Trem noturno para Lisboa

Trem noturno para Lisboa Pascal Mercier




Resenhas - Trem Noturno Para Lisboa


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gabriel 14/10/2020

Medíocre, mas com algumas qualidades

O autor do livro é um professor de filosofia provavelmente frustrado, que resolveu enfiar uma filosofia "de botequim" num livro de ficção, por falta de coragem em ele mesmo publicar o seu. Trata-se, então, de um livro sobre um livro, ou seja, o protagonista passa a narração toda lendo um outro livro, de um tal de Amadeu de Prado, um filosofeiro de quinta categoria.

A leitura começa boa e promissora, mas só vai afundando ao longo de tudo. Se o "tesão" dessa leitura fosse um gráfico, ele começaria médio-alto, para depois virar um teste pra cardíaco, terminando muito próximo do chão. Meu Deus, que livro chato...

Não é, no entanto, uma leitura de todo ruim (tanto que dei três estrelas para ele, como você pode ver). Tem o seu interesse e trabalha temas da filosofia. A viagem do protagonista para Lisboa é charmosa. Há boas descrições de paisagens e alguns personagens interessantes.

Mas a narrativa em si é atrapalhada e muito, muito chata. Alguns personagens são de cartolina: só estão esperando o personagem principal ir lá os "ativar", para que eles comecem a falar e a agir por contra própria. Tudo gira em torno de um tal de Raymond Gregorius, que fica fascinado por um autor português da época da ditadura. Ele conhece uma mulher na ponte que beija sua testa: cena boa, levemente surreal.

O problema é que nada dá em nada. Ele não reencontra a mulher na ponte: erro tão grosseiro, que foi corrigido pelo filme correspondente. Ele vai para Lisboa e não faz nada com coisa alguma. Só lê o seu livro chato, com passagens arrastadas e pedantes.

O livro deveria patrocinar medicamentos para insônia, pois dá um sono que é uma beleza. Tudo consiste no nosso amigo Greg batendo perna por Lisboa, lamentando sua vida chata, e abrindo (do nada) o livro do Amadeu, para pincelar passagens de "profunda sabedoria" (sic). E ele faz isso muitas vezes. E muitas vezes. E de novo.

O livro faz você torcer para o protagonista não abrir o livrinho chato. É a lata "pó Royal" dos livros (livro dentro de livro, como o rótulo do supracitado fermento). É um livro que se pretende "inspirador", para pessoas que nunca leram uma linha de filosofia (e possam se sentir bem, achando que estão entrando em contato com uma).

Apesar da minha resenha mordaz e algo decepcionada, confesso que não é de todo ruim. Há boas passagens e a leitura até que vai. Mas sinto que poderia ser bem melhor. Os personagens são rasos, o estilo é algo pretensioso (como se o autor quisesse deixar bem claro que ele é "inteligente" e que gosta de temas "inteligentes") e tudo isso torna a narração arrastada e cansada.

O livro flui com a desenvoltura de um elefante com obesidade. Tudo é pesado, o autor tenta dar uma ar de imponência e de importância que não colam. A filosofia (utilizada no "livro interno" ao próprio livro) não convence e aborrece. Mas algumas passagens são bem sacadas e o filosofar delas pode atrair.

Sucesso editorial e best seller, com uma adaptação cinematográfica interessante e bem filmada. O filme é melhor que o livro, mas também não é muito bom.

Livro que se alonga sem necessidade, muitos parágrafos só pra encher linguiça e páginas e mais páginas sem acontecer coisa alguma. Poderia ser bem mais enxuto, o que beneficiaria a narrativa.
Carlos Padilha 12/11/2021minha estante
Concordo em gênero, número e grau! Vim para a página com receio de encontrar todas as resenhas com 5 estrelas, De fato, encontramos "arrebatador", "lindíssimo", "vontade de chorar" e afins. Na verdade, é um livro feito sob medida para causar esse impacto em certo tipo de leitores.
Amadeu de Prado é um especialista em discorrer sobre o nada. Depois de algumas tentativas honestas e bem intencionadas de usufruir dos trechos do "livro interno", aproveitei os mesmos para acelerar a leitura geral, ao perceber que o conteúdo é sempre bastante raso e, sim, bastante pretensioso.
As idas e vindas de Gregorius em Lisboa não contribuem para aumentar o interesse pela narrativa, assim como alguns dos personagens com quem ele interage.
Concordo com a ideia do patrocínio para remédios contra insônia. Coloquei o Kindle na capa, preocupado com a quantidade de vezes que cochilei e ele caiu de minha mão...


