Um artista da fome / A construção

Um artista da fome / A construção Franz Kafka




Resenhas - Um Artista da Fome / A Construção


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Rafael Dadalto 30/06/2009

Kafka é incrível.
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Lis 31/08/2009

A fábula inacabada "a construção" é uma alegoria máxima do que pode ser o desespero de existir, ocorrendo na mente de alguém tão insanamente assustado com o mundo. Conhecendo a biografia do Kafka é possível perceber como suas histórias são um grito de desabafo e fuga da prisão que era sua própria vida. A construção, a meu ver, é de todos os seus contos, o que melhor representa isso, mais até que "o processo".
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Seane Melo 28/05/2011

Uma enxurrada
Basta ler a opção ‘lidos’ do meu perfil para saber que não sou a pessoa mais indicada para resenhar Kafka. Confesso que tinha muita vontade e curiosidade de ler o famoso autor de A metamorfose, mas por motivos avulsos acabei me demorando na satisfação deste ímpeto.

Nunca havia lida nada do autor ou sobre o autor quando comecei a ler “Um artista da fome/ A construção”. Por isso, qual não foi a minha surpresa ao levar uma paulada seca da escrita precisa e empolgante do autor. Já ouviu falar de escrever “redondinho”, ou melhor, de frases impecavelmente construídas que dão a impressão de que aquilo não poderia ter sido escrito de outra forma? Exato. Assim, é Kafka.

Neste livro, o autor nos brinda com 5 contos que parecem não ter relação em si, mas que foram cuidadosamente escolhidos pelo autor para esta obra escrita nos seus últimos dias de vida. Confesso que o conto Uma mulher pequena, não me despertou sentimentos. Mas nos outros, apesar de temas e abordagens pouco comuns, pude sentir o peso da escrita do autor e me perder nas suas perspectivas sobre a vida de um trapezista, de um artista faquir e de uma camundonga cantora.

Na verdade, o gosto destes contos é o de por si só já serem uma experiência fantástica de leitura, mas o leitor não consegue ficar só na percepção superficial e, então, haja imaginação para prever a que fase de sua vida ou a que circunstância estaria ele referindo-se.

Escolhi o nome Enxurrada para esta resenha devido ao ritmo dos contos. Tanto em “Josefina” quanto em “A construção” a escrita conduz a velocidade de um pensamento normal. Contradiz-se, dá voltas, dispersa e não finda. Outra qualidade do autor é a de possuir as melhores frases. Ainda imaginando como o animal de A construção seria, o leitor pode ser pego desprevenido por uma frase que insista em ser relida duas ou mais vezes fora do contexto. Eis um bom exemplo, mas não o melhor (encontrado na pressa de quem não toma notas):

“É relativamente fácil confiar em alguém que ao mesmo tempo se vigia ou pelo menos se pode vigiar; talvez seja até possível confiar em alguém à distância, mas do interior da construção, ou seja, a partir de um outro mundo, confiar plenamente em alguém de fora, eu julgo impossível”. (KAFKA, 1998, p. 80)
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Thomas.Brenner 06/06/2019

Alegorias sobre a obsessão?
Algumas interpretações dos contos deste livro tentam construir um sentido a partir da biografia do autor ? devido à tuberculose, Kafka estaria com dificuldades para engolir e com a voz debilitada, o que remeteria ao artista da fome e à cantora Josefina, respectivamente. Outras fazem uma relação com o contexto político ? o ódio irracional da mulher pequena seria uma representação do antissemitismo. Há ainda interpretações que apelem ao psicologismo ? a construção seria o Eu de Kafka. Gostaria de ter encontrado uma interpretação que não se apoiasse em informações externas ao texto, que se detivesse exclusivamente aos elementos oferecidos pelos contos.
Na leitura que pude fazer, parece possível considerar que o fio condutor das histórias dessa coletânea é a obsessão. A obsessão do artista para com sua arte, com a criação. Obsessão por alguém, através de um ódio irracional. A incompreensão do público ante o obstinado trabalho do artista. O conto ?A Construção?, particularmente, pode fazer o leitor sentir na pele esse pensamento circular, ou melhor, espiralado: uma espiral crescente de elucubrações que parece interminável, transformando o pensamento em uma espécie de prisão.
Mas, obviamente, essa interpretação apenas arranha a superfície de uma enorme tessitura de símbolos, talvez tão labiríntica quanto a construção da criatura na novela que fecha o volume.
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Gabriel.Tesser 11/07/2019

