Rub.88 20/06/2020PastichePoucas ideias são realmente novas. Cenários e enredos foram martelados milhares de vezes. O que muda e a localização ambiental e social, proporcionando, com sorte e habilidade, certo frescor e novidade a um tema batido. O ponto de vista de uma pessoa, ou um conjunto diminuto de pessoas, tratado no detalhe pode renova estórias e gêneros repisados. Uma visão particular, evitando soluções previsíveis, ariscado na abordagem e enriquecendo a narrativa com possibilidades mais diversificas. Esse e o papel de um artista dedicado.
O livro O Vale dos Mortos do escritor brasileiro Rodrigo de Oliveira se resume num único termo. Pastiche. Como definição é a imitação do estilo ou obra de um outro autor. Nem sempre tal definição é pejorativa. Mas no caso presente é.
Um planeta chamado Absinto esteve por um breve momento em rota de colisão com a Terra. Depois que a trajetória foi recalculada, confirmou-se que as orbitas não se cruzariam. Em escala cósmica seria um raspão. A pânico cedeu ao deslumbramento de ver um astro celeste diferente no céu do mundo. Porem nem todos pareciam impressionados. Um casal brasileiro, classe média alta, cidadão de bem e que conhecem muito de armas vão ao shopping com os filhos durante a passagem do planeja viajante. Na praça de alimentação lotada testemunham um evento sinistro. Um mal súbito acomete a mais da metade das pessoas ali reunidas. Um desmaio geral. E quando vão recobrando a consciência não estão mais vivos. Olhos esbranquiçados e com fome de carne humana. O pandemônio se espalha. O casal consegue fugir numa forma muito parecida com o início do filme Guerra Mundial Z. Se refugiam numa construção não antes de abater vários zumbis pelo caminho. Tentaram voltar para casa, mas as ruas estão abarrotadas de cadáveres ambulantes. Vão para onde? O shopping, um outro que estava fechado. O autor, na orelha do livro, já disse que Dawn of the Dead do mestre George Romero lhe serviu de inspiração. No centro de compras se abrigam com outros sobreviventes. Vivem ali até decidirem ocupar um condomínio de luxo ao lado. Para conseguirem realizar essa tarefa tinha que achar mais armas. Alguns voluntários embarcaram numa aventura a uma base militar. Voltaram com lança-chamas e carros blindados. Conquistaram o condomínio, criando assim uma colônia.
O escritor viu muitos filmes e leu poucos livros. A escrita é amadora, em certo ponto desleixada. Há muita presciência e dupla confirmação. Reuni em um único personagem tantas habilidades que parece que o apocalipse zumbi o transformou em gênio. A indecisão no rumo do enredo é visível. O planeta que seria a causa do evento foi esquecido em favor de correria, tiros certeiros na cabeça, de pequenos dramas de relacionamento. O romance tem muitos nomes, mas nenhuma caracterização. Uma mistura pobre de personagens de figuração de filmes baixo orçamentos. Todos os diálogos são explicações, moralismos e forçosa simpatia. Não há um único pensamento crítico, de contraponto ou analítico. E quando alguma filosofia, sociologia e psicologia, se uma estória não trata minimamente desses três tópicos não tem nem porque existir, é raso.