Venenos de Deus, remédios do Diabo

Venenos de Deus, remédios do Diabo Mia Couto




Resenhas - Venenos de Deus, Remédios do Diabo


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Arsenio Meira 19/03/2014

IDENTIDADE E POESIA
O romance conta uma história no pós 75 de Moçambique. Adeus, Salazar:agora é que são elas... A Vila Cacimba vive um tempo em que os soldados adoecem de meningite e perambulam como cadáveres ambulantes. É um tempo posterior à presença da Companhia Colonial de Navegação.As relações de força do antes e do depois da independência se misturam, revelando os resquícios da ideologia colonial ainda presente nas relações cotidianas. O que ilustra muito bem esta permanência pode ser lido no enfrentamento entre o mecânico e o administrador. A inimizade tem raízes desde o dia em que o navio português encalhou na proximidade da Vila, ficando sem mecânico devido à doença que arrasa a tripulação. Um velho mecânico conduz seu neto a exercer o ofício, de modo que o jovem se torna mecânico da embarcação, e segue viagem a outros lugares.

"Venenos de Deus, remédios do Diabo," assenta definitivamente a grandeza de Mia Couto, porquanto dá continuidade a um tema que o grande autor contemporâneo, explora desde "Terra Sonâmbula" : a faceta híbrida e conflituosa da identidade moçambicana e, por extensão, africana. Fazendo jus ao paradoxo expresso no título, o livro realiza a fusão de memória individual e história, de mito e fato na sondagem dos vestígios da colonização portuguesa sobre o ser e a história moçambicanos. O enredo gira em torno da viagem do português Sidónio Rosa a Moçambique em busca de seu amor, a mulata Deolinda. Como a moça desaparece misteriosamente, resta a Sidónio cuidar de uma estranha epidemia que infesta Vila Cacimba e dos pais de Deolinda, Munda e Bartolomeu Sozinho.A partir deste escasso entrecho, o autor desdobra uma narrativa repleta de reflexões inquietantes sobre a condição pós-colonial de Moçambique.Ao realizar essa indagação através da expressão romanesca, Mia Couto evita que sua narrativa restrinja-se a uma peça acusatória sobre os lusos. Ver-se-á que o escritor impõe o olhar desapiedado sobre o fato colonial, mas nem por isso maniqueísta.

Fica claro que o processo colonizador não foi unilateralmente um projeto europeu nem que ele prejudicou por igual a todos os moçambicanos, como prova a personagem Bartolomeu Sozinho, saudoso dos tempos coloniais. Outra personagem, Suacelência (corruptela óbvia do pronome garboso que nos legou o léxico camoniano), prova que o sonho de um Moçambique livre e justo requer mais que o fim do colonialismo. De certa forma, persiste em Mia Couto, um substrato universalista que o faz tomar tanto um personagem português, como Sidónio Rosa, quanto um moçambicano, por exemplo, Munda Sozinho, como seres que partilham de uma mesma condição humana, irremediavelmente solitária e melancólica.

Isso, porém, não nega a Mia Couto uma consciência histórica privilegiada, atenta à relação centro/margem e às sequelas que dela ficou. O contraponto entre poesia e história oferece outras imersões nas atitudes primitivas retratadas no signo-texto deste excepcional "Venenos de Deus, remédios do Diabo". A cena do capítulo 12 (vide p. 110), onde o médico e o mecânico iniciam uma prosa sobre identidade, revela a força do processo colonizador, quando Bartolomeu muda de nome, colonizando-se a si mesmo, por vergonha de seu nome original e não acreditar que um mecânico pudesse se chamar Tsotsi,como fora batizado. Esse mutilação incutida à pele, o desabafo represado dos que se subordinam à força do cutelo, encontram voz, feição e uma compreensão redentora graças à Poesia que Mia Couto espalha generosa e espontaneamente em todos os seus escritos.
19/03/2014minha estante
bela resenha Arsênio, gostei!