Aqui encontramos alguns contos e novelas de Kafka, feitos com esmero, não tão impactantes como suas grandes obras como O Processo e O Castelo (não pelo peso das páginas acumuladas, pois O Veredito custa poucas folhas e causa grande impacto), mas pela retórica alegórica que compara sua vida ? que estava no final ? com seu estado condicional de pré-guerra. São obras importantes que devemos prestar respeito, Kafka é um dos melhores escritores que conheço.
Nos contos e novela, ele usa metáforas e conduz o verbo para simbolizar a condição humana, a política de seu tempo enquanto morava em Berlin. A escrita continua impressionante com uma consciência sobre o humano sem igual, o que torna sua obra atemporal.
A tradução de Modesto Carone é excelente e torna a leitura mais fácil e prazerosa.
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Márcio 02/05/2020

Kafka é kafkiano...
Não há encaixes para Kafka. Ele inaugura um "movimento" exclusivamente seu, até então. Incomparável, Kafka nós revela aquilo que sempre esteve diante de nosso nariz, mas que não temos coragem de ver.

Em Um Artista da Fome, vemos o espetáculo absurdamente trivial. Um homem que jejua vira uma atração que move multidões. Estranho, não? Não. Quando tal espetáculo acaba ficando impopular, o artista leva seu jejum até o limite, culminando naquilo que é o seu ponto de perfeição: a morte. Parece estranho, mas nós sempre buscamos aquele momento em que não sentiremos nada de ruim, o momento em que a dor some ou a tristeza nunca mais apareça. Bem, em vida, isso tudo é inevitável. Então, a perfeição, o que seria? Um estado de não-vida? Exatamente. A morte.

Bem, esse texto ficou longo. Leiam o livro! Vocês não irão se arrepender (ou irão)
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Edson Medeiros 05/01/2021

O testamento de Kafka: a arte que enlouquece e o fascismo que destrói
Das obras finalizadas por Franz Kafka, e das quais o autor pretendia publicar, a coleção de contos de Um artista da fome talvez seja a mais pessoal. As narrativas aqui reunidas apresentam metáforas sobre o artista e sua relação com a arte, pode-se dizer, então, que tratam-se de reflexões de Kafka sobre suas aspirações literárias, ofício ao qual nunca pôde dedicar-se inteiramente. Já a novela A construção cresceu demais e acabou cortada da publicação original, mas foi convenientemente escolhida pela Cia. das Letras para fechar esta coleção.

No conto que dá título à obra, Um artista da fome, o obstinado faquir sente a necessidade de colocar-se cada vez mais a prova aumentando indeterminadamente os dias do seu jejum, não importando se sua arte já não interessa a mais ninguém, em “Primeira dor” o trapezista mantém-se dia e noite nas alturas, isola-se do mundo por amor ao trapézio, seu maior tormento é descer das alturas quando o circo itinerante está a mudar de praça, por sua vez, “Josefina, a cantora ou o povo dos camundongos”, é um convite a reflexão sobre a pseudo-arte, onde a protagonista acredita possuir qualidades superiores e, por isso, merecer determinadas vantagens sociais — ainda que ninguém seja capaz de dizer se o que ela faz é realmente arte.

Em "Josefina, a cantora ou o povo dos camundongos" há a ligação com “Uma mulher pequena”, impedindo que fique solta a única narrativa que destoa do tema central de Um artista da fome. A inquietação que aflige o passivo protagonista sobre quem recai o desarrazoado ódio da “mulherzinha”, também permeia a “sociedade dos camundongos” que está sob a constante sensação de ataque, ainda que os pequeninos cidadãos não modifiquem seus hábitos ou façam provisões para uma possível defesa. Neste sentido, o posfácio do tradutor Modesto Carone facilita a conexão: Kafka os escreveu em Berlim, entre 1922-23, enquanto o nazismo era gestado na sociedade alemã.

A construção segue o estilo das principais obras do autor, texto denso, labiríntico, absurdo, mas também revela sua inquietação com o autoritarismo fascista e o sentimento antissemita. A história do animalzinho atormentado pela incapacidade de viver em segurança, seja no mundo exterior ou no seu esconderijo subterrâneo, é a história das minorias na República de Weimar.