gabriel 29/01/2022minha estante
Oi Carlos, obrigado pelo comentário, realmente este livro foi "dose", muito chato e pretensioso. Já faz quase dois anos que escrevi a resenha e já não lembro muito dele (ainda bem), mas foi uma leitura bem problemática. Me surpreendi muito quando vi ele ser tão elogiado. Abraço!


Rothery 09/10/2023minha estante
Terminei ontem, finalmente, esta torturante leitura!

Concordo com praticamente tudo falado por vocês. O livro não é ruim, mas poderia ser muito melhor do que os seus capítulos iniciais prometem. E, sendo um pouco mais ácido, a conclusão que eu cheguei no fim é que o sr Amadeu é um tremendo chato de galocha, desculpe as palavras fortes! O cara escrevia com uma complexidade impressionante, mas tinha uma relação pessoal fria com praticamente todos, incluindo as pessoas mais importante da sua vida.

E que papelão ele fez com a Estefânia após eles finalmente terem se rendido à paixão! Quando chegara a hora dele finalmente chutar o balde, ele vai e "refuga" ao ter uma mínima crítica? Pô, o cara parecia não conhecer as mulheres, embora tenha sido casado.

Se teve uma coisa que o livro me passou, foi a lição de não ser uma pessoa fechada. Expresse às pessoas importantes para você os seus sentimentos! Senão você pode passar a vida inteira, e não fazer isso.




tobiasthiessen 10/12/2009

Resenha: Trem Noturno Para Lisboa
Esse livro é daqueles que realmente possuem a capacidade de fazer você refletir sobre as questões contidas nele, mesmo tempos depois de ter terminado de lê-lo. A digestão das palavras do livro fica sendo feita por muito tempo ainda na tua cabeça.

Uma breve sinopse do livro:
Trem Noturno para Lisboa conta a história de um professor de línguas antigas, Raimundus Gregorius que através de situações inusitadas decide mudar de vida.
Podemos acompanhar como e porque esse professor de grego, latim e hebraico que levava uma vida pacata e pautada pela ordem em Berna, na Suíça, de repente, de uma hora para outra, desiste de tudo e como se fosse um detetive vai atrás do médico português Amadeu de Prado em Lisboa. Mundus se encanta com o livro "Um ouvires das palavras" que o português supostamente escreveu e vai em busca de mais sobre o autor. Nessa viagem até Lisboa e em busca do autor, ele conhece diversas pessoas e essas acabam o ajudando de uma forma ou de outra.
O leitor, no processo de leitura do livro, é levado a ler o livro dentro do livro e conhecer melhor esse angustiado português que por causa do seu pai virou médico e que combateu a ditadura de seu país assolado por Salazar. Percebe-se que tanto o professor suíço como o médico português são um alter-ego do professor de filosofia Peter Bieris, escritor do livro.

Eu particularmente gostei bastante de ler. Gosto da Europa e essa mistura de estilo alemão com a realidade portuguesa tem muito a ver comigo. O livro se conecta comigo, com a minha identidade e diversas questões que o livro provoca são em certo sentido também as minhas questões pessoais.