Arsenio Meira 19/03/2014minha estante
Nanci,

Ainda vou rastrear esse Flamingo, e o "Fio das Missangas" é inimaginável de tão poético. Li e reli. Parei, senão seria leitor de um autor só, rsrsrs. Obrigado pelo seu olhar atento, e generoso.
Sú, Obrigado pelo carinho. Leia, vale demais!
Obrigado a ambas pela presença. Um beijo
Arsenio


Renata CCS 21/03/2014minha estante
Minha recente estreia com Mia Couto (terminei à pouco A Confissão da Leoa) já havia me convencido que outras obras deste incrível escritor tomarão lugar em minha estante. Sua bela resenha somente veio confirmar isso!


Arsenio Meira 21/03/2014minha estante
Vá sem medo, Renata. É um escritor imenso, digno da sua sensibilidade. Obrigado, e vamos em frente!
Abraços
Arsenio


DIRCE 27/03/2014minha estante
Excelente resenha.
Quando leio Mia Couto, penso tal qual quando leio Drummond: Se todos fossem no mundo iguais a você que maravilha viver. Adoro Mia Couto.


Arsenio Meira 27/03/2014minha estante
Valeu, Dirce. O Mia é um gigante. Desde o dia em que li "Terra Sonâmbula",me dei conta da poesia que ele escreve. É, talvez, o maior prosador poético contemporâneo. Abraços


Pat 27/04/2015minha estante
To super ansiosa pra ler essa coisa linda. Li Terra Sonambula, e foi de arrepiar. Virei fã do Mia Couto na faculdade de Letras e acredito que qualquer leitura vinda dele é no mínimo, boa.




DIRCE 30/08/2014

Nada é o que parece. Tudo é o que parece
As primeiras páginas do romance Venenos de Deus, Remédios do Diabo me sugeriam uma leitura muito divertida, não só pelos diálogos - eu que fico um tanto quanto desmotivada, quando me deparo com uma escrita na qual prevalecem os travessões, me deliciava com os diálogos ali existentes-,como também pela brincadeira feita com os nomes das personagens.Abro aqui um parêntese para dizer que já havia me chamado a atenção como Mia Couto nomeia as personagens dos seus livros- a criação dos nomes retratam o que elas carregam na alma, mas, neste romance, Mia Couto brinca" com a ocupação das personagens em suas casas (não dá para dizer lares) ou na comunidade em que vivem na fictícia Vila Cacimba, localizada no coração da África-, mas por trás dessa brincadeira percebe-se a ironia como no nome da Dona Esposinha que retrata a subserviência da mulher, do Suacelência- o poder da autoridade mor, para não dizer a única do lugarejo- e no dos Sozinhos Bartolomeu,Dona Munda e Deolindasozinhos por serem fruto da aculturação?
Antes de prosseguir no meu comentário, deixo meu pedido de desculpa a Mia Couto: peço desculpa pela visão simplista que eu tive inicialmente e que me levou ao riso. Não precisei de muitas páginas para entender que ler Venenos de Deus, Remédios do Diabo é se embrenhar em um texto sério que trata questões inerentes à identidade, à condição da mulher, a AIDS (que assola grande parte dos países Africano),ao preconceito e ao incesto. Para abordagem desses temas, Mia Couto se inspira no sentimento que faz com que o homem seja capaz até a se expatriar o Amor.
O romance se abre com uma citação do Mário Quintana: A imaginação é memória que enlouqueceu,e é dele,do Mário Quintana, o verso que me veio à mente para relatar a atitude do médico Sidónio Rosa:AMAR É MUDAR A ALMA DE CASA. Sidónio deixa Portugal e vai ao encontro da sua alma, haja vista que ela encontrou nova moradia -ela se mudou para Deolinda, quando os dois jovens se conheceram em Lisboa.
Enquanto espera por Deolinda, Sidónio cuida dos doentes da Vila Cacimba, dentre eles, do esvaído - da saúde e da vida Bartolomeu, o ex-mecânico, o ex-sonhador e o ex-habitante do navio Infante D. Henrique até o fim do Regime Colonial. E é Bartolomeu que começa a delinear uma trama que, em dado momento, começa dar reviravoltas e que me deixou cada vez mais mais confusa. Deparei-me com verdades contadas ao "médico por Bartolomeu, por Dona Munda e por Suacelência - diferentes "verdades" se faz ouvir pelas vozes dessas personagens.
Mas as confusões não se limitam as tramas, as personagens também nos confundem: afinal, elas se amam ou se odeiam? E que dizer sobre o significado do título: Venenos de Deus, Remédios do Diabo? Em minha opinião, a VERDADE é o veneno e a MENTIRA, o remédio. Mentira - o remédio que as personagens lançam mão para não se deixarem sucumbir diante da atroz realidade. Cheguei a essa conclusão porque a MENTIRA permeia toda a trama, e por ter sido me ensinado, desde a minha tenra idade, que MENTIR É PECADO, e que sendo pecado é coisa do diabo.
Quem já leu algum romance de Mia Couto sabe que o surrealismo neles se faz presente, e este não foge à regra. No final me pareceu que Nada é o que parece e que Tudo é que o que parece.Impressão reforçada pela diabólica Dona Munda (o que é dado perceber logo na primeira página - por meio do diálogo entre ela e o doutor: (...)Diz que se ele é diabético, eu sou diabólica), quando ela se oferece e oferece ao (a esta altura ao também confuso, ou não) Sidónio Rosa, pétalas da flor conhecida como beijo- da- mulata a flor do esquecimento - que contém uma espécie de alucinógeno e faz com que ele a mastigue. E é assim: sob o efeito desse alucinógeno, quando tudo parece ser tragado por um nevoeiro, que Sidónio consegue visualizar sua amada. O despertar de Sidónio parece sinalizar que sua alma voltou à sua antiga moradia.
Venenos de Deus, Remédios do Diabo é uma obra de apenas 188 páginas que condensado (há espaços em branco entre um capítulo e outro) teria bem menos, mas de valor inestimável pela profundidade existente em cada diálogo e pelas inúmeras leituras possíveis de se fazer.
AMEI. Não poderia ser diferente em se tratando de uma obra de um escritor inconfundível como Mia Couto. Mais um que vai para os meus favoritos.
Renata CCS 01/09/2014minha estante
Mia é sempre sedutor com as palavras, e provoca reação imediata.
Adorei a sua resenha!


