Tekkon Kinkreet

Tekkon Kinkreet Taiyo Matsumoto




Resenhas - tekkon kinkreet


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Paulo 29/07/2018

As grandes metrópoles são capazes de nos engolir diariamente. Com seus ruídos, suas paisagens, sua vida (por que não dizer?). A cidade é capaz tanto de criar lendas como de destruir nossas emoções. E é com essa proposta que Taiyo Matsumoto conta a história de dois meninos de rua que tentam sobreviver usando toda a sua astúcia e coragem. Mas, Takara-cho, a cidade onde vivem, está mudando fruto da especulação imobiliária trazida por yakuzas inescrupulosos que desejam expulsar todos os seus opositores.

Tekkon Kinkreet é o terceiro volume do selo Tsuru, da Devir, que já começa a demonstrar sua uniformidade. Temos já uma coleção propriamente dita com autores muito bem selecionados pela editora. Alguns podem argumentar que esse foi apenas um título abandonado há tempos pela Conrad, mas poderia muito bem ter passado batido pelo radar da Devir. Apesar de ser um mangá mais underground, ele é importante por representar uma tendência. Além disso, Taiyo Matsumoto é um mangaka de muita personalidade e isso é transposto para o papel. A edição está com aquele acabamento do selo Tsuru com uma jacket, uma bela folha de guarda acinzentada, tamanho grande e papel lux cream. Alguns leitores reclamaram da revisão na tradução de Nonnonba que estava um pouco complicada com um número razoável de erros para uma edição mais cara e luxuosa. Tekkon Kinkreet tem alguns errinhos, mas eu contei três ao todo e não interferem na experiência de leitura como um todo. Ao final tem uma biografia do autor e a história da revista Ikki onde vários mangakas underground fizeram sucesso.

Sem dúvida alguma a arte é o que mais vai chamar a atenção do leitor por ser bem diferenciada. Taiyo opta por cenários angulosos e distorcidos que criam um aspecto quase surrealista a tudo o que está acontecendo ao redor dos personagens. Prédios tortos, lugares exageradamente curvilíneos, mas são esses cenários angulosos que criam toda a personalidade existente no mangá. A cidade parece viva; se algum dos personagens não tomarem cuidado, é possível que algum prédio os engula. É uma sensação de estranhamento ao mesmo tempo em que mostra Takara-cho como um ser vivo e com emoções. Os protagonistas aparecem sempre muito estilosos e em muitos casos representa o sentimento deles naquele momento. Por ex: Shiro sempre aparece com uma vestimenta mais descontraída e com um chapéu de animal, o que mostra o apego dele à natureza e uma postura verdadeira consigo mesmo. Kuro vai mudando sua aparência ao longo do mangá: começa quase como um rapper e mais para o final adota uma vestimenta mais sombria chegando a ostentar um colar de crânios.

Os demais personagens também são bem representados: enquanto os policiais sempre aparecem com suas roupas de serviço, os yakuzas estão também com seus ternos. Gosto também da forma até caricata como personagens como Cobra e Rato possuem, mostrando um pouco de suas personalidades. As cenas de ação são bem trabalhadas e variam de uma simples perseguição até um combate de rua. A luta entre Kuro e os dois irmãos é cruel. Ou seja, o autor consegue passar de uma aparente calmaria para um take mais selvagem em um piscar de olhos. Outra coisa que vale destacar é o detalhismo do fundo das cenas. Apesar de os protagonistas sejam os personagens atuando naquela cena, a vida na cidade não pára: pessoas caminham, prédios exibem deus letreiros luminosos. Prestem atenção também ao fundo que vocês serão capazes de encontrar detalhes incríveis.

A narrativa é de fato sobre Kuro e Shiro. Como meninos vivendo na rua eles sobrevivem diariamente à dura vida imposta por Takara-cho. Desafiando outros meninos de rua, fugindo da polícia, encarando yakuzas. Nada é simples para eles. A chegada de um novo empreendimento desejando modernizar a cidade vai colocá-los na linha de frente de uma guerra entre duas visões opostos: a do Rato e a da Cobra. O Rato deseja a permanência da cidade como ela está, mantendo suas raízes e trabalhando em cima delas simplesmente tendo a manha das ruas; o Cobra quer derrubar tudo e ter o máximo de lucro possível, não importando que meios ele terá de fazer isso. Shiro é um menino que tem alguns problemas de desenvolvimento intelectual, sendo praticamente uma criança incapaz de formular pensamentos coerentes. Ele entende o mundo, mas a partir de um prisma muito diferente do resto dos personagens. Isso torna a vida dos dois mais difícil, porque a responsabilidade da maioria das tarefas mais comuns cabe a Kuro. Entretanto, é legal estabelecer que os dois são muito complementares. Kuro consegue descer a uma solução mais violenta quando necessário. Já Shiro prefere apreciar as coisas. De certa forma um é o freio do outro.

