O último voo do flamingo

O último voo do flamingo Mia Couto




Resenhas - O Último Voo do Flamingo


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Adonai 21/05/2020

Esperando o flamingo retornar
Esse por enquanto é um dos melhores livros que li em 2020. Mesmo não gostando muito de realismos fantásticos, o escritor soube dosar tão bem e fazer uma obra super crítica, certeira, cômica na medida e com leveza.

Soldados da ONU começam a explodir em uma cidade de Moçambique e o que resta é apenas o órgão sexual. Os moradores da região possuem suas crenças dos fatos observados, porém um italiano é convocado para descobrir uma "verdade".

É um livro muito surpreendente, com várias mulheres fortes, sábias e empoderadas, são inclusive um dos pontos altos do livro. Uma personagem específica, a prostituta Ana, tornou-se minha favorita assim que apareceu e sempre rouba as páginas quando ressurge.

Mia Couto soube colocar História e resquícios de uma guerra civil e a falta de cuidado de outros países, os quais fecham os olhos e só os abrem novamente quando algo de interesse é visto. É realmente um livro maravilhoso!
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Ana Sá 28/06/2022

A guerra que nunca partiu
Do pouco que conheço de Mia Couto, considero este o texto em que ele mais joga com política e humor, com acidez e leveza. Há muito de sua digital literária aqui, como a questão da memória, os elementos sobrenaturais-espirituais-fantásticos-fantasmagóricos, um recuperar de tradições, certo lirismo… Mas o ponto é que o enredo já dita a peculiaridade deste romance: inexplicavelmente, soldados da ONU enviados a Moçambique numa missão de paz começam a explodir!

A narrativa se desenvolve no vilarejo de Tizangara e é conduzida por um narrador sem nome que é (aleatoriamente) oficializado como tradutor pelo governo local, a fim de acompanhar o italiano Massimo Rizi durante suas investigações sobre esses inusitados acontecimentos. A partir daí, Mia Couto faz rir, faz pensar, emociona, somando personagens com histórias secundárias ou paralelas muito interessantes. A prostituta Ana Deusqueira, o padre Muhando, a velha Temporina, entre outros, vão se entrelaçando aos acontecimentos com fluidez, garantindo uma paisagem humana dinâmica e que dá gosto de observar… O diálogo do investigador italiano com o recepcionista da pousada de Tizangara, por exemplo, satiriza genialmente o embate entre 'europeu' e 'africano'… Me fez gargalhar! Parte das memórias de infância do narrador-tradutor dão um respiro (ou um suspiro) ao leitor… Enquanto isso, o sobrenatural-espiritual-fantástico-fantasmagórico vai ganhando cada vez mais lugar, até termos a certeza de estarmos diante da caneta de Mia Couto. Menos do que tentar distinguir o 'natural' e 'sobrenatural', mais vale se jogar e aceitar que essas fronteiras talvez não tenham tanta importância na geografia literária do autor.

Mas lembra que eu falei de política? O livro, mesmo sendo leve, não foge a uma discussão 'pós-colonial'. Sim, um 'pós' no sentido do tempo e das experiências que se seguem 'após' a conquista da independência, mas acho que aqui vale um pouco mais a ideia dos 'pós' coloniais… No sentido de 'pó'/'poeira', sabe? No plano teórico, a colonização acabou, mas, na prática, Tizangara é uma cidade coberta de pó colonial… Nas relações sociais, nas estruturas, na política, nos espaços, em tudo resta o pó do período de dominação. A faxina parece nunca estar completa, de forma que, afinal, conclui-se que a guerra nunca partiu. Uma guerra literal, mas também simbólica, que coloca as personagens e os espaços numa corda bamba sustentada pelo passado que não foi vivido e pelo futuro que ninguém sabe se virá [vou evitar spoiler, mas um elemento central da narrativa é, na minha visão, justamente uma metáfora bem evidente desse colonial que foi sem nunca ter (s)ido…].

"A guerra o que havia feito de nós? O estranho era eu não ter sido morto em quinze anos de tiroteios e sucumbir agora em meio da paz. Não falecera da doença, morria do remédio?".