Lógico que o livro contém ressalvas, ou seja, fatos díficeis de se engolir. Como por exemplo: como o cara consegue em poucos dias, sem nunca ter tido contato direto com a língua portuguesa traduzir facilmente o livro dessa língua para o alemão? Mesmo o livro sendo cheio de questões filosóficas obscuras ele segue adiante na tradução do livro de Amadeu sem muitas dificuldades! E também, todos os personagens conseguem discutir temas profundos em inglês ou francês, apesar de não ser a língua mãe das pessoas. Como ele se entende tão bem com todas as pessoas com quem ele se encontra? Ou como Raimundus tem acesso tão fácil ao ex-liceu de Amadeu e pode montar o seu acampamento e o seu canto especial lá?
Mas como dizem por aí: so what?
Pelo que percebi a ideia do autor, não é em primeiro plano apresentar a história de Mundus, mas sim, apresentar os pensamentos de Amadeu. E é ele, Amadeu e não o professor suíço, a personagem principal do livro e que nos traz às reflexões que o livro se propõe.

"Viagem Noturna para Lisboa" não é um livro que se lê assim, sem mais nem menos, também não fornece muitas cenas de suspense que te prendem e que te fazem avançar na leitura. Para se aproximar do livro e do seu conceito é necessário uma certa abertura e um vontade filosófica. Ajuda, se você assim como Mundus, está cansado da tua vida, do jeito como ela é e/ou busca novos horizontes, nem que seja apenas na tua forma de pensar.
Em todos os casos, se você se interessou, recomendo a leitura!

Li certa vez que não é tão importante ler todos os livros possíveis ou ter uma grande quantidade de livros lidos no currículo, mas sim, que é mais importante ler os livros importantes por diversas vezes na sua vida. E eu concordo com isso: Ler o livro em diversas fases de sua vida é o melhor que você pode fazer para si mesmo como leitor. E para mim esse é um desses poucos livros que entra nessa categoria, de livros importantes, que merecem ser lidos novamente. Tenho o livro em casa (e posso emprestar ele com prazer), mas se possível na próxima vez gostaria de lê-lo na língua original em que foi escrito, ou seja, em alemão. Em todos os casos, vou reler ele com certeza!

( originalmente postado no meu blog: http://tobiasthiessen.blogspot.com/2009/10/trem-noturno-para-lisboa-uma-resenha.html )
Jumpin J. Flash 16/12/2009minha estante
Não concordei com essa parte: "Ajuda, se você assim como Mundus, está cansado da tua vida, do jeito como ela é e/ou busca novos horizontes, nem que seja apenas na tua forma de pensar". Para mim a leitura está fluindo bem, e não estou querendo mudar nada na vida. O resto da resenha está muito bom. Um abraço!


Joângela 01/12/2011minha estante
Adorei o comentário, Tobias. Gostei tanto quanto do livro! Parabéns.

Abraços


Jeffer 20/11/2012minha estante
penso ligeiramente diferente d vc.

como saber quais são os livros importantes a serem relidos se vc ñ ler mtos?

por indicação? os gostos são diferentes!

pelos + vendido ou + lidos? são critérios bem massificantes e nem por isso verdadeiros.

por ser 1 clássico? costuma-se acertar, mas até dentre estes existem os q ñ farão diferença alguma na sua vida.

minha filosofia: leia mtos livros, como uma peneira grossa; releia poucos, só os que passarem pela peneira fina.




Henrique 20/10/2017

Viagem filosófica.
"A vida não é aquilo que vivemos, é aquilo que imaginamos viver."
Ganhei este livro de minha irmã e foi um lindo presente. O autor, através de um argumento muito original, fornece ao leitor uma série de reflexões sobre a vida e as relações humanas.
História comovente, envolvente e surpreendente.
Entrou na minha lista de livros favoritos.
Fabiola Penido 25/10/2017minha estante
Através do seu resumo, fiquei muito interessada para ler também, já está em minha lista.
Obrigada por compartilhar


Cintia.Nascimento 25/10/2017minha estante
Eu sabia que você ia gostar, Henrique!
Eu amei o filme e também quero muito ler o livro.
A história me fez olhar à minha volta e refletir se a vida que vivemos é mesmo a que queremos viver. Carrego sempre comigo a pergunta:
"Se podemos viver apenas uma pequena parte do que há dentro de nós, o que acontece com o resto?"




