Bruna Fernández 14/07/2011Resenha para o site www.LivrosEmSerie.com.brAntes de mais nada, não se deixe levar pelo título do livro. Já vi muita gente dizendo que achava que o livro contava a história fofa de um casal, em que um dos dois teve seu "coração ferido" e conta como tudo se resolveu entre os dois... aqueles romances lindos, sabe? Apague essa impressão: o primeiro livro dessa trilogia (que na verdade já se tornou uma quadrilogia) não tem
nada de fofo.
Coração Ferido conta a história de Archie Sheridan, um policial que passou dez anos perseguindo Gretchen Lowell, uma estonteante serial killer. Porém, o detetive acabou caindo nas garras de Gretchen que o aprisionou e torturou. No entanto, em vez de matá-lo como fez com suas inúmeras vítimas, ela o deixou partir, e acabou se entregando à polícia.
Destinada a ficar na cadeia pelo resto da vida, Gretchen proporcionou a Archie um outro tipo de prisão – o detetive se tornou viciado em analgésicos, incapaz de voltar à sua antiga vida e sem forças para apagar aqueles dias horrendos de sua lembrança. Archie acaba se afastando de sua ex-mulher, seus filhos, colegas de trabalho e amigos. Porém, quando um novo serial killer começa a agir em Portland, Archie tem que se recompor para liderar uma nova força-tarefa que investigará os assassinatos. Uma repórter jovem e determinada, Susan Ward, é designada para acompanhar o trabalho do grupo e vê a oportunidade de sua vida: matérias de primeira página. Eles têm um maníaco para capturar, e talvez isso liberte Archie de Gretchen de uma vez por todas.
O enredo da história me cativou de primeira pois eu adoro thrillers e livros policiais, mas a história é na verdade muito mais explícita do que eu estava esperando. O tempo da narrativa é psicológico, ou seja, a história não é toda linear no tempo. Seguimos a integração de Archie em seu retorno ao trabalho na nova força tarefa e ao longo da narrativa temos capítulos que remetem à época em que Archie era de refém de Gretchen. Esse tempo psicológico se encaixa muito bem na história, pois detalhes vão sendo revelados aos poucos, o que acaba intrigando o leitor, e até nos ajuda a compreender melhor atitudes das personagens ou até mesmo funcionam como dicas para desvendar o caso. Ao contrário do que possa parecer, essa apresentação não-linear dos acontecimentos não prejudica a leitura, a percepção na mudança linear do tempo é percebida instantaneamente no início de cada capítulo.
As personagens são introduzidas aleatóriamente e aos poucos todas as histórias acabam se encaixando perfeitamente. Nenhuma ponta fica solta. Temos dois personagens principais na saga: o Detetive Archie Sheridan, que está no comando do novo caso e que também comandou por longos dez anos a força-tarefa que estava atrás da maior serial killer dos Estados Unidos. Sheridan é viciado em remédios e passa um bom tempo da história chapado, e ainda assim ele faz o papel do herói. É muito difícil você não tentar ao menos empatizar com o personagem e toda a sua situação e ao chegar no filnal do livro é impossível julgar seus atos e escolhas. Como vilã, a escritora Chelsea Cain nos introduz à mulher mais cruel e fria do mundo literário. Descrita por ter uma beleza estonteante e porte elegante, Gretchen Lowell é uma personagem muito bem escrita e delineada. A frieza de suas palavras e atos chega a ser horripilante. Uma boa comparação para Gretchen seria Hannibal Lecter, o serial killer mundialmente conhecido pelo livro/filme
O silêncio dos inocentes. E apesar de saber do perigo que Gretchen representa, ela exerce uma enorme fascinação sobre os outros personagens e até mesmo em nós leitores.
Uma personagem que me cativou foi a jornalista Susan Ward. Talvez pelo seu jeito todo independente de ser, para esconder toda sua verdadeira dependência em outros seres humanos, ou ainda talvez por seu comprometimento com sua carreira e a forma como ela questiona a exploração da vida de outros para conquistar seu espaço. Ou até mesmo pelo seu chamativo cabelo pink. Os personagens, sejam eles principais ou secundários, são muito palpáveis, com sentimentos e atitudes reais, que os aproxima da realidade e os torna humanos. A linguagem usada na narrativa é bem explícita, com o bom-uso dos palavrões. Digo bom uso, pois quando eles aparecem não parecem ser forçados. Os xingamentos encaixam perfeitamente no momento usado ou pelo perfil do personagem.
A descrição dos crimes, dos cenários onde foram cometidos e dos corpos encontrados é detalhada e intensa, alguma vezes até exageradamente. Isso também dá um toque de realismo para a obra. Há horas em que parece que o livro é um documentário sobre crimes que realmente aconteceram, especialmente quando são citados casos reais de júri e também são mencionados outros psicopatas, borrando um pouco a linha entre a ficção e a realidade.
Sei que muitas pessoas detestam livros em série exatamente por eles não terem um final concreto, deixando muitas perguntas no ar para serem respondidas (ou não) no próximo volume, mas isso não acontece com Coração Ferido. A história é fechada e tem uma resolução final, por isso fiquem tranquilos! Se tivesse que comparar esse a outro livro, certamente escolheria à
"Eu Mato" do autor italiano Giorgio Falleti, lançado pela Intrínseca. Altamente indico essa série para quem gosta de thrillers! Agora se o seu estilo de leitura é mais pra chick-lit, talvez esse não seja um livro que irá agradar, mas tente dar uma chance à Archie e Gretchen. Você não vai se arrepender!