DIRCE 01/09/2014minha estante
Obrigada, Renata.
Toda vez que termino uma leitura do Mia Couto,penso: quero mais, muito mais.
bjs




@eu_rafaprado 26/06/2023

Diálogos maravilhosos
Um livro para ser apreciado por seus diálogos, Mia Couto, pseudónimo de António Emílio Leite Couto, é um escritor e biólogo moçambicano que nessa obra nos apresenta a vida de Bartolomeu Sozinho, um velho mecânico naval moçambicano que agora aposentado do trabalho, enfrenta uma doença terrível. Seu médico é um português chamado Sidónio Rosa que se dedica com afinco em curar o velho mecânico, mesmo a contra gosto da esposa, Munda, que já considera o marido um cadáver ambulante.
? Então, o nosso Bartolomeu está bom?
? Está bom para seguir deitado, de vela e missal?
A Vila Cacimba é uma bagunça, cheia de mistérios e Munda esconde muitos segredos, ou seria, inventa muitas mentiras?
? É verdade que o seu marido saiu sete vezes de casa?
? Eu não conto as saídas. Conto só as vezes que ele voltou?
Gosto da escrita de Mia, de seu realismo magico, e de como ele sabe produzir uma troca entre os personagens que prende e faz rir, diria que se assemelha um pouco com os diálogos de Ariano Suassuna, personagens ricos em espertezas e vivencias.
Um fundo político, que denuncia a exploração no continente africano, diálogos que nos prende, uma narrativa que cria um sentimento de dúvida, até agora fico pensando qual versão da história de Deolinda é a verdadeira, a contada por seu Pai, por Munda ou pelo prefeito Suacelência?
Fiz esse mergulho seguindo a dica da minha amiga literária , foi um prazer visitar essa Vila.
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Camila.Guntzel 11/11/2020

Poetico
A leitura em si, ao meu ver, deve ser aproveitada e degustada em cada frase escrita por mia couto, com suas nuances e genialidade que confere profundeza e genialidade a trechos ?simples/quotidianos?. A história global do livro em si não me fez morrer de amores, entretanto ler mia couto é sempre um processo de visitação do nosso próprio espaço interno, de autoconhecimento, de trazer beleza ao que é simples e natural. Certamente um dos meus autores favoritos.
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Renata.Borges 18/04/2022