isa.fsgomes 25/11/2021

Trem noturno para Lisboa, Pascal Mercier (2004)
Gregorius, um professor suíço, ainda não sabe, mas está cansado da sua vida metódica. Amadeu de Almeida Prado, um médico português falecido prematuramente, que viveu durante a ditadura fascista de Salazar. Um acontecimento peculiar faz com que Gregorius encontre seus escritos, em uma língua que ele não conhece, o Português, mas que o deixa fascinado e o faz sair em busca de algo que ele ainda não sabe exatamente o que é. Ele então inicia uma longa jornada de autoconhecimento, fazendo diversas digressões acerca de questões filosóficas de vida, construção de identidade, amadurecimento e morte.

À princípio, o que me interessou foi a história em si, um homem com a vida totalmente estabelecida, largando tudo e pegando um trem noturno à Lisboa. Um enredo que causa curiosidade eletrizante. Porém, afinal não foi isso que me fez gostar do livro. Me vi, assim como Gregorius, questionando quem sou, porque sou assim, o que estou fazendo, sou quem eu planejava ser? Entre muitas outras reflexões interessantes.

Um livro para ser lido lentamente. Uma escrita muito delicada e introspectiva. Recomendo muito a leitura. E agradeço imensamente meu amigo Marcelo que me presenteou com essa obra linda e tão especial que li com tanto carinho. Espero que mais pessoas possam se interessar e iniciar essa jornada de reflexões também.
Marcelo Rissi 27/11/2021minha estante
Acabei de ver aqui que você terminou a leitura. Sensacional, querida amiga Isa. Fico profundamente feliz em saber que você gostou tanto dessa obra e de que ela te marcou dessa maneira, assim como ela tb me marcou de forma profunda, conforme a gente já conversou.

E parabéns pela resenha lapidar. A sensibilidade escorre pelos seus dedos e se transformam em palavras nos textos tão exímios que você escreve!

Saudades.


Marcelo Rissi 27/11/2021minha estante
*se transforma.




Laura 20/01/2015

Li o livro por causa do filme, que foi muito elogiado. Antes de assistir, pensei "vou ler primeiro, os livros são sempre melhores que os filmes...". Acontece que nesse caso, o filme ficou melhor.
"Trem noturno para Lisboa" é um livro interessante, que tem duas histórias, uma que o personagem lê e desvenda, e a que esse mesmo personagem vive. É um livro dentro de um livro.
Acontece que, mesmo a estória sendo boa, o texto fica um pouco maçante. Sei que tem muitas pessoas que gostam de escritas mais "espiraladas", mas não é muito a minha praia (se fosse eu a autora teria excluído diversos trechos, talvez até reduzindo pela metade...). E ao mesmo tempo que isso enche um pouco o saco, isso também dá complexidade e realidade para a trama - no sentido que na vida real, nem tudo que fazemos é interessante (95% do tempo as coisas são meio mornas) e muitas vezes percorremos caminhos que não dão em nada...
Os textos de Amadeu do Prado (que lemos junto com o personagem principal - o livro dentro do livro), pra mim, foram se tornando cansativos e chatos de aguentar, talvez por pura falta de sensibilidade da minha parte mesmo... Mas também pode ter sido algo da língua. Pra mim, o problema de ler livros traduzidos é que se perde muito na tradução, a maneira como se escreve em cada língua reflete não só questões individuais dos autores, mas questões macro dessas nações (mas aí não tem muito o que fazer). No caso desse volume, o autor cria um segundo autor dentro do livro, que é lusitano mas que não versa como um lusitano, isso me causou um certo estranhamento...
Algo que vale destacar é que a trama que o personagem central desvenda se passa durante o regime ditatorial de Salazar, e o autor consegue apresentar as implicações disso na estória de uma forma bastante interessante e envolvente.
O livro tem algo muito real que é que muitas vezes a nossa vida não é muito emocionante no momento que a gente está vivendo ela. Claro, existem situações que são emocionantes (não necessariamente de forma positiva), mas na maioria do tempo temos nossa rotina e nossos problemas pra resolver. E muitas vezes, quando lemos um livro, ou vemos um filme, as vidas dos personagens parecem bastante emocionantes, mesmo que não seja um livro de ação. O que acontece quando lemos "Trem noturno para Lisboa" é que nos deparamos com essa situação dentro de um livro: o personagem lê um livro e imagina uma vida emocionante, quando a sua própria parece carecer de emoção.
Ao escrever estas minhas impressões, parece que as questões que o livro aborda acabam por serem mais interessante que o conjunto do livro em si... Não me arrependo de ter lido esse livro, e acho que gostei mais ainda do filme exatamente por tê-lo lido antes. Mas admito que remei...
Rosa Santana 12/03/2017minha estante
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gabriel 14/10/2020minha estante
Sua percepção foi muito parecida com a minha. Achei o livro chato e desnecessariamente longo. E o filme foi melhor que o livro, tem boas atuações e corrigiu algumas coisas do livro (o autor simplesmente esqueceu ou desistiu da moça da ponte).




