Laura 20/01/2015Li o livro por causa do filme, que foi muito elogiado. Antes de assistir, pensei "vou ler primeiro, os livros são sempre melhores que os filmes...". Acontece que nesse caso, o filme ficou melhor.
"Trem noturno para Lisboa" é um livro interessante, que tem duas histórias, uma que o personagem lê e desvenda, e a que esse mesmo personagem vive. É um livro dentro de um livro.
Acontece que, mesmo a estória sendo boa, o texto fica um pouco maçante. Sei que tem muitas pessoas que gostam de escritas mais "espiraladas", mas não é muito a minha praia (se fosse eu a autora teria excluído diversos trechos, talvez até reduzindo pela metade...). E ao mesmo tempo que isso enche um pouco o saco, isso também dá complexidade e realidade para a trama - no sentido que na vida real, nem tudo que fazemos é interessante (95% do tempo as coisas são meio mornas) e muitas vezes percorremos caminhos que não dão em nada...
Os textos de Amadeu do Prado (que lemos junto com o personagem principal - o livro dentro do livro), pra mim, foram se tornando cansativos e chatos de aguentar, talvez por pura falta de sensibilidade da minha parte mesmo... Mas também pode ter sido algo da língua. Pra mim, o problema de ler livros traduzidos é que se perde muito na tradução, a maneira como se escreve em cada língua reflete não só questões individuais dos autores, mas questões macro dessas nações (mas aí não tem muito o que fazer). No caso desse volume, o autor cria um segundo autor dentro do livro, que é lusitano mas que não versa como um lusitano, isso me causou um certo estranhamento...
Algo que vale destacar é que a trama que o personagem central desvenda se passa durante o regime ditatorial de Salazar, e o autor consegue apresentar as implicações disso na estória de uma forma bastante interessante e envolvente.
O livro tem algo muito real que é que muitas vezes a nossa vida não é muito emocionante no momento que a gente está vivendo ela. Claro, existem situações que são emocionantes (não necessariamente de forma positiva), mas na maioria do tempo temos nossa rotina e nossos problemas pra resolver. E muitas vezes, quando lemos um livro, ou vemos um filme, as vidas dos personagens parecem bastante emocionantes, mesmo que não seja um livro de ação. O que acontece quando lemos "Trem noturno para Lisboa" é que nos deparamos com essa situação dentro de um livro: o personagem lê um livro e imagina uma vida emocionante, quando a sua própria parece carecer de emoção.
Ao escrever estas minhas impressões, parece que as questões que o livro aborda acabam por serem mais interessante que o conjunto do livro em si... Não me arrependo de ter lido esse livro, e acho que gostei mais ainda do filme exatamente por tê-lo lido antes. Mas admito que remei...