Caroline Gurgel 10/06/2013Não é um Anjos e Demônios, mas ainda assim é Dan BrownDepois de seus célebres Anjos e Demônios e O Código da Vinci, Dan Brown terá sempre o enorme desafio de alcançar as grandes expectativas criadas pelo seu leitor. Gosto de todos os seus livros e em especial desses dois, e, tal como muitos leitores, pensei, pelos meses que antecederam o lançamento de Inferno, se o autor os superaria. E foi assim, com a expectativa no topo do Everest, que iniciei minha leitura.
Como a sinopse já adianta, começamos o livro em um quarto de hospital, com um Langdon sem memória recente, alguns atentados e uma médica. Bonita, claro. A partir desse cenário e depois de algumas perseguições nos vemos ao lado do querido Robert Langdon e suas tentativas de recuperar a memória, adentrando em um mundo de charadas inteligentes dentro do universo do Inferno de Dante.
Os versos de Dante imperam a cada parágrafo e ditam o rumo dos personagens, numa frenética série de pistas em códigos a serem decifrados. As páginas que sucedem são um deleite para qualquer amante de arte ou arquitetura, cheias de detalhes magníficos que nos fazem vivenciar cada rua, cada prédio e cada obra de arte citada. Caminhamos a passos lentos pelas cidades de Florença e Veneza, por suas praças, pontes, "passagens secretas", museus e igrejas. Visualizamos cada quadro da incrível Galleria degli Uffizi, cada particularidade da famosa Ponte Vecchio, cada réplica na Piazza della Signoria.
Quando as surpresas arquitetônicas parecem ter acabado, viajamos para a Turquia, desembarcando na colossal Santa Sofia e temos uma fantástica aula de arquitetura bizantina, com descrições tão perfeitas que facilmente nos transportamos para seu interior, sob sua enorme cúpula ou para as históricas e belas cisternas sob as ruas de Istambul.
Para os leitores que, além de arquitetos como eu, são apaixonados por arte, Inferno é um verdadeiro paraíso para os olhos. Devo admitir que a ação fica em segundo plano nas primeiras 300 páginas e portanto não sei bem mensurar os sentimentos dos que não curtem nem arte, nem arquitetura e nem Dante.
Até um pouco mais da metade do livro eu estava inclinada a dar 4 estrelas pois, apesar de fascinada pelo que lia, entendia que o livro estava na categoria de Ação e Suspense e não fazia jus a ela. E é aí que tudo muda e Dan Brown mostra a que veio. Começam as reviravoltas, descobertas, explicações fabulosas e fantásticas e todas as peças vão se encaixando, uma a uma. Pegamo-nos pensando no iminente problema da superpopulação - e se, de fato, se trata de um problema - e se a ciência está preparada para enfrentá-la da melhor maneira possível.
O autor recebe críticas por utilizar sempre uma mesma fórmula em suas histórias: mocinho que vira vilão, vilão que vira mocinho e descrições detalhadas de obras de arte. Não entendo porque isso causa tanta repercussão, afinal, tal como um estilista, um arquiteto ou um artista, por que um escritor não pode ter sua obra reconhecida pela sua "fórmula"? Ainda por cima, uma fórmula de sucesso certo!
Adoro o modo como a história foi montada, no qual, mesmo contada sempre em 3a pessoa, foca em um personagem a cada capítulo. Adoro o fato de os personagens que aqui vemos terem sempre QI acima da média. Quem não? Sem querer polemizar... mas até gente burra detesta gente burra! E ler os feitios e explanações que só poderiam ter saído de mentes brilhantes é de encher os olhos e fazer valer as 5 estrelas!
Mesmo meu favorito ainda sendo Anjos e Demônios, Inferno é leitura mais que recomendada para quem gosta do estilo. Afinal, Dan Brown é sempre Dan Brown.