Fazendo uma avaliação honesta, acredito que este romance não vá ficar muito marcado em mim. Tive a sensação de que o peso do enredo e de algumas personagens não foi devidamente sustentado até o final da narrativa. O voo do flamingo perde altura em um ou outro momento… Mesmo assim, gostei bastante da leitura, dessa equação de política e humor que eu ainda não tinha visto pelas terras de Mia Couto. Não virou livro favorito, mas foi uma experiência prazerosa e enriquecedora.

Obs.: o título do livro é explicado mais de uma vez ao longo do romance, por isso não falei nada a respeito… Aliás, achei que o título é justificado até demais! rs
Paloma 28/06/2022minha estante
Ótima resenha. Me deixou interessada. Dele só li o Terra Sonâmbula e gostei bastante ?


Alê | @alexandrejjr 01/07/2022minha estante
Que resenha gostosa de ler, Ana! Esse tá na minha lista também.


Ana Sá 02/07/2022minha estante
Obrigada Paloma e Alê! Se lerem, vou tentar acompanhar as impressões de vocês! ??




Jeison 14/07/2011

O Último Voo Do Flamingo
Várias coisas pra estudar, dois relatórios pra fazer e eu estou aqui escrevendo resenhas. Não sei, me deu um vontade louca de escrever sobre alguns livros e cá estou, em plena madruga, escrevendo!
O último voo do flamingo. A grande descoberta do ano em termos literários pra mim! Fiquei empolgadissimo com a leitura, uma prosa deliciosa e poética, um português brincalhão. Fiquei em dúvida se esse português era o português como é falado em moçambique ou se era uma questão de estilo do autor, acho que talvez seja um pouco dos dois. A verdade é que foi essa diferença de linguagem que mais me chamou a atenção. Depois desse livro, o português, o nosso português, o que é ensinado na escola, me pareceu tão arcaico, tão limitado, preso. A linguagem desse livro é um sopro de vida, é nova, é fresca, por vzes inventada, mas totalmente verdadeira.
A história é relativamente simples, despretensiosa e justamente nisso está a grande força do livro. Não faz crítica ferrenhas, mas também não as omite. Não repudia, mas também não morre de amores.
Os soldados da ONU estão explodindo em Tizangara, sul de Moçambique, cabe a você decidir se quer saber o porque ou não!
Ailma 23/07/2012minha estante
Concordo totalmente com você. O português do livro é fantástico e só dar mais graça ao universo das tradições africanas.
Me apaixonei pelo Mia. Esse livro foi o melhor do ano pra mim também




Fabio Shiva 08/03/2020

mais que excelente
“O último voo do flamingo fala de uma perversa fabricação de ausência – a falta de uma terra toda inteira, um imenso rapto de esperança praticado pela ganância dos poderosos. O avanço desses comedores de nações obriga-nos a nós, escritores, a um crescente empenho moral. Contra a indecência dos que enriquecem à custa de tudo e de todos, contra os que têm as mãos manchadas de sangue, contra a mentira, o crime e o medo, contra tudo isso se deve erguer a palavra dos escritores.”
(Palavras de Mia Couto ao receber o Prêmio Mário Antonio, da Fundação Calouste Gulbenkian, em 12 de junho de 2001)

Cada encontro com Mia Couto é uma nova surpresa. Da primeira vez que ouvir falar em seu nome, julguei que se tratasse de uma mulher, mas logo descobri que era um gajo. Então, ao sabê-lo moçambicano, imaginei-o negro e (não sei bem porque) muito alto e magro. Ao ver uma foto sua, contudo, descobri que ele está mais para o Professor Sergio de “A Casa de Papel”. E por fim, depois de ter lido várias citações de seus textos, peguei um livro seu para ler, com a expectativa de encontrar excelente Literatura. E descobri muito mais!

“O Último Voo do Flamingo” superou todas as minhas expectativas. Uma prosa feita de provérbios entrelaçados como as contas de um rosário, uma narrativa que é capaz de nos enternecer e fazer sorrir mesmo ao denunciar horríveis desumanidades, um uso tão peculiar da língua portuguesa que nos faz crer que o autor habita em seu próprio país, onde se fala um idioma que ansiamos aprender.

