Kenia 07/04/2015"A vida é tão ordenada, tão previsível, tão indolor. É como eles escolheram."
Minha resenha de hoje é de mais uma distopia que há bastante tempo estava a procura: The Giver ou O Doador de Memórias em português. Procurei o título em português acabei que achei só em inglês aqui na Irlanda e coincidentemente quando o filme estava pra estrear. De leitura fácil e instigante, adorei a leitura e o filme, apesar de não ser completamente fiel ao livro.
Sinopse: Os habitantes de uma pequena comunidade, satisfeitos com a vida ordenada, pacata e estável que levam, conhecem apenas o presente – o passado e todas as lembranças do antigo mundo lhes foram apagados da mente. Um único indivíduo é encarregado de ser o guardião dessas memórias, com o objetivo de proteger o povo do sofrimento e, ao mesmo tempo, ter a sabedoria necessária para orientar os dirigentes da sociedade em momentos difíceis. Aos 12 anos, idade em que toda criança é designada à profissão que irá seguir, Jonas recebe a honra de se tornar o próximo guardião. Ele é avisado de que precisará passar por um treinamento difícil, que exigirá coragem, disciplina e muita força, mas não faz ideia de que seu mundo nunca mais será o mesmo. Orientado pelo velho Doador, Jonas descobre pouco a pouco o universo extraordinário que lhe fora roubado. Como uma névoa que vai se dissipando, a terrível realidade por trás daquela utopia começa a se revelar.
"Como seria possível alguém não se adaptar? A comunidade era tão meticulosamente organizada, as escolhas eram feitas com tanto cuidado!"
A trama se passa em um futuro e os seus personagens vivem em uma sociedade perfeita. Sem violência, sofrimento e inconvenientes mas também sem coisas simples como animais, cores e sentimentos. Nessa comunidade vive Jonas, um garoto prestes a completar doze anos o que na sociedade significa passar para a vida adulta. O problema é que para que tudo siga perfeito nessa sociedade, as pessoas perderam o seu poder de escolha. Existe um comissão de anciões, que toma as decisões mais importantes, como por exemplo com quem cada um vai se casar, quem será seu filho ou a profissão de cada pessoa. E Jonas faz parte de uma família nuclear: pai, mãe e dois filhos, um menino e uma menina. Sua mãe é advogada e o pai cuida de recém nascidos. Jonas tem uma irmã chamadaLily, que é alguns anos mais nova que ele. Além deles, Gabriel, um bebê que o seu pai cuida, passa a morar com eles para melhor se desenvolver e ganhar uma família.
"– Jonas foi escolhido para ser o nosso próximo Recebedor de Memória. Nós lhe agradecemos por sua infância."
Nessa comunidade, ao completarem um ano, os bebês recebem um nome e são entregues a uma família; aos nove, eles ganham uma bicicleta, que serve de meio de transporte para todos os cidadãos; e aos doze, eles recebem a carreira que seguirão para o resto da vida.
Na cerimônia desse ano, a Chefe dos Anciões distribui a todos suas profissões deixando Jonas por último. Ela então anuncia que nenhuma carreira foi selecionada para ele, mas que ele foi escolhido para um posto de extrema importância: ele será o receptor de memórias. Apenas uma pessoa em toda a sociedade sabe de todas coisas, o Receptor de Memórias, que guarda toda a história da sociedade e é convocado quando eles precisam de um conselho para decisões importantes. As pessoas dessa sociedade não têm realmente lembranças de nada, coisas como as guerras, a fome ou coisas boas como o natal ou a neve nunca existiram para eles.
"São os sentimentos que giram o mundo. São nossas emoções que nos levam a agir. O que eu sinto é o que me mantém vivo e me motiva a fazer as coisas."
Jonas começa seu treinamento com o Doador, um velho sábio que carrega um grande fardo, as lembranças. Ele detém, sozinho, todo o conhecimento do mundo e assim, dolorosamente ele vê as pessoas vivendo na ignorância, sem nem sequer imaginar como a vida foi diferente um dia. Ao mesmo tempo que o Doador guarda memórias boas, como o amor, a felicidade, o calor do sol, um dia de verão ou uma festa natalina, ele também tem conhecimento das guerras, das tragédias, da morte, miséria e da dor. Jonas começa a descobrir um mundo até então inimaginável e começa a se perguntar porque eles vivem com tantas mentiras e regras. O que desperta nele o sentimento de que é melhor ter todo tipo de memória do que nenhuma e que ele precisa fazer algo pra que a memória de todos voltem.
Dizer que eu recomendo é pouco. Esse livro é de uma narrativa incrível, além das imensas reflexões que podem muito bem ser trazidas para nossa sociedade atual. Leia e reflita quanto ao poder de escolha ser completamente destituído das pessoas, porque "se pudéssemos escolher, escolheríamos errado." Será?