Manuella_3 20/12/2013

Uma quase torturante busca por si mesmo
Trem Noturno Para Lisboa
Pascal Mercier Record - 462 páginas

Uma sucessão de dias que se repetem, com seus problemas e algumas surpresas, é isso a vida? É a que vivemos ou a que imaginamos viver? Temos algum controle sobre o nosso tempo, o instante presente, os planos futuros? O que faz uma pessoa largar tudo e partir para outro lugar, aprender outra língua, para conhecer dados da vida de um desconhecido? São apenas algumas das perguntas que a leitura de Trem Noturno nos convida a responder. É preciso coragem para viver, para ser você mesmo, seguir seus sonhos e não se deixar reprimir.

Gregorius, conhecido na universidade como Mundus, é um professor de línguas antigas em Berna, capital da Suíça. De vida regrada e pacata, há anos sozinho após o fim do casamento, o professor tem um encontro inesperado com uma portuguesa. Ao ouvir da moça o sotaque e a sonoridade de uma palavra em português, inicia sua busca que, ainda não sabe, é por algo significativo para sua vida tão monótona quanto previsível.

Encontra em um sebo um livro de um médico português, Amadeu de Almeida Prado. As divagações do escritor sobre a vida, passeando pelas angústias com o amor e a finitude, a razão e a fé, além dos conflitos com o pai, encantam Gregorius a ponto de fazê-lo abandonar a sala de aula de repente. Nesse rompante, vai a Lisboa descobrir quem foi aquele homem de inteligência ímpar, cuja lucidez desperta em Mundus sentimentos controversos. Parece que Prado aconselha ao mesmo tempo em que questiona, fascinando o professor.

Sua obsessão em compreender tudo que Amadeu quis dizer, como viveu e se relacionou promove encontros memoráveis de Gregorius com personagens da vida do médico, todos marcados por ele de alguma forma. As irmãs de Prado, um amigo de escola, o grande amor e a melhor amiga traçam uma narrativa rica em descobertas. A dedicação à profissão (assim como Mundus), a luta contra a ditadura de Salazar e a entrega a uma paixão arrebatadora são comoventes. Gregorius e Prado são duas almas que buscam desesperadamente sentido para suas vidas. Um, pela riqueza de conflitos e questionamentos que inquietam a mente brilhante. O outro, pela falta de tempero na vida, que passou despercebida numa sequência repetitiva de dias sem aventura, sem paixão. Em que ponto ele, Mundus, parou de sonhar? E quanto tempo lhe resta? É pensando nisso que observa seus alunos na sala de aula e percebe:

"Quanta vida eles ainda têm pela frente; como o seu futuro ainda está em aberto; tanta coisa por acontecer com eles; tanta coisa que ainda poderão vivenciar!" (p. 18)

Uma quase torturante busca por si. De óculos novos, agora Gregorius vê o mundo de dentro para fora. Como se, com nova visão proporcionada pelo grau correto de suas lentes, enxergasse nitidamente o que ocorre à sua volta e também os sentimentos que ora experimenta como se fosse um menino.

