mas deem uma chance, talvez possa agradar mais outras pessoas que do que a mim.
Citações:
“O que a mãe de Maggie dissera era verdade: as gerações estavam indo ladeira abaixo nessa família. Estavam em todos os aspectos, não somente nas profissões e na escolaridade, mas na maneira como criavam seus filhos e no modo como dirigiam seus lares.”
''Ah, Ira - ela disse, jogando-se ao lado dele - O que vamos fazer com o resto de nossas vidas? (...) - Venha cá, benzinho - ele disse, acomodando-a ao seu lado.''
"Uma voz suave rádio disse: “Bem, eu vou me casar novamente. A primeira vez foi por amor. Foi por amor verdadeiro e não deu certo. No próximo sábado, vou me casar para ter segurança”.
Maggie olhou para o mostrador do rádio e disse: — Fiona?
Ela quis brecar, mas acabou acelerando e disparou para a rua. Um caminhão da Pepsi que vinha da esquerda bateu em seu para‑lama dianteiro — o único lugar que nunca, até agora, sofrera algum dano.
No passado, quando Maggie jogava beisebol com seus irmãos, ela costumava se machucar, mas dizia que estava tudo bem, por medo de que eles a fizessem abandonar o jogo. Ela se empertigava e corria sem mancar, mesmo que seu joelho a estivesse matando de dor. Ela se recordou disso quando o gerente veio correndo e gritando: — O que foi? A senhora está bem? Ela olhou para a frente de maneira digna e disse‑lhe: — Mas é claro. Por que pergunta? — E arrancou antes que o motorista do caminhão de Pepsi pudesse sair da cabine, o que provavelmente foi melhor, considerando a expressão no rosto dele."
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