"A peça do jogo de Othelo não tem frente nem verso. Tem preto e branco, mas não é frente nem verso. Equilíbrio, Shiro, o importante é manter o equilíbrio e não deixar desequilibrar."

Se podemos citar outro núcleo de personagens é o do Rato e Kimura. No começo, Kimura aparece mais como um capanga do Rato que não entende o funcionamento de Takara-cho. Mas, aos poucos vamos sendo apresentados às motivações do personagem. A ponto de passarmos a nos importar com ele mais para o final da narrativa. O Rato é sagaz, conhece o seu lugar na cidade. Muitas vezes ele não precisa empregar a violência para obter o que deseja. Respeita a força esmagadora representada pela cidade em si. Entende que Kuro e Shiro representam a própria alma de Takara-cho e não deseja o enfrentamento com eles. Mas, ele acaba sendo vítima das mudanças. Curioso é que o desejo de sair da cidade por entender que ela não mais o aceita é o mesmo de Shiro. Ao perceber o que estava se passando ao seu redor, o Rato notou o poder represado pelas forças que desejam mudar a cidade. Uma das partes mais filosóficas do mangá é quando o Rato e Kuro conversam em um telhado. Apesar de Kuro ter uma certa hostilidade com o Rato, eles nunca foram inimigos declarados ao longo da narrativa.

Mais para o final da narrativa, Taiyo vai explorar a conexão profunda que existe entre Kuro e Shiro. Assim como o yin/yang eles existem um para o outro. Se eles se separarem os lados começam a regredir mais rapidamente. Se Kuro representa a violência, ela se torna mais selvagem; se Shiro representa uma paz inocente; ele regride a um estado mais introvertido. Talvez a maior representação do que a narrativa como um todo representa seja a semente de maçã deixada por Shiro na cidade. Uma semente de uma fruta que dificilmente nasceria em uma selva de pedra como Takara-cho. Se ela nascer, ela poderia representar algo diferente. Taiyo coloca isso de uma forma tão abstrata que mesmo se a fruta não nascer, o seu surgimento metafórico poderia representar uma luz de esperança diante de tudo o que acontece. Alguns momentos mais para o final da história são tocantes. A capacidade que o autor tem de nos fazer importar com os personagens é incrível. Quanto mais vamos imergindo na história, mais os personagens passam a fazer sentido e serem familiares para nós. Mesmo os coadjuvantes representam algo. Eles precisam estar ali para a história funcionar. E quando não estão, o equilíbrio é perdido.

Tekkon Kinkreet é uma obra de arte underground. Taiyo Matsumoto conseguiu impor personalidade a um estilo de desenho que tem como foco o exagero ou o realismo. Usando de um traço anguloso e surrealista, ele cria uma peça única. Só não dou uma nota máxima (e eu tenho certeza que vocês vão discordar de mim) por conta do final que foi anticlimático para mim. Eu entendi que era ali que as coisas iriam acabar, mas senti que faltou um algo mais. As coisas se resolveram de uma forma muito mecânica e eu senti que o autor caminhava para uma revolta da cidade contra as forças externas. Algo que não aconteceu exatamente dessa forma. Por essa razão, para mim não foi perfeito. Mesmo assim é uma obra de peso que merece a sua atenção.

site: www.ficcoeshumanas.com
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Flavio - @geekcorp303 02/12/2021