Trailer do filme “O Último Voo do Flamingo”:
https://youtu.be/mRQFKSf36PA

E isso tudo é só o começo. Qualquer leitor dessa obra magnífica encontrará os encantos que resumi acima. Eu, contudo, tive a ventura de vivenciar uma experiência mística na leitura, tamanho foi o impacto que senti ao longo dessas páginas. Foi uma experiência que falou diretamente ao escritor em mim, mais que ao leitor, em uma jornada que se iniciou, talvez, com a extasiada leitura de “Cem Anos de Solidão” de García Márquez, que pela primeira vez descortinou as possibilidades do realismo mágico. E que prosseguiu com o feliz encontro com a Literatura Fantástica de Julio Cortázar, culminando finalmente com esse arrebatamento que foi ler Mia Couto. Existem livros para todos os gostos, é certo. Mas hoje estou convencido de que os livros que querem sair de mim desejam falar de um mundo que só se faz possível através da Literatura e ter, sempre, a missão de ajudar a mim mesmo (e a toda a humanidade, por extensão) a me tornar maior e melhor. Gratidão!

https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2020/03/o-ultimo-voo-do-flamingo-mia-couto.html


site: https://www.facebook.com/sincronicidio
Fabiana 23/08/2020minha estante
Oi! Lendo seu comentário...lembrei de um vídeo bem legal que Mia fala sobre essa impressão: ser negro e ser mulher! Vale procurar, bem interessante... YouTube eu acho. Fronteiras do Pensamento talvez. Abraços e boas leituras!




Krishna.Nunes 20/03/2021

O tempo aqui é de sobrevivências
Em 1964, a Frente de Libertação de Moçambique entrou em guerra contra as forças armadas de Portugal pela independência do país. Depois de anos de batalhas, Moçambique conseguiu sua libertação, em 1975. Nesse ponto, a nação estava devastada e economicamente arrasada. Com a conquista da independência, a Frente tentou implantar melhorias na saúde, educação, agricultura e outras áreas, mas os planos não surtiram efeito. A crise acabou por deflagrar uma guerra civil que durou mais 16 anos e matou 16 milhões de pessoas. É um ano depois desse conflito que se passa o romance.

No vilarejo fictício de Tizangara, os soldados pacificadores da ONU começam a explodir espontaneamente e sem explicação, e tudo o que resta de seus corpos pulverizados é o pênis. Nesse ponto, Moçambique era uma nação prestes a explodir a qualquer momento. O longo período de conflitos deixou para trás tanto minas terrestres quanto minas metafóricas, que representavam os conflito sociopolíticos e todas as dificuldades da população. Numa nação em busca de descobrir sua própria identidade, a explosão dos estrangeiros seria uma espécie de vingança daquela terra.

Ninguém poderia definir melhor do que o próprio autor:

"O último voo do flamingo fala de uma perversa fabricação de ausência - a falta de uma terra toda inteira, um imenso rapto de esperança praticado pela ganância dos poderosos. O avanço desses comedores de nações obriga-nos a nós, escritores, a um crescente empenho moral. Contra a indecência dos que enriquecem à custa de tudo e de todos, contra os que têm as mãos manchadas de sangue, contra a mentira, o crime e o medo, contra tudo isso se deve erguer a palavra dos escritores. [...] É uma resposta pouca perante os fazedores de guerra e construtores de miséria. Mas é aquela que sei e posso, aquela em que apostei a minha vida e o meu tempo de viver."

A língua portuguesa é usada de maneira peculiar, cheia de palavras inventadas, e algumas que existem mas são tomadas de empréstimo, ganhando outros significados. Isso simula, segundo Mia Couto, a maneira como os próprios moçambicanos encaram o português, que para a maioria da população é a segunda língua.

Esta obra mescla fantasia e realidade num cenário em que mulheres representam a história do país através do sobrenatural, dos mitos e das tradições locais. É um brado contra o colonialismo, a guerra, a corrupção e o abuso de poder, mas ao mesmo tempo uma ode à crença, à espiritualidade, e especialmente à solidão. Tem sabedoria distribuída a conta-gotas através dos aforismos e provérbios inventados que abrem cada capítulo e um final bonito e comovente.

Um livro sobre a manutenção de uma ordem disfarçada de paz. Ordem que permite aos europeus continuarem sendo os patrões e prova que antigos colonizados podem ser governados.
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Brisa 30/09/2009

"o que não pode florir no momento certo acaba explodindo depois"
"há lugares em que a curiosidade não é muito aconselhável. anteceder-se ao tempo só pode trazer azares."
"naquele tempo não havia antigamentes."

mia couto, sem dúvida, consegue dizer o indizível. a história é coadjuvante ao lado da narrativa. acho que ele, contando qualquer coisa, te faz parar pra pensar na sua vida.

a vila de tizangara é qualquer lugar e qualquer tempo.