Um artista da fome e A construção são os verdadeiros testamentos literários de Kafka, retratando o tormento dos seus últimos dias, escritos enquanto ele tentava sobreviver a partir da sua produção artística, sofrendo com a tuberculose que encurtaria sua vida, e enquanto se via encurralado em razão das agitações político-sociais na Europa.
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Lulu 17/03/2021

Bom
Gosto muito do Kafka - a forma que ele escreve, as histórias,etc -, mas confesso que só fui ver a beleza dessas histórias depois de ler o que estava acontecendo na época em que estava sendo escrita e em que situação estava o pobre Kafka.
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Mr. Brownstone 01/05/2021

Muito bom
Acho impressionante como Kafka consegue dizer muito com poucas palavras. Como outra pessoa disse abaixo, essas histórias se tornam melhores quando descobrimos oque acontecia na vida de Kafka no ano que escreveu.
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gabrieldcolleta 01/02/2022

Gostei muito de Um artista da fome e A construção, os outros dois contos não chegam no mesmo nível mas ainda assim são bons. Todos eles se enquadram no traço mais marcante da obra do Kafka, que é essa narrativa fantástica absurda, satírica e as vezes um tanto mórbida.
Vale a pena a leitura.
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arthur966 13/06/2022

a construção oferece, com efeito, muita segurança, mas absolutamente não o suficiente; acaso cessam nela para sempre as preocupações? elas são outras, mais altivas, mais ricas de conteúdo, o mais das vezes amplamente reprimidas, mas o seu efeito devorador é talvez igual ao das preocupações que a vida lá fora apresenta.
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Gabriel.Larrubia 20/07/2022

Não sei o que escrever! Mas quanto mais leio Kafka mais gosto de Kafka... Faz muito sentido os últimos escritos da vida dele serem um balanço sobre arte, a relação dele com a arte, da arte dele com o mundo, e em decorrência dele com o mundo etc etc... Muito massa construção terminar como termina, assim como carta ao pai, meio abrupto, provavelmente não terminado, porque até agora foram os dois escritos que mais parecem girar em torno do inconsciente... E é realmente uma relação complicada de se construir sozinho. Enfim! muito bom mesmo fiu fiu talvez meu preferido até agora. Tenho a impressão que o absurdo em metamorfose e o processo são muito diferentes do absurdo aqui, sendo o primeiro um estranhamento muito crítico do funcionamento do mundo e o último só as contradições que se é preciso lidar de qualquer jeito vivendo... Mas também tenho uma impressão de uma destrutividade muito forte nos fins dos contos... Pode ser só impressão também! Cada frase vale muito ser pensada nesse livro... Quero muito pensar nos elementos do último parágrafo do artista da fome...
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Procyon 22/10/2022

Um artista da fome / A construção ? Resenha
As densas obras kafkianas nos auxiliam a refletir sobre as contradições do mundo moderno ao apresentar elementos que tornam clarividentes os processos constitutivos da subjetividade humana. Suas narrativas parecem explicitar os paradoxos da condição humana, conseguindo, portando, captar aspectos da gênese social do indivíduo. Quando evoca imagens animalescas, Kafka cria espaços alternativos, possibilitando uma concepção de humanidade produzida no cerne de uma sociedade que banaliza a injustiça e se submete às frias ações da indiferença. Ao tensionar a dimensão humana e animal através de sua escrita invertida, Franz Kafka estilhaça as imagens falsárias de um mundo que naturaliza práticas desumanas.

As narrativas reunidas no presente livro ? composto de quatro contos escritos entre os anos de 1922 a 1924, e uma novela ? estão entre as mais fortes e originais escritas pelo escritor tcheco, no derradeiro momento de sua vida. Capitaneadas pela potência da experiência, do humor e do mistério, essas histórias se apresentam como uma meditação poética que encontrara sua forma artística plena na evidência da contemporaneidade. Os clássicos como ?O artista da fome? (1922) ? título de seu último livro de contos, publicado pouco antes de sua morte ? e ?Josefina, a Cantora?, bem como ?Primeira dor? (1922) e ?Uma mulher pequena?, há mais de meio século participam do repertório universal do conto contemporâneo com o crédito devido às obras-primas. Para complementar este volume, nota-se a formidável novela ?A construção? (1923), densa e sombria, publicada postumamente, e, portanto, considerada por muitos o verdadeiro testamento literário. Para tanto, a tradução excepcionalíssima de Modesto Carone procura reproduzir as repetições formais e intencionais do autor, sua linguagem protocolar e seca.

