Marlo R. R. López 27/06/2013Como homenagem póstuma, é um bom livro. A história é instigante e, de certa forma, Preston joga muito bem com o suspense e a ação do enredo. Há detalhes que lembram Michael e isso gera no leitor uma serena sensação de saudosismo.
Mas quem é acostumado com Crichton não vai encontrar em 'Micro' o mesmo autor de 'Jurassic Park' e 'Linha do Tempo', até porque o romance foi escrito por outra pessoa e é natural que diferenças estruturais existam. Mas acabei sentindo muita falta da técnica característica de Crichton, do seu estilo próprio, coisa que Preston tentou imitar muitas vezes sem sucesso. Em alguns momentos a história soou boba e exagerada, coisa que provavelmente não aconteceria com Crichton no comando.
Preston escorrega justamente onde o homenageado nunca escorregava, que é na questão da verossimilhança. Você lê 'Jurassic Park' acreditando que dinossauros podem ser clonados; lê 'Linha do Tempo' jurando que é possível ir para o passado; lê 'Esfera' acreditando plenamente que uma nave espacial pode ser descoberta no oceano e ter poderes mágicos. Com 'Micro' isso não aconteceu. As explicações não convencem, os personagens não convencem, os eventos não convencem. Tudo é narrado de maneira muito rápida, como se o foco não fosse, também, a ideia por trás do romance, mas apenas a ação.
Se formos comparar com 'Latitudes Piratas', o 'Micro' publicado por Preston é o tipo do livro que Crichton escreveria no início de carreira e que, no final das contas, pensaria em não publicar.
Michael vinha escrevendo nos últimos anos romances bastante maduros, e eu esperei que 'Micro' atingisse os mesmos graus de maturidade e complexidade que 'Next' e 'Estado de Medo', para citar os mais recentes. Mas não foi o que ocorreu, e isso acabou despertando uma estranha sensação de decepção. Preston poderia ter se dedicado mais a construir uma obra menos superficial, menos voltada para a ação frenética e mais preocupada com a ideia dos microrrobôs e de todo aquele micro-mundo.
Crichton tinha uma grande virtude: sabia dosar com maestria conteúdo intelectual, suspense e ação. Infelizmente, Preston ficou apenas nestes dois últimos. Mas, sendo justo, nenhum esforço é em vão.
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