O último voo do flamingo

O último voo do flamingo Mia Couto




Resenhas - O Último Voo do Flamingo


100 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7


Robson68 23/03/2024

.
Penso que, talvez, esse livro ainda esteja num patamar que, literariamente, ainda não cheguei. Não tenho problema algum com o realismo mágico, contanto que seja palpável de compreensão. Talvez o meu distanciamento da cultura moçambicana faça com que eu me distancie também da forma que Mia Couto trabalha esse realismo, casando diretamente com a cultura local. Segundo livro do clube que montei, confesso que foi um pouco decepcionante e, para além disso, por ser o primeiro livro de Mia Couto, já fico sem saber se irei sentir ânimo em ler outros dele. Porem, há pontos que entendo que devem ser exaltados: a grande defesa da nação, o expurgo que se faz aos ?brancos? que se dizem salvadores e o respeito a cultura local.
comentários(0)comente



ana liz 12/03/2024

Há coisas que fazem o homem, outras fazem o humano.
? O mundo não é o que existe, mas o que acontece.

Jonas ria-se: ele não abusava; os outros é que não detinham poderes nenhuns.

? O que não pode florir no momento certo acaba explodindo depois.

Morreram milhares de moçambicanos, nunca vos vimos cá. Agora, desaparecem cinco estrangeiros e já é o fim do mundo?

? Vantagem de um estranho é que confiamos essa mentira de termos uma só alma.

Deus me deu tarefa de morrer. Nunca cumpri. Agora, porém, já aprendi a obediência. Palavras de Dona Hortênsia.

Conselhos de minha mãe foram apenas silêncios. Suas falas tinham o sotaque de nuvem.

A vida, meu filho, é uma desilusionista.

Em fins de tarde, os flamingos cruzavam o céu. Minha mãe ficava calada, contemplando o voo.

Não vê os rios que nunca enchem o mar? A vida de cada um também é assim: está sempre toda por viver.

Como não tinha quem lhe tivesse amado ela deixara os objetos se apaixonarem por ela. Esses pertences se suicidariam sem a sua companhia.

Tínhamos orientações superiores: não podíamos mostrar a Nação a mendigar, o País com as costelas todas de fora. Na véspera de cada visita, nós todos, administradores, recebíamos a urgência: era preciso esconder os habitantes, varrer toda aquela pobreza.

Uma puta nunca é ?ex?. Há ex-enfermeira, há ex-ministro... só não existe ex-prostituta. A putice é condenação eterna, uma mancha que não se lava nunca mais.

E disse que, afinal, o padre Muhando tinha razão: o inferno já não aguenta tantos demónios. Estamos a receber os excedentes aqui na Terra.

Não será que deveríamos cuidar melhor da vida das massas? Porque a verdade é que o caracol nunca deita fora a sua concha. O povo é a concha que nos abriga. Mas pode, repentemente, tornar-se no fogo que nos vai queimar. Até me dá arrepio pensar nisso, eu que já senti as mãos queimarem-se. Esta luta, Excelência, é da vida e da morte e vice-versamente.

O cão lambe as feridas? Ou é já a morte, por via da chaga, que beija o cachorro na boca?

Ninguém era prisioneiro senão de seu próprio destino.

Culpa do vigente regime de existirmos. Aqueles que nos comandavam, em Tizangara, engordavam a espelhos vistos, roubavam terras aos camponeses, se embebedavam sem respeito. A inveja era seu maior mandamento. Mas a terra é um ser: carece de família, desse tear de entrexistências a que chamamos ternura. Os novos-ricos se passeavam em território de rapina, não tinham pátria. Sem amor pelos vivos, sem respeito pelos mortos. Eu sentia saudade dos outros que eles já tinham sido.

Porque, afinal, eram ricos sem riqueza nenhuma. Se iludiam tendo uns carros, uns brilhos de gasto fácil. Falavam mal dos estrangeiros, durante o dia. De noite, se ajoelhavam a seus pés, trocando favores por migalhas. Queriam mandar, sem governar. Queriam enriquecer, sem trabalhar.