A escrita do Mia Couto é uma poesia
Conheci as frases poéticas em uma linguagem nova, mistura de sal e açúcar que pede atenção, pede delicadeza no olhar. Tem belos pensamentos em meio as personagens de vidas simples e construções novas, com linguagem ímpar.
Nesta trama, uma história de amor, busca, falsidade… uma confusão. Um médico português, um velho mecânico naval, uma esposa, uma filha, um amor perdido, um lugarejo africano, são as personagens deste romance que requer bastante atenção.
Muita poesia ao longo do texto!
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mardelivross 11/03/2022

Livro bonito de maisss!
Conta a história de um médico português que vai para Moçambique atrás de um amor, sob o pretexto de curar um vilarejo de uma epidemia.
A história se desenrola de maneira muito curiosa e envolvente, carregada de segredos, sonhos e ilusões.
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Leila.Cavalcante 21/04/2020

Como eu estava um pouco ressabiada com a primeira leitura do Mia Couto, da qual não havia gostado tanto, fui pra esse livro com um pé atrás, mas ele acabou me surpreendendo. Apesar de manter a mesma prosa poética, aqui a linguagem é mais, digamos, simples. Por outro lado, a história é cheia de entrelinhas, o que é bem interessante. No começo, as coisas parecem bem simples, um médico português chega na aldeia de Vila Cacimba, em Moçambique e é visto como uma autoridade, pois o lugarejo está enfrentando um surto de meningite. Mas à medida que a história avança, o leitor se ver envolvido num emaranhado de histórias, onde não dá pra saber o que é verdade e quem é quem é verdade. Tem uma frase do Bartolomeu que ele diz pro Sindónio que ele não mente, ele é de mentira. É uma leitura leve e ao mesmo tempo toca em assuntos pesados.
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Dany Dantas 07/09/2009

"Sonhar é um modo de mentir à vida, uma vingança contra um destino que é sempre tardio e pouco."
Foi o primeiro livro que li de Mia Couto e simplesmente adorei. A poeticidade contida na reflexão de sua personagens sobre a vida é de tamanha beleza e infinitude. A frase do livro que coloquei como título é a mais interessante, em minha opinião, e que perpassa bem por todo o fantástico do livro. Altamente recomendável!
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Jéssica 12/08/2012

Um livro tão bom quanto seu títuto. Que revela de modo tão sutil os costumes e religiosidade de África. Uma leveza em temas como vida conjugal, incesto, subjulgação cultural e outros ao ponto de parecer que eles nem estão lá. Personagens cativantes. Um ritmo lento, macio, redondo, marcante. Frases marcantes também. Por fim, digo que me senti um pouco em casa, alguns costumes daquele vilarejo lebraram-me os do interior da Bahia.
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Nivia.Oliveira 13/03/2021

Ao ler os acontecimentos que envolvem a epidemia que atinge Vila Cacimba em plena campanha eleitoral parece ser o nosso momento atual, mas o livro é de 2008: falta de governo, descrença, negação da ciência, (“o Sr. é Doutor, mas não vou permitir desobediências”), corrupção, querelas partidárias, fura-filas (“O primeiro milho é para os donos dos pardais”)... Desumanos que renegam que “cada velho que morre é uma biblioteca que arde” e desgraças que nos fazem pensar que o problema não é a doença, mas “a residência de maus espíritos, um lugar fatalmente contaminado”. Como será essa cicatriz?
*~*
Mia Couto traz novamente nomes de personagens que são muito simbólicos: Bartolomeu Sozinho (abandonado?); Dona Munda (lavadeira imunda?), Alfredo Suaexcelência (prefeito - autoridade?), Dona Esposinha (empregada?), Deolinda (deu?). Cada um com histórias que destilam venenos mas no fundo buscam remédios para a própria felicidade.
*~*
Percebemos também a relação de Moçambique com Portugal: Moçambique é representado por Bartolomeo Sozinho. Ele está doente e “só melhora quando deixa de ser ele” e vive enclausurado num pequeno quarto deixando espaço para o médico Sidonio Rosa – Um português que promete trazer o remédio. Esse leva presentes para a família da mulher que ele amava (o “espelho” que um dia encantara nossos índios)? Entretanto ele leva sobretudo a esperança para esse povo que carece de tudo. E até o caminho da colonização a bordo do navio Infante D. Henrique possui várias versões para serem utilizadas conforme a conveniência... A profissão deles também revela diferenças de sabedorias: Um mecânico (um técnico/operacional que conserta “coisas”) x um médico (um fake diplomado que conserta “pessoas”) ambos “como se estivessem reparando uma enferrujada engrenagem”.
*~*
O desfecho é surpreendente e Mia sempre poético com frases que queremos recitar a todo momento. Ele não deixa de valorizar a importância da identidade e a pertença ao local onde nascemos.
*~*
A cada leitura desse incrível escritor tenho a certeza de que é preciso “imaginar para querer saber, imaginar para querer evoluir, apaixonar-se para querer buscar”... palavras do autor que jura ter aprendido mais com livros literários do que com os compêndios de biologia!
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Lucinelly 08/04/2020