Maravilhoso
Tekkon Kinkreet foi uma das leituras mais estranhas e divertidas que fiz em 2021.
Kuro e Shiro são órfãos que precisam se virar para sobreviver na cidade de Takara-cho, eles precisam roubar e lutar pela sobrevivência, enquanto se mantém a salvo de um mundo corrompido e solitário, tendo apenas um ao outro como apoio.
Bom, é bem raro eu ler a sinopse de alguma obra que pretendo ler, e não foi diferente com Tekkon Kinkreet, fui sem saber do que se tratava, confesso que demorei alguns capítulos para entender o que estava rolando, e captar todo o conceito, mas depois que engatei, comprei totalmente a viagem de Taiyo Matsumoto que traz um texto carregado de metáforas e críticas sociais, com diversas camadas e personagens complexos e tridimensionais. Matsumoto coloca também na narrativa um toque de fantasia, o que contrasta muito bem com as questões mais "sérias" que ele trata, e junto a tudo isso ainda tem MUITA ação.
A arte dessa mangá é um espetáculo, a viagem não está apenas no texto, Taiyo trabalha perfeitamente com um traço distorcido, que me remeteu muito a fotos tiradas com uma lente grande angular que deixa as imagens levemente retorcidas, eu achei isso genial, pois é exatamente a mesma sensação que o texto passa, a arte também é super detalhada, todo "quadro" na página é muito bem aproveitado.
Eu estava com expectativas altas para Tekkon Kinkreet e elas foram atendidas e até superadas, com toda certeza uma das melhores leituras de 2021.
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Giuliano.Behring 28/04/2021

Isso foi... Lindo?
Tekkon Krinkreet é um mangá simplesmente lindo, eu não entendo exatamente o porque, mas é lindo.
A complexidade me deixou um pouco confuso, mas as relações de bem e mal, de abandono, de deixar de ser aquilo que se conhecia devido a globalização.... Tudo isso faz de tekkon krinkeet algo unicamente lindo.
Leia essa obra do Matsumoto, isso é bom demais!
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Luis.Fernando 20/04/2024

Tekkon Kinkreet é o tipo de obra manga que nunca mais vou esquecer. São quase 600 páginas que passam voando, e pelo menos comigo, nem para ir ao banheiro fiquei feliz do pequeno desgrude. Foram horas de uma leitura, que comecei as 20hrs e terminei precisamente as 02hrs, e nem senti as horas voando. Você passa as páginas e quer mais do manga. Agora porque AMEI tanto ess aobra e hoje coloco entre os melhores mangas que eu li?
Vamos começar pelo enredo. Dois meninos saem pelas ruas sobrevivendo como podem e.....DESCEM O CACETE NA BANDIDAGEM. Sim, duas crianças que tem força e estilo de luta pra quebrar os bandidos mais sanguinários e fortes da Yakuza. Você pode até dizer que essa obra é só mais um shounen comum, mas Tekkon, é bem mais que isso.

Eu sei que Matsumoto quis transparecer uma visão bem crítica do mundo moderno e do lado bom e ruim da infância. A decadência do homem ante um mundo que o despreza. Onde os mais fortes e evoluidos são aqueles que sobrevivem. E do crescimento criminosos de alguma das metrópoles, como o foco da Yakuza na obra por exemplo, destruindo o antigo e trazendo o novo. O comportamento da humanidade diante a modernidade. E tudo isso com uma dosezinha sim de homenagem ao velho shounen, gracas aos excelentes traços e desenhos.

Mas EU me vi MAIS UMA VEZ ( O Último que fez isso foi 20 The Century Boys) voltando aos meus tempos de infancia. Das inumeras brincadeiras e conversas até tarde. Principalmente momentos desses vindo das ruas. Os meus mais diferentes amigos. Alguns deles sumiam com o tempo, ou porque cresciam e preferiam paquerar ou ficar presos em casa com seus computadores e video games da nova geracao. Quando o mundo crescia, lojas de vídeo game e locadoras eram subtiuidas por igrejas ou lojas de roupas, ou simplesmente fechavam. O mundo moderno era assustador para nós até acostumarmos ou simplesmente igual aos outros....crescemos.

Tekkon kinkreet é uma experiência trágica de nostalgia que talvez eu nunca mais irei ter.


Acho que é hora de procurar por mais obras primas desse autor.
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Cilmara Lopes 04/03/2019