? A guerra nunca partiu, filho. As guerras são como as estações do ano: ficam suspensas, a amadurecer no ódio da gente miúda.

O que faz a lágrima? A lágrima nos universa, nela regressamos ao primeiro início. Aquela gotinha é, em nós, o umbigo do mundo. A lágrima plagia o oceano. Pensava ela por outras, quase nenhumas, palavras. E suspirou:?Haja Deus!

? As ruínas de uma nação começam no lar do pequeno cidadão.

Por que o nosso país carecia de inspetores de fora? O que tanto nos desacreditara aos olhos do Mundo?

Se de alguma coisa temos que tratar bem é do esqueleto, nossa tímida e oculta eternidade.

Viver é fácil: até os mortos conseguem. Mas a vida é um peso que precisa ser carregado por todos os viventes. A vida, caro senhor, a vida é um beijo doce em boca amarga. Se acautele com eles, meu amigo. Uns não vivem por temer morrer; eu não morro por temer viver. Entende, o senhor? O tempo aqui é de sobrevivências. Não é lá como na sua terra.

Somos madeira que apanhou chuva. Agora não acendemos nem damos sombra. Temos que secar à luz de um sol que ainda não há. Esse sol só pode nascer dentro de nós. Está-me seguindo, completo?

? Há coisas que fazem o homem, outras fazem o humano.

o tempo é o eterno construtor de antigamentes.

Logo ele, amargo, culpando o mundo:?E a terra, a nossa terra, alguém já perguntou se ela se está sentindo bem?

Eu estava como o prisioneiro que encontra no carcereiro o único ser com quem trocar as humanidades. E pergunto: por que nos ensinaram essa merda de sermos humanos? Seria melhor sermos bichos, tudo instinto. Podermos violar, morder, matar. Sem culpa, sem juízo, sem perdão. A desgraça é esta: só uns poucos aprenderam a lição da humanidade.

Estes poderosos de Tizangara têm medo de suas próprias pequenidades. Estão cercados, em seu desejo de serem ricos. Porque o povo não lhes perdoa o facto de eles não repartirem riquezas. A moral aqui é assim: enriquece, sim, mas nunca sozinho. São perseguidos pelos pobres de dentro, desrespeitados pelos ricos de fora. Tenho pena deles, coitados, sempre moleques.

Os homens são assim, fingidos de força, porque têm medo. Ela me tocou, leve, e disse:?Você é forte, não precisa provar nada para ninguém.

Ia apoiar Ana Deusqueira, juntar-se às outras mulheres. Elas, em si, compunham uma outra raça.

os nossos antepassados nos olham como filhos estranhos. E quando nos olham já não nos reconhecem.

Do que me lembro jamais eu falo. Só me dá saudade o que nunca recordo. Do que vale ter memória se o que mais vivi é o que nunca se passou?

Faltava gente que amasse a terra. Faltavam homens que pusessem respeito nos outros homens.

os nossos antepassados nos olham como filhos estranhos. E quando nos olham já não nos reconhecem.

Face à neblina, nessa espera, me perguntei se a viagem em que tinha embarcado meu pai não teria sido o último voo do flamingo. Ainda assim, me deixei quieto, sentado. Na espera de um outro tempo. Até que escutei a canção de minha mãe, essa que ela entoava para que os flamingos empurrassem o sol do outro lado do mundo.

????

Na tradição daquele lugar, os flamingos são os eternos anunciadores de esperança.