O que eu parecia e mostrava ser - pensei - nunca o havia sido, nem um único minuto da minha vida. (...) Será que com os outros acontecia o mesmo? Será que ninguém se reconhece no seu exterior?' (p. 93)

'(...) cada fragmento percebido do mundo exterior era também um pedaço do mundo interior.' (p. 96)

A narrativa em terceira pessoa traz um livro dentro de outro. Trechos do livro de Prado preenchem lacunas que só nesta idade mais madura fazem sentido para Gregorius. Traz o professor à realidade de seus atos, erros e sentimentos. Convida o leitor a essa viagem, usando como metáfora o trem que para nas estações para buscar ou deixar, silenciosamente mostrando, ao passageiro atento, a paisagem que muda o tempo todo. Como a vida.

Gregorius reflete sobre a finitude:

'Quando o tempo de uma vida se torna raro, as regras passam a não valer mais. Então parece que você perdeu o rumo e está maduro para o manicômio. Mas no fundo é precisamente o contrário: para o manicômio deveriam ir aquelas pessoas que não querem se dar conta de que o tempo ficou raro. Aqueles que continuam como se nada tivesse acontecido. O senhor entende?' (p. 292)

O leitor descobre que o personagem principal do livro é, na verdade, Amadeu Prado. Através de Gregorius o autor nos apresenta suas reflexões, que são lentamente distribuídas ao longo do livro.

Não é uma leitura fácil, nem cheia de reviravoltas ou tensão. O que deve prender o leitor à trama é a familiaridade que pode despertar se este também procura um sentido, uma nova luz ou um jeito diferente de olhar para suas questões pessoais. Recomendo para quem deseja experimentar um encontro com um personagem riquíssimo, ansioso por se desvendar: você mesmo.
Arsenio Meira 20/12/2013minha estante
Belíssima resenha. Escrita à flor da pele. li este romance, achei bom, e penso que ele merece uma releitura, após essa sua análise tão bacana e vívida. Abraços


Beth 10/08/2014minha estante
Ótima resenha. Gostei muito deste livro e pretendo reler.




Carolina.Perdigão 27/12/2022

Vi inúmeras resenhas falando bem do livro e decidi ler. Confesso que achei a leitura maçante e por vezes chata. Foi muito difícil terminar este livro.
Raquel 22/02/2024minha estante
Estou no mesmo problema.... Não quero abandonar, mas sofrendo p terminar




Mag 09/05/2010

A história trata de um professor de línguas antigas que ao entrar numa crise existencial abandona a carreira profissional. Depois que um livro com "passagens filosóficas" de um desconhecido autor português vem parar na sua mão ele abandona então a cidade onde residia e sai em busca de informações sobre o seu novo achado.







Eu queria muito ter gostado desse livro. Talvez na mão de outro autor ele funcionasse. Eu adoro livros de conteúdo metalinguístico, mas esse não deu mesmo!Cito três motivos: A tradução é péssima. As passagens do livro que o protagonista encontra são tratadas pelo autor como "filosóficas" quando não passam de filosofia barata. E por último: Percebi alguns furos na história. Isso sem falar na extrema falta de fluidez na narrativa. Chegar perto da centésima página foi um parto!











Monica.Amota 16/02/2017minha estante
Perfeita sua resenha!!!!! Concordo plenamente




