DIRCE 26/01/2012
Você já leu Mia Couto?
Talvez seja um pouco precipitado colocar entre os autores preferidos, um autor de quem se leu apenas um livro, porém,"Um Rio Chamado Tempo Uma Casa Chamada Terra" me encantou sobremaneira,não me deixando outra opção.
Confesso que tudo o que eu sabia sobre Moçambique era que se tratava de um país da África Negra, e , apesar do encantamento ter tomado conta de mim logo no primeiro capítulo, dei uma pausa na leitura e fiz uma busca no Google. Fiquei sabendo que Moçambique, dentre outros, fazia parte colônia e província ultramarina de Portugal, e teve a sua independência em 25 de junho de 1975, mas , pelo que entendi, saíram da frigideira para acabarem no fogo, haja vista que amargaram um guerra cível de 16 anos (1976 e 1992).
Um pouco mais preparada,retomei a leitura. Por meio dos 22 capítulos, me deixei embalar pela escrita poética de Mia Couto, e, quando me dei conta, estava na fictícia Luar do Sertão : Terra de Marianinho, o jovem que, ao retornar à sua terra natal, vai sendo " manipulado", de forma que lhe fosse possível desvendar os segredos familiares, permitindo que as almas atormentadas do clã do velho Mariano, alcançassem a redenção.
"Um Rio Chamado Tempo Uma Casa Chamada Terra" é um livro apaixonante se lido com os olhos da alma. É um livro carregado de palavras que me pareceram neologismos, digo "me pareceram" porque podem ser palavras usadas habitualmente em Portugal, porém, por desconhecê-las e estranhá-las, me soaram como tal , e... , elas, me fizeram lembrar a escrita roseana ( Seria Mia Couto discípulo de G. Rosas. Sim eu sei: sei que os leitores letrados que, por ventura, lerem esse meu comentário acharão que estou delirando). Não é um livro difícil de ler como os de G. Rosas , muito pelo contrário, é um livro gostoso de ler e fácil de entender( ainda que surreal), e muitas frases nele contidas provocam risos.
Um outro ponto comum que achei entre G. Rosas e Mia Couto é o sentido que eles dão a terra: para ambos ela vai muito além local onde se nasceu - ela representa o povo, seus folclores, suas crenças, suas lendas , e, já que estou sendo acometida por um delírio, ouso dizer que, para ambos, ela representa a vida .
Nâo quero me alongar mais, porém, tenho que dizer que em cada capítulo tem uma citação - quase sempre uma fala da personagem tratada no capítulo - que dá um sabor especial à leitura.
Já devo ter tido que tenho muito receio em indicar livros, mas esse livro de Mia Couto me obrigou a perguntar: Você já leu Mia Couto? Não? Então leia " Um Rio Chamado Tempo Uma Casa Chamada Terra"- um livro com direito a 5 estrelas, que irá figurar entre os meus favoritos, e que, por um bom tempo , eu o carregarei na minha bolsa para que ele possa abreviar possíveis esperas( chato esperar, não?)
Em tempo: Penso que de todos os capítulos aquele que mais gostei foi o dedicado a Miserinha, principalmente das suas falas, umas engraçadas como a resposta que ela dá a Marianinho :
- Miserinha?
- Sou quase eu, Miserinha Botão ( pág. 135)
Já outras... ( tire sua conclusão)
Solteira, chorei.
Casada, já nem prato. tive
Viúva a lágrima teve saudades de mim.(pág. 133)