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Michele 06/12/2021

Mia Couto em seu melhor estilo
Mais uma vez Mia Couto usando com maestria o seu poder de tocar a alma do leitor com suas palavras. É tudo tão intenso e sutil ao mesmo tempo que não nos resta muito a não ser reconhecer a sua grandiosidade.
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Brunatf 11/12/2022

?As ruínas de uma nação começam no lar do pequeno cidadão?
Comecei a ler sem esperar muita coisa, mas esse livro me surpreendeu positivamente. É um livro razoavelmente curto, mas que tem tudo o que precisa para uma boa história. O pano de fundo é o período pós independência do Moçambique, o que já é interessante por si só, já que é uma parte da geopolítica mundial a qual temos tão pouco acesso. Os personagens são cativantes, o enredo é bem construído e tem metáforas maravilhosas praticamente o livro todo, o que pode tornar o livro um pouco confuso em alguns momentos.
Esse livro é sobre pátria, cultura, e que nos faz refletir muito sobre a história do Brasil também.

//

?Não vê os rios que nunca enchem o mar? A vida de cada um também é assim: está sempre toda por viver?

?Os nossos antepassados nos olham como filhos estranhos. E quando nos olham já não nos reconhecem.?
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Marta 11/05/2022

"As ruínas de uma nação começam no lar do pequeno cidadão."
Nas palavras de Mia Couto o último voo do flamingo fala de uma perversa fabricação de ausência, a falta de uma terra inteira, um imenso rapto de esperança praticado pela ganância dos poderosos. O avanço desses comedores de nações. Trás uma história contra os que têm as mãos manchadas de sangue, contra a mentira, o crime e o medo, contra tudo isso.  O livro se passa numa interiorana vila de Moçambique denominada de Tizangara, estranhos eventos passam a ocorrer. Vários soldados das forças de paz da ONU (os ?capacetes azuis") começam a explodir misteriosamente. O único resto mortal de cada um desses indivíduos vem a ser o pênis. Após o sucessivo aumento no número de explosões de soldados, o suficiente para que fosse chamada atenção internacional para a modesta vila, uma investigação chefiada pelo italiano Massimo Risi tem início. Entremeado pelo constante conflito entre razão e tradição aliado ao enredo, o autor tece uma ácida crítica contra a corrupção dos chefes do poder político do país no pós Guerra Civil. O final do livro me deixou meio com cara de boba, também não é um livro de leitura rápida, porque é carregado de coisas para pensar, por isso deve ser lido sem pressa, na calma que essa leitura exige. Com certeza recomendo a leitura, eu gostei bastante.
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Priscilla139 04/04/2023

Leitura obrigatória
Ler Mia Couto é sempre como um carinho no coração. O autor consegue ser tão pontual na sua escrita, tão profundo e faz isso com tanta delicadeza que após ler uma obra dele, automaticamente você se sente atraído a conhecer mais do universo dele. Recomendo o voo do flamingo para todos, com certeza você terá uma boa surpresa nessa obra.
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Sira Borges 28/11/2021

O último voo do flamingo
Soldado que explode, homem sem osso, terra que some... E uma história cheia de metáforas, uma linguagem deliciosa... Conheci um pouco de Moçambique, pelo olho de Mia Couto! Amei!
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Biblioteca Álvaro Guerra 09/03/2022

Este artigo apresenta uma análise do romance O último voo do flamingo (2005), do escritor moçambicano Mia Couto. Seu objetivo consiste em reconhecer e apontar, a partir da literatura, algumas especificidades da realidade sociocultural moçambicana no contexto da pós-colonialidade.


Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. Basta reservar! De graça!






site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788535906028
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GiuLaganá 12/10/2022

Emocionante
Do que me lembro jamais eu falo
Só me dá saudade o que nunca recordo
Do que vale ter memória
se o que mais vivi
é o que nunca se passou?