Leonel 19/01/2011

O meu interesse por "Trem Noturno para Lisboa" deu-se pela indicação de um professor. Quando eu achei o livro e vi uma crítica dizendo que era tão bom quanto "A Sombra do Vento", não tive dúvidas e o levei para casa.
Mas quanta decepção. O livro simplesmente não acompanhou minhas expectativas - comparar "A Sombra" com isso é quase um insulto para Zafón.
A história é boa, mas pretende ser um tratado filosófico sobre a natureza da alma, quando no fundo, não passa de um romance simples. Acho que foi a pretensão mesmo que me irritou. Embora tenha passagens ótimas e personagens bons, em alguns momentos até os 'ganchos' decentes cansam e a história se torna muito arrastada. Enfim, é preciso paciência para terminar o livro.
É uma pena, porque eu esperava muito dessa história! Se querem filosofia de verdade, e não essa imitação barata e pretensiosa, leiam "Zorba, o Grego", esse sim um 'deleite para a alma'.
Cris 10/03/2012minha estante
A história é boa, mas pretende ser um tratado filosófico sobre a natureza da alma, quando no fundo, não passa de um romance simples. Acho que foi a pretensão mesmo que me irritou. Embora tenha passagens ótimas e personagens bons, em alguns momentos até os 'ganchos' decentes cansam e a história se torna muito arrastada. Enfim, é preciso paciência para terminar o livro.
+1
concordo plenamente.




Lima Neto 13/10/2010

esse livro vendeu milhões de cópias na Europa e foi comparado ao "A Sombra do Vento", e por isso eu me deixei influenciar, por assim dizer, e resolvi lê-lo. mas logo nas primeiras páginas vi que, na minha opinião, tal comparação foi no mínimo precipitada, provavelmente muito mais uma estratégia de marketing, para alavancar a venda deste livro do que qualquer outra coisa (eu me pergunto até como e por que eu continuo a cair nessas coisas, mesmo já estando tão calejado, já trabalhando nessa área de livros há tantos anos).
o livro, em si, não é ruim, no entanto, falta carisma ao personagem, principalmente Gregorius, e o ritmo da leitura é lento e por vezes cansativo, além da motivação do personagem (Gregorius) em saber da história de Amadeu Prado me parecer tão superficial, tão desmotivada, digamos assim.
a história de Amadeu, por outro lado, é bastante interessante, sempre repleta de mistério, de segredos guardados, de dramas e conflitos. todos os personagens que, de alguma forma, em um momento ou outro, por um motivo ou outro, que encontraram Amadeu, são marcados pela presença dele e pela história dele.
e o que acontece quando a história desses dois personagens se cruza? uma história que em dados momentos é boa, intensa, com bons personagens, com uma outra mais lenta, pouco carismática e cansativa. resultado: um livro bom, mas longe de ser excepcional ou marcante.
talvez a única coisa que existe de em comum entre "O trem noturno para Lisboa" e "A Sombra do Vento" seja o simples fato de que existe uma história de um autor de um livro onde o leitor (personagem em questão) se vê de tal forma envolvido que se envolve numa busca pelas verdades escondidas, para conhecer mais a fundo a vida e história do autor e montar um quebra-cabeça. só.
Marta Skoober 26/12/2012minha estante
Lima, sua resenha me fez lembrar de O papagaio de Flaubert de Julian Barnes, mas há paixão no livro do Barnes.




Pla 04/07/2020

Li porque ouvi certa vez que tinha enredo e narrativas semelhantes ao da sombra do vento. Não é um livro ruim, mas as 100-150 primeiras páginas são no meu ponto de vista bastante entediantes.
Raquel 22/02/2024minha estante
Nossa, a sombra do vento está anos-luz a frente desse. Um é empolgante, esse é um tédio




Rafael.Giuliano 26/06/2015

Minhas reflexões na conclusão do livro, às 03:30 da madrugada...
Terminei de ler "Trem noturno para Lisboa" essa madrugada... Pensei que fosse chorar, e ainda sinto os olhos lacrimejarem, mas me sinto arrebatado pela lucidez.
Quis escrever, na verdade gritar, mas me contive, ainda que a alma parecesse desejar abandonar tudo o que é mundano, vulgar.
Sei que é tudo uma história... ficção. Mas o invejo! Tenho a certeza de que invejo este homem, o protagonista, seja por sua jornada ou por seus diálogos, pelas pessoas que conhecera, tudo através da descoberta de um livro, das reflexões lapidadas por um ourives das palavras.
Desejei sair, respirar. Como me senti pequeno...