último voo do flamingo fala de uma perversa fabricação de ausência?a falta de uma terra toda inteira, um imenso rapto de esperança praticado pela ganância dos poderosos. O avanço desses comedores de nações obriga-nos a nós, escritores, a um crescente empenho moral. Contra a indecência dos que enriquecem à custa de tudo e de todos, contra os que têm as mãos manchadas de sangue, contra a mentira, o crime e o medo, contra tudo isso se deve erguer a palavra dos escritores.
comentários(0)comente



Caroline.Brunoni 22/01/2024

Denso e metafórico
O livro é muito inteligente em suas abordagens metafóricas, tanto que se torna denso, uma leitura mais lenta e algumas vezes nos escapa o raciocínio.
O autor, por meio de uma realidade fantasiosa, faz uma analogia à miséria, à exploração dessa miséria como meio de lucro para governantes corruptos, às crenças africanas e sua cultura consubstanciada nas narrativas..
comentários(0)comente



Maju Deolindo 13/01/2024

Flamingo
O último voo do flamingo foi meu terceiro contato com o autor e como sempre Mia couto entregou uma obra única, com um tom irônico, e cheio de críticas necessárias. Apesar disso também é uma obra diferente das outras com um enredo com soldados sendo explodidos e só sobrando o órgão deles, fica a ressalva que é no estilo realismo mágico e pode ser que não funcione com todos.
comentários(0)comente



Jade 10/01/2024

Esperava mais
A premissa do livro eu achei muito legal, mas a execução, bem fiquei sem entender as metáforas da maioria da coisa, acho que é um livro que você precisa ter uma bagagem histórica e cultural grande para conseguir entender por completo a mensagem da obra, senão fica muito sem pé nem cabeça, como foi pra mim.
comentários(0)comente



Polliana Caetano 23/11/2023

Quando a crítica se veste de fantasia
O livro "O último voo do flamingo" se veste de absurdos para fazer as mais profundas críticas sobre a ganância, arrogância e soberba daqueles que se creem acimas de tudo e todos.

 Mia Couto usa o fantástico, o mágico e o absurdo para nos mostrar as cicatrizes deixadas pelo colonialismo que não roubou apenas as riquezas da terra, também roubou a identidade e dignidade de seu povo. Risi representa a arrogância do europeu, que exigir e procura explicações no outro sobre os problemas que eles mesmo criaram. Mia também nos mostra que até mesmo os heróis da liberdade podem se corromper pelo preço certo.  

As personagens femininas são representações da Mãe África. 
- A tia Hortência representa a sabedoria adquiridas com o tempo. 
- Temporina representa a África pura e virgem, que se encanta e floresce na presença do explorador.
- A Mãe representa exatamente isso, a mãe que gera e cuida do filho.
- Ermelinda representa a África que acolhe e consola, ainda que parece cruel e indiferente. 
- Ana Deusqueira é a representação da sensualidade imposta pelo explorando ao corpo das africanas. 

Temos nas figuras de Padre Muhando e Zeca Andorinha a dualidade entre a crença ancestral e a imposta pelos dominadores. Essa segunda, ainda que tenha se moldado para ser palatável, não é aceita por completo. No entanto, é ela que afasta o povo de Tizangara de seus ancestrais e deuses, terminando por torná-los estranhos e contribuindo para sua queda no abismo.

E por fim, mas não mesmo importante, o Pai. Esse que aqui representa mais figura do mentor do que a do progenitor. Cabe a ele guiar o protagonista pela jornada de conhecimento - interna e externa. Ele sabe que a corrupção trazida pelos colonos levar ao fim de Tizangara, ainda que não saiba quando, ele prepara seu filho para essa jornada. 
Rachel.Silva 10/03/2024minha estante
Crítica interessantíssima. Estou lendo o livro e não estou gostando. Sua análise com certeza vai me fazer ler com mais carinho e menos preconceito.




Patty Lima 13/10/2023

Ler Mia Couto requer uma atenção especial. Nessa obra em específico, as personagens, às vezes, nos confundem pois fantasia e realidade se misturam. Porém são pessoas interessantes em uma terra fictícia e cheia de mistérios. De Temporina a Sulplício, de Ermelinda a Ana Deusqueira. Todos são fantásticos e bem elaborados. O enredo é rico em temas sociais e filosóficos, nos levando a debates políticos e reflexões sobre o ser humano. Uma ótima leitura!!
comentários(0)comente



Rayssa414 22/09/2023

Vamos esperar outro voo do flamingo.
Foi bastante interessante descobrir mais sobre a cultura Africana, em Moçambique fala-se também o português.