Queria ler Terra Sonâmbula, mas encontrei o Último Voo do Flamingo entre nossos livros, sem que o tivéssemos comprado. Um achado presente ?.
Um livro cheio de emoções e lições de vida, que te faz repensar (ou pensar) a relação com a natureza e com seu povo, sua terra.
África. O continente desconhecido pela maioria do mundo e que pode ser um mundo de delicadezas.
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Lauren / Biblioteca de Lilith 16/04/2022

"O mundo não é o que existe, mas o que acontece"
"Na viagem de regresso não seria já eu que voltava. Seria um quem não sei, sem minha infância. Culpa de nada. Só isto: sou árvore nascida na margem. Mais lá, no adiante, sou canoa, a fugir pela corrente; mais próximo sou madeira incapaz de escapar do fogo."

"Não vê os rios que nunca enchem o mar? A vida de cada um também é assim: está sempre toda por viver"

" Se temos voz é para vazar sentimento. Contudo, sentimento demasiado nos rouba a voz"

"O que faz a lágrima? A lágrima nos universa, nela regressamos ao primeiro início. Aquela gotinha é, em nós, o umbigo do mundo. A lágrima plagia o oceano."

/////

"O último vôo do flamingo fala de uma perversa fabricação da ausência - a falta de uma terra toda inteira, um imenso rapto de esperança praticado pela ganância dos poderosos. O avanço desses comedores de nações obriga-nos a nós, escritores, a um crescente empenho moral. Contra a indecência dos que enriqueceram à custa de tudo e de todos, contra os que têm as mãos manchadas de sangue, contra a mentira , o crime e o medo, contra tudo isso se deve erguer a palavra dos escritores" por Mia Couto

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"A terra guarda a raiz da gente. Mas a mulher é a raiz da terra."

"Antigamente queríamos ser civilizados. Agora queremos ser modernos.
Continuávamos, aí fim e ao cabo, prisioneiros da vontade de não sermos nós."
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DIRCE 01/03/2016

Valioso, mágico e simbólico
Brincando com as palavras, ora me levando ao riso com seu humor ácido, ora me deixando intrigada e ora curiosa, Mia Couto , mais uma vez, me proporcionou uma leitura de indiscutível valor literário e muito simbólica.
O livro se abre com uma espécie de prefácio, um tanto quanto solene, que me levou a pensar: se havia algo de podre no reino da Dinamarca, o mesmo se pode dizer em relação a Tizangara (MOÇAMBIQUE ). De fato: sim, havia algo de muito podre em “Ti-zangara” e tudo começa com as explosões dos boinas azuis – os fazedores de concórdias: força de paz da ONU. Mas teria mesmo explodido os fazedores de concórdia? Quem seriam os responsáveis? É a interrogação que nos acompanha durante toda a leitura e que cria certo suspense. Mas esse não é o objetivo do Mia Couto: fazer uma obra de suspense. Sua intenção era denunciar a corrupção que assolava o país e essa denúncia se inicia de modo, no mínimo, curioso. Chegaram a conclusão que os capacetes azuis tinham explodido porque foram encontrados capacetes azuis e órgãos genitais que não seriam de nenhum homem de Tizangara. Significativo. Seria os órgãos genitais uma metáfora do modo que o país foi violentado? Bem provável.
Mia Couto impregna as páginas com o realismo mágico o que torna a obra mágica, principalmente quando o narrador evoca a estória que sua mãe contava sobre o flamingo e o seu vôo que deu origem ao primeiro poente. E é o flamingo quem deixa entrever a esperança na desesperança de um povo que foi castigado pelo deus diante das corrupções, das guerras, da manutenção da miséria em prol do proveito próprio e que por isso pagou um alto preço.
Terminei “O último vôo do flamingo” , melancólica, pois não pude deixar de pensar no nosso Brasil. Pensei de como ele foi transformado em um jeito tão Tizangara de ser. Ouviremos uma “ canção” que nos permitirá acreditar que sairemos do abismo que nos colocaram? Qual o preço que teremos que pagar?
Eu quero atribuir a essa obra 27 estrelas, tal qual o número de estrelas existentes na nossa Bandeira, desejosa que elas se tornem "a nossa canção" de dias melhores.
Nanci 02/03/2016minha estante
Que bonita resenha, Dirce.
Até agora, esse é meu romance favorito do Mia Couto. Mas estou ansiosa pela continuação de Mulheres de cinzas.




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