Declaro a mim mesmo que JAMAIS me contentarei com menos do que VIVER PLENAMENTE depois de ler esta história...
Juliana 04/08/2015minha estante
Fiquei muito curiosa




Viviane 26/01/2013

De quando não há um Final Feliz
Um pouco de estranhamento. Ainda não sei bem se gostei desse livro. Mas, que ele encerra algumas discussões enlouquecedoras não há como negar!
A forma em que a narrativa é conduzida acaba induzindo até o final da leitura porque há mistérios que envolvem a vida de Amadeu que são expostos gradualmente, mas em muito momentos tive vontade de abandonar a leitura... Porque mexeu alguma coisa dentro de mim - putz! mas, não é disso que eu gosto? Sim, sim, sim. Mas, algumas questões dolorosas como "escolhas", "opinião", "liberdade"... Não é um livro FELIZ, é denso e escuro como sua apresentação física: a capa é preta, não por acaso.
Confesso que eu esperava um gran finale que não aconteceu, apesar de ter sido totalmente consistente com o restante da história, fiquei decepcionada porque queria que Gregorius tivesse o direito de desfrutar as descobertas sobre si mesmo, esperava aquela reviravolta em que só os Finais Felizes podem proporcionar... No fim, é o que a gente sempre espera... E se não acaba bem, é porque não chegou no final... é no que a gente sempre quer acreditar!
De toda forma, não é um livro oco, de jeito nenhum! Certeza que vou me lembrar dele por muito tempo.
Li e reli muitos parágrafos, não só para entender, mas para saborear a poesia e a sabedoria do autor diante de questões tão delicadas da vida. Mas, senti também sua aflição e seu terror diante da morte e da fugacidade da vida.
Esses segredos de família e traumas de infância são mesmo definitivos na determinação do destino dos personagens de Mercier. E acho, de todos nós...
Sim, eu gostei deste livro.
Maria 20/02/2014minha estante
Viviane, há um final feliz; é exatamente a descoberta pelo professor do próprio caminho.
Houve, sim, uma reviravolta: o sensível e solitário professor saltou, impulsivamente para um mundo... de emocionantes descobertas em Lisboa e de si mesmo.
Pascal Mercier, como os autores inteligentes, deixou para o leitor criativo o gran finale!




Jumpin J. Flash 06/01/2010

Recomendável
Gostei do livro, embora admita que o achei um tanto arrastado em certos trechos. Trata-se de um BOM livro de 460 páginas, que seria ÓTIMO se tivesse apenas 350.

Destaco o interessante conteúdo filosófico dos escritos do personagem Amadeu Prado (não é de se estranhar, pois o autor é filósofo), e também a ótima escolha do lugar e do tempo (Portugal, na época de Salazar) onde os personagens principais desenvolveram suas relações.
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09/03/2013

O acaso é um pequeno deus
Livros tão diferentes "O Sonho do Celta" e “Trem noturno para Lisboa”, ambos magistrais, com frases de abertura tão semelhantes. Li ambos na sequência, o acaso é mesmo um pequeno deus.

O sonho do Celta:

"Cada um de nós é, sucessivamente, não um, mas muitos. E essas personalidades sucessivas, que emergem uma das outras, costumam oferecer contrastes mais estranhos e assombrosos entre si." (José Enrique Rodó - Motivos de Proteu)

Trem noturno para Lisboa:

“Cada um de nós é vários, é muitos, é uma prolixidade de si mesmo. Por isso aquele que despreza o ambiente não é o mesmo que dele se alegra ou padece. Na vasta colônia do nosso ser há gente de muitas espécies, pensando e sentindo diferentemente. (Fernando Pessoa – Livro do Desassossego)

“Somos todos retalhos de uma mesma textura tão disforme e diversa que cada pedaço, a cada momento, faz o seu jogo. E existem tantas diferenças entre nós e nós próprios como entre nós e os outros. (Michel de Montaigne – Ensaios)
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