Charles Lindberg 25/04/2021
Um clássico que não deixa de surpreender
"Eu honrarei o Natal no meu coração, e tentarei guardá-lo o ano inteiro."
ig: @teachernoctowl
A história é tão famosa quanto o pai do Luke: Scrooge é um velho rabugento, rico e sovina, amargurado, que não gosta de ninguém e acha Natal uma bobagem. Após um encontro sinistro com seu falecido parceiro de negócios, ele é visitado por três espíritos que o levam, através do espaço-tempo, numa jornada emocional que aquecerá seu coração gelado e o fará transbordar pelos olhos.
Há muito tempo eu queria ler este livro. Como a história já me era familiar, imaginei que a única coisa que poderia decepcionar seria a linguagem ou narrativa do autor. Não decepcionam. Pelo menos neste volume, Dickens sabe exatamente que público tem em mente, e se comunica de forma lúdica e interessante, por vezes anedótica, como Victor Hugo, mas bem mais objetivo.
Apesar de um clássico infantil, no entanto, a narrativa fica surpreendentemente sombria, por vezes, como um conto de fadas alemão. Em diversos momentos me peguei impressionado pelas imagens evocadas nas páginas. Especialmente na "Pauta Quatro", mds é de gelar a alma. O medo, o assombro, o arrependimento, a hesitação de Scrooge, são muito fáceis de se identificar; a despeito de sabermos o tempo todo, junto com ele, o que está prestes a ver — e não quer.
Embora a mensagem seja exageradamente reducionista (ao ponto de se poder falar de algo como "a mensagem do livro"), o arco de redenção de Scrooge é verdadeiramente intenso. Dá pra sentir com ele cada passo do caminho.
Um trabalho sensível e belíssimo que, apesar de imperfeito, é merecidamente amado mesmo assim. E não é sobre isso que é o Natal?
Eu gosto de pensar que o Natal é esta época mágica, que tantos povos e culturas diferentes decidiram que devia ser comemorada, por quaisquer que fossem as razões. Ao ponto que a razão primeira hoje pouco importa, mas o mundo inteiro se conecta num sentimento só. Talvez a última lembrança de que ainda somos humanos.
A Christmas Carol é uma exploração e celebração de tudo isso.
Nota: 4/5 fantasmas