Surpreendente!
"Sonhar é um modo de mentir à vida, uma vingança contra um destino que é sempre tardio e pouco." Foi o primeiro livro que li de Mia Couto e simplesmente adorei. Um livro tão bom quanto seu títuto. Que revela de modo tão sutil os costumes e religiosidade de África. Uma leveza em temas como vida conjugal, incesto, subjulgação cultural e outros ao ponto de parecer que eles nem estão lá. Personagens cativantes. Um ritmo lento, macio, redondo, marcante. Frases marcantes também. Muito top'
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Sofia 29/12/2021

O suficiente é para quem não ama. No amor, só existem infinitos.
Sidónio Rosa é um médico que vive em Lisboa e se apaixona pela misteriosa e enigmática Deolinda. Ela mora em uma vila em Moçambique e, depois do seu encontro com o médico, precisa voltar para casa. Usando a desculpa de tratar de uma epidemia no local, o médico se muda para a vila para cuidar de seus habitantes e encontrar o seu grande amor.

Porém, chegando lá ele se depara com um local bem devastado pela doença e o sumiço do seu grande amor. Deolinda não está e o seu pai, Bartolomeu, vira um paciente frequente do médico que acaba fazendo parte do dia a dia e da vida daquela família.

Com o contato frequente e Deolinda longe, Sidónio se dedica a tratar daquele pai e conhecer mais a família e o local em que sua família vive. Ele só não esperava conhecer mais do que imaginava e até coisas que gostaria de não ter conhecido. E assim somos mergulhados em histórias, contos, lendas e mentiras que se passam na Vila Cacimba e envolvem todos os seus personagens.

Com todo plano de fundo político e poético que Mia sempre trás para as suas obras, somos surpreendidos a cada página, ficamos confusos e sem saber no que acreditar, mas o autor nunca deixa nada passar e, aos poucos, vai nos revelando e nos contando tudo que deseja dizer com essa história. Rápida e profunda, uma leitura que vale muito a pena para conhecer mais do que Mia Couto trouxe para o mundo através das suas palavras.
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Cris 13/03/2013

Da saudade que fica
Nossa, que leitura gostosa!
Difícil expressar de outra forma a poesia em prosa de Mia, é sempre muito leve, muito sutil... Enfim, fiquei maravilhada desde a história aos neologismos que me cabiam, como o "desarrumário", nada poderia descrever melhor o significado das minhas bagunças.
Alguns trechos me chamaram muita atenção, segue alguns poucos:

"Rir junto é melhor que falar a mesma língua". Ou talvez o riso seja uma língua anterior que fomos perdendo à medida que o mundo foi deixando de ser nosso". É muita filosofia. Cada frase dá espaço pra uma série de reflexões e associações para com a vida.

"Talvez seja a espessura desse céu que faz os cacimbeiros sonharem tanto. Sonhar é um modo de mentir à vida, uma vingança contra um destino que é sempre tardio e pouco."

"As pessoas demoram a mudar. Quase sempre demoram mais tempo que a própria vida."

"As asas da borboleta não são a borboleta toda inteira?"


E aqui fico eu agora, com saudades de Vila Cacimba, de Sidonio, de Bartolomeu com a sua rabugentice...
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Ana Camps 24/10/2022

Incrível!
Leiturinha boa de férias. Foi a minha primeira leitura do Mia Couto e achei boa pra começar. Adorei o livro!
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