Me surpreendeu
Moleques de rua e yakuzas lutam pelo domínio da cidade Takara-cho.
Os yakuzas se dividem basicamente entre dois grupos, o do Cobra e a do Rato, ambos sanguinolentos e ávidos pelo poderio.
Os meninos de rua Shiro e Kuro, são violentos, selvagens e muito audaciosos no que diz respeito ao seu território, não medem esforços e muito menos fogem dos combates. Formam uma dupla impecável, incrivelmente sincronizada e ágil, quando articulam as lutas são imbatíveis. Como os próprios nomes dos personagens define: branco e preto (yin/yang), essa dualidade é muito bem explorada e desenvolvida.
Com uma crítica sagaz sobre sociedade e a vida como um todo, o quanto os arredores podem se apropriar de seus moradores, Matsumoto levanta várias questões até mesmo filosóficas sobre a inerência humana e os conflitos internos entre o bem e o mal.
Esse aprofundamento dos personagens é magistral, tanto que para onde eu ia levava esse mangá, para ler em todo momento oportuno.
A arte de início me deixava bem desconfortável, por ser espetacular na capa e abertura de capítulos mas, no decorrer da história era ok, mas com o desenrolar e imersão no enredo, entendi que se tratava da versatilidade de estilo do mangaká, trabalhando mais com ângulos distorcidos e cubismo, justamente para transpor ainda mais esse lado de enclausuramento da cidade.
Uma obra que deve ser apreciada e revisitada inúmeras vezes, é àquele tipo de material que bate até inveja de quem vai ler pela primeira vez, é uma experiência ímpar!
Esse mangá ocupou facilmente minha lista de melhores lidos na vida.
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Otávio 13/06/2020

Depois de relutar por algum tempo, finalmente li a obra mais famosa do genial Taiyo Matsumoto (recentemente lançado no Brasil por Sunny). Confesso que o tamanho me dissuadia um pouco. Mas estava enganado. Tekkon Kinkreet não é somente um mangá de ação fantástico, como também traz um tema muito caro ao autor: o desamparo na infância. Shiro e Kuro somente tem um ao outro. É o único afeto que conhecem. Essa, no fundo, é a força motriz de todo o drama do mangá.
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Anselmo 26/12/2023

Yin e yang
Eu não ia fazer resenha dessa hq, pq vi pessoas viajando e falando aquelas coisas do tipo: " esse mangá é cheio camadas... é surreal, e bla bla blá..." Quero dizer que só vai entender que tem uma mente privilegiada. E não é nada disso! É claro que ele pode ser lido e interpretado de forma profunda, pra quem quer estudar o mangá, ou pode ser lido normalmente pra curtir e se divertir, como foi meu caso. Esse mangá fala de dois órfãos que vivem numa cidade caótica, onde a sobrevivência é a preocupação número 1 de sua lista. Uma cidade onde a máfia , corrupção, e miséria correm solto. E tem esse dois meninos que se acham donos do território e fazem de tudo para isso valer a pena. Sim, são crianças, mas não qualquer tipo de crianças, eles tem dons. E você vai descobrindo que eles ainda tem alguns parentes(?), se é sanguíneo mesmo, isso não fica claro. Mas exists um avó que aparece bem depois, e vai revelando coisas sobre esse dois kuro e kiro (preto e branco). Uma é mais maduro e o outro e mais sonhador como uma criança "normal". Mas esse que o é "branco" vai deixando umas pistas verdadeira e outras nem tanto, mas que te fazem pensar se aquilo realmente tá acontecendo ou é coisa da cabeça dele. Já o preto tudo é mais "na cara" mesmo. E você vai percebendo que um é o oposto do outro, (por isso preto e branco?) E como é uma dualidade, uma não vive ou existe sem o outro. E tem um momento em que pra proteger seu irmão mais sonhador, de forças mais poderosas que eles, ele acaba o afastamento da pior forma possível. E no fim a parte positiva vai de encontro a parte negativa para salvar e resgatar seu lado humano. Esse mangá é uma história de amizade, irmandade, humanidade e sobrevivência. E não tem nada que impeça qualquer pessoa de ler esse divertir. O Traço e bem deferente de que estamos acostumados nos Mangás, e bem bom! Muitas vezes da impressão que estamos olhando tudo por uma lente oval, são muito efeito interessantes que o autor propõe muito bem. Recomendo!
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Lucas1429 19/04/2024

Me surpreendi
Não dava nada para esse Mangá, nunca tinha escutado sobre mas a história é muito boa. No começo me irritava um pouco o Shiro, mas depois fui entender o personagem. No fim as coisas foram fazendo sentido e mostrando que nunca devemos deixar de lutar e trilhar o lado bom das coisas, mesmo em situações difíceis.
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AndrA.Lima 07/02/2024

Obra Prima
Sem dúvidas Tekkon Kinkreet é uma obra prima na história, na forma solta de ilustração e um marco para os quadrinhos e mangás.
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