Nota-se em, sumariamente, em Um artista da fome e A construção, a consciência do derradeiro fim pela tuberculose. Essas histórias abertas, de plurissignificação, pertencentes à fase final do escritor, representam os pontos altos de seu estilo de narrar, marcado pela batida protocolar e repetitiva. Textos como Um artista da fome e Primeira dor trazem arquétipos do artista obsessivo, que revelam uma face titânica; A construção, a grande ficção autobiográfica do autor, evoca a imagem insuperável do modo de existência do escritor perseguido pela doença e pelo fascismo alemão. Neles evidencia-se como nunca um pessimismo fatalista, repleto de insegurança e paranoia diante da morte iminente.

Uma mulher pequena, narrada em primeira pessoa, tematiza o elemento do pecado e do arquétipo do judeu, na medida em que essa inadequação do indivíduo é imposta por um indivíduo externo, expressando, portanto, a modalidade interpretativa do totalitarismo: no qual o ódio e a violência são instrumentalizados em cima do sujeito. Kafka é profético ao invocar um narrador acossado, que teme o que lhe ocorrerá caso a insatisfação da mulher venha à luz do povo ? e dessa maneira ele pensa deixar as coisas como estão, temendo que o povo se volte contra ele.

A objetificação do indivíduo volta a se apresentar em Josefina, a Cantora / O povo dos camundongos. Texto de alta carga simbólica, o conto possui uma precisão vocabular, retratando um realismo inquietante. Concebido durante a curta permanência de Kafka em Berlim, onde viveu na companhia da então noiva Dora Diamant, entre 1923 e 1924, o conto se abre a inúmeras possibilidades de sentido, mas não negligencia o fato de espelhar ?as angústias do escritor nos tempos sombrios da ascensão do nazismo?, de acordo com as palavras do próprio tradutor. Josefina, a Cantora pode se configurar como uma alegoria de pessoas medíocres (como certos artistas frustrados e ressentidos da história), dispostos a assumir espaços vazios de poder e se transformar em líderes políticos da coletividade através dos mecanismos de alienação inerentes à modernidade. No entanto, é notável notar que Kafka atualmente seja visto com bons olhos pelas dicotomias políticas, desde os mais progressistas aos mais conservadores (rendendo interpretações elitistas de que Josefina, por exemplo, incorpora artistas ?sem talento?, ?exaltados pelo público débil e alienado?).

Em Kafka, a mentira tem o efeito de verdade. O conto retome temas anteriores: o ?povo? dos camundongos pode remeter ao povo judeu, pois várias características desse ?povo? ressaltadas pelo narrador evocam esses aspectos ? como a ?esperteza prática?. A condescendência em relação ao artista (Josefina), dado por ?martírio?, no esforço que fazem para preservar a ilusão de que a personagem é uma cantora singular. A crença e a arrogância de Josefina controlam todo um povo.

A construção é uma das novelas mais fortes de Kafka, criando uma cadeia de imagens e alegorias em movimento que dinamizam a análise e representações do mundo kafkiano. O escritor retoma o drama de Josef K., explorando verticalmente o desespero, em técnica semelhante à utilizada em ?O processo? (1925). O animal que constrói sua toca com o objetivo de protegê-lo de qualquer perigo está constantemente em busca da plena segurança, sofrendo da insegurança e da paranoia pela sobrevivência que o acomete, deixando-o paralisado e impedido de viver. A vida desse ser se reduz a se autopreservar, a fugir de inimigos virtuais que o ameaçam por todos os lados.

Podemos ver um contraste temático com os primeiros textos de Kafka, onde, como em ?O veredicto? (1913), que inaugura a sequência de obras-primas kafkianas, se passam em ambientes familiares, cotidianos; já em A construção, esse ambiente está deslocado. Os espaços adquirem estranhamento na medida em que essa narrativa monótona, mas repleta de suspense, se imbui de uma temporalidade esvaziada, de um espaço claustrofóbico que aprisiona a personagem. Pode-se ler a construção do animal como a construção inconsciente do ?eu?. O escritor descreve uma interioridade humana desprovida de qualidades, uma subjetividade autárquica que se fecha em relação ao outro ? e que, portanto, acaba estranhando o próprio ?eu?, vendo somente um labirinto de espelhos, infindável em direção à morte inexorável. É um dos textos kafkianos mais disruptivos e poderosos estética e dramaticamente, tornando-se uma experiência imagética sublime.
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