Saber sobre a colonização e estórias e tudo mais, mas creio que a história em si eu não compreendi.

O final também foi bem confuso para mim, queria ter me aprofundado e entendido mais.
comentários(0)comente



Erica 31/07/2023

Cultural
Um livro cheio de críticas explícitas e disfarçadas, cheio de cultura, mitos e crenças locais, além do mistério a forma como os personagens são construídos apartir do olhar do personagem principal, tudo nele remete a uma africanidade poética de certa forma.
Eu gostei bastante
Recomendo se vc tiver paciência e quiser realmente entender a história, pq tem momentos em que é meio confusa a leitura.
comentários(0)comente



Ogihara 12/07/2023

Alguém da um nobel pro mia couto
Incrível como sua escrita é linda e poética. Nesse romance temos o encontro das histórias da colonização de uma forma onírica, mas extremamente crítica
comentários(0)comente



Laiane 19/06/2023

Escrita poética.
Ao ler a obra percebi o quão delicada é a poesia de Mia couto. Durante a leitura percebemos os neologismos, os personagens, os cenários, e tudo isso nos conquista a cada página.
Ao narrar essa obra, Mia couto, fala da luta do povo, dos poderosos que enriqueceram com o sofrimento alheio e das dificuldades em se conciliar as heranças com um país que foi colonizado. Porém, ele acredita que dias melhores viram, assim como o voo dos flamingos - que representa a esperança.

"Do que me lembro jamais eu falo.
Só me dá saudade o que nunca recordo.
Do que vale ter memória
Se o que mais vivi
É o que nunca se passou?"
p.209
comentários(0)comente



Luiz 07/06/2023

Pintura
O livro é realmente espetacular. A escrita é como se fosse um quadro. Achei impressionante as imagens que minha cabeça criou sobe a história. Uma obra de arte, simplesmente!
comentários(0)comente



Priscilla139 04/04/2023

Leitura obrigatória
Ler Mia Couto é sempre como um carinho no coração. O autor consegue ser tão pontual na sua escrita, tão profundo e faz isso com tanta delicadeza que após ler uma obra dele, automaticamente você se sente atraído a conhecer mais do universo dele. Recomendo o voo do flamingo para todos, com certeza você terá uma boa surpresa nessa obra.
comentários(0)comente



Lucasz 23/02/2023

Esse livro me fez refletir sobre o número de páginas. Todo livro tem determinado número de páginas, mas livros como esse vão além. Tem certas páginas escritas e tem também as páginas que suscita no leitor - essas não entram na contagem "oficial". É impossível ler um livro desse sem a capacidade de refletir sobre as palavras. Não digo que é impossível entender, é impossível LER. Dito isso, muito bom. Sinto que tem mais coisa que posso tirar desse livro, talvez eu volte a lê-lo. No caso, talvez eu volte a ler as páginas escritas. As outras continuam e continuaram surgindo por aqui.
comentários(0)comente



Brunatf 11/12/2022

?As ruínas de uma nação começam no lar do pequeno cidadão?
Comecei a ler sem esperar muita coisa, mas esse livro me surpreendeu positivamente. É um livro razoavelmente curto, mas que tem tudo o que precisa para uma boa história. O pano de fundo é o período pós independência do Moçambique, o que já é interessante por si só, já que é uma parte da geopolítica mundial a qual temos tão pouco acesso. Os personagens são cativantes, o enredo é bem construído e tem metáforas maravilhosas praticamente o livro todo, o que pode tornar o livro um pouco confuso em alguns momentos.
Esse livro é sobre pátria, cultura, e que nos faz refletir muito sobre a história do Brasil também.

//

?Não vê os rios que nunca enchem o mar? A vida de cada um também é assim: está sempre toda por viver?

?Os nossos antepassados nos olham como filhos estranhos. E quando nos olham já não nos reconhecem.?
comentários(0)comente



100 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR