Arca Literária 26/08/2014
Por: Gabrielle Amaral
“Sou do tipo de mulher que prefere ação à espera”
Temos o perfeito contraste entre a aparência e a personalidade, Evangeline é a típica bela jovem inglesa de séculos atrás, cabelos loiros, pele branca, cachos, escondem a sua verdadeira personalidade, todos pensavam que ela seria a dama perfeita, que aceitaria tudo e todos, que não se oporia a nada, num tempo onde apenas as aparências importavam, vemos uma mulher a frente do seu tempo cheia de personalidade lutar pelo que acha certo.
“Se tudo der certo, no final da noite, eu não terei noivo nenhum. Não deixarei que nenhum homem decida meu futuro.”
O livro se inicia de forma que nos leva a ver Londres de antigamente, mas por ter uma linguagem atual poderia perfeitamente se passar nos dias do hoje, é um livro que nos leva a refletir quando percebemos que mesmo depois de séculos o machismo permanece no mundo atual, vemos também que nem sempre tudo é como parece, que as coisas são como menos imaginamos.
“Eu nunca abriria mão de meus dons. Eles eram partes de quem eu era. Era a única coisa que ninguém jamais poderia tirar de mim.”
Eva é forte e a escolha do sobrenome Bennett é algo comum, mas com um grande significado, que nunca leu ou ouviu falar sobre a famosa obra de Jane Austen? Assim não há surpresa quando o caráter dessa jovem tão parecida e oposta a cara Elizabeth, o sobrenome Rothe – Voltaire precisamente o segundo é referencia a um antigo filósofo iluminista francês que apoiava firmemente a liberdade religiosa, onde mais uma vez vemos que foi cuidadosamente escolhido para complementar a personalidade da protagonista.
“Se eu deixasse que me provocassem sem reagir, logo seria esmagada. E eu não conseguia aguentar uma provocação calada.”
Temos um relacionamento familiar oposto ao esperado, inusitado e que acaba contribuindo ainda mais para tornar quem ela é, o que esperar de um mundo onde a própria família já não lhe aceita? É apenas uma das questões que a bela tem de lidar. E no final tudo se prova inesperado, prova-se que mesmo conhecendo alguém por anos jamais vemos a pessoa como ela é e isso torna o livro tão real, foi escrito de uma forma tão boa.
“No mundo em que vive, o amor é algo perigoso, algo que traz incontáveis problemas. Não quero que você se machuque.”
Quando se trata de paixão acaba-se por ter sido sim meio clichê, mas um clichê que foi tão escrito que não podia ser de outra forma, simplesmente tinha que acontecer, tinha de ser assim. Consumidos por essa paixão ardente e lutando contra o certo e o errado, toda aquela questão de escondido é bem melhor, perigoso é divertido, descobrimos que nem todos os homens daquele tempo são como a maioria e é algo tão encantador.
“Acredito que todos nós somos como vulcões dormentes. Que, a cada novo problema, vamos acumulando pressão até atingir um ponto de colapso e entrar em erupção.”
Lina tem de aprender a lidar com seus poderes que podem chegar a machucar a si mesma, poderes tão fortes, tão incomuns que chegam a representar uma bomba relógio prestes a explodir, mas no final de tudo se não fosse essa bomba, quem saberia onde estariam todos? Também há a tão característica luta interna tornando-a tão humana, vemos nas atitudes delas, erros e acertos, que se pensarmos como aquela época podia condená-la, mas se a vemos com olhos atuais é tão normal. Isso foi algo muito bem estruturado, detalhado, bem pensado.
“Tão bela e tão poderosa. Seria absolutamente perfeita se não pensasse tanto. Mulheres não deveriam pensar por si próprias, é um completo desperdício de uma boa criação divina.”
O grande conflito do livro é ser mulher, pensar, agir, ter opinião, ser descriminada por isso e infelizmente sabemos que isso acontece sim hoje em dia, mulheres ainda são subestimadas, é um livro que traz numa situação de anos atrás tramas tão atuais, coisas do mundo moderno que vem desde o passado. Numa sociedade onde mulher sair sozinha é quase um crime como ser Evangeline? A autora trabalha isso muito bem, trabalha maravilhosamente bem toda essa questão, constrói uma personagem onde podemos nos ver facilmente, torcer por ela, invejá-la, amá-la.
“Livre. E era assim que todas as mulheres deveriam ser, e não a mercê dos desejos frívolos de homens tolos.”
No final podemos tirar a esperança de que sonhar não é pecado, que sim podemos fazer isso e que pode se realizar é só ter fé, força de vontade e coragem. Em meio aos acontecimentos o livro traz uma bela mensagem de companheirismo, amizade, fé, força, coragem. Mostra os males da arrogância, prepotência, nos obriga a refletir.
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