Luara Cardoso 01/10/2013Embarque nessa obra saudosista! Existem livros que te encantam em qualquer situação em que você estiver. Normalmente esses livros são aqueles famosos
chick-lits. Quando você está acostumado com livros nesse estilo, é complicado quando você pega um livro como
Licor de dente-de-leão. Tanto que, enquanto eu não consegui atender aos pedidos do livro, não consegui aproveitá-lo da melhor forma possível. E, quando eu finalmente consegui, me deparei com uma
verdadeira obra de arte saudosista.
É verão na cidade de Green Town e essa é a estação favorita de Douglas Spaulding, um garoto de 12 anos. A cada ano, tudo se renova em um ciclo que ele considera ser o mais mágico da vida. E a vida, essa ele ainda vai descobrir o que é e quais são seus desafios, certezas e incertezas.
Licor de dente-de-leão é uma viagem no passado do autor
Ray Bradbury, passando por todos os acontecimentos daquele que fizeram daquele verão algo totalmente único na vida de Douglas.
E tudo, absolutamente tudo, estava ali.
O mundo, como uma grande íris de um olho ainda mais gigantesco que também acabara de se abrir e que se estendia, a tudo abrangendo, e olhava para ele.
E ele sabia que a Coisa pulara nele para ficar e não fugiria mais.
Estou vivo, pensou ele. p. 23
Quando comecei a ler o livro, não sabia bem sobre o que ele se tratava. A sinopse faz uma abordagem rápida acerca do que vai ser falado, porém não te prepara exatamente para o que vai vir, uma vez que não tem
como isso acontecer completamente já que o livro é maravilhoso em suas
singularidades. Como eu ainda não sabia disso, demorei um pouco para entender qual era o objetivo do livro e isso tornou a leitura um pouco arrastada no começo.
Porém, quando eu percebi que Licor de dente-de-leão pede do leitor uma imersão quase que completa em uma história que à primeira vista pareceria simples e o fiz, tudo mudou. O enredo toma um rumo totalmente poético e a nostalgia que o cerca faz com que ele se torne
doce,
sentimental e tudo isso ainda adquire uma aura quase que
mágica por ser
narrado em sua maioria pela perspectiva de uma criança. Mas, como eu disse, o leitor tem que se entregar para que esses detalhes não passem despercebidos e a história acabe se tornando um
simples relato.
O livro não possui um ápice, afinal, são vários núcleos que acabam fazendo parte da vida de Douglas Spaulding durante aquele verão de 1928. Nos deparamos com
vários personagens ao longo do enredo e cada um tem uma característica particular que faz com que aquela parte tenha um toque especial. Todos um pouco
excêntricos, mas que dão
vida para o livro. Há o homem que construiu a Máquina da Felicidade, o homem que é a personificação da Máquina do Tempo, a bruxa do tarô e todos eles conseguem ser
bem explorados em suas partes, o que eu achei incrível.
- Tom, diga a verdade.
- Que verdade?
- O que aconteceu com os finais felizes?
- Eles os colocam nos programas das matinês de sábado.
- Claro, mas e na vida?
- Tudo o que eu sei é que me sinto bem por ir dormir à noite, Doug. Este é um final feliz uma vez por dia. Na manhã seguinte, eu me levanto, e talvez as coisas corram mal. Mas tudo o que faço é me lembrar de que vou para cama à noite, e só ficar deitado ali, por um tempo, faz com que tudo fique bem. p. 175
Licor de dente-de-leão tem o poder de despertar em qualquer um saudades de nossa infância. O sentimento que o autor colocou naquelas páginas transcende, é praticamente palpável. As aventuras de Douglas com seu irmão, a colheita de dentes-de-leão ao lado de seu avô para a produção do licor que relembra os dias de verão encantados são situações que te deixam
feliz, é como se aquilo acontecesse com você!
Esse é um daqueles livros que só valem a pena se você realmente estiver na sintonia em que ele pede para lê-lo, tanto que, por conta disso, foi uma leitura lenta em que eu aproveitei cada pedaço. Só fazendo isso você vai tirar o máximo proveito dele e vai fechá-lo assim como eu: com um misto de dever cumprido e saudosismo. Uma delícia, realmente. Embarcar nessa viagem ao passado de
Ray Bradbury é fantástico.
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